A Terceira Lua Cheia Brasileira

Volume 1,5

Capítulo 7: O Despertar

Após uma arriscada incursão nas terras do clã Mizushima, Shin retornava à frente dos Lobos Divinos. Envoltos pela penumbra e pela névoa noturna, moviam-se como espectros entre as árvores da Floresta Sombria. A cada passo, a chuva pesada encharcava o solo, abafando os sons de seus movimentos. Contudo, havia algo no ar que perturbava Shin; uma sensação inquietante rastejava por sua pele, deixando um rastro de calafrios.

— Algo está errado — murmurou, parando abruptamente. — Sinto uma presença hostil mais adiante.

Seus companheiros se entreolharam. Não havia como terem sido seguidos. Shin permaneceu imóvel por um instante, fechando os olhos, concentrando-se. Era capaz de estender sua energia mágica por uma vasta área, detectando a presença de seres vivos nas proximidades.

— Shin? — chamou Koji, tocando levemente seu ombro quando Shin finalmente abriu os olhos. — Qual a sua decisão?

— Eles estão por perto e em grande número. Se avançarmos agora, seremos sobrepujados — disse Shin, seus olhos analisando cada sombra ao redor. A chuva escorria pela máscara que usava, misturando-se com o suor que lhe colava os cabelos ao pescoço. — A única opção é atraí-los para dentro da floresta, longe do portão.

Os outros assentiram em silêncio. Com movimentos furtivos, o grupo se embrenhou ainda mais na escuridão da floresta. Mas a tranquilidade durou pouco. Em um instante, a noite explodiu em caos. Guerreiros do clã Mizushima emergiram das sombras, aproveitando a chuva que caía como uma cortina para camuflar sua presença. Os Lobos Divinos se prepararam para o confronto inevitável.

Tridentes cortavam o ar como estrelas cadentes, refletindo a luz da lua que se esgueirava entre as folhas. Apesar de Shin e seus companheiros dominarem as sombras, os inimigos se regeneravam rapidamente, curando ferimentos quase instantaneamente graças à sua conexão com a energia vital da água.

Shin não hesitou. Manipulando as sombras ao seu redor com maestria, ele desferia golpes precisos com sua espada, movendo-se com a graça letal de uma dança de combate. Cada movimento era calculado, sua técnica uma fusão perfeita de poder e agilidade.

Mas, por mais que se esforçasse, o número crescente de inimigos começava a sobrecarregá-los. Ao seu redor, via seus aliados sendo feridos, suas forças se esvaindo. Sentiu a raiva tomar conta dele, queimando em seu sangue. Ele não podia permitir que seus companheiros caíssem. Não enquanto estivesse no comando.

Shin gritou. Um grito saído das profundezas se sua alma, ele daria tudo de si para vencer.

Foi quando explodiu.

Mas o que emanava dele não eram sombras. Eram chamas.

— O que é isso?! — gritou um dos inimigos, a voz carregada de pavor e dor.

Shin olhou para suas mãos, atônito ao ver as chamas que agora as envolviam. A surpresa e o terror refletiam-se em seus olhos. A dor lacerante irradiava de seu braço direito, mas ele a ignorou, movido pela adrenalina e pela necessidade de lutar. O fogo se espalhou, engolindo todos à sua volta. Gritos de agonia ecoavam na noite, e Shin não sabia mais se eram de seus inimigos ou seus próprios.

Lutou até o esgotamento total de suas forças, até que o fogo finalmente se dissipou. Ofegante, caiu de joelhos no chão encharcado. A chuva fina normalizando aos poucos a temperatura do seu corpo. O cheiro de fumaça e o calor das chamas impregnavam o ar. Shin olhou em volta, contemplando a devastação que havia causado.

Foi só aí que se deu conta. Não havia queimado somente seus inimigos, seus próprios companheiros jaziam em meio às cinzas, ossos carbonizados e irreconhecíveis. Se o que viu em Aoiyama era inquietante, a cena à sua frente agora era o verdadeiro inferno.

Curvado quase com o rosto na terra, ele agonizou vomitando tudo o que tinha no estômago.

Um último grito rasgou sua garganta, tão profundo e devastador que parecia não pertencer a ele.

Tudo estava acabado.