Volume 3
Capítulo 6: Quente por mais de um motivo.
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Não foi nada super dramático como minha mãe me maltratava ou ela traía meu pai. Na verdade, olhando para trás, minha mãe sempre foi uma pessoa gentil e de voz suave. As coisas não eram perfeitas entre ela e meu pai, mas ela era gentil com Yuki e comigo. Ela me cobria de elogios sempre que eu me saía bem em qualquer coisa que estava aprendendo fora da escola, e até assava doces para nós de vez em quando. Qualquer pessoa normal provavelmente pensaria que ela era uma boa mãe. Minha irmã e eu também a amávamos.
...Tudo começou por causa de algo tão pequeno—algo que faria qualquer pessoa comum dizer: "Espera. É só isso?" Honestamente, pensando de volta, realmente não era nada demais. Mas um dia...minha mãe de repente parou de me olhar nos olhos. Ela costumava sempre olhar nos meus olhos, me dar tapinhas na cabeça e me elogiar quando eu era criança. "Bom trabalho. Você deve ter trabalhado muito nisso" e "Nossa, isso é incrível", ela costumava dizer...até que um dia, ela começou a evitar o contato visual. Seu sorriso doce de antes se tornou constrangedor, e foi aí que percebi que ela estava se forçando a agir dessa maneira. Eu pensei que talvez não estivesse fazendo o suficiente. Eu tinha que trabalhar mais. Se eu me saísse melhor, então com certeza ela ficaria genuinamente feliz por mim do fundo do coração.
Ei, mãe. Olha. Meu professor de arranjo de flores disse que fiz um trabalho realmente bom. Também consegui minha faixa preta em karatê. Já estudei adiantado com esses livros que os alunos do ensino médio usam, e sei que você gosta de piano, então eu—
"Pare! Apenas pare!"
...Aquele olhar nos olhos dela. Aquilo não era o que eu queria ver. Tudo o que eu queria era...
***
"Mmm..." Masachika gemeu, sentindo-se anormalmente quente por todo o corpo.
"Oh..."
Ele se mexeu na cama, e apenas esse pequeno movimento fez seu corpo inteiro e cabeça doerem. Ele estava miserável. Ele tinha tido um pressentimento ruim na noite passada, e acabou que seu instinto estava certo. Ele estava resfriado. Uma dor de garganta era o menor dos seus problemas porque ele se sentia como um saco de batatas.
Definitivamente, ele estava com febre. Foi quando o alarme ao lado da cama começou a tocar, então ele o desligou deixando cair seu braço pesado sobre ele. Ele pegou seu celular, que estava ali também, e rolou para o lado direito. Uma dor aguda percorreu seu braço e ombro, mas ainda era muito melhor do que ter que levantar o braço.
"Isto não vai funcionar..."
Depois de ligar o celular, ele decidiu ligar para a escola para avisar que estaria ausente hoje, mas não sabia o número de telefone da escola. Ele sentiu que tinha anotado em algum lugar, mas não conseguia se lembrar onde. Acho que vou procurar na internet, pensou, mas até isso se tornou muito irritante para lidar naquele momento.
"Takeshi... Não, Hikaru."
Ele pensou em qual dos seus amigos poderia pedir para transmitir a mensagem para o professor titular e decidiu que poderia confiar mais em Hikaru por algum motivo. Ele imaginou Takeshi gritando: "Que diabos, cara?!" Mas ele não se importava. Ele não tinha energia suficiente para se importar.
"...Alô? Masachika?"
"Ei... Desculpe pela ligação aleatória. Peguei um resfriado."
"O que? Você está bem?"
"Vou ficar bem, mas não consigo ir à escola hoje. Você poderia dizer ao nosso professor titular por mim?"
"Claro, sem problemas. Que tal eu passar na sua casa depois da aula? Você é o único em casa esses dias, certo?"
"Não se preocupe. Já tenho outra pessoa que pode passar para me ver."
"Se você diz. Cuide-se e descanse bem."
"Obrigado."
Depois de desligar, ele usou o pouco de energia que lhe restava para mandar uma mensagem para Yuki.
> Desculpe. Peguei um resfriado.
> Você poderia pedir para a Ayano me trazer algum remédio?
Logo após enviar a segunda mensagem, ele deixou fracos cair o celular antes de rolar para as costas.
"Ah..."
Ele mataria por um copo de água pelo menos, mas até mesmo sair da cama era trabalho demais. Felizmente, no entanto, ele ainda se sentia cansado, então decidiu voltar a dormir.
...Sinto que estava tendo um terrível pesadelo antes de acordar há um segundo.
Talvez tivesse algo a ver com encontrar sua mãe no dia anterior pela primeira vez em muito tempo. Ele sentiu como se tivesse tido um velho sonho recorrente que escolhera reprimir.
Agora que penso nisso, tenho me lembrado de muitas coisas antigas ultimamente.
As lembranças de quando ele era Masachika Suou eram algo que ele queria selar e esquecer para sempre. Lembrar de todas as coisas ruins e da tristeza que ele suportou rasgava seu coração.
Talvez seja porque estou tentando não me lembrar de nada disso.
Ele tentava nunca pensar nos detalhes do que aconteceu no passado. Ele se detinha sempre que quase o fazia, na verdade. Mas a verdade era que nem todas as lembranças eram ruins. Pelo menos, era isso que ele acreditava. Mas se tentasse lembrar das coisas boas, sua mente o lembraria de quando se despediu de sua mãe... e do que aconteceu com aquela menininha naquele dia. Por isso, ele tinha que selar todas as suas lembranças nos recantos mais sombrios de seu coração. Eventualmente, o passado = ruim em sua mente, e essa crença só se fortalecia cada vez que tentava desviar o olhar disso.
Dizem que a raiva e o ódio diminuem lentamente com o tempo, mas não desaparecem completamente.
Se alguma coisa, ele ainda sentia uma tristeza profunda e dor de seu passado, apesar de suas memórias estarem desaparecendo lentamente. No entanto, ele já não sabia de onde vinha a dor e a tristeza. Mesmo agora, sempre que tentava lembrar do passado, seu cérebro não o deixava. O medo de enfrentar o que quer que tenha acontecido com ele o impedia de sequer colocar a mão na tampa que selava suas memórias.
Ah... Seja lá o que for.
Até mesmo usar seu cérebro se tornara cansativo, então ele se forçou a parar de pensar. Não havia motivo para fazer algo que só o deixaria mais deprimido, especialmente quando já estava doente. Ele simplesmente aconteceu de encontrar sua mãe no dia anterior. Ele não tinha planos de enfrentá-la agora ou nunca. O passado não valia a pena lembrar, pois as memórias de Masachika Suou não tinham utilidade para Masachika Kuze. Foi isso que ele disse a si mesmo enquanto voltava a dormir.
***
Ding-dong.
"Mmm…?"
Masachika despertou ao som da campainha tocando. Embora sua mente estivesse confusa, ele imaginou que fosse Yuki ou Ayano na porta, mas então percebeu que Yuki tinha uma chave da casa. Ela e Ayano não precisariam tocar a campainha. Além disso, se ele não estava ouvindo coisas, talvez aquela não fosse a campainha de sua casa. Parecia mais o interfone na entrada do prédio. Mesmo que Yuki tocasse a campainha para avisar que estava ali, por que ela estaria tentando que ele a deixasse entrar na entrada?
"Será que pedi algo…?"
Ele tentou rolar seu corpo sonolento para fora da cama, mas esgotou toda a energia que tinha no momento em que virou de lado. A ideia de fingir que não estava em casa passou por sua mente, mas a campainha tocou novamente imediatamente.
"Sim, sim… Já vou…"
Masachika se animou e conseguiu sair da cama, pensando que provavelmente deveria se levantar e andar pelo menos uma vez naquele dia. No entanto, cada passo era como levar um golpe na cabeça, fazendo-o franzir a testa enquanto seguia até o interfone... mas quando viu quem estava na tela, honestamente acreditou estar vendo coisas.
"Hã?!"
Mas não havia como confundir aqueles cabelos prateados, aqueles olhos azuis e aquela beleza de outro mundo. Alisa, vestida casualmente, estava parada na entrada do prédio.
"…Hã? Por que ela…?"
Masachika não conseguia se lembrar de ter dito a ela seu endereço. Claro, ele nunca a tinha convidado para sua casa também. Perguntas passaram por sua mente, mas ele teve apenas alguns segundos para deixá-la entrar antes de ficar sem tempo, então apertou o botão de resposta.
"…Alya?"
"Oh, Kuze? Você está bem?"
"Hã? Espera… Yuki te contou o que aconteceu?"
"Ela me disse que você estava com febre e não conseguia sair da cama, então me pediu para trazer remédios para você…"
"Ah, tudo bem… Vou deixar você entrar."
"Ok. Obrigada."
Ele pressionou o botão de destravar e observou até que Alisa entrasse com segurança no prédio. Depois de voltar para seu quarto, pegou seu smartphone na cama, ligou-o e viu uma mensagem de Yuki aparecer na tela… Instantaneamente jogou o telefone de volta na cama.
> Ei, qual é o problema? Uma donzela de cabelos prateados está prestes a cuidar de você. De nada.
A mensagem foi acompanhada por um emoji sorridente.
"Você podia pelo menos ter me avisado antes dela chegar… Ahhh…!" gritou Masachika fracamente, descontando sua frustração em Yuki enquanto se jogava de bruços na cama. Embora honestamente só quisesse ficar assim pelo resto do dia, sentiu que pelo menos tinha que lavar as mãos antes de Alisa entrar, então reuniu todas as últimas energias que tinha e foi para o banheiro. Depois de se aliviar, havia acabado de começar a lavar as mãos quando a campainha tocou, então se apoiou na parede e arrastou os pés até a porta da frente. Ele estava usando pijamas e seu cabelo despenteado estava tão bagunçado que era uma surpresa que nenhum pássaro tivesse feito um ninho nele ainda, mas ele estava muito além de se importar mais. É o que é, pensou.
"Já vou…"
Ele calçou suas pantufas e estava estendendo a mão para a maçaneta da porta quando percebeu que provavelmente deveria usar uma máscara.
Espera… Onde eu coloquei minha máscara?
No entanto, sua hesitação passou rapidamente porque não podia fazer Alisa esperar mais, então destrancou a porta antes de abri-la modestamente.
"Alya…? Obrigado… por tirar um tempo do seu dia… para fazer isso por mim…"
Ele espiou pela fresta da porta, usando-a como um escudo, mas mesmo segurando a porta um pouco aberta assim honestamente parecia um trabalho árduo para ele. Ele teve que suportar por causa dela, no entanto. Os olhos de Alisa, no entanto, piscaram em surpresa, o que pode ter sido culpa de Masachika por mostrar seu rosto afinal.
"Sim, está… tudo bem. Você está pior do que eu esperava, porém."
"…Aposto que você estava pensando, 'Até um idiota pode pegar um resfriado, né?'"
"De jeito nenhum."
Alisa suspirou suavemente porque ele ainda estava fazendo piadas, mesmo em um momento como esse. Ela então indicou a sacola em suas mãos.
"Posso entrar por um tempinho?"
"Hã? Ah, você não deveria. Vou apenas pegar o remédio e…"
"…Yuki me pediu para ficar com você por um tempo e cuidar de você," admitiu Alisa quase relutantemente enquanto fazia um biquinho.
Minha querida irmã... Não me importo que tenha o cérebro de uma otaku, mas gostaria que mantivesse outras pessoas fora de seus esquemas...
Masachika instintivamente começou a reclamar com Yuki em sua mente.
"<Извините. Это была ложь.>"
(Desculpa. Isso foi uma mentira.)
Oh. Desculpas, Yuki. Parece que você foi incriminada.
Alisa olhou para ele, mexendo nas mãos enquanto ele se desculpava interiormente com sua irmã. Yuki foi usada como bode expiatório para que Alisa pudesse esconder seu constrangimento.
"Mas realmente, eu devo ficar bem. Tudo que preciso é tomar alguns remédios e descansar."
"Ainda precisa comer alguma coisa, certo? Está me dizendo que está se sentindo bem o suficiente para cozinhar para si mesmo?"
"Ah, é verdade... Mas não quero que pegue meu resfriado, porém."
"Não se preocupe. Trouxe uma máscara."
Ela tirou uma máscara da sacola e a colocou, mas Masachika tinha sentimentos mistos sobre o quão bem preparada ela estava. Ela estava perfeita, mesmo em um momento como esse.
Ela está certa. Ela está fazendo a coisa certa, mas…
Qual era esse sentimento de decepção? Parecia como se seu corpo tivesse se tornado um patógeno sujo, e sua fantasia emocionante de ser mimado por uma enfermeira sexy tinha se transformado em algo mais inocente e médico.
Fui um tolo por acreditar que a garota mais bonita da classe iria me mimar!
Masachika encarou o espaço vazio, mais uma vez percebendo que fantasias nascidas de mundos em 2D não eram nada parecidas com a realidade.
"Além disso, trouxe muita coisa comigo, e prefiro não ter que carregar tudo de volta," argumentou Alisa, levantando a sacola cheia até transbordar com vários itens. Parecia que ela tinha trazido comida além de remédios. Dizer a ela para ir para casa depois de carregar tudo isso aqui em um dia quente seria um pecado, independentemente de Masachika tê-la pedido ou não.
"Tudo bem... acho que poderia usar um pouco de ajuda, se estiver tudo bem para você..."
Ele desistiu e a recebeu, já que estava fisicamente e mentalmente no seu limite.
"Obrigada."
Mas assim que Alisa entrou e a porta se fechou, Masachika de repente não conseguiu mais relaxar. O chiado das cigarras lá fora recuou até o interior de sua casa estar imerso em um silêncio palpável. O fato de estar sozinho em casa com uma garota estava realmente afundando, e até mesmo algo tão inocente quanto trancar a porta começou a parecer errado.
"Kuze."
"S-Sim?"
"Aqui, coloque uma máscara."
"Ah... Certo..."
Apesar de se sentir um pouco nervoso, sua expressão ficou completamente séria no momento em que ela lhe entregou uma máscara. Parecia que ela estava dizendo, "Coloque uma máscara, seu imundo." Claro, Alisa nunca pensaria algo assim de verdade. De qualquer forma, ele ainda sentia que as máscaras eram inimigas das cenas de comédia romântica.
Você não pode beijar se estiver usando uma máscara... Agora que penso nisso, ter metade do rosto coberto basicamente mata qualquer chance de um jogo ou filme sequer ser uma comédia romântica... Espera. Houve algumas heroínas ultimamente que tiveram todo o rosto escondido por trás de máscaras. Mas mesmo assim, essas heroínas são fofas porque animes e quadrinhos podem usar efeitos e coisas do tipo para torná-las expressivas, mesmo quando não se pode ver seus rostos, mas seria assustador ver uma máscara expressiva na vida real. De qualquer forma, se você vai cobrir o rosto, então eu definitivamente prefiro uma venda nos olhos do que uma máscara na boca. Se Alisa realmente estivesse vendada, eu pareceria e me sentiria como um criminoso, e eu nem quero falar sobre os fanfics que seriam escritos sobre ela, e no que estou pensando mesmo?
A imaginação nerd de Masachika correu solta enquanto ele colocava sua máscara, ficando um pouco atordoado e balançando ligeiramente.
"Kuze? Você está bem?" Ela perguntou com uma expressão preocupada.
"Agora entendi... Você sente um prazer culpado porque parece errado. É a emoção de fazer algo errado. Acho que isso é apenas mais uma coisa que torna as heroínas vendadas melhores."
"...Você definitivamente não está bem."
"...Eu concordo."
Sentindo-se envergonhado pelo olhar de pena dela, Masachika decidiu que era melhor levar Alisa para a sala antes que ele dissesse algo pior.
"Esta é a pia e este é o vaso sanitário. E aquilo... não entre lá. Aquela sala ali é meu quarto... E esta é a sala. Apenas coloque suas coisas onde quiser. Ah, e tem água e chá de cevada na geladeira se você estiver com sede. Pegue um copo e se sirva. Alguma pergunta?"
"Eu te aviso se tiver alguma. De qualquer forma, você realmente deveria deitar e descansar um pouco."
"Sim, acho que vou aceitar sua oferta..."
Ele concordou rapidamente, já que simplesmente ficar em pé estava sendo difícil o suficiente para ele, e dirigiu-se de volta para seu quarto. Depois de desabar em sua cama, ele esticou para mover seu smartphone para o lado... e de repente começou a vibrar. Outra mensagem de texto de Yuki apareceu na tela.
> Para de imaginar Alya com uma venda nos olhos.
"Que diabos? Ela é psíquica?" murmurou Masachika, perguntando-se como o timing dela poderia ter sido tão perfeito, a menos que ela realmente pudesse ler mentes. Seu telefone de repente vibrou mais uma vez.
> Isso não é ler mentes. É apenas amor.
"Como você diz algo assim sem morrer de vergonha?"
> Como você reclama com um telefone assim sem morrer de vergonha?
"Seu...! Não há como você não estar lendo minha mente! Maldito esper!" latiu Masachika, forçando a garganta e tossindo imediatamente.
> Sua garganta deve estar doendo. Não grite muito, está bem?
"....."
> A propósito, apenas um nerd usaria a palavra esper. A maioria das pessoas provavelmente nem sabe o que é isso.
Masachika lançou seu telefone de forma um tanto brusca em direção à cama, sem nem mesmo estar com vontade de discutir com um objeto inanimado, e fingiu não ver uma mensagem que surgiu de repente dizendo, Ai! Ela era boa demais em saber o que seu irmão mais velho estava pensando, e eles nem eram gêmeos.
Preciso verificar meu quarto mais tarde para câmeras escondidas e microfones... Ele rolou para as costas com essa decisão em mente.
"Kuze? Posso entrar?"
"Hmm? ...Claro," ele respondeu após dar uma olhada rápida em seu quarto e verificar se havia algo embaraçoso por aí.
Devo estar bem. Não guardo revistas sujas embaixo da cama como nos quadrinhos para meninos, e não tenho quadros sugestivamente colocados de cabeça para baixo como nos quadrinhos para meninas.
Se alguém revistasse seu armário, poderia encontrar algo que sugerisse que ele costumava fazer parte da família Suou, mas não havia nada assim à vista, já que Masachika obviamente não queria ser lembrado.
"Ok. Estou entrando."
Alisa segurava uma garrafa de água desconhecida quando entrou hesitante no quarto, e ela a estendeu para ele depois de ter dificuldade para encontrar um lugar para colocá-la.
"Aqui. Trouxe chá com mel para você, se quiser."
"Ah, obrigado. Desculpe, mas você poderia tirar aquela coisa com um botão na minha escrivaninha? Parece uma prateleira. Ela se transforma em uma mesa lateral..."
Ela puxou a prateleira sobre rodas para fora da escrivaninha, então rolou a mesa lateral ao lado da cama antes de colocar a garrafa de água sobre ela.
"Então, uh... Você quer comer alguma coisa? Se estiver se sentindo bem o suficiente para comer, é claro."
"Sim, claro. Você não precisa ficar tão nervosa, aliás."
"Não estou nervosa... Só estou me sentindo um pouco inquieta," ela afirmou, os olhos vagando.
"<А ещё здесь пахнет подростком...>"
(E também cheira a adolescente aqui dentro…)
Ela acrescentou em um sussurro.
Isso não é algo que você deveria sussurrar! E não finja timidez depois de dizer isso também!
Alisa começou a brincar ansiosamente com o cabelo enquanto olhava para Masachika, fazendo-o se sentir desconfortável enquanto sua interação se transformava em uma comédia romântica.
"Então, uh... Qual você prefere? Mingau ou borscht?" Ela perguntou timidamente.
"Ninguém nunca me perguntou isso antes," brincou Masachika com cara séria,
surpreso com as opções bizarras e aparentemente desproporcionais. Alisa fez um bico e divagou:
"Borscht é muito bom para você, sabe? Você ferve os vegetais até ficarem bem macios, então é muito fácil de comer, mesmo se estiver doente. Além disso, tem alho e cebola, que podem fortalecer seu sistema imunológico. E beterrabas são ótimas para o sistema digestivo, então—"
"Tudo bem, tudo bem. Entendi. Você está começando a parecer uma velhinha do interior."
"....."
Embora isso fosse uma coisa bastante rude de se dizer para uma jovem da idade dela, Alisa ficou em silêncio como se estivesse sem palavras. Talvez ela realmente tenha aprendido tudo isso com a avó na Rússia.
"E então? Qual vai ser?"
"Bem, não é sempre que me oferecem borscht, então vamos com isso..."
"...Ok. Deve estar pronto em quatro horas, então—"
"Você está me pedindo para esperar quatro horas? Quatro horas inteiras?" ele exclamou depois de ouvir o que pensou que devia ter sido uma piada, mas ela franzia a testa como se estivesse falando sério.
"Muitos ingredientes entram na preparação do borscht... Eu poderia fazer mais rápido se usasse uma panela de pressão, mas isso é sacrilégio."
"Sim, eu nem saberia a diferença. De qualquer forma, se for o caso, estou bem com um mingau normal. Ah, desculpe. Quero dizer, desde que você não se importe de fazer, porque me sinto realmente culpado por pedir para você cozinhar para mim..."
Até falar começou a doer, sua voz gradualmente enfraquecendo antes de ele colapsar letargicamente de volta na cama.
"Tudo bem. Vou usar sua cozinha para fazer um mingau para você, certo?"
"Obrigado...," ele murmurou um tanto sem vida, observando Alisa abrir a porta de seu quarto, pegar o telefone e digitar algo. Ele seguiu o movimento de seus dedos... e estreitou os olhos, puxando os lábios para trás.
"Ela está mesmo pesquisando como fazer mingau...," disse Masachika sem entusiasmo depois que Alisa saiu.
Tudo o que você faz é cozinhar arroz em água ou caldo, e então adicionar um pouco de sal, certo? Certamente não tem como errar nisso.
Pelo menos, foi o que Masachika pensou.
"Ohhh... Você tempera com sal, não açúcar? Acho que faz sentido. Afinal, isso não é kasha," refletiu Alisa consigo mesma.
Ok, ela definitivamente poderia errar. Feio. Kasha é uma das versões de mingau da Rússia, onde aveia ou trigo-sarraceno são usados no lugar do arroz, leite no lugar do caldo, e açúcar no lugar do sal. Portanto, Alisa fez a escolha certa em pesquisar como fazer mingau japonês. Um erro poderia ter levado a uma conversa verdadeiramente bizarra.
"Ugh! Você usou açúcar em vez de sal!"
"Sim. É claro que sim. E daí?"
"Hã?"
"Hã?"
"Hmm... Então se eu usar um desses pacotes de arroz de micro-ondas... posso simplesmente jogá-lo na panela? ...Espera. Acho que devo aquecê-lo primeiro."
Com um smartphone em uma mão, Alisa colocou um dos pacotes de arroz que comprou no micro-ondas.
"'Com bastante água'? Quantos litros é 'bastante'?" Ela resmungou irritada com as instruções vagas, consultando algumas receitas diferentes e enchendo a panela de água.
"Oh, o arroz está pronto... Ai, ai, ai! Está quente! Ai, ai, ai!"
Não apenas ela se assustou com o quão quente o pacote de arroz estava, mas no momento em que tirou a tampa, foi atingida por uma rajada de vapor quente, assustando-se mais uma vez. Ela conseguiu levar o pacote de arroz até a panela segurando pelas bordas, mas estava tão aflita para se livrar da comida quente que inclinou demais para o lado, fazendo com que todo o pacote de arroz caísse na panela como se fosse uma bola de arroz gigante, espirrando água no ar. E porque segurava o pacote bem na frente de si mesma, um pouco de água espirrou em sua barriga também.
"....."
Gotas de água espalharam-se pela cozinha, e suas roupas estavam molhadas o suficiente para ela ter dificuldade em afastar qualquer suspeita se Masachika perguntasse o que aconteceu. Ela se olhou atentamente, congelada no lugar... até eventualmente erguer a cabeça lentamente e secar suas roupas e a cozinha com um lenço.
"Estou bem. Só preciso colocar um avental, e o problema está resolvido."
Alisa tirou um avental de sua bolsa, rapidamente o vestiu, e começou a cozinhar novamente como se nada tivesse acontecido. "Como isso resolveu alguma coisa?" alguém poderia se perguntar, mas talvez ela estivesse se referindo a salvar sua dignidade, porque Masachika não seria capaz de perceber que ela tinha derramado água em si mesma agora.
"…Quanto de água eu perdi com isso?"
Mais uma vez, ela se preocupou com a quantidade de água na panela. Só depois de adicionar o que parecia ser uma quantidade adequada de volta é que ela ligou o fogão.
"..."
Ela colocou a tampa na panela, esperando cozinhar. Esperando. Esperando. "...É só isso que eu tinha que fazer? Sinto que estou esquecendo de algo..."
Alisa começou a ficar um pouco ansiosa sem nada para fazer além de esperar, então decidiu tirar a tampa e mexer na panela novamente sem motivo aparente, então começou a revisar a receita mais uma vez para garantir que não tinha esquecido de nada.
"'Até engrossar'? Engrossar quanto? Poderiam ter sido mais específicos, como 'Até não haver mais líquido'."
Ela continuou resmungando consigo mesma até finalmente terminar de cozinhar o mingau.
"Isto parece certo, eu acho?"
Depois de despejar o mingau em uma tigela, ela o cobriu com cebolinhas (o que levou cinco minutos inteiros para picar), então pegou uma colher e o saleiro para que Masachika pudesse deixá-lo tão salgado quanto quisesse.
Por que tem um amassado aqui?
Mas quando ela chegou na frente do quarto dele, ela se perguntou por que havia um pequeno amassado embaixo da maçaneta antes de entrar.
"Kuze, trouxe mingau para você."
"Ah... Obrigado."
Masachika estava deitado sobre a cama, sua voz um pouco rouca e os olhos um tanto turvos. Ele estava mostrando um lado mais fraco de si mesmo de forma incomum para Alisa. E por causa disso...
Eu quero fazer um carinho na cabeça dele até ele dormir...
Seus instintos maternais entraram em ação, mas ela imediatamente descartou essa ideia, esmagando-a em um milhão de pedaços antes que se dissipassem nas profundezas escuras de sua mente. E durante esse tempo, Masachika levantou lentamente sua mão direita e deu um polegar para cima.
"Um avental, huh? ...Legal."
"...Parece que você já está se sentindo melhor," latiu Alisa com nojo, agradecendo por sua máscara cobrir seus lábios e bochechas enquanto ela se aproximava de sua cama... Mal sabia ela, seus ouvidos, que não estavam escondidos atrás de uma máscara, estavam completamente vermelhos também. Masachika obviamente percebeu.
"Você está bem o suficiente para comer?"
"Sim... Acho que sim."
Ele se arrastou até poder se sentar e balançou as pernas para fora da cama. Depois de tirar cansativamente a máscara do rosto, ele pegou a colher ao lado do mingau.
"...Você não vai assoprar o mingau para esfriá-lo para mim?"
"Você quer que eu faça isso?"
"...Eu estava brincando," disse Masachika desconfortavelmente antes de agradecê-la mais uma vez e dar uma mordida em sua refeição.
"...Está bom," murmurou ele suavemente para Alisa, que estava sentada em sua cadeira o observando.
"Bom."
Ela realmente não sabia o que tornava o mingau bom ou ruim, ou se havia mesmo mingau bom. Mesmo assim, ela ficou feliz por ele não ter dito que estava horrível. Ela continuou a observá-lo comer pelos próximos minutos até perceber como deve ser desconfortável ser observado enquanto come. Ela desviou o olhar e concentrou-se em seu quarto.
"..."
A primeira coisa que ela notou foi como (surpreendentemente) limpo estava o quarto dele. Ele não tinha muitas coisas, para ser mais preciso. Apesar de sempre afirmar ser um nerd, ele não tinha uma estante enorme cheia de quadrinhos e light novels, nem tinha figuras de anime em sua mesa. Na verdade, quase não havia nada assim à vista, exceto por alguns quadrinhos empilhados em sua escrivaninha.
"...Todas as minhas coisas de nerd estão em outro quarto," interveio Masachika como se soubesse exatamente no que ela estava pensando.
"O-o."
Alisa olhou para frente de forma constrangedora e tentou mudar de assunto imediatamente. "Então... Onde estão seus pais?"
Era uma pergunta que estava na mente dela há um tempo. "Meu pai está no trabalho, e eu não tenho mãe."
"Hã...?"
"Oh, não é como se fosse um segredo ou algo assim, mas sou só eu e meu pai aqui," ele acrescentou casualmente.
"Oh... Eu não fazia ideia..."
Ela parecia estar um pouco abalada, mas Masachika continuou a falar sem entusiasmo como se não fosse grande coisa.
"Não é como se ela estivesse morta. Meus pais são divorciados, assim como muita gente hoje em dia."
"Yeah..."
Apesar de provavelmente se sentir horrível por causa de sua febre, ele ainda falava de sua mãe como se ela fosse um incômodo, e isso fez Alisa se sentir um pouco triste. Apenas agora ela percebeu por que seu avô foi à reunião de pais e professores no dia anterior, e ela ficou desapontada consigo mesma porque acreditava ser mais perspicaz do que isso.
E ao mesmo tempo, ela ficou chocada porque de repente percebeu que não conhecia tão bem Masachika, afinal.
Eu não sabia quando era o aniversário dele até outro dia, agora que penso nisso...
Ela não sabia o aniversário dele, mesmo depois de sentar ao lado dele por mais de um ano, e nunca pensou na situação de sua família até ele mencionar. Encarar essa dura realidade só fez Alisa se sentir mais decepcionada consigo mesma. E vendo que não era um segredo, seria seguro presumir que suas amigas de infância Yuki e Ayano já sabiam.
Apenas o pensamento delas comemorando o aniversário dele nesta casa solitária enquanto ela estava no escuro a encheu de frustração, mas talvez ela nunca soubesse da situação familiar de Masachika se Yuki não tivesse pedido para ela dar uma olhada nele. Então talvez ela devesse ser grata e agradecer a Yuki, mesmo que não quisesse.
Assim que Kuze melhorar, vou começar a conversar mais com ele para conhecê-lo melhor.
Logo quando ela secretamente chegou a essa decisão, Masachika terminou seu mingau.
"A Masha fez esse chá, aliás, então vou transmitir sua apreciação."
"Obrigado."
"Agora é hora do seu remédio. Ah, espera. Talvez você devesse trocar de roupa primeiro?" Ela sugeriu ao notar o quanto suas roupas de dormir estavam suadas e bagunçadas.
"Vamos lá, Alya. Que tipo de fanservice seria esse se você não fosse a pessoa a me despir e limpar o suor do meu corpo?" brincou Masachika.
"Pare de brincadeiras e se troque logo. Vou buscar um copo de água e o seu remédio."
"...Sim, senhora."
"Você precisa de uma toalha e água quente?"
"Não, vou usar essas roupas de dormir para limpar o suor."
"Ok... Ah, onde você guarda o termômetro, aliás?"
"É..."
Depois de aprender onde guardavam o termômetro, Alisa levou sua tigela e colher vazias até a pia da cozinha, onde os lavou, mas no momento em que estava prestes a colocá-los no escorredor para secar...
"Oh..."
Ela encontrou a caneca que deu a ele de presente de aniversário.
Ele está realmente usando…
Aqueceu seu coração. Sua mão naturalmente agarrou a xícara enquanto ela sorria timidamente de orelha a orelha. Passaram-se dez segundos antes que ela subitamente voltasse a si e colocasse a xícara de volta rapidamente. Seus olhos se moveram para a esquerda e depois para a direita, confirmando que ninguém a tinha visto. Depois de limpar a garganta sem motivo aparente e se acalmar, ela encheu um copo com água e pegou o remédio junto com alguns outros itens antes de voltar para o quarto dele.
"Posso entrar?"
"...Entre."
Quando ela entrou no quarto, Masachika já havia trocado para um par diferente de pijamas e estava esperando por ela, sentado na beira da cama. Os pijamas recém-tirados que ele estava usando não estavam à vista, mas talvez ele os tenha escondido com medo de que ela visse tal monstruosidade embaraçosa.
"Aqui, este é o seu remédio, e isso é um desses adesivos refrescantes que você coloca na testa... E aqui está o seu termômetro."
"Obrigado."
Masachika colocou o termômetro embaixo do braço, então engoliu o remédio com um copo de água. Depois de alguns segundos, o termômetro apitou, então ele foi pegá-lo... e um sorriso travesso de repente curvou seus lábios.
"Quer adivinhar a minha temperatura?"
"Apenas me mostre o termômetro."
"hmmm... Tudo bem. Eu adivinharei! Vamos com... 38,4 graus Celsius!"
"....."
"Ugh! Eu estava tão perto! Parece que estou com febre de 38,6 graus. Cof! Cof!"
"Pare de brincar e vá dormir."
"Cof! Ngh... Tudo bem."
Depois que Alisa ajeitou sua franja, ela colocou um gel refrescante em sua testa, e ele desabou na cama com um baque. Ele se mexeu um pouco para se acomodar, puxou a máscara de volta sobre o nariz e relaxou todos os músculos do corpo.
"...Eu realmente aprecio tudo o que você está fazendo por mim hoje. Sério. Vou te reembolsar assim que melhorar. Basta deixar os recibos na minha escrivaninha."
"Não se preocupe com isso."
"Não, preciso te reembolsar. Por favor."
"Ok, ok. O que você quiser."
"Obrigado. Agora... eu deveria dormir. Você pode ir para casa agora. A chave deve estar..."
"Você não precisa se preocupar comigo. Vou ficar na sala estudando."
"O quê? Você não precisa ficar….. Você—"
"Você está doente. Pare de se preocupar comigo e vá dormir."
"Tudo bem..."
Ela apagou as luzes, e Masachika fechou os olhos resignado, mas depois de alguns momentos, ouviu o que pareciam ser os passos de Alisa voltando para seu quarto.
Ela provavelmente voltou para pegar a xícara e o termômetro...
Ou assim ele pensou, até o momento em que ouviu uma cadeira ranger próximo, ao contrário do que esperava, e foi seguido por uma mão gentilmente batendo em seu peito de forma rítmica, como uma mãe tentando acalmar seu filho para dormir.
"...Alya?"
"O que?"
"Isso é meio embaraçoso," era o que ele queria dizer depois de abrir instintivamente os olhos, mas ele segurou a língua no momento em que viu o olhar penetrante dela.
"Obrigado... por tudo. É só isso."
"É o mínimo que posso fazer... Você sempre me ajuda, afinal..."
"Não tanto quanto você me ajuda."
Ele fechou os olhos mais uma vez depois de acrescentar, "Como quando esqueço meus livros didáticos," e instantaneamente sentiu a terra dos sonhos rapidamente o puxando para outro mundo, talvez graças à mão de Alisa batendo suavemente em seu peito.
"Isso não se compara a quanto você me ajudou com a eleição... E isso está longe de ser a única vez que você esteve lá por mim. Você—"
"Você não precisa me agradecer... Eu faço essas coisas... porque quero," sussurrou ele, quase completamente fora de si. Isso foi o fim da conversa. Era hora de dormir, acreditava Masachika, mas Alisa ainda estava dizendo algo, para sua surpresa.
"Porque você quer? O que isso significa?"
"Hmm? O que...?"
"Por que você sempre me ajuda?"
"Isso é porque... Eu…"
"…Kuze?"
"…"
Alisa estava fazendo-lhe uma pergunta que ele sabia que precisava responder, mas ele não conseguia vencer o homem da areia que o arrastava para baixo, então ele deixou sua consciência ir embora. Mas bem quando estava prestes a desmaiar, ouviu estas palavras:
"Boa noite... Kuze."
***
"Nngh..."
Quando Masachika finalmente acordou, estava completamente escuro lá fora. "Ah..."
Ele já se sentia muito melhor, talvez graças ao remédio. Enquanto seus sentidos ainda estavam um pouco amortecidos e sua mente nebulosa, talvez fosse porque ele dormiu demais. Quando olhou para o relógio, já passava das oito, o que significava que ele tinha estado no mundo dos sonhos por mais de cinco horas. Ficou claro para ele que tinha dormido demais depois de somar as horas que já tinha dormido naquela manhã.
Alya já deve ter ido embora... certo?
Mas antes de sair do quarto para verificar, pegou o celular por hábito e levantou curiosamente uma sobrancelha. Havia duas mensagens de Yuki na tela de bloqueio: Você contratou uma empregada? e Enviei uma bomba relógio para você. BOOM! ☆
Masachika instantaneamente começou a se preocupar. Seu instinto se retorceu quando abriu a porta do quarto... e imediatamente se imaginou em um mundo diferente na tentativa de escapar da realidade... porque duas belas jovens estavam quietas... oh tão quietas encarando uma à outra na sala de estar.
Entendo... Então é assim que é uma guerra fria. Eu não tinha ideia de que Rússia e Japão estavam prestes a entrar nisso de novo.
Somente sua imaginação absurda o impedia de desabar, mas ele foi alto demais ao abrir a porta. As duas garotas na sala de estar olharam na direção dele e o cumprimentaram, arrastando-o de volta para a realidade, gostando ou não.
"Kuze, você tem certeza de que descansou o suficiente?"
"Como se sente, Senhor Masachika?"
Uma era Alisa, e a outra era uma jovem que normalmente sempre tinha o cabelo solto cobrindo descuidadamente o rosto na escola, mas agora o tinha amarrado cuidadosamente, expondo o rosto, e estava totalmente equipada (?) com um uniforme de empregada: Ayano. Por acaso, seu uniforme de empregada era franzido, como aqueles chamados uniformes de empregada que você veria em Akihabara, mas este não era o uniforme oficial do pessoal da família Suou. Isso era algo que ela usava porque Yuki queria. O uniforme oficial do pessoal da família Suou era muito mais simples. Eles nem mesmo usavam aquelas faixas franzidas na cabeça. Ayano só acabou com essa roupa porque Yuki foi direto ao avô dela e exigiu: "As jovens devem vestir roupas mais bonitinhas!" Seu avô concordou relutantemente, mas apenas se Yuki prometesse que Ayano não se vestiria assim quando tivessem convidados. Portanto, o uniforme de empregada de Ayano era algo pelo qual Yuki lutou. Isso era o quanto isso significava para ela.
É um uniforme bonito, mas há hora e lugar para isso... e esse lugar não é aqui nem agora.
Os olhos de Masachika perderam o foco, olhando para o nada depois de ver Ayano vestida como empregada pela primeira vez em muito tempo. Enquanto isso, Ayano, que estava sentada em frente a Alisa, levantou-se rapidamente e silenciosamente da cadeira e deslizou sob o braço dele como uma espécie de maga teletransportadora.
"Permita-me emprestar meu ombro."
Ela estava embaixo do seu braço direito antes que ele percebesse, com o braço esquerdo envolto em volta da sua cintura e a mão direita em seu peito.
"Vamos lá, agora. Posso andar sozinho."
"Não quero que você se esforce."
Ele tentou se afastar, mas Ayano imediatamente apertou o braço ao redor dele, pressionando-se rigidamente contra o seu lado direito.
"Você precisa relaxar, Ayano. Você está me fazendo sentir como o chefe de uma máfia subterrânea que assedia sexualmente suas escravas."
"Você é quem precisa relaxar, Kuze... Ahem. Solte-o logo."
"Não vou. É meu dever como empregada cuidar dele."
"Você é a empregada da Yuki, não dele."
Ayano imediatamente congelou... permitindo que Masachika escapasse suavemente.
No entanto...
"A Senhora Yuki me deu ordens para cuidar do Sir Masachika, então se tornou meu dever cuidar dele."
Ayano o apertou em seus braços mais uma vez, como se dissesse: "Não vou deixar você escapar!" A sobrancelha de Alisa tremeu de repente.
"Portanto, eu vou assumir daqui. Você pode ir agora. Já está tarde, então vou mandar o motorista da família Suou te levar para casa."
Ah! Eu sei que ela provavelmente quer o bem, mas a forma como ela disse isso parece que está tentando iniciar uma briga!
"Está ficando tarde, então você provavelmente deveria ir para casa e descansar. Eu posso lidar com o resto," foi o que Ayano provavelmente quis dizer, mas graças ao seu tom distante e ao fato de estar segurando Masachika firmemente em seus braços, você também poderia interpretar suas palavras como: "Você não é mais útil agora que estou aqui. O motorista já está esperando por você lá fora, então se apresse e saia daqui."
Alisa ergueu as sobrancelhas bruscamente antes de encarar Ayano com um olhar feroz, mas Ayano a encarou de volta sem piscar.
Espera... Ayano realmente quis dizer bem quando disse isso... certo?
Ela pareceria mais confusa se tivesse boas intenções? Você não encararia alguém assim de volta, certo? Espere... Vai haver um banho de sangue? Eu entrei em uma zona de batalha?
Assim que as suspeitas começaram a surgir na mente de Masachika, ele de repente se lembrou da segunda mensagem que Yuki tinha enviado: "Te mandei uma bomba relógio. BOOM! ☆" Será que os calafrios que percorriam sua espinha eram causados pelo frio... ou era algo mais?
"Além disso, você não deveria estar se preparando para amanhã?" acrescentou Ayano. "..."
A sobrancelha de Alisa tremeu novamente... mas Masachika não tinha ideia do que Ayano estava falando.
"Amanhã? O que vai acontecer amanhã?"
"Nada. É um dia de escola. É só isso," respondeu Alisa rapidamente, falando por cima dele, mas sua resposta não o deixou menos preocupado. No entanto...
"Kuze, com quem você quer que fique aqui para cuidar de você?" Uma pequena pergunta veio instantaneamente à mente.
Que tipo de pergunta é essa?!
Era uma pergunta que não levava a lugar nenhum, e fez Masachika gritar interiormente.
Estou mais acostumado com a Ayano cuidando de mim, e me sinto culpado por manter a Alya aqui por tanto tempo, então minha resposta é Ayano... mas não é esse o tipo de pergunta, é?
Isso não era sobre lógica ou raciocínio. As mulheres querem ouvir como você realmente se sente sobre elas quando fazem perguntas assim, e Masachika sabia disso.
Como eu realmente me sinto? O que eu quero?
Ele espaireceu um pouco, como se sua febre estivesse voltando lentamente, e perguntou ao seu coração o que ele queria—o que desejava. Com quem ele queria ficar? Aquela resposta era simples e naturalmente saiu de sua boca.
"Eu quero um harém."
Maldição! Esqueci que era um lixo humano! lembrou Masachika de repente, enquanto a luz nos olhos de Alisa se apagava.
"Oh, ah. Não. Quero dizer, ah..."
"..."
"Muito bem. Devo chamar a Senhora Yuki?"
"Não!"
"Senhora Alisa, poderia apoiar o lado esquerdo de Masachika para mim?"
"Não preciso de ninguém apoiando nada."
"Você não precisa ficar envergonhado. Nós entendemos que todos os homens desejam engravidar o máximo de mulheres possível."
Os olhos de Ayano estavam cristalinos, um completo oposto aos de Alisa.
"Eu sei que você tem boas intenções, mas você acha que poderia parar de me fazer soar ainda pior do que já sou?!"
Seu grito doloroso foi recebido com um profundo suspiro de Alisa, que fez cócegas em seu ouvido e o fez pular.
"Suponho que não há com o que se preocupar se você está se sentindo bem o suficiente para gritar tanto."
"Hein? Alya?"
"Estou indo para casa. Preparei um pouco de borsch para você, então sinta-se à vontade para se servir sempre que sentir fome."
"B-borsch? Oh, é isso que esse cheiro é?"
Masachika olhou ao redor da sala enquanto um aroma preenchia o ar. Alisa assentiu silenciosamente, então pegou suas coisas e começou a sair.
"A-Ayano? Estou tendo dificuldade para andar com você me segurando assim, então você poderia me soltar?"
"…Muito bem."
Depois de finalmente conseguir se libertar de Ayano, ele seguiu Alisa antes de parar na porta da frente e se desculpar.
"Desculpe mesmo, especialmente por você ter vindo até aqui para me ajudar... De qualquer forma, eu realmente aprecio o que você fez por mim hoje. Obrigado."
Sua expressão suavizou.
"Está tudo bem... Eu te ajudei... porque também quis."
"Hmm? 'Também'?"
"…Não se preocupe com isso."
Ela desviou o olhar de sua expressão curiosa e travou os olhos com Ayano, que estava de pé diagonalmente atrás dele.
"Cuide bem do Kuze para mim."
"Eu vou."
Ela se curvou ligeiramente para Ayano antes de olhar para Masachika novamente. "…?"
Os olhos de Alisa. Seus olhos abrigavam uma forte determinação, como se ela estivesse decidida a fazer algo—algo desconhecido para ele.
"Alya?"
"Boa noite, Kuze."
"S-Sim… Boa noite."
Mas ela virou suavemente sobre o calcanhar, empurrou a porta da frente aberta e saiu sem responder ao seu chamado. Ele assistiu, sentindo que algo estava errado, mas suas preocupações foram deixadas de lado no momento em que Ayano trancou a porta da frente após passar silenciosamente por ele.
"Você está bem? Precisa que eu empreste meu ombro?"
"Não, estou bem. Sério."
Ayano deu um passo mais perto dele, mas ele recuou.
"Espere. Algo tem me cutucado na perna. Você tem algo no bolso?" Ele reclamou, esfregando dolorosamente o lado de fora da coxa. Ela congelou por um momento e inclinou a cabeça antes de piscar com força como se tivesse acabado de perceber algo.
"Oh, isso é..."
Do nada, ela agarrou sua saia e a levantou com confiança em um único movimento rápido.
"O que…?!"
As meias brancas de cano alto de Ayano foram reveladas em todo o seu esplendor diante do olhar admirado de Masachika, incluindo suas... coxas... desnudas...?
"…Ayano. O que são essas coisas?"
Algo dentro dele morreu quando viu o que estava enrolado em suas coxas: duas faixas pretas em cada perna segurando o que pareciam ser canetas prateadas.
"Armas."
"Eram o quê?!" gritou Masachika com uma voz quase estridente. Ayano de repente balançou o braço direito, batendo em sua saia e fazendo-a flutuar, cobrindo apenas por pouco os segredos do universo. Nenhum homem poderia resistir a olhar com antecipação, incluindo Masachika. Ela então estendeu a palma da mão, mas parou antes de seus olhos.
"São armas."
"…O que você está fazendo?"
Entre os dedos dela estavam três canetas de metal extremamente pontiagudas. Com força suficiente, um golpe na garganta com uma dessas poderia facilmente matar alguém, mas... por que ela estava escondendo algo assim debaixo de sua saia?
"A Senhora Yuki me disse que 'não seria certo' sem essas."
"Hmm. Entendi."
"Ela me disse que um vestido de empregada é um tipo de uniforme de combate, então eu tinha que estar preparada para a batalha o tempo todo."
"Hum, eu me pergunto com quem ela planeja lutar."
Masachika voltou para a sala de estar, nem mesmo com humor para comentar sobre isso.
"Está com fome? Tem borsch na cozinha, como você sabe."
"Ah, certo. Você poderia me pegar uma tigela?"
"Muito bem. Voltarei em breve."
Muito tempo depois de se sentar em uma cadeira e verificar sua temperatura, um aroma maravilhoso passou por ele.
"Desculpe a demora. Qual foi a sua temperatura?"
"De acordo com este termômetro, está 37,4 graus Celsius, então estou muito melhor já."
"Fico feliz em ouvir isso. Aqui, eu esquentei para você."
"Obrigado."
Quando ele pegou a colher e espiou dentro da tigela, encontrou exatamente o que se esperaria encontrar com borsch: uma sopa vermelho-escuro. Alisa aparentemente não colocou carne e apenas optou por legumes cozidos, provavelmente devido a ele estar doente.
"Então… Vamos ver como é o sabor."
Ele colocou uma colherada na boca, quase franzindo com a acidez da sopa, mas a doçura dos legumes quase imediatamente o seguiu. Masachika podia sentir seus sentidos embotados despertarem rapidamente.
"Isso está delicioso..."
Seu apetite retornou num piscar de olhos, e ele pegou uma grande porção de legumes a seguir, cada um perfeitamente cozido, derretendo em sua boca sem que ele precisasse mastigar. O repolho e as cebolas estavam doces, e as beterrabas não tinham muito do sabor terroso, também.
Eu realmente não era fã das beterrabas terrosas no borscht do vovô na época... Ele sempre ria e dizia que não seriam beterrabas sem o sabor, mas eu prefiro essas beterrabas muito mais.
Ele continuou fervorosamente comendo em um torpor até perceber que sua tigela estava completamente vazia.
"Ainda há borscht na panela se você quiser repetir."
"...Sim, acho que posso comer um pouco mais."
Ele acabou terminando a panela depois disso. Até Masachika ficou surpreso por ter conseguido comer tanto.
"Isso estava delicioso... Eu realmente devo uma para Alya."
Ela tinha dito algo como levaria umas quatro horas para fazer borscht, e Masachika sentia nada além de gratidão por alguém que passou tanto tempo fazendo algo por ele.
"Ufa..."
Sua cabeça começou a sentir um pouco de neblina novamente depois de comer. Poderia ser porque ele estava cheio, mas talvez sua febre estivesse retornando, também.
"Trouxe o seu remédio."
"Ah, obrigado."
Ele tomou seu remédio mais uma vez, então se levantou para poder ir deitar. Depois de impedir Ayano de ajudar, ele arrastou lentamente as pernas de volta para seu quarto e desabou em sua cama.
"Hff..."
"Gostaria que eu preparasse um banho para você?"
"Hmm... Acho que estou bem por hoje."
"Então, pelo menos me permita limpar o seu corpo para você."
"Acho que vou tomar um banho."
Ele imediatamente reverteu sua primeira decisão quando viu a determinação brilhante nos olhos de Ayano e seus punhos cerrados. Seu instinto lhe disse que algo realmente ruim aconteceria se ele permitisse que ela o ajudasse quando ele estava em um estado tão enfraquecido.
"Então permita-me lavar suas costas—"
"Não. Estou bem."
"Não há necessidade de se preocupar. Vou colocar uma venda nos olhos."
"Hum, eu estava me perguntando quando o esquema da venda nos olhos iria aparecer. De qualquer forma, lavagem corporal de olhos vendados? Parece perigoso."
"Então não vou colocar uma venda nos olhos."
"Parece sujo."
"Você pode se sentir confortável ao meu redor. Como sua empregada, prometo não olhar para o seu corpo nu de maneira sexual."
"Que tipo de declaração é essa? Tipo, quem declara algo assim?"
"E se eu quebrar essa promessa, você pode fazer o que quiser com o meu—"
"Ok, ok, ok. Já ouvi o suficiente."
Depois do banho, Masachika continuou fazendo o que podia para evitar que Ayano tentasse ajudá-lo em cada pequena coisa, e quando ele estava pronto para ir para a cama, ele estava completamente exausto tanto fisicamente quanto mentalmente.
"Durma bem."
"Sim... Boa noite." Ele acenou, fingindo não perceber o quanto ela estava agitada.
"Talvez eu devesse dormir ao seu lado e—"
"Não. Não quero que você pegue meu resfriado."
"Então que tal uma canção de ninar?"
"Não, obrigado."
Era como se ela estivesse dizendo: "Sério? Você tem certeza?" enquanto se recusava a fechar completamente a porta de seu quarto, espiando através da fresta.
"Ayano." Masachika suspirou suavemente e estreitou os olhos.
"…! Sim? Em que posso ajudar? Você precisa de mim, não é? Quer que eu cante uma canção de ninar para você?" disse seus olhos cintilantes enquanto ela abria a porta.
"Isso é uma ordem. Vá para o quarto da Yuki e vá dormir," exigiu ele severamente. "...! Muito bem. Boa noite."
No instante em que ele pronunciou a palavra ordem, ela saltou no ar e prontamente se curvou antes de se retirar do quarto.
"Deveria ter dito isso uma hora atrás...," disse Masachika com um sorriso exasperado, e ele pegou seu telefone para checar antes de dormir, descobrindo mais uma mensagem de Yuki na tela: Ayano VS Alya — Combate 1: Ayano vence.
"Você faz parecer que vai ter um segundo combate," brincou ele em um sussurro, colocando o telefone de lado antes de se virar. Embora imaginasse que levaria horas até conseguir dormir depois de ter dormido tanto naquele dia, o desejo de fechar os olhos veio rapidamente, então ele se entregou à força, e lentamente adormeceu.
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