Volume 1 – Arco 3
Capítulo 18: Vida Longa ao Rei
Parte 1
San, Tsukasa e Thomas agora estavam juntos uns aos outros na beira do rio. Milan havia gastado muita Alquimia para teleportar três corpos físicos de um lugar tão isolado como aquele que o Espectral de Capricórnio havia os levado. Hifumi estava com Arashi, protegendo-o. Arashi havia acordado, e estava descansando, sentado ao pé do tronco de uma árvore. San e Thomas acordaram ao mesmo tempo, se levantando juntos.
— Que é que aconteceu aqui…? — perguntou San, com uma mão na testa.
— Você estava diferente do comum, San. Usando a mesma energia que o Espectral, que tipo de habilidade é essa? — explicou Hifumi, enquanto dava água ao Arashi em sua garrafa.
— Eu… estava? E que diabos é um Espectral?
— Acho que ele não se lembra, Hifumi. Vai ver aquele poder estava dominando ele — comentou Milan.
— Dominando quem? A gente não estava no fundo do mar? Em Vollmond… eu me lembro de ter tido um sonho estranho. Encontrei uma energia roxa muito forte dentro de uma espécie de castelo, e ela me disse ser a tal Zephyria que o povo daqui rezava.
— Então era com Zephyria que estava falando naquela hora… interessante — murmurou Tsukasa, enquanto limpava suas roupas. San contou a eles o que tinha visto em seu “sonho”, que na verdade tinha acabado de acontecer. Enquanto isso, Thomas ainda estava recuperando parte da consciência, por ficar tanto tempo desacordado.
— Criativo você, eim San? — caçoou Arashi, depois que San terminou de contar a história toda.
— Aconteceu de verdade, irmão. Quando entramos no domínio do Espectral, realmente tinha um castelo lá, e uma fonte de energia brilhante. Provavelmente era uma estrela. No fim, ela retirou uma orbe roxa de dentro da barriga do San, e ele desmaiou de novo.
— Ah, claro! Deve ser a fonte de energia que ele absorveu em Vollmond. Bom, então missão concluída por aqui. Provavelmente aquele campo de força mágico no Reino dos Lobos deve ter desaparecido. Podemos continuar a jornada até lá — explicou Milan enquanto ajudava Thomas a se levantar. — Tudo bem aí, cara? — perguntou.
— Estou resistindo. Vamos, sem perder mais tempo.
A partir daquele momento, todos seguiram para a floresta novamente. Tsukasa estava ajudando seu irmão a andar, enquanto ele se recompunha. No meio do caminho, Milan parou por um tempo, olhando para o chão.
— Esperem, preciso fazer uma coisa. — Ele colocou a ponta do polegar e do dedo indicador na boca, e assobiou bem alto. O assobio ecoou pelas árvores, e em instantes, o lobo de pedra com a língua para fora e face sorridente apareceu. Ele grudou em Milan, lambendo-o e pulando em cima dele. — Boa, garotão! Sabia que ainda estaria esperando por nós. — O lobo deu duas voltas por Milan, e correu até Arashi. Apoiou as duas patas em cima dele, e começou a lamber seu rosto. Arashi retrucou acariciando o lobo — que mais parecia um cachorro — de volta, e eles voltaram a seguir o caminho até o Reino dos Lobos.
Enquanto prosseguiam, repentinamente Milan desapareceu. Hifumi olhou em volta, e não o encontrou.
— Arh… de novo isso? — questionou Hifumi. Quando percebeu, Milan estava no topo de uma árvore, colhendo maçãs. Todos o olharam seriamente enquanto ele as contava.
— Ahm? que foi? Não vão me dizer que estão sem fome.
— Cadê a minha, Hoffmann? — perguntou Tsukasa, estendendo uma mão na direção de Milan. Ele jogou uma maçã para Tsukasa, que logo deu uma mordida. Milan então desceu da árvore, distribuindo as maçãs para todos. Comeram enquanto continuavam o caminho até o local.
Chegando perto do lugar que tinha a barreira antes, eles pararam. Estavam no topo de um pedregulho, observando o Reino dos Lobos, agora sem o campo de força, de longe. Eram cinco picos de pedra, um ao lado do outro, com uma argola de asteroides voando em volta do topo dos picos. Os asteroides estavam envolvidos por energia roxa, e vários lobos caminhavam em frente aos cinco picos. Na “fortaleza” tinha um portão principal, e várias pequenas janelas no topo.
Eles observaram por um tempo, até que San teve coragem de falar primeiro.
— Então… aqui é o verdadeiro Reino dos Lobos? — perguntou, admirado com a estrutura do lugar.
— Dizem que o Rei Lobo sobreviveu ao dilúvio, e está comandando todos eles. Mas não acredito que seja ele que fez os lobos agirem desta forma, ele é uma boa pessoa. No caso, eu espero que ele seja — disse Milan, enquanto descia com cuidado a colina em que estavam, para não escorregar nas pedras lisas. Todos foram descendo atrás, e logo eles estavam na área em frente ao reino. Lobos caminhavam por toda parte, com expressões monótonas, e sem se importar com os forasteiros. Como se nem sequer estivessem ali.
— Acho que só entrar pela porta da frente não é uma boa ideia. Não acho que serão receptivos conosco — alertou Tsukasa.
— Como não estão agindo conscientemente, acredito que os lobos não se importariam se entrássemos pacificamente. Mas se dermos de cara com quem está controlando tudo isso, as coisas podem ficar feias. Por isso, aconselho que procuremos uma entrada nas laterais do reino, e não nos fundos. Pois nos fundos, é mais provável que encontremos algum tipo de sala do trono, ou base — explicou Thomas, fazendo o clássico gesto de ajustar os óculos.
— É uma boa, vamos seguir as instruções de Thomas.
Hifumi liderou o caminho, e foram até uma das bordas laterais do reino. Começaram a analisar o material das paredes. Thomas tocou nela, e passou a mão suavemente.
— Não é exatamente Alquimia… mas é um tipo de magia também. Então não posso absorver isto. Mas aparentemente, é feito da mesma magia que compõem os corpos dos lobos. Provavelmente quem ergueu isso foi o Rei Lobo, antigamente.
— E então? O que propõe? — perguntou Tsukasa, de braços cruzados.
— Eu acho que sei o que podemos fazer. Liberem espaço, vou abrir um caminho por aqui… — disse Arashi, e então começou a canalizar eletricidade nas mãos. Thomas se afastou, e o resto olhou da mesma distância em que Thomas estava. Arashi canalizou cada vez mais energia nas mãos, e mirou as palmas para a parede.
— Praecisus… — recitou o feitiço. Uma pequena área na parede se iluminou, e energia elétrica agora vagava por ali. A distância que essa área ocupava era curta, suficiente apenas para criar uma passagem. Pequenos lasers elétricos começaram a cortar a parede pelas bordas da pequena área que Arashi havia criado, e lentamente, os lasers transformaram aquela área em pequenos pedacinhos de pedra. Tsukasa se aproximou, e apenas empurrou os pedacinhos, que caíram sobre o chão dentro do reino. Todos foram entrando com lentos passos, e com toda a cautela que tinham. O ambiente era escuro e gelado, como uma casa de barro. Em vez de corredores, se pareciam mais com túneis subterrâneos feitos por castores.
— Fascinante… o material usado para criar esse lugar, realmente é o mesmo material que compõe os lobos. O Rei realmente sabe como arquitetar estruturas — disse Milan, admirado com o formato daquela “fortaleza” de lobos.
— Parece mais um formigueiro. Não quero ficar aqui por muito mais tempo, aparentemente San já descobriu o motivo dos lobos estarem dessa forma… não podemos voltar e só reportar para o Williams, Hifumi? — perguntou Arashi.
— Não acho que Kenny iria ficar satisfeito com uma informação tão superficial, Arashi. E também, somos capazes de solucionar esse problema. É para isso que a Infinity Astra foi fundada, para solucionar problemas, e não apenas encontrar a causa. — Arashi soltou um resmungo, e prosseguiram.
Alguns sons de lobos grunhindo e andando pelo lugar ecoavam por toda parte. Eles realmente estavam dentro da toca daqueles animais, e qualquer passo errado poderia causar uma catástrofe indesejada. Logo a frente, um lobo vinha de dentro da escuridão dos túneis. Estava caminhando na direção deles com um olhar frio, e a fumaça liberada pelas reações atômicas em seu interior saia de suas narinas e boca. Arashi, vendo o lobo se aproximar, puxou sua katana e canalizou eletricidade em volta dela. Estava se preparando para efetuar um ataque, até que Thomas segurou seu braço.
— Não. Espere, quieto — disse, e a eletricidade na lâmina de Arashi cessou.
O lobo se aproximou, com um olhar mumificado. Soltou um leve rosnado quando passou ao lado deles, mas seguiu seu caminho sozinho. Arashi o olhou indo embora, e soltou um suspiro. — Atacá-lo poderia fazer com que todos os outros viessem para cima, estamos em um lugar fechado, Hayami. Use a cabeça.
Arashi resmungou de novo, e seguiram novamente. Um pouco mais à frente, San parou de caminhar. Havia sentido algo familiar vindo de dentro de uma das paredes, e então a tocou.
— Encontrou algo, San? — questionou Hifumi, se aproximando.
— Tem algo do outro lado dessa coisa… estou sentindo. Tsukasa, pode verificar?
— Humph, tudo bem. — Tsukasa se aproximou da parede, e tocou-a, fechando os olhos. Concentrou-se em sentir algo com seu campo de Alquimia invisível, e bem ao fundo, sentiu uma fagulha de poder.
— Sim… tem algum tipo de energia do outro lado.
San continuou procurando algo nas paredes com as mãos, até que achou um ponto de foco
“Aqui…” pensou, enquanto liberava Alquimia na parede. O ponto em que adicionava magia começou a brilhar ofuscadamente, e foi gradualmente aumentando.
— Parece que nosso garoto achou uma passagem secreta — caçoou Milan.
O ponto de foco continuou se iluminando, até formar uma porta inteira. Quando a silhueta da porta apareceu, o brilho da Alquimia de San cessou, e a porta agora era visível. San puxou a alça de aço da porta, e conferiu o que tinha. Era uma sala vazia, com apenas algum tipo de dispositivo preso ao chão. Era uma pequena escultura — similar a uma montanha — com energia roxa vagando por dentro da escultura, e uma pequena orbe pairando ao topo. De dentro da orbe, um feixe de energia mirado ao teto era liberado, atravessando a parte superior do local.
— Fascinante! Se parece com uma maquete de um vulcão — comentou Milan.
— Um vulcão com lava roxa. Sabe o que significa, Hoffmann? — questionou Tsukasa, ao Milan.
— Não sei não, o que significa?
— Estou perguntando isto a você, Hoffmann.
— Ah. Então eu não sei lhe responder.
San estava analisando a escultura bem de perto, como se já soubesse como funcionava.
— É algo feito pela Zephyria. Deve ser esse dispositivo que está dando energia aos asteroides flutuando lá em cima do reino. Bom, mais uma afirmação de que é Zephyria Astralis quem está comandando tudo isso…
San ergueu sua mão, com o objetivo de tocar a orbe que pairava sobre a escultura. Mas antes que tocasse, Hifumi o segurou.
— Não, San. Se comporte desta vez, vamos — disse, e San resmungou. Todos retornaram ao caminho, e a este ponto já não prosseguiam com a mesma cautela de antes. Estavam todos mais tranquilizados naquele lugar.
Depois de mais um tempo explorando, encontraram mais dois dispositivos iguais aquele em dois pontos laterais do reino. San estava certo, era aquilo que estava dando energia aos asteroides flutuando ao topo. Avançando mais a frente, começaram a ouvir ruídos de todos os lados. Ruídos de lobos correndo, uivando, latindo e rosnando. Parecia outra aglomeração. Hifumi andou na frente, para checar, e todos vieram atrás. Logo abaixo, havia um enorme buraco, e todos os lobos estavam juntos no fundo, como uma platéia. À frente deles, havia uma espécie de palco. Um trono de ametista estava posicionado ao centro do palco.
De repente, um homem apareceu de dentro de uma parede. Estava usando um roupão de pelos marrons, e um manto preto e branco por cima. Com uma coroa de pedregulhos escuros, e um cajado negro com energia roxa correndo por ele. Seus olhos eram apagados, sem cor, vazios como o limbo. E também, tinha uma grande barba. O rei se aproximou, e se sentou ao trono.
— Thaan xi Zuul Krr'ah! — exclamavam os lobos. — Thaan xi Zuul Krr'ah!
— Thaan xi Zuul Krr'ah!
— Thaan xi Zuul Krr'ah!
Todos olhavam de cima, e os lobos não paravam de repetir a mesma frase.
“Thaan xi Zuul Krr'ah, o que será que estão falando…?” pensou Hifumi.
— Estão dando “Vida Longa ao Rei”... aquele é o rei? — perguntou San.
— Vida longa ao rei? Você consegue entender o que estão falando? — questionou Thomas, impressionado.
— Ué, estão falando normal. O que me impressiona é os lobos poderem falar tão bem assim.
Hifumi ficou boquiaberto enquanto observava. Os lobos diziam uma língua completamente diferente do comum na visão dele.
— Está brincando conosco, não é, San? — perguntou.
— Ele fala a língua das estrelas, Hifumi. Eu também não sabia, mas vi ele falando com Zephyria quando estavamos no domínio do Espectral. Eles estavam conversando nessa língua… que apenas ele conseguia entender.
— Vool Soraa Griinah... nuur'esh ir Uum Khaaz al Nephthar... shaar Tal esh Ruum Jorbal, Naah esh? Vool Loraa... vraan'she Lak'tuur, Nash'kaa, i Kravool ir… — disse o rei, com uma voz doce demais para um imperador.
— Que… fascinante! A língua das estrelas ao vivo! O que está dizendo, San? — exclamou Milan.
— Está falando sobre as impurezas de Nephthar… e sobre purificá-las. Isto é, exterminar, pulverizar, ou capturar os invasores. Mas está falando de um modo tão delicado… não, isto não é o Rei. É a Zephyria, o controlando.
Após o Rei citar as palavras, os lobos uivaram em aceitação. E todos voltaram a repetir continuamente; — Thaan xi Zuul Krr'ah!
De repente, várias plataformas de magia roxa foram criadas pelo buraco abaixo. Os lobos foram pulando sobre as plataformas um a um, como uma escadaria. Foram escalando, até desaparecerem na infinidade ao topo. Quando o buraco já estava vazio, San pulou ao fundo.
— Espera, San! — Hifumi tentou segurá-lo, mas falhou.
— Zephyria! — exclamou San, se aproximando lentamente ao rei. — Zephyria… estou aqui. Sei que é você quem está controlando este humano, e sei que acabou de mandar os lobos para uma caçada atrás de nós. Mas estamos aqui para ajudá-la, Zephyria… acredite em mim, não queremos interferir em seus esforços… ou…
— San Hiroyuki… quanta coragem, vir até aqui em meu reino apenas para me desafiar com estas árduas palavras… Humilhante, para mim. Nada que diga, me convencerá de mudar minha decisão. Vocês são escória, vocês estão ajudando a corromper este mundo destruído. Então, minha missão é varrê-los daqui. Perdoe-me… pequenino… Eles confiaram em mim para isso, não posso desapontar meus seguidores…
Logo após Zephyria terminar, uma enxurrada de lobos apareceram por trás do trono, indo em direção ao San. Ele não tentou fugir, e nem ao menos demonstrou medo. Ele estendeu as mãos aos lobos, e disse a eles;
— Está tudo bem… sei que no fundo, cada um de vocês tem consciência do que estão fazendo. Eu sei o quão reconfortante é, ela deve cuidar muito bem de todos vocês, não é? Eu acredito que Zephyria seja uma boa “mãe”... não sou inimigo de vocês, ninguém é. Os humanos não estão mais aqui para domesticá-los ou tratá-los como meros brinquedos… Sintam-se livres, e sejam receptivos aos que apenas querem lhe ajudar… assim, no fim, talvez o dia que todos se entendam como família chegue até Nephthar…
Os lobos pararam imediatamente, e olharam para San, com expressões neutras. Nenhum deu mais nenhum passo sequer, e todos estavam centrados nele. San se aproximou dos lobos lentamente, e acariciou um deles. Ele latiu, e deixou San entregar-lhe afeto. De repente, a espada de Hifumi voou através do lobo, cortando sua cabeça. Os outros lobos logo se reativaram, e rosnaram furiosos. Milan se teleportou ao lado de San, pegando a espada de Hifumi e San nos braços, e então voltou com todos para a superfície.
— Merda, Hifumi! Eles estavam confiando em mim… você matou o lobo! Seu idiota! — berrou San, furioso.
— Acalme-se, garoto. Eu salvei a sua vida. Mas, assim como tinha dito, todos virão. Temos que nos preparar, e alcançar aquele Rei maluco.
— O Rei… eu vou, eu falo com o Rei. Vocês cuidam dos lobos — exclamou San, correndo para voltar ao reino. Mas Milan se teleportou à sua frente, e lhe barrou com uma lança de luz nas mãos.
— Não… desculpe-me, mas San Hiroyuki não passará daqui.
Notas:
Aviso: Todas as ilustrações utilizadas na novel foram geradas por IA. Perdoe-nos se algo lhe causar desconforto visual.
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