A Maldição da Trindade Brasileira

Autor(a): Felipe Ramos


Volume 1 – Arco 3

Capítulo 24: Mais Fraco

Kido desligou a mangueira de água fervente e esperou Toby se levantar.

— Vamos, levante logo, ainda tenho outras coisas pra te mostrar! — Segurou o gatilho e se preparou para ligar novamente a mangueira.

Como diabos eu vou vencer esse cara sendo que ele anula o poder que eu tanto treinei, que merda.

— Por que você está tão dedicado a vencer? Como você sabia que poderíamos nos encontrar? — indagou o garoto com sardas.

— Eu me preparei para vencer o mais fraco.

— Então se você me vencer não tem planejamento algum para enfrentar o próximo oponente?

— Minha missão estará completa.

— Você é muito esquisito, não faz sentido algum isso. O top12 é legal, mas você não ganha nada estando lá.

— Eu ganho sim, prometi ao meu pai que estaria nesse top12.

— Seu pai? me conte então. — Olhou para todos os lados procurando opções.

— Meu pai era um guerreiro com bastante potencial… — Enquanto Kido contava, Toby tentou avançar, mas o garoto de óculos logo percebeu e ativou novamente a mangueira.

— PARA COM ISSO! — gritou Toby.

— Agora você vai escutar cada pedaço dessa história, se mexer eu aumento a temperatura da água! — ameaçou.

Kido começou a imaginar as coisas que sua mãe lhe contou desde pequeno, e começou a narrá-la para Toby.

— Masami Tanaka, era um estrangeiro de Yukiyama que recém tinha chegado à Solária, logo mostrou sua força conseguindo ajudar até pessoas de elite com os equipamentos que criava. O que te deu uma carta de recomendação para participar do Torneio Nacional daquele ano.

— Quem eram os favoritos daquele ano?

— Tiveram convidados da Ilha do Lago Yara naquele ano, e um deles foi o vencedor. Arthur Excalibur venceu Abel na final do campeonato. Tinham vários outros guerreiros fortes nesse ano.

Foi o campeonato que Abel venceu o Aron…, pensou o menino com sardas.

— Meu pai se saiu muito bem na primeira fase, vencendo um guerreiro que era mais forte que ele. Mas na segunda fase, a mesma que estamos agora, ele enfrentou um homem que não tinha despertado poder algum, não tinha nenhuma individualidade que o pudesse crer que venceria meu pai. Durante a luta esse homem despertou seu poder de se clonar diversas vezes e isso destruiu os planos do meu pai.

— E então ele foi derrotado por esse homem.

— Sim, meu pai estava preparado para enfrentar até Arthur Excalibur, mas não estava preparado para o mais fraco do torneio, esse foi o erro do meu pai. 

— Ele nunca mais participou de outro torneio?

— Acho que você ainda não entendeu, esse torneio é sua porta de entrada pro resto do mundo, mas também é sua cova. Apenas os talentos especiais são levados pra frente, tanto eu quanto você seremos descartados no fim.

— Diga por você.

— Que seja. Meu pai nunca mais foi chamado para algum torneio, isso o frustrou tanto que ele não conseguia mais viver já que o sonho dele tinha se tornado inalcançável. Mas aí ele conheceu a minha mãe, que o fez feliz por muitos anos, até que ele teve uma recaída causada por um homem nojento que reside no primeiro distrito.

— Primeiro distrito? Quem?

— O proprietário, Martin. Ele foi o homem que venceu meu pai mesmo sem ter talento algum. Ele chegou no top12 daquele ano e por isso conheceu pessoas da nobreza, que por fim o deram um distrito. Meu pai tinha planos incríveis para aquele distrito, mas por causa da nobreza, ele foi preterido pelo mesmo homem que o venceu no torneio. Apenas por que meu pai perdeu nesse torneio.

Todo dia que passa eu descubro uma merda diferente sobre esses sete…, pensou Toby.

— No velório do meu pai, Martin apareceu e quando ninguém estava perto do caixão, eu o vi de longe, rindo da cara do meu falecido pai. É por isso que eu prometi que chegaria ao top12, e assim eu vou fazer, não importa o quanto você deseje algo, minha motivação e força são muito maiores do que as suas agora! — Kido puxou um fio de eletricidade e o encostou na saída da mangueira, ao ativá-la, a água além de fervente agora conduzia uma alta tensão de eletricidade.

AAAAAAARRRRRGGHHHH!! SEU DESGRAÇADO!! — agonizou.

— Eu disse que tinha mais coisas para te mostrar.

— Isso… É tão legal. — Toby levantou sorrindo. — Sua motivação é incrível, quase me dá vontade de perder pra você!

— Não precisa entregar, eu naturalmente te vencerei.

— Zane me disse algo nesses momentos antes de chegar aqui, que seria legal alguém que ninguém espera nada pudesse surpreender a todos, assim como Martin surpreendeu seu pai naquele dia, mas você se preparou para refutar essa frase do Zane, você é realmente incrível.

Kido não esperava aquele elogio, e ficou feliz, mesmo que não demonstrasse.

— Hora de perder! 

— Mas tem uma coisa que eu percebi quando você contava sua história.

— O quê? 

— É que eu não me importo com ela! Mentira, eu me importo sim! — Toby olhou para seus braços fervendo, com um brilho vermelho e uma grande quantidade de fumaça saindo. — Afinal, imagina se um nada como eu queimasse e destruísse o seu sonho, imagina que legal isso seria!

Toby avançou e Kido ligou novamente a mangueira, Toby esquivou-se da primeira mas na segunda foi jogado para longe novamente.

— Desista logo, esse papo de destruir sonhos não condiz com o que você é, quem você virou? O sangue da maldição comeu seu cérebro? — gritou Kido, assustado com os olhos arregalados.

— Todos tem sonhos, mas eu nunca tive essa motivação gigantesca, eu apenas queria ser forte igual a Blair, eu queria que eu pudesse descobrir as coisas, mas sempre aparecia alguém com uma história incrível que era a causa de sua força, e eu sempre me irritei com isso, mas sempre escondi, porém agora eu não vou mais detê-la! — Toby avançou novamente e conseguiu chegar até Kido, mas em vez de o socar, ele apenas o agarrou.

— Esse é o seu verdadeiro lado?

— Não sei, talvez sim ou talvez não, só é o lado que eu quero te mostrar agora! Sinto muito pelo seu pai, mas eu não vou pagar as contas que são de outra pessoa! — O garoto com sardas arrancou a mangueira da mochila de ferro e lançou kido para o alto.

— Você ainda não parou completamente o meu poder! — Kido arrancou outra mangueira da mochila e a ligou para diminuir o impacto da queda.

— Isso mesmo, não se mexa.

— O quê?

Natsu! — Um grande sol artificial esquentou o corpo dos dois. — Toma essa! Celsius!

— A roupa anti-calor e anti-impacto ainda está aqui, de nada vai adiantar!

O golpe de Toby desviou o corpo do Kido e acertou em cheio a mochila de ferro.

— Não! Isso é golpe sujo! — A mochila foi destruída, desfazendo a roupa de proteção de Kido.

— Merda, minha mão se prendeu nesse monte de fios dessa coisa. — Toby tentava puxar seu braço, mas sem sucesso.

— Está muito calor! Tira logo seu braço, senão o fio de gás pode ser destruído e com essas faíscas dos fios pode acabar-

A mochila de ferro explodiu e arremessou os dois contra as paredes do tempo, um para cada lado.

— Eu realmente não esperava que isso fosse explodir… Meu braço direito está muito machucado — reclamou Toby.

— Eu… Não posso perder… De jeito algum eu posso perder.

Espero que você perceba antes que eu, o que realmente era importante.

— Pai? Essa voz… Eu percebi pai, eu tenho que vencer o mais fraco, eu sei o que fazer! — Kido levantou sem seus óculos, que haviam quebrado no impacto, e viu apenas um borrão se aproximando.

Não seria incrível? Se um sonho puro e motivacional… Fosse queimado e destruído por mim!?, pensou Toby.

— Você está fora do top12, Kido! Kelvin! — Toby acertou um soco em cheio no rosto de Kido que o jogou contra a parede e o deixou preso entre as pedras que quebraram com o impacto.

— Toby Burn vence a luta e se classifica para o Top12. Parabéns, agora espere um tempo descansando para que você possa lutar novamente pela disputa do top8. Aproveite esse tempo e trate suas feridas. — disse o alto-falante.

Na sala de mentores.

— Kido deve aprender uma boa lição com isso — explicou Helena.

— O primeiro da sua equipe a ser derrotado em Heleninha, que vergonha. — provocou Samantha.

— E ele era o que mais queria ir para o top12, Toby realmente se superou dessa vez, ele sozinho evoluiu um pensamento meu, ele está no caminho certo — disse Zane, com seus olhos brilhando.

— Você realmente se animou com esse garoto, não é mesmo, Zane? — indagou Harry.

— Eu não acredito que o Cody também foi completamente destruído, mesmo usando a neve, ele não foi páreo nem de perto ao Drake… — exclamou Aiden, assustado.

— Drake não deveria estar lutando agora, ele é o verdadeiro quarto mais forte, mas a nobreza colocou meu irmão lá. — explicou Zane.

— Ele é claramente muito acima dos outros nessa fase, é questão de tempo até ele chegar ao Yuki, aparentemente será uma luta de altíssimo nível, vai ser interessante. 

— Helena, olha ali, Kido já está na cama de hospital, não vai visitar ele? — disse Harry.

— Não, quem precisa estar lá agora não sou eu.

Na sala onde Kido está internado, uma mulher entrou e chamou a atenção do garoto, que havia acabado de recobrar sua consciência.

— Mãe? O que faz aqui? Eu fracassei… Não consegui vencer…

A mãe de Kido começa a cair aos prantos.

— Me prometa uma coisa, só uma coisa, essa você vai conseguir cumprir, eu tenho certeza que vai — gritou.

— O que é, mãe?

— Por favor, eu te imploro, não se diminua e nem diminua seu oponente. Foi uma luta incrível, seu pai ficaria orgulhoso, então não se prenda a coisas ruins, eu não quero viver tudo aquilo de novo, eu quero viver feliz com quem eu amo! — Ela se abaixou e começou a chorar com a cabeça no peito de seu filho.

— Tudo bem, mãe. Eu estou muito triste com isso tudo, mas do jeito que foi e pra quem foi, só me deixa animado para saber onde ele vai chegar. Queria estar lá, queria muito estar lá. — Kido começou a gritar, chorando. — Mas eu quero ver como isso tudo vai terminar, porque por um momento, tudo pareceu possível.

— Eu estou tão feliz e orgulhosa que você pense assim, eu te amo, filho.

— Eu estou tão feliz de te encontrar aqui, é quase como se você apagasse tudo de ruim que eu estou sentindo.

Fico feliz que percebeu isso sozinho, filho.

Kido se assustou ao ouvir novamente a voz de seu pai, mas em vez de procurar uma razão, ele apenas entendeu que aquelas palavras já haviam sido faladas, eram apenas lembranças.

Kido criança corria em direção ao seu pai.

— Pai, o que aconteceu?

— Seu pai está triste, Kido, mas vai ficar tudo bem.

— Óbvio que vai! A mamãe preparou sua comida favorita, é impossível ser triste com a mamãe existindo!

— Fico feliz que percebeu isso sozinho, filho. — Masami abriu um sorriso.

— Então vamos almoçar! 

— Certo. — Os dois foram juntos até a mesa, onde a mãe de Kido os esperava.

Papai se afundou tanto nos fantasmas do seu passado que seu futuro não existia, até que conheceu a mamãe e ela mostrou um lado feliz que ele nunca havia percebido. Ele se deixou sonhar novamente, e decidiu que seria o dono do primeiro distrito e faria minha mãe orgulhosa, mas por causa da nobreza ele não conseguiu, e pro mesmo homem que causou seu trauma antigo. Isso o deixou triste de uma maneira que ele achou que decepcionou minha mãe e nunca se perdoou por isso, até que desistiu de viver. Todo esse tempo eu achava que o certo era passar e chegar aos 12 primeiros, mas no fim, descobri que o que meu pai realmente queria quando morreu, era poder fazer minha mãe feliz como ela merece, e eu irei fazer de tudo para que isso se torne real!, pensou Kido, enquanto chorava abraçado com sua mãe.

— Eu te amo, mãe.

Dentro da sala de espera, uma televisão aparecia na frente de Toby. Mostrando o top12 restante.

12° Toby

11° Benjamin

10° Kaya

9° Clark

8° Orochi

7° Natsumi

6° Sachi

5° Drake

Mais uma luta e eu vou poder enfrentar a Blair… Assim como prometi., pensou Toby, enquanto a porta do próximo templo abria.

Em uma sala com todos os donos de distritos, algo era conversado.

— Martin, no fim o cara perdeu igual o pai patético, hahaha. — disse Golias.

— Eu avisei sobre esse Toby, ele não pode encontrar a Blair de jeito nenhum. — reclamou Adder.

— Não vamos alterar nada por agora, vamos esperar — explicou Gordon.

— Diga por você, eu irei fazer uma alteração muito importante para minha vingança — disse Bertha, indo em direção a um ponto de controle.

Natsumi entrava em seu templo.

— Mais uma vitória e vou poder enfrentar aquela estrangeira misteriosa, espero que Ben esteja vencendo no caminho do cara de Yukiyama. — Ela viu alguém entrando pelo outro lado.

— Espera, Natsumi?

— Ben? Como assim? Você foi realocado para cá por qual motivo? O caminho que está precisando de pessoas é o da Blair.

Na sala de controle.

Hahahahahahaha! você achou que ia viver tranquila nesse campeonato? Isso é pelo que aconteceu aquele dia, sua criança plebeia de merda, elimine ele ou desista! Já que se importa tanto com esse Ben — gritou Bertha, do posto de controle, mesmo que Natsumi não pudesse ouví-la.

— Natsumi, a 7° Vs Ben, o 11°. Que a luta comece! — disse o alto-falante, enquanto os dois se encaravam assustados.



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