Volume 1,5
Capítulo 8: O Peso da Profecia
Shin nunca soube como conseguiu retornar para a vila naquela noite. Talvez por já ter feito o mesmo percurso tantas vezes, seus pés já haviam decorado o caminho.
Sua cabeça girava. Ainda não compreendia o que havia acontecido. Estariam todos realmente mortos? A imagem de Koji surgiu em sua mente, sorrindo ao contar que iria se casar. Isso tinha acontecido apenas alguns dias antes. Como poderia ser possível que ele não estivesse mais ali? Koji nunca se aposentaria, nunca se casaria. E tudo por culpa de Shin.
Chegou à vila provocando gritos de admiração em um grupo de senhoras. Não havia nem mesmo se dado conta de que suas roupas foram completamente queimadas também. Seu braço latejava, mas não se importava com isso no momento.
Um servo da família o cobriu com uma capa enquanto ele entrava. Seus passos eram cada vez mais rápidos e mais pesados quando entrou no escritório do pai.
— Está de volta, Shin. Mais uma vez com êxito, posso presumir — disse Renji, erguendo os olhos dos papéis que examinava sob a luz das lanternas. — Ah, houve algum problema?
Então, Shin contou tudo o que havia acontecido, jogando as palavras para fora como se estivesse se livrando de um peso insuportável. Sua voz estava rouca, e ele se esforçava para falar o mais alto que conseguia. As vidas perdidas jamais poderiam ser recuperadas... Sua cabeça latejava, seu corpo doía, e o peito parecia queimar. Seus olhos ardiam de tanto esforço, mas nenhuma lágrima caiu enquanto ele despejava toda a sua dor.
Ayame se aproximou quando Shin terminou de falar. Pela expressão nos rostos dela e de Renji, não pareciam surpresos ou simplesmente não se importavam.
— Estamos em guerra constante, Shin — disse seu pai, colocando os papéis de lado e apoiando o queixo nas mãos. — Perdas são inevitáveis. Não se culpe pelo que aconteceu hoje.
A raiva borbulhou dentro de Shin. Ele sabia que a vida daqueles que morreram havia sido tirada por suas próprias mãos. Como poderia não se culpar? maior quando se conhecia os rostos daqueles que haviam partido, quando se sabia exatamente quais famílias nunca mais veriam seus entes queridos. Ele queria jurar vingança contra o responsável por aquela guerra insana, mas naquele momento, o culpado parecia ser ele mesmo.
— Quem sou eu, afinal? — gritou, engasgando-se com as próprias palavras. — O que tudo isso significa?
— Você é o herdeiro do clã Ito — respondeu Renji com frieza.
As palavras atingiram Shin como brasas ardentes. O herdeiro do clã do fogo?
Renji sequer se moveu de onde estava sentado.
— Você realmente nunca soube, Shin? Ou simplesmente escolheu fechar os olhos para as evidências ao seu redor?
Shin apertou os punhos, avançando furiosamente em direção ao pai.
— Shin! — Ayame interveio, sua voz carregando um tom de súplica. — Perdoe-nos por nunca termos revelado a verdade, mas o que Renji diz é verdade. Você costumava sonhar com o dia em que nasceu, não é?
Shin estremeceu. Aquele sonho... Nunca havia contado a ninguém. Agora entendia que não era um sonho, mas uma lembrança. A imagem de uma mulher gentil, sua verdadeira mãe.
— Como sabe disso?
— Isso não importa agora — continuou Ayame, olhando brevemente para Renji antes de voltar seus olhos para Shin. — Você nasceu no dia em que houve o golpe. Haveria um torneio para decidir o próximo herdeiro, pois, apesar da idade avançada, o imperador ainda não havia gerado um filho legítimo. Mas a imperatriz, sua mãe, estava escondendo a gravidez. Quando os líderes dos clãs descobriram, se revoltaram e tomaram a capital. Foi um massacre. Não restou ninguém do clã Ito. Ninguém, exceto você.
Shin fechou os punhos com força, ignorando a dor no braço queimado. Renji desviou o olhar, sua expressão mais sombria do que nunca.
— Foi sua mãe, que era originalmente Yamagawa, quem salvou sua vida — disse Renji em um tom baixo, quase sussurrado. — Em um momento de desespero, ela escapou pelos jardins do palácio, correndo para salvar você. Fez um pacto com a deusa Izanora: salvar a sua vida em troca da própria. Foi eu quem a encontrou e o trouxe para a segurança. A promessa de um futuro melhor nas mãos de um frágil bebê.
— Esconder sua identidade fazia parte do pacto — explicou Ayame. — Até que a magia das chamas despertasse e marcasse o momento certo para reivindicar o trono que é seu por direito. Na terceira lua cheia após o seu vigésimo oitavo aniversário, você deverá ascender ao trono, trazendo equilíbrio e justiça ao império
A verdade atingiu Shin como uma onda devastadora. Tudo o que seu pai fizera ao longo dos anos não era um ato de amor pelos filhos, mas uma estratégia para garantir o poder no futuro. Durante seus vinte e seis anos no clã Yamagawa, Shin nunca ficara sem palavras em uma conversa, mas agora, as palavras o abandonaram. Ele apenas assentiu com a cabeça e se retirou em silêncio.
No corredor, Haruka o esperava. Seus olhos se arregalaram ao ver Shin sair repentinamente, e ela abriu a boca para falar, mas Shin foi mais rápido.
— Você sabia?
Ela estremeceu, mas respondeu em tom baixo.
— Sim, já sei há algum tempo.
Mais tarde, em seu quarto, após tratar de seu ferimento, Shin afundou em pensamentos.
Sentia como se uma parte vital de si mesmo tivesse sido arrancada, algo tão essencial quanto o próprio ar que respirava.
Então percebeu o que estava errado.
Sua magia o havia abandonado.
Silenciosamente, vestiu sua máscara de lobo e envolveu-se no manto negro. Como uma sombra, desapareceu na escuridão da noite, carregando consigo o peso da esperança de todo um império.
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