A Maldição da Trindade Brasileira

Autor(a): Felipe Ramos


Volume 1 – Arco 3

Capítulo 22: Pseudo

No Sexto Distrito de Solária, Blair estava deitada em sua cama vendo um filme enquanto comia pipoca.

— Hoje é seu dia de treinamento com o Zane, não é? — perguntou Helena.

— Sim, mas como falta uma semana para o torneio ele me liberou. — Pegou uma pipoca do balde que segurava. — Eu vou continuar treinando, não se preocupe.

— Faz sentido, ele deve querer ter tempo pra treinar Drake e Toby, para eles evoluírem mais.

Nop, ele também liberou o Drake. — exclamou enquanto ainda mastigava.

— Ele realmente acredita no Toby, então.

— Existe algo maior, esse último mês ele só pensava no Toby. Tem alguma coisa pra acontecer, espero que isso ajude Toby no campeonato.

Em outro local, Toby estava dormindo, em seu sonho ele conseguiu novamente se conectar com o vazio que sobrou em seu núcleo.

— Apareça! Eu sei que você está aqui! Eu consegui fazer fumaça novamente, sei que meu núcleo não deixou de funcionar, afinal estou vivo! — gritou.

— Ora, ora. Você parece entender um pouco sobre suas chamas agora.

Toby enxergou uma silhueta, era dali que a voz vinha.

— Eu sei que você não é o Abel, também sei que não é o porta-voz de nada. — Toby acendeu chamas em seu braço e iluminou a silhueta. — Você é o Pseudo!

O garoto de sardas enxergou uma exata cópia de si mesmo, mas não se assustou, pois já esperava aquilo.

— Pelo menos em um sonho você consegue criar chamas, não é?

— Em breve também irei conseguir criá-las no campeonato.

— Enfim, você acertou, eu sou sim o Pseudo, mas ainda faltam coisas pra você descobrir, e por favor, tire de perto essas chamas do meu rosto que está me queimando. 

Toby deu um soco diretamente no estômago do pseudo, mas acertou em uma espécie de vidro, que se rachou em diversas partes, mas ainda não havia sido quebrado. Ele sentiu uma grande dor vindo de seu estômago.

— Que merda é essa? — Toby tirou o braço da parede de vidros e percebeu que aquilo na verdade era um espelho, que caiu todo no chão virando pó. — Um espelho?

— Eu sou o pseudo e você também é. Nós somos iguais. — disse a voz.

Toby acordou assustado, olhou para o lado e tentou ligar a luz de seu quarto, mas percebeu que do lado de sua cama não tinha a parede que costumava estar ali. Ao se esticar, ele caiu da cama e fez um barulho que fez um grande eco.

— Finalmente acordou.

— Onde estou?

— Onde tudo começou para suas chamas. — Zane se aproximou e criou uma luz com sua mão que iluminou todo o galpão.

— O galpão abandonado. — O menino de sardas olhou em volta, assustado. — Ninguém mais entrou aqui desde o que aconteceu com o Abel, por que me trouxe pra esse lugar?

— Falta uma semana para o campeonato, e você não tem nível para competir nele ainda. Então eu decidi ficar aqui neste galpão por sete dias, nesses sete dias você vai me enfrentar.

— Te enfrentar? Mas eu tenho que te vencer?

— Se quiser participar do torneio em sete dias, espero que consiga se livrar de mim. — Zane avançou numa velocidade incrível e acertou um soco no estômago de Toby, que o arremessou para longe. — Você treinava com Blair quando era criança, isso te ajudou a criar uma grande resistência corporal. Tanto que o furo que Maya fez em seu peito nunca foi um problema, mas sim suas chamas.

— Chamas… Eu sonhei com o pseudo, ele admitiu ser, mas disse que eu sou ele também. — gritou Toby, enquanto esquivava dos golpes de Zane.

— Foi exatamente o que eu pensei, filho. — A voz de Naomi conseguia ser ouvida. — Você é o pseudo.

— Mãe? Como assim? AARGHH! — Sofreu um golpe de Zane.

— Sua Vó um dia me explicou. As pessoas criam cascas falsas para viver em sociedade, mas nós, os Burn’s, se prejudicam dessa casca. Nosso poder nunca vai conseguir se acender enquanto estivermos nessa casca.

— Então os sentimentos ruins que eu deveria deixar entrar, eram parte das minhas chamas tentando me informar isso?

— Qual é o seu sonho, filho?

— Quero ser alguém forte, que mostre que minha vida teve um propósito importante.

— Nós sabemos que isso não é tudo, você pode sonhar grande agora, sem nenhum medo.

— Mas eu não sei! 

— Errado — Zane acerta outro golpe no garoto. 

— Aqui mesmo, você poderia ter morrido, mas simplesmente criou um incêndio sem nenhum tipo de sangue amaldiçoado para aumentar seus poderes, e você já tinha apenas metade do seu núcleo. — explicou Naomi. — Qual era o seu sentimento?

— Raiva, por ter descoberto a verdade sobre o Abel. — Toby conseguiu esquivar de um dos golpes e desviou o olhar — Não, não foi isso.

— Finalmente percebeu, você sabia que não era só ódio, existia algo a mais.

— Eu queria continuar vivendo. Lembro de quando acordei, disse pra Blair que mostraria pro mundo que eu ter ficado vivo naquele dia foi a melhor coisa que aconteceria — O menino de sardas sumiu dentro do escuro. — Mas com o passar do tempo, mesmo sabendo de como Abel era, eu me perguntei o que eu poderia mudar nisso tudo, se eu nem mesmo sabia sobre as coisas.

Viva, filho. Eu trabalhei toda a minha vida pra dar uma vida pra você e sua mãe, mas quando pensei que pudesse ter tempo pra aproveitar com vocês, esse ataque das bestas aconteceu. Mas eu não mudaria nada, eu continuaria sofrendo calado por vocês, afinal, sei que você vai ser diferente de mim, por isso eu quero te fazer ver o futuro. Eu te amo, Toby!, a voz do pai do garoto com sardas ecoou em sua mente.

— Quando eu estava com o meu pai, momentos antes dele morrer, ele me contou tudo, e ali eu descobri que existia um nobre que precisava ser exposto, eu queria descobrir a verdade sobre a nobreza. 

Zane parou de atacar e ficou apenas atento.

— Quando Abel se revelou, eu descobri quem era o nobre que causou aquilo com o meu pai, mas eu não queria ele morto, não antes de eu poder contar para todos que ele era o nojento que deixou pessoas morrerem.

— Então o seu pai realmente te contou isso tudo antes de ir, não é. — exclamou Naomi, com os olhos lacrimejando.

— Eu queria ser diferente do meu pai, não queria aceitar tudo calado nem me sentir inferior, pelo contrário, eu queria eu mesmo descobrir a verdade. Porém conforme fui crescendo, eu caí na mesmice de saber que sou inferior a Blair e muitos outros. — Ele notou uma queimação em seu corpo. — Mas ainda tem coisas que eu preciso descobrir, por que o Excalibur atacou Solária se ele era de outro lugar? Drake nem morava aqui ainda, não foi por ele.

Zane respirou fundo.

— Eu sei que vocês sabem mais coisas do que eu.

— Então você tem sete dias para me acertar um golpe em cheio, se acertar eu te considero um vencedor. — exclamou. — E se for um vencedor, eu contarei tudo o que sei sobre Excalibur.

Uma luz iluminando todo o galpão apareceu.

— Fechado! — Toby estalou seus dedos em direção ao teto — Natsu!

Toby ainda não conseguia criar chamas, seu corpo apenas ficava com um aspecto vermelho, como se estivesse cozinhando por dentro, mas chamas não saíam. Poucas fumaças eram criadas, mas não o bastante para arderem em chamas. 

— Você não conseguiu fazer chamas.

— Eu notei isso nos primeiros dias de treinamento. Percebi que meu corpo esquentava muito, essa alta temperatura não me machuca em nada, apenas me deixa com uma sensação de força e leveza que eu nunca senti antes.

— A alta temperatura, ela traz muitos benefícios pro corpo, isso aconteceu. — disse Naomi, impressionada. — Você conseguiu melhorar mesmo sem usar as chamas, isso é incrível.

— Esses últimos dias eu estudei sobre a temperatura, e como ela pode ser benéfica, e até níveis de temperatura corporal. — Toby correu em direção ao Zane. — Então vamos ver se você aguenta altas temperaturas!

Os antebraços de Toby e suas mãos começaram a se esquentar tanto que brilhavam em vermelho. 

Celsius! — O garoto armou um soco direto no rosto de Zane.

— Escudo Real! — O escudo de luz apareceu e conseguiu bloquear o soco do menino de sardas.

— Droga, te vencer vai ser muito mais complicado do que parecia, eu estava num momento incrível de superação aqui! — reclamou.

— Eu não ia conseguir esquivar, se não fosse o escudo, eu teria tomado. — explicou.

Assim começou a sequência interminável de treinamento do garoto com sardas, dias foram se passando e ele conseguia evoluir sua força, mas ainda não era o bastante para acertar em cheio um golpe em seu mentor.

Cinco dias após o começo da luta, Toby ainda estava dentro do galpão, procurando algum jeito de acertar um golpe.

— Eu estou faltando no trabalho há cinco dias, eles vão me demitir.

— Eles entenderam meu pedido, além disso, meu irmão vai dar conta de tudo.

Toby avançou e, quando armou um soco, viu Zane criar um novo escudo. Já sabendo que o mentor faria aquilo, o garoto com sardas decidiu pular por cima do escudo. Sua perna direita rasgou a calça e o tênis brilhando em vermelho, assim como seu braço em outrora.

Celsius! — Ele acertou um chute que quebrou o escudo por cima, mas quando iria acertar o mentor, ele usou um poder que era desconhecido do garoto e se esquivou rapidamente.

— Você conseguiu! Você quebrou o escudo! — Zane se impressionou.

— Mas ainda falta te acertar! 

— Não falta, não. Me acertar seria impossível pra qualquer um de vocês no nível que estão, quebrar o escudo já foi uma grande demonstração de poder.

— Isso quer dizer que…

— Você está pronto, eu espero que vá longe nesse torneio. — disse Zane, com as duas mãos segurando os dois ombros de Toby.

As lágrimas de emoção eram notáveis brotando nos olhos do garoto, que segurou o máximo que pôde.

— Eu não vou te decepcionar, eu prometo que estarei entre os finalistas! 

— Se ganhar, eu conto sobre o Excalibur, já que não me acertou dessa vez. — Tirou a mão direita do ombro do garoto e o comprimentou.

— Fechado. Eu vou conseguir vencer.

— Bom dia gente, eu trouxe o almoço. — Chegou Naomi, com uma grande panela de carne. — Eita, vocês acabaram?

— Sim! Eu vou conseguir participar do torneio daqui dois dias! — gritou animado.

Shitzu estava observando do teto do galpão, já tinha alguns dias que ela passava seu tempo livre apenas vendo a luta entre os dois. Após ouvir a frase de Toby ela abriu um sorriso e foi embora.

Quando chegou no seu hotel novamente, ela olhou para seus dois companheiros de equipe com uma cara séria, ao lado de uma mulher de cabelos curtos e ruivos.

— Estamos prontos para esse campeonato, nós vamos vencer isso e honrar o nome da minha criadora, que sofreu muito nas mãos da família Morgan. Por isso, eu vencerei Blair Morgan. Afinal fui criada com esse intuito. — exclamou Shitzu, enquanto os companheiros concordaram.

Então você também se tornou uma mentora desse campeonato, Helena? Vamos ver como vai reagir quando ver sua antiga companheira Samantha. Isso vai ser interessante!, pensou a ruiva.

No restaurante Achi’s. Helena e sua equipe estavam almoçando junto da equipe de Harry.

— Tem certeza que o Toby não vai vir hoje? — indagou Natsumi.

— Sim, ele tirou essa última semana de folga, o irmão do Ethan que pediu. — respondeu Sachi, fazendo Ethan desviar seu olhar.

— Toby vai vir muito forte pra esse campeonato, eu sei que ele vai se superar. — exclamou Harry, sorrindo junto de Ben.

— Eu não ligo, apenas tenho que vencer Blair, o resto são pessoas que terei que passar por cima. — afirmou Ethan.

UUUUUUUUUUUUI olha ele! — Todos fizeram um coral.

— Deixa comigo, eu cuidarei do Toby, o resto eu deixo pra vocês. — Kido ajeitou o óculos.

No meio do comércio do Primeiro Distrito. Cody e Yuki andavam juntos.

— Ainda não acredito que aquele idiota do Erick voltou pra casa no primeiro sinal do Geller. Sabia que não dava pra contar com ele.

— Não tem problema, nós não precisamos dele pra ganhar. Afinal, a espada mais forte deste campeonato está em minhas mãos. Certo, mestre Aiden? — disse Yuki.

— Certíssimo, nós podemos mudar tudo com essa Excalibur de Nível 2. — O mentor abriu um sorriso assustador, enquanto batia palmas.

No segundo distrito, Drake estava afiando sua nova espada.

— Mãe, obrigado pela espada que suporta dois fragmentos, vai me ajudar muito no torneio.

— Não tem de quê, filho. Mas use-a para ganhar, tenho certeza que o Excalibur estará observando esse torneio, ele vai saber onde estará você e o fragmento. — explicou Karen.

— E é esse o meu objetivo, ele vai ver quem vai acabar com ele em ação pela primeira vez.

No sexto distrito. Blair estava novamente vendo filme na cama comendo pipoca, até que a campainha tocou. A garota lembrou que Helena estava no almoço de sua equipe e foi abrir a porta.

— Olá. — Ela se assustou.

— Olá, princesa. Aqui é o Adder, dono do sétimo distrito.

— Eu te conheço, o que quer?

— Eu vim te notificar em primeira mão do prêmio que o campeonato vai dar ao vencedor, já que você é a favorita para conquistá-lo.

— Não ligo pra dinheiro. — Ela ia fechar a porta, mas o homem colocou o pé. 

— Espera. Nós achamos coisas escondidas no castelo que nem esperávamos achar, então decidimos mostrar a verdade para o público.

— Fala logo o que você quer.

— Quem vencer o torneio vai ter direito a saber toda a verdade sobre a Trindade. Detalhe por detalhe.

Blair arregalou os olhos, enquanto o homem apenas abria ainda mais o seu sádico sorriso.



Comentários