Volume 1 – Arco 2
Capítulo 11: Plano do Diabo
No nordeste do pântano. Blair levava Natsumi apoiada em seu ombro, mas já estava fraca depois da luta anterior contra Aron.
— Princesa! Natsumi! — chamou Kaya.
— Aqui! — Blair deixou Natsumi sentar calmamente no chão, e desmaiou em seguida.
— Ela cansou mesmo, teve uma luta muito difícil agora pouco.
— Certo, vou primeiro curar sua torção no pé e depois ajudo ela a recuperar as energias e aliviar as dores. — Kaya colocou a mão no pé de Natsumi e o virou. Uma aura vermelha apareceu no machucado, mas a curandeira a sugou, até que virasse uma aura verde.
— Você é incrível, a dor já sumiu, muito obrigado.
— De nada, eu estou aqui para isso mesmo, e um pouco mais também! — sorriu.
— Que fofo esse encontro entre garotinhas, mas agora já acabou. — Maya apareceu de repente e com uma grande velocidade pegou o corpo da princesa. Kaya tentou impedir mas sofreu um golpe na nuca que a derrubou.
Natsumi tentou impedir, mas ainda não tinha força no pé o bastante para correr, e caiu no chão.
— Merda, ainda deve levar um tempo para eu conseguir andar normalmente de novo…
— Siga a minha direção que nos encontraremos no centro. A parte final do jogo vai começar. — Abriu um sorriso assustador.
Enquanto Maya sumia no meio do pântano, Natsumi tentava se arrastar até ela.
— Natsumi! O que aconteceu?
— Ben… Ben! Rápido, me carregue para aquela direção. — apontou.
— Por quê? O que aconteceu?
— Eu não tenho tempo, me leve lá! — exclamou a garota de cabelos castanhos.
— Mas, e o Toby? Ele já está quase acordando.
— Então deixe ele aqui, o maior perigo foi para o centro com a princesa, depois a gente resolve o resto.
Ben notou o olhar desesperado de sua companheira de equipe e não conseguiu ir contra a idéia dela. Ele encostou Toby em uma árvore e botou Natsumi em suas costas e se preparou para ir.
No instante que os dois iriam sair, Toby acordou.
— Natsumi? — disse o garoto de sardas, com sua visão ainda embaçada e confusa ao acordar.
— Toby, nos encontre no centro, naquela direção, nós precisamos de você. — explicou Natsumi.
A frase de Natsumi ecoou dentro da cabeça do menino de sardas, que quando viu a sua amada sumir entre as árvores, acordou de vez.
— Eu tenho que segui-los, a Natsumi… — Agora acordado, Toby lembrou da frase que ela disse, mas com diferenças no que foi entendido.
Toby, venha me encontrar no centro, naquela direção, eu tenho que te falar uma coisa, a imaginação apaixonada do garoto mudou toda a interpretação da frase original. Ele sentiu um calor estranho no seu peito.
Quando o garoto de sardas levantou e se preparou para ir em direção ao centro, um soco de um grande braço o acertou e o jogou contra a mesma árvore novamente.
— Venha comigo, princesa, eu não posso te deixar ir. — disse Aron, tonto ao ponto de confundir Toby com Blair.
— Eu não sou a princesa! Me deixe passar e ir encontrar a Natsumi! — Ele tentou passar pelo homem, mas foi barrado.
— Você não pode ir em lugar algum, só sairá daqui por cima do meu cadáver. — afirmou o homem com braços agora humanos.
— Me deixa ir ver o meu amor! — O braço de Toby começou a acender em chamas, e ele desferiu um golpe certeiro no estômago de Aron. — O quê? Eu fiz isso?
Aron caiu encostado em uma árvore, começando a recobrar um pouco sua consciência.
Toby ficou olhando para o seu braço, que depois de todo esse tempo finalmente conseguiu criar chamas. Ele não entendia como depois de tanto sofrimento, aquilo finalmente aconteceu de repente, até que lembrou de uma conversa com sua mãe quando era criança.
O garoto de sardas aos seus doze anos de idade chegava em casa com uma advertência escolar, ao ler sua mãe percebeu que outra vez ele havia brigado com um nobre chamado Ethan.
— Filho, você brigou de novo com o garoto da família Rogers, eu não sei mais o que fazer com vocês;
— Ele falou que o meu nome era igual ao de um cachorro e ficou latindo pra mim sempre que me via, aí eu bati nele!
— Se você bateu nele por que está com o olho roxo?
— Eu prometo que ele também está! — sorriu.
Naomi colocou a mão na testa de seu filho e notou que ele estava febril. Ela ligou os pontos e sorriu.
— Vocês funcionam com poderes emocionais, é esperado que vocês briguem. — Ela faz cafuné nos cabelos da criança. — Também tive minhas brigas, afinal está no sangue dos Burn serem emocionais, mas você não pode brigar sempre assim, me promete que vai parar?
— Eu prometo… — Abaixou a cabeça. — Mas o que tem haver meu sobrenome com minha emoção?
— Nesse mundo, existem pessoas que contém um poder emocional, como o Ethan, ele fica mais forte quando sente raiva, essa é a emoção dos Rogers.
— E eu?
— Nós somos os mais emocionais, dizem que os Burn são feitos para serem amigos verdadeiros de outras pessoas, pois eles demonstram muito os sentimentos. Nós conseguimos usar qualquer tipo de sentimento para nos deixar mais forte.
— Isso é muito legal! — Os olhos do garoto brilhavam.
— Mas tudo tem seu preço, se não conseguirmos controlar esse sentimento, ele nos queimará até a morte, mesmo se for um bom sentimento.
Toby se assustou com a explicação. Ele colocou sua própria mão na testa e sentiu que estava febril. Naquele momento ele entendeu que como ele tinha apenas metade de um núcleo de uma pessoa normal, o máximo que ele conseguia era ter febre.
De volta ao nordeste do pântano.
— Amor… O amor fez o fogo queimar! — Ele olhou pro seu braços ainda em chamas sem entender porque não diminuía, e começou a sentir ele queimando. — TÁ QUENTE!!! SOCORRO!!! — Corria em círculos, enquanto Kaya se levantou e ficou de frente com Aron.
— Quem é você, garotinha?
— Não importa, onde está o núcleo do campo amaldiçoado?
— Eu não faço ideia, mas vocês deveriam se preocupar com a princesa, se Maya despertar o diabo, é o fim daquela menina.
— Despertar o Diabo? — perguntou Toby, apagando o fogo com a mão dentro de uma poça.
— Esse jogo foi feito pra sobrar todas as crianças, mesmo que fracas com lutas, eu e os dois meninos deveríamos perder.
— E o que isso tem haver com o Diabo?
— O Diabo vai matar todos vocês, em instantes.
Kaya e Toby se assustaram.
— Mas por que ela precisa da princesa para despertar o Diabo? — perguntou a curandeira.
— Não pode ser… A Blair… É o Diabo…
— Você até que sabe pensar, garoto.
— Como assim? Ela tem o sangue real, não tem como ela ser o Diabo?
— Vou te contar uma história, garotinha.
As lembranças de Aron eram claras, ele estava em uma Arena, disputando o Exame de Admissão, ele estava entrando para uma luta.
— Agora vamos para as oitavas de finais! Aron Vs Abel Rogers! Um plebeu contra um nobre!
— Se prepara pra ter a cara amassada, riquinho. — Aron estalava os dedos.
— Não fale comigo, pobre.
Aquela luta durou apenas trinta segundos, Abel tinha um poder incomum, como se fosse uma hipnose, ele conseguiu me fazer cair naquilo e me fez implorar pra desistir e beijar os pés dele. Naquele dia eu saí furioso da Arena, sem que ninguém pudesse falar comigo.
Isolado num canto do primeiro distrito, eu estava chorando de ódio pela humilhação. Até que uma senhorinha chamada Maya me chamou. Ela me prometeu que se eu comesse aquele bolinho dela, eu ficaria forte o bastante para que ele não conseguisse entrar na minha mente.
Eu comi o bolinho. Uma dor tremenda se instaurou no meu corpo por alguns instantes, mas após ela passar, eu tinha obtido braços de ferro, eu estava realmente muito mais forte. Só que o preço a se pagar foi o ódio tremendo que aquela droga te dá, assim eu cometi aquele crime que todo conhece, a chacina que um derrotado fez após ser humilhado pelo Herói da cidade. Aquela não era uma droga simples que dura cinco minutos, ela era praticamente eterna. Ou pelo menos eu achava que era, até ser derrotado pela princesa. Assim eu perdi meus poderes e meu ódio.
Aron encarou seus braços normais, que não via desde aquele antigo dia.
Então esse era o poder do Abel, por isso ele me fez derrubar as caixas aquele dia, pensou o garoto com sardas.
— O que a princesa tem com essa história?
— Maya vai fazer com a princesa a mesma coisa que fez comigo anos atrás, ela vai dar ódio puro de maldição para a princesa e ela vai acabar matando inconscientemente todos vocês.
— Blair não aceitaria poder fácil igual um perdedor como você! — exclamou o menino.
— Ela vai achar um jeito de forçar a princesa a usar. — rangeu os dentes. — E não fale como se soubesse pelo que passei, essa sensação de que tudo vai acabar em instantes é uma coisa que você só consegue sentir vivendo!
— Eu já vivi isso!
— Não viveu não, se tivesse vivido saberia do que estou falando.
— Não importa, eu nunca escolheria ter ódio de matar pessoas à minha volta, isso é nojento!
— Não fale como se eu não tivesse ciência disso, seu verme! — gritou Aron.
— Eu já disse que não importa! Nós somos pobres e por isso temos que usar meios nojentos para se igualar aos nobres? Você não sabe de merda nenhuma!
— Calem a boca! — gritou Kaya
Maya chegava novamente no centro do pântano, agora carregando a princesa. Ao chegar, ela notou que Harry estava com curativos no ferimento do peito, e que Zane estava a esperando.
— Zane Rogers, ao que devo a sua visita?
Zane avançou e equiparou golpes com Maya.
— Quanta pressa… Você vai realmente ser um problema, não é?
— Devolva a princesa, agora.
— Para o seu azar, eu já tinha me preparado para você, vou te mostrar um antigo conhecido. — Ela cortou seu próprio pulso. — Esse é o sangue de uma maldição, correntes da libertação! Venha, Besta Destrutiva!
Três correntes saíram do pulso da Maldição. Duas correntes foram para o Oeste e uma para o Nordeste.
No Nordeste do pântano. Uma corrente se ligou ao núcleo de Aron, que começou a ser puxado para o centro com muita força. Kaya e Toby tentavam com todas suas forças impedir aquilo de acontecer.
— Isso, não me deixem ir para a direção das correntes, ela está planejando invocar uma besta com o sacrifício meu e dos meus capangas.
— Certo. HYAAAAAAAAA! — gritava a menina de cabelos cianos, junto de Toby.
A corrente puxou tão forte que os dois acabaram sendo levados juntos em direção ao centro.
— NÃÃÃAOOOOOOOOOOOOO! — Os dois se esgoelaram de tanto gritar.
Você vai se livrar de mim depois de todo esse tempo, Maya? Com quem você se envolveu para abrir mão de tudo?, pensou Aron.
Na região central. Ben conseguiu chegar, com Natsumi agora conseguindo correr também.
Tanto o que foi puxado do Oeste quanto do Nordeste se chocaram junto de quem estava no centro.
— Campo de Fumaça, visão zero! — Uma grande quantidade de fumaça saiu da boca da maldição. Ninguém conseguia ver mais nada.
— Tenham cuidado com a Blair! — gritou Zane.
— Não me dê ordens, irmão.
— Ethan? Meu Deus a sombra tá aqui no meio.
— O Cachorrinho tá aqui, que campo mais fraco sem desafios!
— Calem a boca! — gritou Natsumi.
A besta destrutiva estava no meio das crianças, Zane estava muito preocupado, então tentou sentir de onde os corpos amaldiçoados estavam vindo. Quando finalmente achou dois corpos amaldiçoados em uma certa direção, ele usou o campo de luz para isolar as crianças das maldições.
— Não faça isso, irmão, eu posso ajudar.
— Eu também!
Quando a fumaça se dissipou, Zane entrou em completo estado de choque. Ele estava preso dentro do campo de luz com uma maldição com duas cabeças. A cabeça de Lenny e de Aron. Isso mostrava que fora do domo de luz, as crianças estavam com Maya.
— Eram pra ser três cabeças, eu tenho certeza que vi três correntes… — questionou a maldição.
— O bocó que estava no oeste comigo comeu duas vezes, acho que ele pegou a do outro.
— Hahahahaha, normalmente eu me irritaria, mas estou com tanta sorte hoje que vou deixar passar!
— Atenção, gente. Meu irmão vai derrotar aquela besta lá e logo depois vai vir derrotar essa aqui, só precisamos segurar ela e pegar a princesa.
— Acho que você não entendeu, é impossível Zane sair daquele domo sem estar quase morrendo, mesmo que ele vença.
— O quê?
— Falta pouco tempo até eu conseguir despertar o diabo… Mas eu quero tanto me divertir com vocês! Eu tenho cinco crianças para me entreterem! Que demais! — Maya avançou.
Dentro do campo de luz.
— Maldita Maya… Ela me conhecia direitinho e me fez cair nisso. — Ele estica os dois braços, juntando suas mãos. — Canhão de Luz.
O golpe fura o corpo da Besta, que se regenera logo em seguida.
Irmão, Natsumi, Ben, Toby e Kaya. Eu vou confiar em vocês, pelo menos por agora. Eu vou ter agora que fazer o que eu cresci aprendendo a fazer, caçar bestas.