Volume 1

Capítulo 7: Apostas Sobre Apostas, aqui que a Sorte Entra?

Depois de curar todas as garotas, pude ver pelas suas janelas de status seus pontos de vida e mana se recuperarem rapidamente. Seus corpos também tiveram uma melhora surpreendente já que algumas estavam com feridas e alguns cortes, porém, isso tudo desapareceu quase no mesmo instante.

Sheyla que tinha sido a primeira a ser recuperada já estava acordada, só que, sentou-se de maneira que ficasse mais confortável. As correntes, limitando seus movimentos, seria o próximo passo para dar-lhe um pouco mais de tranquilidade acerca de mim.

Caminhei até Sheyla.

— Como está? Melhor? — perguntei.

— Isso não é um sonho, ? — disse Sheyla tentando me localizar apenas pela voz. — Um demônio usando magia branca de recuperação e cura...

— Vejo que ainda não superou isso.

— Nem em lendas ou contos alguém ousaria brincar com tais dizeres, e eu, como Cavaleira de Lóthus, presenciei esse milagre — Sheyla suspirou. — Sim, creio que ainda vou levar um tempo para me acostumar com essa ideia.

— Você, de todas aqui, é a primeira a mostrar-se bem melhor. As outras ainda estão dormindo... mesmo que elas também tenham melhorado — disse enquanto olhava para as duas aventureiras. Elas estão fingindo dormir? — Então, a gente espera?

— Não se preocupe, Yami. Se o que diz é verdade... — Ela deu uma pausa, como se revisse o que acabou de dizer — Claro que é verdade, o que estou dizendo? Agora só nos resta aguardar. Mesmo um clérigo de alto nível teria dificuldades para recuperar uma pessoa para seu estado mais saudável em tão pouco tempo.

Hmpf, bom, isso só mostra como sou imponente.

— Imponente, é? Acho que sim.

— Sheyla — disse com um tom mais sério.

— Sim?

— Duas... duas estão grávidas — comentei olhando para as outras não-aventureiras.

— Se elas recuperarem suas consciências, tenho a certeza de que elas buscarão salvação.

— Aquela sua “salvação”? — retruquei.

— Assim até parece que eu estava... Sim, essa salvação. — Sheyla olhou para seu próprio abdômen, passando a mão por cima como se quisesse comprovar algo e depois olhou para o vazio da escuridão, continuando: — Talvez até eu esteja grávida também, quem poderia saber o que os goblins fizeram...

— Você não está grávida, Sheyla.

— E como você poderia dar certeza?

— Só sei que sei — afirmei com um tom debochado.

— Entendi — respondeu Sheyla com um tom de descrença, mas, deu um leve sorriso na medida que queria “confiar” em mim não importava como.

— Sheyla, gostaria que você me ajudasse a convencê-las a não buscar tal “salvação”. Claro que, ainda seriam seus direitos fazerem o que bem entender com suas vidas, porém, elas não deveriam desperdiçar chances para recomeçar.

— Incrível, Yami. Mesmo jovem, como falas tão bem? Espere, um demônio pode viver milhares de anos... — disse Sheyla baixinho.

Oh, eu realmente sou “jovem”. — Para os padrões desse mundo, nasci ontem, né?

— Certo. — Ela deu uma tapinha nas próprias bochechas como alguém querendo ficar acordado e continuou: — É meio difícil nessa situação, mas, eu gostaria de recomeçar.

— O que é isso agora?

— Se tudo isso for para ajudá-las, eu quero ter uma boa relação com você, mesmo sendo um demônio.

— Não precisa ficar deixando claro que sou um demônio.

— Me desculpe, Yami, pois foi assim que fui criada desde cedo e posso levar um tempo até me acostumar com a situação... quero dizer, não estou tentando te menosprezar.

— Não se preocupe. Então, vamos recomeçar.

— Certo. Eu me chamo Sheyla Bilterfon, e sou a comandante dos Cavaleiros de Lóthus. Apesar de ainda ser jovem para ser comandante, muitos outros confiaram em mim e nas minhas habilidades para os proteger... — Ela deu uma pausa.

— Não se preocupe, pode continuar. Fale tudo que você falaria normalmente para outra pessoa... humana.

— Ok. Eles confiam em mim e nas minhas habilidades para proteger os humanos das bestas, criaturas sombrias e demônios.

— Agora eu entendi o porquê da resistência em eu ser capaz de usar magia “branca”. — É assim que ela disse, certo?

— Por isso eu disse que preciso de um tempo, é claro que vou me esforçar para não te tratar como outros demônios.

— Tudo bem, não me importo. Agora é minha vez, certo? Eu me chamo Yamitsuki Ottoe, um demônio-real. Como podes ver, sou uma criança, não apenas na aparência, mas também na idade. Tenho 12 anos humanos, se você quiser desta maneira.

— Sério? Tão jovem, de fato. Se me permite perguntar, Yamitsuki, por que estás na forma de uma criança humana?

— Pode apenas me chamar Yami, como antes. E, bem, não tenho essa resposta. — Novamente isso de ser uma “criança humana”. — O que há de tão errado para todos ficarem surpresos?

— Entendi. Nas lendas dizem que os demônios eram capazes de enganar as pessoas se estivessem escondidos nas sombras ou em meio aos seus pavores, porém, nunca foi dito que eles poderiam se transformar em humanos e andar por eles.

—  Não? Estranho.

— Sempre descritos como horripilantes, criaturas que dariam medo apenas por estar próximos.

— Ah, isso? —  Se eu falar sobre minha [Aura Demoníaca], tenho certeza de que ela iria repensar um pouco o que acabou de falar.

— Só que, pelo que vi, você não é nada assustadora, Yami.

Oh, sim?

— Sim, é muito fofa por sinal —disse Sheyla com um tom alegre.

— Quê?

Oh, me desculpe, não queria te ofender.

— Tudo bem, eu também me acho fofa.

Sheyla sorriu, depois deu algumas risadas contidas. Depois que se acalmou, olhou para minha direção:

— Me desculpe, mesmo nessa situação eu... acabei não me contendo.

— Foi tão engraçado assim?

— Não é isso, é que ao mesmo tempo que ainda não consigo acreditar no que vi, você é todo o oposto do que sempre escutei.

Sheyla se ajustou novamente e ficou de cócoras. Ela olhava para suas próprias mãos. Antes, dava para ver os diversos arranhões e feridas, provavelmente pelas tentativas de quebrar a corrente ou mesmo fabricar aquela arma com o osso, porém, agora está sanada apesar de suja de terra.

— Então, Yami. Quais são os tipos de informações que você está procurando?

— Já gostaria de adiantar essa parte? — Sentei-me ao lado dela — Bem, não que me importe, mas, vamos lá: eu gostaria de tudo.

— Tudo?

— Sim, tudo que tu achares útil sobre este mundo, lugares, nomes, lendas, leis, regras... o senso-comum. Quais criaturas são mais comuns, que tipo de comidas vocês possuem...

— Isso... isso não é muita coisa, Yami?

— Para aprender de uma vez? Sim, também acho, porém, terei outros para me ajudar.

— Outros?

— Sim, tal como Yaga, ele também irá me ajudar a entender sobre esse mundo.

— Quem é Yaga?

— Ah, sim. O goblin, líder desse clã. Os outros o chamam de líder Yaga aqui, e, como posso dizer isso. Ele jurou lealdade a mim ou algo do tipo.

— Então, se eu te ajudar, estaria ajudando os goblins também? — ela suspirou — que cavaleira eu sou.

— Já está se arrependendo?

— Não se preocupe, eu farei qualquer coisa desde que você mantenha sua promessa.

— Os goblins não te farão mal, deixarei claro assim que tudo se resolver aqui. Além disso, pedi que ele viesse para cá.

— Você... — pude ver que Sheyla ainda mantém uma certa resistência contra os goblins, e isso foi traduzido como uma longa pausa e um suspiro, antes dela confirmar: — Tudo bem. Pelo visto terei que ficar contigo por um bom tempo, então, seria impossível ignorá-los, né?

— O que foi?

— Afinal não dá para explicar tudo em poucas palavras — ela sorriu.

— Ah, sim. — Me levantei — Uma coisa que você pode confiar é que eu mantenho minhas promessas, e, acima disso, eu farei de tudo ao meu alcance para ajudar meus aliados. Você, Sheyla Bilterfon, não gostaria de se tornar minha aliada?

— O quê? Eu... lutar lado a lado de um demônio?

— Sim? Talvez... Veja, eu não tenho a intenção de destruir o mundo ou qualquer tipo de maldade espalhada pelas lendas desse mundo. Eu só quero viver tranquilo e sem muito esforço.

Uma coisa que aprendi na minha vida anterior é que todo meu trabalho duro e esforço foram jogados fora como um pedaço de lixo com a única ação de um maníaco. Eu não vou refazer todo aquele trabalho apenas para ter outro invejoso incapaz de superar suas próprias limitações.

Se o mundo me der limões, faça uma limonada? Para o caralho com isso. Se o mundo me der limões, farei deles um limoeiro e outros que vão fazer a limonada para mim, quando eu quiser.

— Falando dessa maneira... tal como uma criança preguiçosa? — disse Sheyla baixinho.

— Como é?

Oh, me desculpe... Nada não.

Ela acredita que eu não ouvi essa última frase. De qualquer forma, perguntei:

— E então, o que me diz?

— Bem tentador suas palavras, Yami... Você poderia me dar um tempo antes de receber sua resposta?

— Não me importo, mas, por quê?

— Bem, ainda que você não seja um demônio ruim, ainda é um demônio. Se eu simplesmente abandonasse todas minhas crenças agora, sinto que tudo que passei foi apenas em vão e provavelmente minha vida foi uma mentira... não sei se conseguiria prosseguir dessa forma.

O que ela quer dizer com isso? Bem, não sei qual foi seu passado até chegar até aqui, então, não dá para reclamar sobre isso.

Oh, sim... você tem razão. Não se preocupe, Sheyla. Antes de me der a resposta sobre essa questão, ainda há o tempo em que você me ajudará a entender esse mundo, certo?

— Obrigada. Até que eu te ensine tudo o que eu sei, tentarei ao máximo rever meus próprios conceitos.

— Não precisa chegar a tanto, mas, se isso for me beneficiar, não tenho porque reclamar.

Então, de repente, a sala se iluminou e pudemos ver que, não apenas Togo, mas, Gogo e Yaga se aproximaram. Os três estavam andando em linha até que Yaga atravessando pela porta, pediu que os outros dois ficassem de guarda do lado de fora.

A luz da tocha logo se tornou irrelevante já que Yaga, manipulando seu cetro, criou um pequeno floco de luz esbranquiçado que voou até o centro da sala e subiu até encostar no teto, depois disso, um brilho intenso surgiu até que ele foi se ajustando para que a sala finalmente ganhasse uma luz.

Sistema: [Você possui uma nova Habilidade à Aprender: Floco de Luz].

Sheyla teve que se acostumar primeiro com a luz já que, provavelmente, estava “vivendo” na completa escuridão por um longo período. Quando o susto passou, Sheyla, ao ver que eram goblins de fato, foi até o osso e o segurou novamente como uma arma.

Percebendo isso, fiz com que Yaga parasse de se aproximar.

— Não se preocupe, Sheyla. Eu os chamei aqui. Este é o Yaga, o líder dos goblins e aquele que tratou seu envenenamento.

— Eu... o que devo fazer agora? — Sheyla se perguntava baixinho.

— Por favor, não faça nada imprudente, pois eu já os considero como meus aliados.

— Entendi, ok, mas não vou abaixar minha guarda.

— Tudo bem.

Yaga que tinha parado, colocou seu cetro no chão como uma bengala de apoio e fez uma reverência para minha direção e cumprimentou Sheyla com a cabeça. Por fim, ele olhou para mim e comentou:

— Então, senhorita Yami, também sabes falar a Linguagem Comum?

— Sim.

— Entendo. E, ao conversar com essa humana, lhe despertou algum interesse?

Sheyla me encarou por um momento e depois olhava para Yaga.

— O que ele está dizendo, Yami? — perguntou Sheyla.

— Não entendes? — perguntei.

— Não. Parece igual quando você começou a conversar comigo, eu não consigo entender essa língua, seria a língua dos monstros, não?

— Oh, me desculpe — respondeu Yaga e continuou: — Erro meu começar a falar de forma que você não conseguisse acompanhar. Me chamam Yaga e sou o Líder dos Goblins da Montanha.

— Então você também consegue falar a Língua Comum? — perguntou Sheyla para ele.

— Sim, consigo. Não tão bem quanto a Princesa Yami.

— Pode apenas me chamar de Yami, Yaga. Sem o termo “princesa” — respondi.

— Devo dizer que estou surpreso, mais do que esperaria — comentou Yaga.

— O que você quer dizer? — perguntei.

— Essa humana, quando chegou aqui, estava no limiar da vida e da morte. O veneno e seus ferimentos eram dignos de pena. Esforcei o que pude, e posso dizer que com todo meu esforço e minhas habilidades de recuperação, o máximo que fiz foi fazer com que ela não morresse.

Sheyla me olhava como se quisesse dizer algo, mas, virou-se para Yaga que continuava:

— No entanto, agora, veja sua aparência, está como se não tivesse problemas algum. Por acaso, foi você que a ajudou, Yami?

— Sim, Yaga. Como posso dizer isso, eu a curei. E não só ela, todas aqui.

— Curar? Você diz com Magia Branca? — perguntou surpreso.

— Sim — afirmei com imponência.

— Isso é tão... Incrível. Nunca ouvi falar sobre um demônio capaz de curar.

— Então, até mesmo para os monstros isso é um tipo de milagre? — perguntou Sheyla.

— Diferente de outros goblins normais, eu já vivi por muito tempo, e conheci muitos casos excepcionais ou considerados verdadeiros “milagres” como os humanos costumam dizer, porém, é a primeira vez que escuto e vejo algo do tipo.

— Sério? — indaguei curioso.

— Sim. — Ele fez menção de andar e, por causa da minha ordem anterior, aguardou minha autorização. Fiz um sinal de que sim e ele continuou: — Demônios podem curar ferimentos por outros meios, seja pelo seu próprio sangue, seja por magias, porém, usar Magia Branca, isso é impossível... ou seria impossível, neste caso.

Sheyla que estava o encarando desde então, quando o viu caminhar e se aproximar, segurou o osso com mais firmeza. Dei alguns passos até ela e coloquei as mãos em seus ombros, acalmando-a.

— Sheyla — disse para ela.

— Sim.

— Você vai me ajudar a conversar com as outras garotas?

— Tudo bem, Yami — concordou Sheyla.

— Yaga.

— Sim, senhorita Yami.

— Eu gostaria de fazer dessas humanas minhas aliadas, e não mais escravas, então esse é um aviso e não um pedido — disse de forma autoritária para mostrar força, só que, espero que assim não me faça perder pontos com ele ou os goblins, afinal, quase não tive tempo de melhorar o respeito que eles têm por mim.

— Não se preocupe. O que disser, será considerado como uma ordem absoluta.

— Será tão fácil assim? — perguntou Sheyla, enquanto apontava o osso para o Yaga.

— Temo que ainda teriam aqueles com dúvidas ou rancor... — Parou de andar, dando uma pausa, e depois olhou para as outras garotas humanas antes de continuar: — Dos dois lados. Porém, o que passou, passou.

— Vai dizer que é tão simples assim? — Sheyla apontou para as duas grávidas — Vai apenas falar com elas que, esqueçam essa criança que vocês estão carregando, finja que nada aconteceu?

— Não diria dessa forma — afirmou Yaga.

— Espere vocês dois. Não comecem a brigar — disse enquanto entrava no meio.

— Só que... — Sheyla tentou continuar.

— Acalme-se Sheyla. Vamos primeiro ouvir o que elas têm a dizer. Não adianta tomar para si as dores dos outros quanto eles mesmo não possuem dores alguma.

— Mas... — Sheyla ainda tentou continuar.

— Espere... por favor. — Fiquei de frente a ela fazendo sinal de calma.

Sistema: [Percepção Passiva Ativada].

As outras duas aventureiras começaram a se movimentar e provavelmente recobrar a consciência. Espero que elas não tenham escutado essa discussão inicial, se não, já iniciaremos com um problema adicional para resolver. Além disso, aquela mulher é a mais perigosa aqui: Meril.

Eu esperei a garota se levantar, já que estava deitada sobre aquela “mesa” de pedra. Ela colocou as mãos na cabeça e arrumou os cabelos que estavam caídos sobre seu rosto.

Meril Armani, a conjuradora, possuía longos cabelos vermelhos e olhos igualmente chamativos. Apesar de estar bem ferida antes, com inúmeros arranhões e alguns cortes superficiais, por causa da minha restauração, ela se encontra em um estado bem melhor. Sua aparência é como a de uma modelo e é tão bonita quanto Sheyla.

A diferença está em sua idade, sendo a mais nova entre Sheyla e Ninx, porém, tanto seu rosto, corpo e expressões me remetem a uma secretária rígida e certinha. O título “professor” também me faz crer que ela é algum tipo de conselheira ou acadêmica.

Seus status condizem com sua classe. Sendo bem mais fraca que as outras em relação aos valores físicos, porém, o que me assusta é sua capacidade “mágica” e a quantidade de habilidades que ela poderia usar.

Sistema: [Meril – Habilidades]

  • [Controle Mágico] • [Estudo Arcano] • [Manipulação Mágica] • [Resistência Mental] • [Conhecimento Mágico] • [Conhecimento Sombrio] • [Esfera Elétrica] • [Estacas Sólidas] • [Bola de Fogo] • [Míssil Mágico] • [Barreira Arcana] • [Invisibilidade] e muitas outras...

— O que aconteceu? Onde estou? — disse ainda confusa e sonolenta, porém, foi só ver os goblins e a mim que ela “despertou”. — Goblins! Espera... uma criança? Não, um demônio?

Ela entrou em uma posição ofensiva e das suas mãos uma energia brilhante começou a ser canalizada.

Quando olhei para o Yaga... que porra de expressão é essa? Já desistiu de viver?

— Espere! Não ataque! — gritou Sheyla.

— Você... você é a Sheyla, Sheyla Bilterfon, certo? Cavaleira de Lóthus? — disse enquanto tentava se manter mais ou menos em pé por causa das correntes. — Eu sinto que meus poderes voltaram, se você me ajudar, simples goblins não seria nenhum problema.

— Tudo bem, mas, se acalme! Eu quero ouvir o que a Yami tem para falar primeiro — ela deu alguns passos, no limite que podia, e ficou na minha frente.

Apesar de ser pequena e ter uma visão bem privilegiada daquela cena, tentei ficar atrás dela, quase como uma garotinha indefesa sendo protegida pela sua mãe.

Sistema: [Você deseja utilizar Teste Persuadir?][Sim][Não].

Sim.

Sistema: [Você jogou 1d20 e obteve 11+99, resultado: Sucesso].

— Eu... eu... não quero te fazer mal, eu juro! — gritei. — Eu sei que não posso mudar o passado, mas, por favor, acredite em mim! Eu quero ajudá-las, vocês todas. Só gostaria que você não ataque a gente, eles não fizeram por mal.

Ótimas palavras, Sisteminha, ainda bem que não foi bem “eu” que às falei, de qualquer forma, será que isso foi mais que suficiente para convencê-la a abaixar suas armas chamada “magia”?

— Espere, Sheyla, não me diga que você caiu nas conversas de um demônio? — Meril parou sua magia e isso me trouxe um certo alívio, pois parece que o teste funcionou. — Você sabe o que as histórias nos dizem sobre os acordos que os demônios oferecem? No final de tudo, o que eles querem são nossas almas.

Sheyla deu um suspiro de alívio e olhou para trás, para mim que estava segurando-a como um “escudo”, assim que terminou, ela colocou a mão na minha cabeça como se quisesse dizer “está tudo bem agora”. Que... Vou nem comentar, afinal, tudo faz parte desse teatrinho.

Meril encarou a outra do seu lado e pegou uma pedra, atacando-a nas costas da Ninx.

— E você não vai falar nada? Pare de fingir que estás dormindo e me ajude aqui, não estás vendo que há um demônio tentando roubar nossas almas? Ou preferes ficar aqui, como uma escrava, e ser abusada?

Ninx era mais velha que Meril, porém, possuía cabelos azuis e curtos. Também era extremamente bonita e parecia ter uma personalidade debochada, afinal, ela fingiu estar dormindo até o último minuto. Provavelmente esperando que tudo resolvesse sem ter que agir ou ter esforço algum.

Ela se virou, já que estava de costas para nós, e sentou-se. Como também estava nua, limpou o chão de pedras que pudesse atrapalhá-la.

Tsk... vocês gritam demais, sabe? Não tem motivos para ficar gritando no meu ouvido. Eu estou do seu lado — disse de maneira debochada.

— Como é? — disse Meril, ainda mais nervosa.

— Se tu queres lutar, não vejo problemas, afinal também não gostaria de ficar preso aqui e nem ter minha bunda violada por esses malditos verdes.

— Não é hora de fazer essas piadas, garota! — comentou Meril.

— Tanto faz. — Ela colocou as mãos sobre os joelhos e encarou Yaga. — Esse é o líder deles, dos goblins? Se realmente for ele, os outros devem ser insignificantes. Seria fácil.

— Acalme-se, garotas, vamos ouvir o que a Yami tem a dizer — disse Sheyla andando para meu lado e me aproximando dela, como se eu estivesse debaixo das asas de um anjo.

Como estavam a uma certa distância de Sheyla, passaram a conversar baixinho entre si, no entanto, por causa da [Percepção Passiva], continuei escutando sua conversa.

— Consegue remover essas correntes? — perguntou Ninx, olhando para Meril.

— Sim... me dê um tempo.

— Porém, você, não acha isso estranho?

— Me chame de Meril. E o que achas estranho?

— Aquela criança, ela é realmente um demônio né? Eu não sei explicar bem, porém, ela é o que me preocupa aqui, muito mais que os goblins ou que a comandante dos Cavaleiros de Lóthus.

As duas aparentemente conhecem Sheyla, então ela realmente é famosa de onde veio. Porém, pelo jeito que falam, acham que Sheyla está sendo controlada por mim? Merda, aí já fica um pouco mais difícil fazê-las me ouvir.

— Sim... também não consigo usar meu [Analisar] na criança. Então, tome cuidado e se prepare para o pior.

Yaga, que já tinha desistido de viver, apenas fechou os olhos e aceitou. E todo aquele papo de me servir e me proteger? Foda-se né, se as mulheres são muito mais fortes que ele, basta dizer que “tentou”.

— Yaga?

— Me desculpe por ser tão fraco e incapaz, Yami. Por favor, se algo acontecer conosco, ao menos salve nossas crianças, elas não devem pagar pela nossa ignorância ou escolhas erradas.

— Ei, ei, não desista... eu não quero ver um mar de sangue... — e o que devo fazer agora?

Mesmo que Sheyla esteja agora do meu lado, não tenho dúvidas, se ela perceber que há uma oportunidade para acabar comigo – um demônio – e todos outros goblins e ainda salvar as outras humanas, ela irá me atacar.

Meril está procurando uma maneira segura de destruir as correntes e Ninx está naquela posição complacente, apenas aguardando a oportunidade para fugir. Elas parecem me temer já que suas habilidades de [Analisar] não funcionam.

E, considerando que até mesmo Yaga não conseguiu usar [Analisar], eu tenho a vantagem delas não perceberem minhas habilidades ou status. No entanto, eu não tenho nada que seja usado para combate, exceto minha [Aura Demoníaca].

Os goblins foram afetados pela aura e muitos deles foram paralisados, porém, alguns ainda conseguiram se movimentar e fugir. Aqueles aventureiros de antes pareciam ser capazes de lutar – mesmo optando por fugir – e ainda que não soubesse seus níveis e habilidades, se eu comparar à Sheyla, provavelmente Sheyla e essas duas seriam capazes de me atacar até com aura ativada... O que eu faço, ativo ou não minha aura?

Sistema: [Você deseja ativar Aura Demoníaca?][Sim][Não]

Eu...

— Espere. — disse baixinho uma das outras três garotas.

Sua voz era trêmula e baixa, porém, como todos estavam super atentos ao que poderia acontecer, tinham percebido.

Sheyla, Meril, Ninx e os goblins olharam para o lado da voz.

— Eu... eu... quero... eu quero ouvir... o que ela tem a dizer...

Quem estava falando era a garota que estava com o status [Terminal], e seu nome: Samy.

— Sério, o que há com vocês garotas? Vão escutar um demônio? — perguntou Meril.

— Por favor... eu...

— Tudo bem! — disse Meril e olhou para mim que ainda estava do lado da Sheyla — Vamos escutar o que esse demônio tem para falar. Porém, que fique claro, eu não vou continuar presa aqui, nesta caverna. E você, garota?

— Pode me chamar de Ninx, e estou contigo, assim que escutarmos a criança, vamos sair daqui. — Olhou para as outras duas e para Sammy. — E não vou carregar ninguém, cada um por si.

— Não usaria essas palavras — lamentou Meril, mas, logo continuou: — Só que também não irei perder tempo com quem não quiser ajuda. — Lançava um olhar afiado para Sheyla.

— Obrigado, Meril e Ninx. Eu sei que é um pedido egoísta, ainda mais quando vocês sabem minha posição. No entanto, não sei se vocês perceberam, mas foi essa criança, um demônio, que nos recuperou.

— Quê? — perguntou Meril e Ninx ao mesmo tempo.

— Isso é impossível — disse Meril.

E lá vem essa historinha de “impossível” de novo, isso realmente é um divisor de águas e conceitos aqui.

— Ok, agora você me convenceu, ao menos isso quero ver — falou Ninx.

Sheyla olhou para mim, de cima, afinal eu estava do seu lado, abraçada por ela. Sorriu e me deu um leve empurrão do tipo “tudo bem agora, pode ir lá”.

Suspirei. Finalmente posso continuar, certo? Bem, agora é o momento em que eu preciso parecer o demônio mais fraco e frágil do mundo, pelo menos assim, elas seriam influenciadas a tentar me proteger?

Que porra estou pensando? Ah! Que inferno, só vamos lá.



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