Volume 1
Capítulo 46: Uma proposta
— Foda-me! Eu… eu não tenho palavras, pequena aberração — resmungou Qian, querendo gritar no momento que Hyan entrou pela porta. Contudo, somente o choque ficou presente em seu rosto ao vislumbra-lo depois de tanto tempo.
— Velhote. Faz um longo tempo — declarei, sorrindo gentilmente ao velho homem, vendo-o sentado aturdido atrás de sua mesa.
— Um longo tempo o cacete! Eu tive que bancar seu pessoal por quatro longos meses!
— Você sabe, a maioria são mulheres, o que você esperava que eu fizesse com mulheres? Desse um pano para polir os metais? Ou um martelo para golpearem? Sabe o quanto de dunares eu perdi nesse período? — Rosnou Qian indignadamente.
— Desculpe, Velho Qian. Eu realmente não esperava que demoraria tanto tempo, mas não vamos falar dessas pequenas coisas. Hoje eu vim com uma proposta, e gostaria que aceitasse — falei sinceramente, vendo seu rosto se distorcer.
— Proposta o caralho! Você se comprometeu a construir um Alto Forno, e ainda estou esperando para aprender as duas novas ligas metálicas! — Rosnou Qian, não deixando que o jovem escapasse.
— Oh! Isso? Sem problemas, irei cumprir posteriormente. Por isso, voltamos a questão que quero conversar…
— Honestamente, quero sua ajuda na criação de um empreendimento — falei com seriedade, vendo sua pequena mudança.
— Hmpf! Que tipo de empreendimento? — resmungou Qian, me olhando desconfiadamente.
— Eu quero criar a Associação dos Ferreiros, e queria que você liderasse como presidente desse grupo, tendo a Família Fayfher como seu apoiador — declarei, não conseguindo conter o meu orgulho.
— O quê! Associação de Ferreiros? Que merda de cachorro é isso! — Bufou Qian desinteressadamente.
— Oh! Não diga isso, apesar de você não ter revelado suas mágoas, estou ciente que os anões mantém um preconceito racial tremendo por meios-anões.
— Os humanos então… apesar de não serem tão rígidos como com outras raças; ou os próprios anões… Bem, acredito que muitos tentaram lhe escravizar com propostas atrativas.
— O objetivo da Associação de Ferreiros é aumentar o prestigio dos ferreiros, não deixando que seu valor seja menor que os dos próprios magos em nosso domínio. Simplificando, irei formar cinco status dentro dessa associação”.
— A princípio, um indivíduo não despertado pode pegar pequenos trabalhos que podem ser feitos sem a necessidade da energia interna. Veja isso como um processo básico igual a Associação de Aventureiros, fazendo um cadastro e pegando algumas missões de trabalho.
— Desta forma, pequenos ferreiros não passarão aquela tremenda dificuldade para encontrar um bom local de trabalho, como também irá motivar as pessoas a seguirem essa profissão.
— Claro, pessoas irão fazer seus pedidos na Associação de Ferreiros, proporcionando uma renda fixa com esse método.
— O segundo status é para ferreiros despertados, como também nos comprometemos a despertar as pessoas que estiverem dispostas a assinar um tratado com nossa Associação.
— Nessa categoria, os trabalhos ainda serão simples, mas que terão uma remuneração maior, começando assim a diferenciar nossos verdadeiros membros do restante…
— Na terceira categoria, serão ferreiros que assinaram um tratado de sigilo com a associação, essas pessoas serão ensinadas a refinar ligas metálicas mais simples, ganhando assim uma parte da venda das ligas metálicas impostas pela própria Associação.
— Desta forma, usando os mesmos métodos da Raça dos Anões, ao qual acredito que não preciso mencionar sua praticidade. Acredito que a nossa renda sera certamente grande com esse método.
— Quanto a quarta categoria, ensinaríamos ligas metálicas mais avançadas, como poderão pegar trabalhos na criação de grandes armas e armaduras, assim como forneceríamos pessoalmente determinados materiais para a conclusão de seus trabalhos.
— Quanto a última categoria, iriamos fornecer as ligas mais preciosas, como técnicas de refinamento, assim como deixaremos que participem da elaboração de grandes obras-primas, deixando seus nomes gravados na história. — Finalizei, vendo a expressão vazia do velho meio-anão.
— Espera! Deixa-me ver se entendi. Você quer que eu coordene todo esse empreendimento? Além disso, quer espalhar esse método por diversos territórios, incluindo os daqueles governantes arrogantes? — indagou Qian estranhamente.
— Sim. Mas não se preocupe, tenho outros empreendimentos em mente, apesar de na superfície serem negócios diferentes, nas sombras, todos os empreendimentos estarão interligados.
— Além disso, tenho métodos para formar uma rede de informação em primeira mão, é algo que nenhum poder, incluindo a Associação de Aventureiros tem em sua posse — comentei, vendo o velho tremer intensamente.
— Maldição! Vamos começar esse empreendimento! Eu começo a tremer de excitação só de imaginar a cara daqueles governantes arrogantes quando tiverem que vir até mim com o rabo entre as pernas! — Gritou regozijamente Qian, ansioso para o futuro.
— Certo, gosto dessa animação. Nesse caso, vamos conversar sobre os pequenos detalhes, a partir daí as coisas podem avançar lentamente… — proclamei, sentando-me em frente à mesa, vendo a expressão peculiar do velho homem.
Desta forma, vendo a noite envolver totalmente o céu, conversando com Qian todos os detalhes importantes, incluindo o despertar de alguns de seus ferreiros, que há anos trabalhavam sob sua bandeira.
Honestamente, eu conseguia ver seus olhos brilhando intensamente ao mencionar todos os tipos de trabalhos que necessitaria para a criação dos instrumentos mágicos que venderia sob o nome da Mansão do Resplandecer Prateado.
No entanto, em meio a minha conversa, senti-me um pouco desconfortável. Afinal, em nem um momento Qian perguntou sobre meu suposto Mestre.
E seja dito a verdade, continuar com essa mentira poderia trazer graves consequências para nosso futuro relacionamento.
— Qian. Você não vai perguntar sobre o meu mestre? — indaguei, vendo-o olhar para mim estranhamente.
— Isso é importante? — Bufou Qian casualmente.
— Isso, definitivamente é importante… — respondi seriamente.
— Tudo bem. Existe um suposto mestre? — perguntou Qian indiferentemente, tornando-me a tremer, olhando-o aturdidamente, vendo seu sorriso zombeteiro.
— Garoto. Você sempre ensinou as coisas sem pensar duas vezes, era como se pedir a permissão do seu mestre nunca passasse por sua mente…
— Além disso, não vamos esquecer que você quase morreu ao subjugar aquele maldito tesouro, sem falar nas outras histórias que ouvi do seu povo. — Rosnou Qian com indiferença.
— Por mais que você diga que seu mestre pretende deixa-lo crescer, somente um idiota degenerado não faria nada ao ver seu discípulo, que com muita dificuldade cultivou por anos, morrer.
— A muito tempo desconfiei que essa suposta figura excepcional nunca existiu, tenho ainda mais confiança ao ver sua reação agora… — Bufou Qian sem mais nada a dizer.
— Você… você não está bravo? — indaguei, um pouco ansioso ao vislumbrar sua expressão.
— Estou, e não estou. Talvez você tenha feito isso devido a sua idade, para não ser subestimado. Mas quer saber, apesar de curioso, não me importo. Eu nunca presenciei qualquer tipo de preconceito em seus olhos durante toda a nossa interação.
— Garoto, pode parecer insignificante, mas você não sabe o quão deprimente e ser desprezado por simplesmente nascer diferente. Não importa o quão habilidoso eu fosse, o quanto eu me esforçasse, o desprezo das pessoas sempre esteve ali presente…
— Afinal, Colak foi o único humano que realmente não se importava com as minhas origens, por isso o recebi como meu discípulo, assim como lhe dei o direito de todas as minhas posses. Quanto a você, fedelho, foi o segundo.
— Você me ensinou diversas vezes, teve muitos motivos para zombar da minha aptidão, mas nunca o fez, nunca nesse longo período presenciei qualquer tipo de preconceito em sua atitude.
— Portanto, não me importo como chegou na sua posição, quem sabe você não me conta um dia bebendo uma boa cerveja?
— Tudo o que quero nesse momento e ver a cara daqueles governantes arrogantes se humilhando em minha frente… — Riu descaradamente Qian, olhando gentilmente em minha direção; era realmente difícil não gostar desse velho homem.
— He! Não se preocupe, eu definitivamente irei fazer isso acontecer. Mas, por agora, você gostaria de ajuda na construção de um alto forno? — comentei, vendo seu sorriso se ampliar.
Enquanto isso, no castelo da Família Fayfher.
Em uma das torres do castelo, em um lugar frio e quieto, Lytian estava observando o céu estrelado, enquanto a conversa que tivera com seu filho passava constantemente por sua mente.
E olhando para a Cidade de Eydilian abaixo, Lytian não pode deixar de pensar como esse lugar era pequeno.
A cidade sempre foi a coisa mais importante em seu coração, mas ao escutar os relatos do seu filho, das coisas que presenciou em sua viagem pelo continente, das coisas que nunca acreditou existirem pelo mundo afora.
Bem, Lytian sentiu que esse lugar era pequeno, tornando-o a pensar verdadeiramente no que tivera fazendo durante todos esses anos.
Em um momento, se sentiu triste por não ser mais jovem, por não poder sair pelo mundo, presenciando aquelas coisas lendárias, lutando para alcançar um patamar mais alto.
Mas ao lembrar da figura confiante de seu filho, essa tristeza inesperadamente desapareceu, era até engraçado. Ontem, Lytian ao presenciar as mudanças drásticas em seu filho, pensou se aquela criança realmente era seu verdadeiro filho.
Em algum lugar em seu coração, ao ver seu imenso progresso, não tendo colaborado em nada com sua mudança, egoisticamente pensou por um momento que tal pessoa não era seu filho.
Em seu coração, lá no fundo, um filho deveria seguir seus passos, sendo calmamente guiado por suas mãos, sendo solto ao mundo quando não tivesse mais nada a aprender.
No entanto, quando seu filho finalmente abriu seu coração, quando foi abraçado, Lytian sentiu definitivamente a ligação que sua amada esposa comentou.
Aquele era definitivamente seu filho, e apesar da toda experiência que ganhou sem estar ao seu lado, do mundo que vislumbrou estando longe de suas mãos. Lytian sentiu uma indescritível tristeza em seu coração, e conforme observava suas lágrimas, conseguiu escutar nitidamente seu grito por socorro.
Naquele momento, Lytian sentiu seu próprio egoísmo sendo destruído em seu âmago. Aquele era seu filho, não importa as diferenças, as semelhanças por menores que fossem estavam claramente presentes, era a prova do laço que compartilhavam.
Portanto, Lytian prometeu se fortalecer ao máximo, ele definitivamente iria ajudar seu filho, como iria reunir essa família, não iria mais perder o seu caminho de vista, dando valor ao que era realmente importante.
— Lytian…? — Sendo chamado repentinamente. Lytian se virou, vendo Adália o observando aturdidamente, nunca esperando ver seu marido observando as estrelas.
— Desculpe, estava pensando no encontro mais cedo que tive com Hyan — respondeu Lytian calmamente, sorrindo para sua esposa.
— Oh! Então, vai me contar? Espero não ser a única deixada de fora. — Brincou Adália, apreciando muito essa nova disposição de seu marido.
E diante seu sorriso, ouvindo eventualmente as suas palavras, Lytian hesitou, quando algo rapidamente chamou sua atenção.
A sua esposa definitivamente era linda.
No entanto, era um fato inegável que a idade estava se abatendo sobre ela. E como uma não-praticante, Adália está sujeita a envelhecer muito mais rápido, sua saúde era mais frágil, e sua disposição não chegava nem se quer perto da sua…
Assim, lembrando a cena que presenciou ao chegar na mansão, vendo os feitos incríveis de seu filho. Não era preciso pensar, era óbvio que Lytian em seu coração desejava ajudar sua esposa a despertar sua energia interna.
E por mais que soubesse que seu filho tinha o mesmo pensamento, sabia porque ele não o fez.
Adália era definitivamente alguém insubstituível no coração de seu filho, ser odiado por sua mãe o devastaria completamente. Entretanto, Lytian sabia que sua nova personalidade não ficaria escondida por muito tempo.
Mesmo que acabasse reganhando o ódio de seu filho. Lytian abraçou gentilmente o corpo envelhecido de sua esposa, quando a guiou calmamente para o quarto, indicando que se sentasse.
— Na verdade, eu gostaria de lhe contar sobre o encontro que tive com nosso filho — comentou gentilmente Lytian, tentando manter uma fachada tranquila, mas era óbvio o nervosismo em seu coração.
E vendo Adália não responder, olhando-o calmamente, sentiu seu nervosismo se intensificar ainda mais. Contudo, reprimiu a força, contando detalhadamente o máximo possível de seu encontro.
No começo, Adália tinha uma expressão estranha, era como se sentisse que seu marido estava brincando, algo que não era de seu feitio.
Porém, vendo a seriedade aumentado após cada palavra, a expressão de Adália começou a mudar sutilmente, demonstrando uma miríade de emoções.
Entretanto, no final, voltou para sua expressão habitual, tendo seu sorriso de costume, escutando seu marido terminando seu relato.
— Então…? — indagou Lytian nervosamente.
— Estou surpresa. Mas não me importo, ele ainda é meu filho — disse Adália calmamente, vendo a surpresa intensa nos olhos de seu marido.
— Lytian. Você esqueceu? Se esqueceu do que enfrentamos quando Hyan nasceu? — falou Adália, vendo os olhos de Lytian tremerem violentamente.
— Hyan estava destinado a morrer… fomos a todos os tipos de deuses entre os humanos, mas qual deles ajudou além de cobiçar nossas riquezas? No desespero, vendo meu filho dando seus últimos suspiros, ouvimos aquele boato… — Recontou Adália calmamente.
— Eu ainda me lembro como se fosse ontem. Tínhamos uma grande chance de morrer, mas mesmo assim você me ajudou a montar em seu cavalo, e tendo nosso filho em meus braços, nos guiou para dentro do território de outras raças.
— Assim, detendo uma conduta inaceitável, descartamos os deuses que pouco se importavam com nossa sobrevivência e rezamos para um deus ao qual não deveríamos. Mas foi “ela” que nos ajudou, foi “ela” que salvou meu único filho… — expressou Adália tremendo sutilmente.
— Eu ainda me lembro de suas poucas palavras: “Não importa o que aconteça, sempre fique ao seu lado…”. — Recitou Adália sutilmente.
— O que você me contou de fato é algo inimaginável. Mas em meu coração eu sempre soube que meu filho não seria alguém normal, alguém “normal” não seria salvo por uma Deusa, tendo sua benção.
— Lytian. Nesse momento, sendo mais importante do que tudo, devemos ficar ao seu lado, mesmo que muitas vezes não consiga o reconhecer, ele é meu pequeno e precioso filho, eu mataria qualquer um por ele, e lutar contra um futuro sem esperança é o menor dos meus males — declarou Adália com uma convicção jamais vista antes.
Ba-dum! Ba-dum!
— Adália. Eu entendo, me desculpe. Eu não deveria ter duvidado — falou Lytian, abraçando-a carinhosamente.
— Eu farei de tudo para proteger essa “família”. Além disso, eu te amo, amo profundamente — declarou Lytian amorosamente, roubando os lábios de sua esposa.
Assim, permanecendo um ao lado do outro no calar da noite, Lytian e Adália fortaleceram seus laços, enquanto se preparavam para ficar ao lado do seu filho independentemente do que acontecesse.