A Terceira Lua Cheia Brasileira

Autor(a): Giovana Cardoso


Volume 1

Capítulo 29: Retorno

" Mesmo a lâmina mais afiada hesita quando é o coração que precisa ser ferido."

(Entre a Lâmina e o Coração, Kenta Yukimura)

 

3ª Lua do ano 1833

Lua do Chama, dia 2




Yuri piscou com dificuldade. As pálpebras pesadas pareciam feitas de chumbo. Quando finalmente conseguiu abrir os olhos, tudo girava, e o cheiro de desinfetante misturado com antisséptico fez seu estômago se revirar. Um bip constante preenchia o silêncio ao redor, abafado apenas pela respiração suave de alguém por perto.

A primeira coisa que viu foi a janela coberta por uma cortina bege, a luz do dia filtrando-se em listras pálidas. Depois, percebeu a silhueta de alguém encolhida na poltrona ao lado da cama. Sua mãe, Akiko, dormia com a cabeça caída para o lado, o rosto visivelmente cansado.

"Estou mesmo de volta?", pensou, mas a pergunta parecia absurda demais para ser dita em voz alta. O coração começou a bater com força, e a dor no peito se manifestou como fogo. Tentou respirar fundo, mas uma náusea repentina tomou conta do corpo. O som que escapou foi um gemido rouco, fraco.

Akiko despertou imediatamente, os olhos se abrindo num susto.

— Yuri...! — A voz dela se quebrou no meio do nome. — Meu filho... graças aos céus... você acordou...

Ela se aproximou rápido, segurando sua mão entre as dela, quentes e trêmulas. Lágrimas começaram a escorrer pelo rosto dela, e Yuri não sabia o que dizer.

— Você ficou desacordado por mais de duas semanas — ela disse, tentando conter o choro. — E… os médicos disseram que foi um milagre você ter sobrevivido.

Yuri mal teve tempo de pensar e uma voz grave e conhecida soou atrás dela:

— Perfuração no hemitórax direito, trauma torácico grave, lesão pulmonar. Você teve pneumotórax extenso. 

Era o Dr. Nakahara, colega de trabalho de Yuri no hospital. Ele observava o monitor com atenção antes de encará-lo.

— Foi entubado, passou por drenagem torácica e ventilação mecânica. Retiramos o tubo há três dias. Ainda vai precisar de fisioterapia respiratória e de um tempo considerável de reabilitação, Koyama.

Yuri piscou, tentando processar. 

— Q-quan-to tem-po…? — Apesar do grande esforço para falar, sua voz não pareceu mais que vento saindo de seus lábios. Mas o médico entendeu.

— No mínimo, dois meses até recuperar a capacidade pulmonar. E, mesmo assim, sem esforços físicos. — O Dr. Nakahara suspirou. — É um milagre estar vivo, mas ainda não está fora de perigo.

“Dois meses.”

As palavras soaram como um golpe.

— Disseram que encontraram você num beco, inconsciente — continuou Akiko, tentando se recompor. — Foi horrível. Você foi levado para o hospital em Itakawa, mas  o Hiroshi pediu a transferência pra cá…

Yuri virou o rosto devagar.

— Me-u p-pai? — A voz saiu fraca, quase um sussurro. — E-le ess-tá a-qui?

Akiko hesitou. Por um momento, tudo o que se ouviu foi o som do monitor cardíaco.

— Não... Ele se recusou a vir. Disse que... que não sabia mais quem você era.

Yuri apenas fechou os olhos.

O bip do monitor parecia distante.

Era o mesmo quarto de UTI em que Misaki morrera. O mesmo ar pesado. Mas agora era ele quem havia voltado da beira da morte.

A porta se abriu com um baque e, antes que pudesse processar, algo pequeno e quente se jogou em cima dele.

— Yuriiii! — Otsu chorava, soluçando alto sobre as pernas do irmão. — Pensei que... pensei que nunca mais ia poder conversar com você! 

Ela estava diferente. Mais alta, o rosto mais maduro, mas ainda com os olhos da menina que ele lembrava. Yuri tentou sorrir, mas o coração parecia esmagado.

 

Foram vinte e sete dias até que a equipe médica considerasse seu quadro estável o suficiente para uma alta. A drenagem havia sido retirada, os ferimentos começavam a fechar, mas o cansaço não passava. Cada movimento parecia exigir mais oxigênio do que o mundo podia oferecer.

Otsu o visitava quase todos os dias, sempre trazendo algo. Flores, cartas da mãe ou apenas histórias sobre ela mesma. O som da voz dela era o que o prendia à realidade.

No dia em que finalmente recebeu alta, Akiko o abraçou com força.

— Quando sair daqui, volte pra casa, Yuri. Sua antiga casa... ela ainda é sua.

Ele balançou a cabeça, firme.

— Não. Eu... não posso voltar. Jamais.

Akiko o olhou por um instante, triste, mas não insistiu. Otsu também não disse nada, apenas segurou a mão dele mais forte.

 

Quando Yuri finalmente retornou para Itakawa, o ar parecia mais frio do que se lembrava e o apartamento, pequeno e silencioso, um espelho do que restava dele. Nos primeiros dias, mal conseguia subir as escadas sem parar para respirar. 

Todas as noites, antes de dormir, fechava os olhos e revia seus rostos: Akemi, Shin, Kiku... Haruka, Hikari, Ryota.

Estariam vivos? Teriam escapado?

Ele ainda conseguiria voltar algum dia?

Passava boa parte do tempo deitado no sofá, o som do próprio coração o lembrando constantemente de que ainda estava vivo. 

Mas o silêncio o matava aos poucos.

Então certa manhã, decidiu testar o corpo. Vestiu um moleton, prendeu o cabelo e saiu para caminhar. Deu alguns passos mais rápidos e o pulmão protestou. O ar parecia ferro quente atravessando o peito. Tentou continuar, teimoso, e acabou tendo que se apoiar em uma cerca, ofegante. Vomitou o café da manhã ali mesmo, sentindo o gosto metálico subir pela garganta. 

“Ridículo”, pensou, limpando a boca. “Um médico deveria saber melhor sobre suas próprias limitações.”

Mas não era aquele sentimento de fraqueza, de não ter controle total sobre o próprio corpo, que o corroía.

 

Na semana seguinte, Otsu foi visitá-lo em Itakawa.

Chegou com sua habitual energia juvenil, carregando uma sacola com doces, revistas, e uma expressão determinada de quem ia colocar o mundo do irmão em ordem. Não demorou nem cinco minutos até que encontrasse o intruso de quatro patas enrolado no canto da sala.

— Aaah, por que você nunca me contou que tem um gato?! — Seus olhos brilharam, abaixando-se em direção ao felino, que a observava com a tranquilidade de um velho sábio.

Yuri suspirou, cruzando os braços.

— Eu não tenho — disse, com o tom seco de quem já estava cansado daquela conversa. — Esse gato não é meu.

— Mas ele parece gostar de você! — Otsu estendeu a mão e o gato se aproximou, roçando a cabeça nos dedos dela com um miado satisfeito. — Que gracinha! Precisamos dar um nome a ele!

— Nem pensar.

— Que tal… Sr. Peludo?

Yuri revirou os olhos com tanta força que quase conseguiu ver a própria nuca.

— Viu? — Ela disse, como se tivesse ganhado a discussão. — Ele gostou.

— Já disse que esse gato não é meu! E esse nome é ridículo!

— Tudo bem, então ele pode ser meu. — respondeu ela, com um sorriso inocente e um carinho final no topo da cabeça do gato.

 

Depois que Otsu foi embora, a casa voltou ao seu estado habitual de silêncio. O vento batia fraco na janela. Havia restos de luz filtrando pelas cortinas, pintando a sala com tons alaranjados.

Yuri sentou-se no sofá, cansado demais para qualquer coisa. Foi então que percebeu que ele ainda estava ali.

O gato. O tal "Sr. Peludo".

Tinha se instalado no canto da poltrona, dormindo enrolado como uma almofada viva. Quando notou seu olhar, se esticou num bocejo exagerado, caminhou até ele e se enroscou aos seus pés. Sem cerimônia.

Por um instante, Yuri apenas o observou. A respiração calma. O calor do corpo. Aquilo era real. Tangível.

E mesmo com tudo tão incerto... pela primeira vez desde que voltou, ele sentiu uma ponta de... calma. Sorriu, quase sem perceber.

— Sr. Peludo...

Ergueu o corpinho do felino com cuidado e disse o nome como quem experimenta um gosto estranho, mas familiar. E o gato ronronou, como se desse razão a ele.

Talvez ele não fosse seu.  

Talvez nada mais fosse.  

Mas ele estava ali.

 

Foram semanas até que ele conseguisse andar distâncias mais longas sem sentir dor. Ainda tossia quando o tempo esfriava, e ainda sonhava com o tridente do imperador atravessando seu peito.

Ainda não estava autorizado a voltar ao trabalho, mas o silêncio do apartamento começava a se tornar insuportável. Então decidiu visitar um lugar onde poderia encontrar um pouco de normalidade.

O Kokoro Café não parecia ter mudado nada. Os sinos ainda tilintavam na entrada, o cheiro de café fresco invadia o ar, e a vitrine exibia os doces caprichados de Keid como pequenas obras de arte. Por um momento, ele se perguntou se tudo aquilo tinha mesmo continuado existindo enquanto estava no passado.

Quando entrou, Diro estava atrás do balcão, organizando xícaras, como sempre fazia. Ao vê-lo na porta, largou tudo com os olhos arregalados.

— Yuri?!  

— Oi, chefe — tentou sorrir, sem muito jeito.

Ele saiu de trás do balcão em dois passos e puxou Yuri para um abraço forte demais.

— Caramba! Aonde você se enfiou? Achei que tivesse ido embora de vez!  

— Eu... precisei de um tempo. Aconteceram algumas coisas.  

Keid apareceu da cozinha, as mãos ainda cobertas de farinha.

— Yuri?! Ah, cara! — ele se aproximou também, batendo nas costas de Yuri com força. — Pensei que você tivesse... sei lá. Desistido da gente.

— Quase — confessou Yuri.

Diro o soltou e olhou em seus olhos.

— Você tá com uma cara péssima.  

— Obrigado pela sinceridade.  

— Senta aí, vou te fazer um café. Daquele forte que você gosta.

Enquanto ele preparava, Keid se sentou ao lado de Yuri, pegando um pãozinho ainda quente de uma cesta.

— Toma. Come isso. Tá fresco.  

Yuri aceitou, em silêncio, e comeu devagar. O sabor era bom e fez algo dentro dele se aquecer.

— A gente ficou preocupado, sabe? — continuou Keid. — A polícia veio aqui fazer perguntas. Disseram que você tinha sido atacado.  

— É o que estão dizendo — murmurou Yuri, encarando o café que Diro colocou na sua frente.

— E não é? — ele perguntou com cuidado.

Yuri desviou o olhar. Por um instante, o tridente do imperador voltou à sua mente. O som do metal rasgando a carne. O grito preso na garganta. Akemi...

— Mais ou menos — respondeu, evasivo. — O que aconteceu é... difícil de explicar.  

— Só queremos saber se você está bem. — disse Diro. — O resto, você pode contar quando quiser. Ou não contar nunca. Não importa.  

— Obrigado.  

— Mas ó... se for ficar mais tempo sumido, manda uma mensagem, beleza?  

— Pode deixar.

Ficaram em silêncio por alguns segundos. Yuri tomava o café e Keid beliscava outro pãozinho, como se não quisesse estragar o momento.

— E o gato? — perguntou Diro, de repente.

— Como?  

— Aquele gato que ficou rondando o prédio. Sua irmã disse que você adotou ele.  

— Eu não adotei. Ele só... apareceu.  

— E ficou — completou Keid, com um sorriso travesso. — Parece que te escolheu.  

Yuri suspirou.  

— Ela quer chamá-lo de “Sr. Peludo”.  

— Adorei. — disse Diro, rindo.  

— Detesto.  

— Não importa. O nome já pegou. — Diro deu de ombros. — Agora ele é mascote do Kokoro também.  

— Não me responsabilizo por isso.

Apesar da reclamação, Yuri não conseguiu evitar o leve sorriso que escapou. Quase conseguia se sentir em casa de novo.

Mas não completamente.

 

Mais tarde, quando chegou ao apartamento, Sr. Peludo o esperava na janela, como sempre. Se enroscou nas suas pernas e depois pulou no sofá como se fosse dele. Yuri se sentou ao lado dele, acariciando suas orelhas devagar.

Pegou o celular no bolso da calça. Queria ver de novo o rosto dela. A única foto que tinha... mas ela não estava mais lá.

Revirou todas as pastas, o histórico de arquivos, até o backup. Nada. Como se o tempo tivesse decidido apagar qualquer prova de que Akemi um dia havia existido neste mundo.  

Seu coração afundou. 

— Sr. Peludo... eu tô com medo de esquecer o rosto dela — murmurou, como se o gato pudesse entender.  

Ele ronronou, se aninhando ao seu lado.

“Será que tudo o que vivi lá... foi mesmo real?”

Yuri fechou os olhos, tentando segurar a lembrança viva em sua mente.  

Ela sorrindo.  

Ela lutando.  

Ela dizendo seu nome.

E aquele último olhar antes de...

Ele ainda não sabia como, mas tinha certeza:  

Precisava voltar.

Mas antes disso, tinha uma ligação importante para fazer. Pegou o celular novamente e discou o número que conhecia tão bem. O telefone tocou algumas vezes antes de ser atendido.

— Alô? — A voz do pai soou do outro lado da linha. 

Yuri respirou fundo e reuniu coragem.

— Pai, sou eu, Yuri. Eu preciso falar com você sobre algo importante.

Do outro lado da linha, silêncio. Por um segundo, Yuri chegou a pensar que o pai desligaria na cara dele. Mas então ele finalmente respondeu, seco como sempre:

— Se quiser conversar, venha até aqui.  

— Eu estou indo — respondeu Yuri, sem hesitar.

 

**

 

A viagem de trem parecia mais longa do que da última vez. Talvez porque ele tivesse mudado ou talvez por ter passado tanto tempo distante.

Agora, o mesmo trem que o levara para longe, o trazia de volta.

Ao desembarcar em Akimitsu, sentia como se uma versão antiga dele estivesse o esperando ali, parada na plataforma. A cidade era a mesma, mas ele não era. Cada esquina trazia uma memória. Da infância, da juventude, dos dias com Misaki. Era como voltar para casa e, ao mesmo tempo, como invadir a vida de outra pessoa.

Antes de ir até a casa onde cresceu, antes de enfrentar o pai... havia algo que ele precisava fazer.

Nas horas seguintes, passou sozinho por todos os lugares que carregavam lembranças boas. O parquinho onde Otsu aprendeu a andar de bicicleta, o templo onde ele e Misaki deixavam bilhetes em pedaços de papel colorido, a velha loja onde compravam doces após a escola. Cada passo era um mergulho no passado, um confronto direto com a pessoa que ele havia sido no passado.  

E enfim, foi até o cemitério.

Yuri ficou em silêncio diante do túmulo de Misaki por muito tempo, como se nenhuma palavra pudesse alcançar a ausência que ela deixou. O vento soprava frio, mas não tanto quanto a primeira vez em que soube que ela se foi. 

— Por muito tempo pensei que deveria carregar suas lembranças comigo para sempre... — começou, quase num sussurro. — Mas já não sou a mesma pessoa que você conheceu. Acho que... se me visse agora, nem me reconheceria.  

Sentou-se na grama, observando as flores secas deixadas por alguém que veio antes dele. Talvez a mãe dela.

— Você sempre sorria, mesmo quando as coisas estavam difíceis. Fazia até os meus erros parecerem positivos.  

Fechou os olhos, sentindo o vento acariciar o rosto.

— Eu te amei tanto... E ainda amo. Mas agora entendo que nossos sentimentos também mudam. Lentamente, com o tempo. 

Pausou, deixando que o silêncio respondesse por ele.

— Aquela dor que senti... nunca foi embora. Só... ficou mais leve. Como uma ferida que cicatriza, mas que ainda dói se eu apertar.  

Yuri enxugou uma lágrima que escorreu sem pedir permissão. E então se levantou.

— Obrigado, Misaki. Por tudo o que você foi pra mim.

Deu um passo para trás, começando a se afastar devagar.

— Adeus.

 

**

 

Uma hora depois, Yuri estava parado diante do portão de sua antiga casa, observando o jardim que o jardineiro sempre cuidou com tanto carinho. Era a parte que sua mãe mais gostava na casa. As cortinas da janela estavam fechadas. Não sabia se ela estava lá. Também não importava naquele momento.

O portão da antiga academia da família Koyama rangeu ao se abrir. O lugar parecia menor do que Yuri se lembrava, mas ainda conservava a mesma sensação de ser sagrado, como se o tempo ali se movesse mais devagar. 

As paredes, o cheiro da madeira antiga e do tatame... tudo estava igual. A brisa balançava levemente os galhos do velho carvalho no pátio central. Aquele era o lar de seu passado, das lembranças com Otsu e dos treinos intermináveis sob o olhar severo do pai.

O som seco dos passos ecoando no corredor o fez parar. Ele sabia de quem se tratava antes mesmo de olhar.

— Então você voltou — disse Hiroshi com a mesma voz firme de sempre, sem surpresa alguma no tom. Vestia o uniforme tradicional da academia e segurava um bastão de treino nas costas. O corpo atlético ainda vigoroso para seus cinquenta e dois anos. Seus olhos avaliavam Yuri como quem observa um oponente, e não um filho.

— Não para ficar — respondeu Yuri com calma. — Preciso de algo que deixei aqui.

O pai cruzou os braços, observando-o em silêncio. O peso daquela ausência de palavras era mais incômodo que qualquer grito.

— Foi você quem pediu minha transferência pro hospital de Akimitsu, não foi?

Hiroshi não respondeu imediatamente. Por fim, disse apenas:

— Você ainda é um Koyama.

A frase caiu como uma sentença. Era tudo o que Hiroshi tinha para oferecer: não um pedido de desculpas, não um “estou feliz que você está vivo”. Apenas um lembrete do nome que carregava. Ainda assim, soou como um abraço para Yuri.

— O que aconteceu comigo... mudou tudo — Yuri continuou, tentando manter o tom firme. — Eu vi coisas que ninguém acreditaria. E por muito tempo, neguei tudo que aprendi aqui. A técnica da família, o dojo... você.

O olhar de Hiroshi se manteve duro, inquebrável.

— E agora?

— Agora eu entendo. A gente salva pessoas de várias formas. Às vezes com um bisturi. Às vezes com uma espada.

Por um momento, algo nos olhos de Hiroshi pareceu vacilar. Um segundo apenas. Mas foi o suficiente.

— A espada da família está onde sempre esteve — ele disse, virando as costas. — Se for usá-la, que seja com dignidade. Mas fará isso sozinho.

Yuri observou o pai sumir pelos corredores da casa e então seguiu até o velho depósito. Lá, envolta num pano de linho vermelho, estava a espada ancestral dos Koyama. Quando segurou o cabo da espada, sentiu o peso do tempo. Do sangue. Do dever.

Ergueu a lâmina com as duas mãos. Ela refletia a luz pálida do fim da tarde. E, naquele instante, não se sentiu mais em conflito com quem era.

 

A partir dali, começou a treinar. Sozinho. Dia após dia, sob o vento frio e o som das folhas ao redor. Cada movimento era uma conversa silenciosa com o passado. Cada golpe era uma pergunta sobre quem ele queria se tornar. 

Não retornou à antiga casa. Em vez disso, alugou um quarto simples em uma hospedaria próxima à estação. Precisava de distância. De silêncio. E de tempo.

Você já se perguntou o que faz cada pessoa ser única? O que faz você ser você mesmo?

Yuri finalmente começava a entender.

Alguns diriam que é o nome. Ou as escolhas. Ou as memórias.  

Mas, para ele, agora...  

Era aquilo que você decide carregar, e aquilo que decide deixar para trás.

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