A Mansão de Alamut Brasileira

Autor(a): Safe_Project


Volume 2 – Arco 2: Fator B

Relatório 15: Igualmente Opostos

Humano Intangível Vs Humano normal, esta seria uma batalha de vencedor óbvio, em circunstâncias normais, obviamente.

Com o losango dourado e brilhante pendurado em seu pescoço por um cordão vermelho, Romanov era capaz de fazer qualquer usuário de Fator B pensar duas vezes antes de avançar.

"Esse amuleto... Todos falaram para tomar cuidado com isso."

A lembrança de Lucas era um instinto que lhe mandava ficar longe, um aviso criado de última hora em seu cérebro para evitar o perigo. No entanto, mesmo sua mínima sabedoria e instintos aguçados não seriam o suficiente para livrá-lo do perigo.

Romanov avançou pela segunda vez, usando de um simples estalar de dedos para ativar o poder de seu item.

Nenhuma mudança ou ataque foi inicialmente aparente, e o fugitivo então revidou, correndo na direção do homem. A mão intangível se estendeu com a ideia de repetir o destino de Morgan, mas tudo que ela pôde provar com isso foi a grande diferença entre este homem e o agente de antes.

Estava prestes a tocar o rosto do inimigo, mas um cachorro surgiu e interrompeu! Com uma mordida certeira, usou seu próprio peso para levar o braço contra o chão.

—  MAS QUE!! — Livrou-se dos dentes ferozes com sua habilidade.

A marca da mordida permanecia, assim como algumas gotas de sangue escorriam. No entanto, por mais que o animal tentasse, sua mandíbula apenas atravessava o corpo agora fantasmagórico do rapaz.

—  Achou mesmo que eu estava aqui sem algum plano? — perguntou Romanov. —  Tenho informações sobre você que não consegue nem imaginar.

Com o olhar fixado no homem, tentou de todas as formas compreender como aquela batalha estava se tornando desfavorável. Devia ser fácil! Era o que o jovem bravejava internamente.

— Eu só quero ir embora desse lugar... Não é como se isso fosse matar alguém!

— Disse o cara que matou duas pessoas no mesmo dia. Pelo menos tenha mais culhão que eu.

Quê? Do que ele estava falando? Não fazia sentido e provavelmente nunca faria. Entretanto, algo que realmente se tornou impossível entender foi a reação de seu corpo ao novo ferimento.

Onde a mordida do cachorro fora feita, uma mancha de tom roxo púrpuro decidiu surgir. Tal espalhava-se pelo braço de Lucas numa velocidade cada vez maior.

Num susto, ele gritou por instinto. — O que é isso?? — Balançou o membro infectado desesperadamente, sem sucesso para se livrar da mancha.

— Sempre existe uma brecha em qualquer Fator B, e o seu não é diferente.

Não era a resposta que queria, muito pelo contrário, era a pior coisa que poderia sair da boca de um sequestrador. Como se já não bastasse conhecer sua habilidade, ele também tinha noção de seus pontos fracos.

E quanto àquela "doença"? Se espalhava sem explicação, e da mesma forma o cachorro de antes havia desaparecido.

Entre a proliferação da coisa em seu braço e um medo crescente, Lucas vagou seu olhar até Romanov, capaz assim de enxergar uma possível razão de tudo. Um… alfinete! Tudo que o homem tinha em mãos era este objeto quase invisível, um alfinete de cabeça amarela.

— Você… você também tem um Fator B, não é!? Esse alfinete na sua mão seria uma arma bem possível pra alguém assim!

O homem estampou surpresa no olhar, extinguindo-a com um riso curto. Ainda que gostasse de falar, não havia razão pra dialogar com o inimigo, “ainda mais com alguém que pode me matar sem remorso algum”, acrescentou enraivecido.

Sem remorso? E ele achava que havia tempo para sentir isso quando o mundo queria sua cabeça?

Em resposta, guardou o alfinete na gola da camisa e fitou o jovem. — Pode dizer a verdade, você sentiu algo estranho quando matou aquelas duas pessoas, não é?

Um espasmo espontâneo e o cerrar de seus olhos entregaram uma confirmação silenciosa.

— Imaginei. É exatamente por isso que um civil não pode ter um Fator B. Perder o controle desse instinto de batalha é dois palitos.

Instinto… de batalha. Nada mais era que um ardor no peito que crescia na presença de sangue e instigava o espírito do guerreiro a continuar batalhando, tal nome cabia bem ao fenômeno viciante.

Entre tantas novas questões que surgiam no calor do momento, aquela atacou diretamente o coração do rapaz. Seria este o destino de qualquer um que portava uma habilidade especial?

— Quantas pessoas ainda vão sofrer com vocês?? O desaparecimento de tanta gente não passaria despercebido!!

O homem não retrucou de imediato. Ficou parado por alguns instantes e de cabeça baixa. Seus olhos miravam o chão, o cenho se contorceu levemente, e um repentino gosto amargo tomou a boca do jovem.

— Acredite, muleque… Você não é nem de longe o primeiro a sofrer isso, e com certeza não vai ser o último.

Pelo braço de Lucas, a mancha se espalhou velozmente, já tomando o braço quase que por inteiro e ameaçando alcançar o tronco. A mera ideia daquilo atingir seu coração era algo que não estava disposto a ver.

Estendendo o membro ao lado, pareceu exibir sua própria desgraça ao inimigo. Após a curta curiosidade na ação, o cérebro desse entendeu.

— Não me diga!!

As habilidades daquele usuário de Fator B não paravam de surpreender Romanov, que outra vez teve a surpresa estampada em seu rosto.

Não havia qualquer ferida e, mesmo assim, o sangue começou a escorrer para fora do braço de Lucas.

Um rio fluía para fora; carmesim de correnteza forte o bastante para fazer o agente de captura andar para trás.

Apenas o braço foi "purificado", causando a desaceleração e, consequentemente, parando a mancha roxa. Mas claro, os efeitos naturais do tratamento usado eram inevitáveis.

A tontura atingiu Lucas fortemente, cujo fez o possível para esconder essa fraqueza do momento.

Romanov encarou. — Pelo menos você ainda pode se considerar sortudo, é a primeira vez que vejo alguém escapar desse ataque.

Orgulho? Não havia tempo nem para sentir isso. As arfadas do fugitivo apenas jogavam fora a sua pouca esperança restante.

— Qual é… o problema… afinal?

— De você fugir? Não sei, nem é por causa disso que estou fazendo essas coisas.

— O quê?? Então… por quê? — Suas próprias feridas gritavam isso.

— Nada que precise saber.

Snap! Outro estalar dos dedos premeditou o ataque. Onde? Lucas procurou desesperadamente.

Projéteis? Mais animais? Soldados? Do chão? Tudo estava errado. Nada veio, e nem parecia que iria.

Aquele maldito homem demoníaco continuava lá, parado no mesmo lugar desde que a luta começou. Mas Lucas em si não estava diferente, ainda de pé sobre sua própria poça de…!

"O sangue… ele sumiu!?"

O líquido fresco sobre o asfalto… desapareceu! Até a última gota havia evaporado como água num deserto.

Procurou, procurou e procurou mais ainda, tudo sem tirar os pés do lugar, uma ação que despertou um sorriso convicto na face do agente.

— O que foi? Tá com medo de se mover? — Não carregava zombaria, apenas a busca por uma confirmação.

Foi imediato para Lucas entender. Aquele homem percebeu! E com essa certeza, bastou um curto flexionar de um músculo para achar o erro.

"Tem algo… dentro do meu pé!" Dentro, literalmente.

A terra formando uma prisão, um cachorro surgindo do nada, sangue desaparecendo… Que tipo de habilidade esta pessoa, ou melhor, o Amuleto tinha?

— Se você fosse completamente intangível, passaria através da terra. Não sou besta de não perceber isso.

O rapaz arregalou os olhos e ficou estático. Indo de mal a pior, não havia como escapar senão arriscar se movimentar.

“Mas… se eu saltar completamente intangível, não vai ter peso pra gravidade puxar! Eu simplesmente sairei voando em direção ao espaço!”

Com tantos riscos apontados em sua direção, tudo que sentia era a voz da morte lhe chamando por cada uma dessas direções.

“Não tem outro jeito!” Num cerrar de punhos, ele então se deciiu.

Repetiu aquele mesmo objetivo em sua mente desde que saiu do quarto com a grande mochila, acumulando sua coragem para aquele momento crítico!

Ele flexionou os joelhos e, numa última hesitação, rangeu os dentes com raiva.

Os pés se afastaram do chão, deixando uma peculiar coisa para trás. Atravessando sua pele, uma criatura pequena e escorregadia, de cor preta com manchas amarelas em seu corpo.

— Um sapo!? De onde isso saiu??

Aquela espécie era fácil de reconhecer só pela aparência, sendo venenoso e potencialmente fatal.

Nesse mesmo instante, um arrepio subiu dos pés até a cabeça. Em pleno ar, mirou o sequestrador. POW! O tiro disparado não mirava ponto específico, apenas precisava acertar o alvo!

Havia acertado? A adrenalina impedia-lhe de sentir qualquer dano, ou talvez fosse sua própria intangibilidade que ativou à tempo.

Romanov procurava ao redor, provavelmente em busca de reforços que lhe pudessem ver.

A habilidade de Lucas parecia ser poderosa, e realmente era, mas sempre havia contrapontos.

Qualquer Fator B, se bem explorado, poderia se tornar super poderoso, mas alguém tão comum quanto Lucas nunca seria capaz de alcançar seu ápice. O máximo que conseguia realizar era tornar outras pessoas e objetos intangíveis ao tocá-los, mas também se tornaria  tangível neste meio tempo.

"Aquele sapo, será que o veneno me afetou? Se tiver, vai ficar isolado no meu pé até eu cancelar a habilidade no resto do corpo, mas os soldados vão chegar logo, eu preciso dar o fora!!"

As escolhas não existiam mais, sua única opção era apostar tudo naquele instante.

Encarando o inimigo com a maior fúria e determinação que já havia acumulado, o corpo de Lucas se preparou para avançar contra o homem.

Porém, uma sensação assolou tanto ele quanto seu inimigo, mas apenas o ex-açougueiro pareceu capaz de reconhecer aquela energia.

Romanov procurou desesperado, logo encontrando uma possível origem daqueles arrepios.

Terror ela trazia com seu silêncio momentâneo, cujo fora quebrado pelo rastejar de um imenso tentáculo negro que virava a esquina.

"É ELE!" O agente gritou em silêncio.

Não tinha rosto, muito menos tamanho. Por menores que fossem as casas, não havia corpo ao qual aquele membro rastejante tão grande quanto elas estivesse conectado.

Seus pés se moveram por conta, correndo para longe enquanto o olhar insatisfeito era levado uma última vez na direção de Lucas.

Por sua vez, o jovem sentiu a mais curta das felicidades. Poderia ter evitado um sequestrador, mas o que se colocava em sua frente agora não era muito melhor.

Já tinha aceitado sua derrota, na verdade, por mais que não quisesse morrer, seu corpo e mente entregaram-se ao mundo no instante que perceberam o total de zero saídas daquela situação.

Agora, seu corpo estava estático não por conta do veneno em seu corpo, e sim pelo medo que lhe impedia de tirar os olhos da criatura.

No entanto, o membro onduloso recuou quando menos esperava, permitindo que uma outra figura surgisse ao longe, inalterada pela atmosfera sufocante que acompanhava seu rastejar gosmento.

Vestindo aquela mesma roupa meio provocativa da primeira vez, surgiu a familiar e temida face da casa misteriosa que visitou poucos dias atrás.

— Lucas, vem logo!!

Escondida na esquina, Melissa estendia a mão na direção do jovem, entregando-lhe uma nova luz de esperança.

 

 


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