Volume 8
Capítulo 1: Declaração de Guerra da Donzela
Parte 1
Hinowa se cobriu com um futon de penas em um quarto dentro do Dormitório Feminino Grifo. Ela parecia uma tartaruga.
Mutsura e Subaru estavam ambos olhando para ela com expressões preocupadas em seus rostos.
— Pare já com isso, senhorita. Por quanto tempo mais você vai ficar chorando assim?
— Uhh, uhh, me deixe em paz! Não importa o que aconteça comigo!
— Sua grande idiota! Por que você está sendo tão indecisa!?
— Subaru, acalme-se! Este é o dormitório feminino.
Subaru havia tirado o futon que cobria a garota, empurrando Mutsura enquanto este tentava impedi-lo.
Subaru havia sido pego de surpresa por um segundo ao ver o rosto triste e cheio de lágrimas de Hinowa, mas logo começou a censurá-la com uma expressão severa.
— Você é o ser humano que um dia carregará o peso do Clã Izanagi em seus ombros! Seus subordinados não seguirão uma líder chata!
— Mas... eu... eu simplesmente não sei o que poderia fazer...
— Sua idiota! Seja um status, prestígio ou uma pessoa, nós levamos o que quisermos à força. Esse é o estilo Izanagi!
Ao que parece, essas palavras atingiram em cheio o peito de Hinowa. Ela ergueu o rosto depois de enxugar as lágrimas.
— Você está certo. Eu sou uma onmyouji do Clã Izanagi. Como uma pessoa que lida com invocações e adivinhações, vou mostrar a todos que posso obter algo tão simples quanto o meu amor!
Hinowa cerrou seus pequenos punhos, e depois disso ela sorriu adoravelmente.
— Obrigada, Subaru. Eu posso sentir a força retornando ao meu corpo graças a você.
— E-eu não preciso da sua gratidão, sua idiota! Além disso, seja sincera com o que você acabou de declarar!
— Ahahaha! Subaru, você está vermelho como uma lagosta.
— Você está me irritando, Mutsura! Me deixe em paz!
Subaru abriu a porta com força depois de empurrar o peito de Mutsura. Diante dele, a responsável pelo dormitório estava de pé com uma expressão terrível no rosto, com uma raiva fervente escapando de todas as partes de seu corpo.
— Eu não disse a vocês que o dormitório feminino... não permite a presença de garotos...!?
O chão começou a tremer. Tanto Subaru quanto Mutsura se curvaram.
— Nós lamentamos!
Os dois rapazes saíram do local, fugindo e indo para o Dormitório Masculino Rafael.
Mutsura começou a rir depois de se lembrar de algo no meio do caminho.
— Você é muito estúpido, instigando-a assim. O melhor para você seria tentar fazer com que ela desistisse.
— ...É verdade que eu não gosto do Raishin.
— Isso mesmo— Subaru, você é o filho mais velho do ramo Kamo do Clã Izanagi. Você é forte o bastante para participar da Festa Noturna. Você é de primeira classe tanto em termos de família quanto de habilidade.
— Hã? Você também é um participante, e temos uma situação familiar parecida.
— Não estou falando de mim, mas sim do Raishin. Agora que o Clã Akabane pereceu, o mérito de fazê-lo entrar na família passou a ser metade do que era. Isso sem mencionar o fato de que havia toneladas de pessoas em nosso Clã que eram contra isso desde o começo. Pessoas que pensavam que de nenhuma maneira misturar o sangue imundo e enlouquecido pela guerra do Clã Akabane e o sangue Imperial que corre nas veias da Família Domon seria uma boa opção—
— Desembuche logo! O que você quer dizer com isso!?
— Você seria o próximo noivo da Família Domon se a senhorita desistisse do Raishin-han.
Subaru ficou sem palavras. Ele cerrou os punhos enquanto olhava para baixo.
— ...Nós não sabemos disso. Independente disso, eu não gosto dessa situação. Eu não quero ver nossa Senhorita triste. Além disso, eu não suporto pessoas indecisas!
Mutsura explodiu em gargalhadas.
— Você é muito burro! Mas isso é como você é, Subaru. Mesmo que você esteja completamente apaixonado pela Senhorita.
— I-i-isso e aquilo são coisas diferentes! Eu vou te bater se você continuar assim!
Subaru começou a andar mais depressa depois de ficar irritado para esconder o próprio constrangimento. Mutsura franziu a testa.
— Mas eu me pergunto o que a Senhorita vai fazer depois de ficar tão motivada— Ei, Subaru!
Mutsura se virou para olhar para o Dormitório Grifo— a expressão em seu rosto ficando cada vez mais tensa.
— O que foi? O que houve?
A mandíbula de Subaru se abriu quando ele também se virou.
— ...Nossos familiares estiveram patrulhando esta área... quando foi que isso aconteceu...?
Em uma das paredes brancas do elegante Dormitório Grifo iluminada pelo sol poente— uma mensagem em um tom vívido de vermelho, tal qual tivesse sido pintada com sangue fresco, podia ser vista.
“Princesa Negra e o resto de seu Clã, deixem a Festa Noturna. Desistam ou enfrentem a morte.”
Parte 2
Naquela noite, Komurasaki havia se infiltrado sorrateiramente na Academia.
Ela moveu o pescoço para inspecionar seus arredores após pousar sobre o galho de uma árvore.
Ela encontrou Raishin muito rapidamente. Ele estava sentado de pernas cruzadas com uma expressão renovada, depois de aparentemente sair de um banho.
Aquele era um tipo de treinamento que unia sua respiração e espírito. Ao que parece, ele estava tentando aumentar seus níveis de energia mágica.
Komurasaki tentou se aproximar dele sem fazer barulho para distraí-lo, mas—
— O que houve, Komurasaki?
Parece que Raishin já havia notado sua presença desde o começo. Ele havia falado sem nem mesmo se virar.
Komurasaki saltou do galho. Raishin começou a se preocupar no instante em que viu a expressão no rosto dela.
— Você parece para baixo ultimamente. Aconteceu alguma coisa no subsolo quando você estava com o Loki?
Ele era afiado. Apesar de ainda estar em dúvida, Komurasaki começou a falar, desejando contar a ele sobre isso.
— Sabe, Raishin... Na verdade, não importa!
— Parece que o Loki derrotou aquele autômato Fênix.
O corpo de Komurasaki saltou ligeiramente, uma vez que Raishin adivinhou o que ela estava pensando em dizer.
— Eu ouvi sobre isso. Que ele era um autômato lendário e que chamas não funcionavam. Considerando que ele cortou um autômato assim com a lâmina do Cherubim, ele deve ter usado uma técnica incrível, não é mesmo?
Isso estava correto. Komurasaki queria falar sobre isso. Ela queria, mas...
— Você não precisa me contar se for difícil para você fazer isso.
— ...Mesmo sabendo que você poderia derrota-lo facilmente se eu te contasse?
— Eu quero ter uma luta justa contra ele. Eu vou vencê-lo lutando de igual para igual.
Raishin havia falado com gentileza, lendo a mente de Komurasaki.
— Você estava se sentindo incomodada com isso, certo?
Ela havia ponderado se deveria contar a ele. Se essa seria a coisa certa a se fazer. Ela não teria se preocupado com isso se Loki fosse seu inimigo. No entanto, Loki era um companheiro que arriscou a própria vida ao lado de Raishin, e que até mesmo havia lutado lado a lado com Komurasaki. Seria correto ficar do lado de Raishin nessa situação? — Esse era o pensamento que estava preocupando Komurasaki.
Komurasaki sorriu graciosamente.
— Parece que o Raishin começou a ficar mais atencioso agora— ou talvez você apenas esteja se interessando por mim?
— Haha, o que você está dizendo?
— ...Ahh— não é nada divertido se você não ficar nem ao menos um pouco incomodado! Mas bem, acho que eu já deveria esperar por isso— o Raishin está cercado por várias garotas fofas, afinal—
— O-o que você está dizendo!?
— Ah! Eu te incomodei!
Komurasaki sorriu maliciosamente enquanto lançava a Raishin um olhar sedutor.
— Você não vai conseguir ficar com nenhuma delas se continuar saltando de uma para a outra—
— ...O que você está dizendo?
— Ou será que você vai fazer com que todas sejam suas?
— Pare de brincar! Existem várias feras perigosas ao meu redor!
Raishin começou a prestar atenção nervosamente aos seus arredores depois de cobrir a boca de Komurasaki com as mãos.
E foi então que um frio feroz se espalhou pelo lugar.
— Raishin... O que você está fazendo atacando a Komurasaki assim?
— Ela está certa! Você está segurando essa pequena garota com tanta força... Pervertido!
O que ele poderia dizer? Assim como ele havia imaginado, Yaya e Charl apareceram correndo em sua direção.
Komurasaki abriu um sorriso inocente para Charl, enquanto proclamava sem qualquer preocupação no mundo.
— Eu não sou pequena. Os meus são maiores que os da onee-san ♡.
— Para onde você está olhando enquanto diz isso!?
— Na-não perca, Charlotte-san! Isso foi apenas um pequeno golpe da Komurasaki!
Pequeno golpe? Aquilo tinha sido um golpe de corpo inteiro. Charl estava sofrendo com raiva e agonia.
Já não parecia que Raishin era o culpado. Ele tinha decidido fazer uma pergunta a elas para se livrar da tensão no ar.
— Então, o que vocês duas queriam?
— Ah... a Charlotte-san disse que queria consultar algo com o Raishin.
Ao que parece, essas palavras foram o bastante para que Raishin entendesse o que estava acontecendo. Ele rapidamente endureceu o olhar enquanto murmurava.
— Hinowa... O que houve com ela?
Charl mostrou uma expressão ainda mais dolorosa do que quando recebeu o golpe de Komurasaki.
— Não sei. Parece que seus acompanhantes estavam falando sobre alguma coisa... Não houve resposta quando eu bati na porta do quarto dela... A culpa é minha, certo? Porque eu queria que vocês dois se encontrassem...
— Charl, esse é um pensamento um pouco exagerado.
Sigmund começou a confortar Charl, incapaz de se conter.
— Mesmo pensando que você poderia tê-la machucado, deixando-se levar por seu alto astral, tenho certeza de que ela te perdoaria se soubesse o quanto você é odiada na Academia e que anseia por amizades mais do que qualquer outra pessoa.
— Obrigada... mas você está acabando comigo com essas palavras.
Charl começou a falar mais uma vez, de forma enrolada e com uma voz fraca.
— E quanto finalmente nos tornamos amigas... O que eu faço... se ela começar a se ressentir de mim...?
— Está tudo bem. Como você pôde ver por si mesma, a Hinowa tem aquele jeito desajeitado e também é uma princesa superprotegida, mas— ela não é o tipo de pessoa que guardaria rancor assim. Tenho certeza que a essa altura ela já voltou a si e começou a se arrepender de pisar em suas boas intenções assim. É por isso que você deveria voltar ao Dor—
O rosto de Raishin endureceu enquanto ele estava apenas tentando mostrar a Charl um sorriso gentil.
Não havia mais lágrimas nos olhos de Charl. Ao contrário, havia uma luz gélida brilhando dentro deles.
— ...Como você a conhece tão bem?
— É? Ah, não, isso é...
— Mais cedo no campo de treinamento você nos disse que ela era sua noiva apenas porque suas famílias decidiram, certo? Se for assim, como você pode saber como é a personalidade dela?
— ...Eu sinto muito. Eu estava apenas dizendo coisas aleatórias. Eu não pensei no que estava dizendo.
— Isso é uma mentira.
Yaya interrompeu, não exatamente no melhor momento. Os olhos dela também estavam gélidos, pretos como azeviche.
— O Raishin estava fazendo uma expressão muito gentil agora.
— Vamos ouvir os detalhes.
— Também poderíamos perguntar diretamente ao corpo dele.
— Parem! Por que todas vocês estão se unindo contra mim!? Me salve, Komurasaki!
— Ahaha! Tchau, Raishin—!
Komurasaki saltou rapidamente para o topo de uma árvore. Ela tinha começado a rir depois de lançar um olhar significativo para Raishin.
“Eu te disse— isso é o que você ganha por ser indeciso!”
Parte 3
Raishin também participou da aula de Griselda no dia seguinte.
O horário da aula estava em todos os lugares, e eles estavam monopolizando os campos de treinamento da forma que bem entendiam. Aquilo acabou se transformando em uma aula particular na qual ele lutava contra bonecas de madeira.
Depois de lutar continuamente até o começo da noite, Raishin seguiu em direção ao campo de batalha da Festa Noturna depois de tomar um banho.
Ele pôde ver Charl e Hinowa caminhando juntas no caminho que seguia até o Coliseu. Ao que parece, elas conseguiram se reconciliar sem problemas. Charl também estava exibindo um sorriso muito brilhante.
— Estou feliz pela Charlotte-san. Ela parece estar se divertindo.
Yaya sorriu. Raishin concordava com essa opinião do fundo de seu coração.
Frey já estava dentro do Coliseu. Ela estava com Rabi e os demais cães autômatos da série Garm. Loki não estava em nenhum lugar a vista, pois ele ainda estava se recuperando dos ferimentos que sofrera no outro dia.
Os espectadores começaram a fazer barulho quando Raishin estava prestes a cumprimentar Frey.
— Raishin! Veja!
Yaya apontou para fora do campo de batalha. Alguém estava passando pelo portão de entrada.
Uma garota de cabelo loiro cor de mel, vestindo o casaco de elite dos membros do Comitê Executivo— Olga.
— Aquela não é... a Alice disfarçada, certo?
— Isso mesmo. A Alice já deixou a Academia.
Depois da festa do chá do outro dia, Alice e Shin tinham desaparecido completamente sem se despedirem ou deixarem qualquer tipo de recado. Tinha sido uma partida muito repentina, mas isso na verdade confortava Raishin.
Partir sem dizer adeus significava que ela não precisava dizer isso— o que, por sua vez, significava que ela pretendia voltar em breve.
Se não era Alice, então aquela garota era a verdadeira Olga.
Olga falou com uma voz clara assim que caminhou até o campo de batalha.
— Informo a todos os membros do Comitê Executivo, bem como a todos os cavalheiros e senhoritas presentes agora. Neste momento, eu— Olga Saladin, humildemente desejo abdicar da minha Terceira posição para cair para a Trigésima.
Depois de um instante de silêncio— uma comoção se iniciou.
— Ei, Representante dos Estudantes, que brincadeira é essa!?
— Você está muito enganado se pensa que pode se opor a isso. Minha vontade supera em muito a sua.
Frey começou a sussurrar algo para Raishin enquanto segurava uma de suas mangas.
— Uuh, acho que ela pretende nos parar.
——Raishin compreendeu. Ainda faltava algum tempo até que alguém que pudesse parar Raishin, Loki e Frey aparecesse neste palco, razão pela qual Olga pretendia detê-los ela mesma.
— ...Ouvi dizer que a Festa Noturna era um jogo de apostas internacionais que coloca em jogo o interesse de várias nações. Eu suponho que o Comitê Executivo esteja sendo pressionado por vários lados.
Apesar de sentir alguma simpatia por Olga, Raishin decidiu dar a ela um aviso.
— Parece uma boa tentativa, mas tudo estará acabado se nós apenas derrotarmos você.
— Você está absolutamente correto. Mas isso apenas se vocês realmente conseguirem, no entanto.
Olga estava sorrido docemente. Aquilo não era uma intimidação ou um blefe, mas apenas um sorriso exagerado.
Depois de dar as costas para Raishin, Olga mais uma vez virou-se para o Comitê Executivo.
— Agora, se não houver objeções, gostaria de obter permissão para ser rebaixada—
— Espere um pouco! Por favor, confie a mim essa tarefa!
De repente, uma voz clara foi ouvida no campo de batalha.
A fonte da voz— Hinowa havia entrado no campo de batalha com seu hakama balançando atrás dela.
Parecia que ela havia saltado diretamente dos assentos dos espectadores. Algumas coisas pretas, que pareciam asas, crescendo de suas botas estavam fazendo com que ela flutuasse no ar.
Era uma luz delicada, tal qual flocos de neve. As asas negras desapareceram assim que ela tocou o chão. Depois de se dirigir até Olga, Hinowa primeiro se curvou educadamente. Então, ela começou a se expressar grandiosamente.
— Estou classificada na Oitava posição— Não posso passar por cima da Representante dos Estudantes. No entanto, se você não puder me confiar o seu papel, terei que abrir caminho pelo uso da força.
Hinowa proclamou firmemente diante da Representante dos Estudantes. Sua coragem fez com que Yaya, Frey e Raishin fossem totalmente cativados por ela.
Olga começou a dar uma olhada em Hinowa, como se tentasse avaliá-la.
— Você se oporia a mim, Princesa?
— Eu não disse isso. Vou apenas tomar parte do acordo de ontem. Eu gostaria de receber permissão para ser rebaixada agora mesmo.
— Você tem confiança de que pode sobreviver depois de enfrentar todos eles por conta própria?
— Tenho.
Hinowa respondeu muito claramente. Aquela também foi uma declaração muito sedutora.
Depois de dar as costas para Olga, Hinowa começou a caminhar na direção de Raishin e das outras.
Yaya estava em alerta máximo, enquanto agarrava um dos braços de Raishin.
Hinowa pareceu ficar irritada com essa ação por um segundo, mas rapidamente ignorou Yaya e voltou seu olhar para Raishin.
— Esta noite, a Hinowa desafiará o Raishin-sama!
— Ce-certo...
— Se a Hi-Hinowa vencer, por favor, rompa seu noivado com a Representante dos Estudantes!
Um grande silêncio caiu sobre a plateia.
Ninguém dizia nada. Portanto, foi Raishin quem precisou quebrar o silêncio.
— Se você está falando sobre isso, já foi cancelado há algum tempo.
— Eh... eh!?
Hinowa ficou muito surpresa. Ela meio que parecia um coelhinho em pânico.
— E-eu não posso acreditar que cheguei a essa conclusão de forma tão apressada... Que-que embaraçoso.
A garota parou de se mover depois de cobrir o rosto vermelho com ambas as mãos.
Suas ações eram realmente adoráveis. Raishin quase foi influenciado por ela—
No entanto, ele logo voltou a si depois de sentir um olhar gélido às suas costas. Yaya estava olhando para ele com olhos que mais pareciam uma nebulosa escura.
— Por que o Raishin está ficando fascinado por ela...?
— Eu não estou! Não me segure assim! Meu braço vai quebrar!
Olga decidiu recomeçar a falar, depois de perceber que nada aconteceria se as coisas continuassem assim.
— Nesse caso, acho que está tudo bem se eu mesma for rebaixada, certo?
— Na-não! Ne-ne-nesse caso, se a Hinowa vencer—
Hinowa gritou com toda a sua força, desabafando suas emoções com todo o seu coração.
— Faça da Hinowa a esposa do Raishin-sama!
O Coliseu ficou em silêncio mais uma vez.
Depois de um tempo, o som do chão rachando sob os pés de Yaya pôde ser ouvido perfurando esse silêncio.
Parte 4
O Coliseu estava iluminado por luzes mágicas. Na seção superior dos assentos da plateia, nos Assentos Especiais construídos no telhado, o Presidente do Comitê Executivo, Cedric Grandville, estava se divertindo.
— Os estudantes de hoje realmente carecem de ambição.
Ele começou a falar enquanto torcia sua boca refinada em uma demonstração de insatisfação.
Seus próprios traços faciais eram como os de um bom menino de uma família respeitável, mas a forma como estava sentado era tão vulgar quanto a de um bandido de um bairro pobre.
Ele estava praticamente deitado de costas, com as pernas sobre a mesa.
— Se eu fosse um estudante, não pediria uma aliança. Eu diria apenas uma coisa simples. “Torne-se o meu peão”.
— Por favor, evite essas declarações descuidadas, Alteza.
O belo jovem ao seu lado havia lhe dado um aviso com uma expressão perturbada.
Era o mais novo dos irmãos Zekaros. Ele trabalhava como mão direita de Olga.
Cedric deu um sorriso irônico ao ouvir as palavras do Zekaros mais jovem.
— Eu é que deveria dizer isso. Além disso, o correto seria você se referir a mim como Sua Majestade.
— Sinto muitíssimo, deixei minhas palavras escaparem. Nosso futuro, Sua Majestade o Rei.
O mais novo dos irmãos Zekaros ficou com a língua de fora por um tempo. No entanto, sem o repreender por isso, Cedric continuou falando.
— Eles não têm ambição— No entanto, a Olga é muito soberba. Ela é popular e, acima de tudo, é uma boa mulher.
— Também concordamos com isso. Não é mesmo, nii-san?
O mais novo dos irmãos Zekaros se virou na direção oposta. Seu irmão mais velho estava sentado no assento ao lado deles.
— ...Não sei. No entanto, a Olga é muito forte. Mais do que Sua Majestade pensa.
— Vou gostar de ver isso. Ei, irmãozinho, quantas pessoas a Olga reuniu?
— Vejamos... A própria Olga foi quem propôs a Guerra da Mesa Redonda, mas ela não foi tão proativa em reunir seus membros. Por enquanto, os únicos membros somos nós, aquela pequena jovem senhora e Sua Majestade— Vossa Excelência Presidente Cedric.
— Entendo. Ela certamente é uma mulher astuta.
— ...O que você quer dizer com isso?
— A recepção do público seria ruim se a proponente da ideia tivesse recrutado proativamente mais membros. Ser astuto é uma obrigação para um mago, mas algum grau de sinceridade também é exigido dos estudantes. Ainda mais para os Gauntlets lutando pelo título de Wiseman— Seria mais difícil assumir a liderança se houvesse mais pessoas envolvidas.
— Porque haveria o risco de traição...?
— Ela precisaria prestar mais atenção. Ela pode ficar de olho em todos que estão ao lado dela considerando os membros atuais, e ela provavelmente está confiante de que ela poderia segurá-los sozinha se algo acontecesse.
— Nesse caso, duvido que ela precise de mais membros.
O mais novo dos irmãos Zekaros deu uma olhada no terreno. Foi exatamente naquele momento que Olga pediu autorização para ser rebaixada.
— Eu realmente espero que possamos ao menos nos livrar do Penúltimo hoje. Ele não seria nada além de um obstáculo para quando lutarmos contra o Asura-san e o Magnus-san.
— Não vai ser assim. Meu Raishin permanecerá até o fim. Vocês dois também estão em perigo.
— ...Agora que penso nisso, ainda não mostramos a você nosso verdadeiro poder. Isso provavelmente poderia afetar nossas futuras missões, então que tal exibirmos o que podemos fazer agora mesmo?
— Não, tudo bem. Não duvido do seu poder.
Cedric respondeu despreocupadamente. Os irmãos Zekaros estavam se olhando confusos.
— Vocês dois foram recomendações ardentes daquelas bruxas velhas. Eu tenho certeza de que vocês não teriam problemas para me dominar. — O que está acontecendo? Vocês não esperavam que eu dissesse isso?
— Não... eu achava que Vossa Majestade fosse uma pessoa meio orgulhosa.
— Ó, orgulhoso eu sou. No entanto, eu estou mirando o trono de soberano. Eu não sinto a menor preocupação em ficar para trás em termos de talento mágico.
Os irmãos Zekaros— em especial o mais velho deles tinha assumido uma postura mais cautelosa, tensionando seu corpo.
Essa pessoa diante deles, que insistia em ser chamado de Sua Majestade, parecia nada mais do que um idiota presunçoso à primeira vista. No entanto, talvez ele fosse mais imponente do que sua avaliação original.
— Pois bem, quando aquelas bruxas velhas vão querer a Princesa Izanagi assassinada?
Assassinada. A palavra brutal fez desaparecer a expressão no rosto dos irmãos Zekaros.
— As Rosas apenas nos disseram para fazê-lo o mais rápido possível. Elas disseram que todo o resto, incluindo o método, ficariam a critério de Sua Majestade.
— Elas certamente fazem isso parecer fácil, mesmo sabendo que não vai ser assim, certo?
— Não é melhor que façamos o assassinato fora da Academia? Ouvi dizer que ela possui apenas dois acompanhantes.
— Os praticantes do Estilo Izanagi dominam a arte de ser um soldado com a força de mil. Duas pessoas possuem o mesmo poder que dois batalhões. Isso sem contar a Princesa, que eu soube ser uma maga nada convencional por si só. Provavelmente nós nos colocaríamos em perigo se a enfrentássemos de frente.
— Essa é mais uma razão pela qual não podemos fazer isso dentro da Academia. Estaríamos sob os olhares das patrulhas da Academia e do Diretor.
— Certamente essa é uma opinião sensata.
O garoto sorriu. Os olhos de Cedric estavam focados em um único ponto entre os assentos dos espectadores.
Havia dois estudantes sentados ali. Ambos eram japoneses. Os dois estavam olhando profundamente para a garota no campo de batalha— ansiosamente preocupados com Hinowa.
— Sua Majestade? O que há com aqueles dois?
— Você sabia? Não é o ódio que pode destruir um ser humano.
— ...Hum? Desculpe... sendo assim, o que pode?
— Amor.
Com isso, Cedric— Não, o traiçoeiro Príncipe Edmund—
— Digam isso para aquelas bruxas velhas. A Princesa perecerá nos próximos dias dentro do campo de batalha da Festa Noturna.
Ele declarou essas palavras, sorrindo enquanto se levantava de seu assento.
Parte 5
— Faça da Hinowa a esposa do Raishin-sama—
Como Raishin poderia responder ao desafio devastador que Hinowa havia proposto?
Enquanto Frey e Olga, e até mesmo o público, prestavam atenção, uma resposta pôde ser ouvida no campo de batalha.
— Eu humildemente recuso!
— Oi, Yaya! Por que você está recusando!?
— Eu tenho todo o direito de fazer isso! Como sua esposa!
— E-esposa...!?
Hinowa começou a tremer. Yaya gritou como se estivesse dando um golpe final.
— Isso mesmo! A esposa do Raishin é a Yaya!
— Pare com isso, Yaya! Não complique as coisas!
O público respondeu à frustração de Raishin com risadas.
— Raishin-sama! É-é verdade que essa garota é sua esposa!?
— Não, é mentira. Ela é minha parceira, mas não minha esposa.
— Sim, eu sou a parceira dele! Nós nos amamos através das nossas peles grudadas! Um galho de amor que se enreda em nossa cama!
Foi uma declaração ultrajante. A plateia explodiu em tumulto.
— Não, isso é tudo mentira! Não acredite nela, Hinowa!
— Tudo bem ♡.
Yaya caiu de costas. Por outro lado, Hinowa havia se acalmado.
— Estou aliviada após saber que o Raishin-sama não tem nada com essa garota.
— Uau... espere! Como você pode acreditar nele assim tão facilmente!?
— Eu sou a mulher que se tornará a esposa do Raishin-sama. É perfeitamente normal que uma esposa confie em seu marido. Se o Raishin-sama está negando isso de forma tão clara, a Hinowa vai acreditar.
Yaya ficou surpresa.
Ao que parece, ela havia percebido que Hinowa era uma inimiga formidável.
Isso mesmo. Era essa franqueza— de certa forma, essa espontaneidade que caracterizava um dos traços de personalidade mais fortes de Hinowa.
— Cabe a você querer acreditar ou não, mas a Yaya até mesmo dorme no mesmo futon que o Raishin.
— Isso é mentira.
— E-eu lavo as costas dele todas as noites!
— Isso também é mentira.
— E-eu não estou mentindo—
— Ah, entendo, entendo.
— E-então você finalmente entendeu!
— Entendi perfeitamente que você tem um amor não correspondido!
— A-amor não correspondido———!?
Depois de corar, Hinowa olhou para Raishin com hesitação.
Foi uma hesitação momentânea. Hinowa segurou o braço de Raishin logo em seguida.
Raishin foi pego de surpresa. Ele não podia acreditar que Hinowa havia feito isso diante de tantas pessoas. Talvez sendo instigada por Yaya, Hinowa começou a gritar depois de segurar com firmeza o braço de Raishin.
— A Hinowa sempre foi dedicada ao Raishin-sama desde que era apenas uma garotinha! Por favor, não tente roubar o Raishin-sama depois de todo esse tempo, sua adúltera!
Yaya havia ficado paralisada após receber um golpe crítico como esse e que pôde ser ouvido por todos os presentes.
Alguém estava dizendo a ela exatamente a mesma coisa que ela costumava dizer para as outras garotas.
...Isso ficou fora de controle.
O que poderia acontecer agora?
Raishin começou a olhar ao seu redor, pedindo ajuda. Frey estava olhando para eles nervosamente. Ela era mais velha que Raishin, mas não alguém em quem ele pudesse confiar nessa situação. Olga parecia perplexa, mas não parecia ter intenção de fazer algo em relação àquela situação.
Se houvesse mais alguém em quem confiar— Raishin ficou surpreso depois de olhar para as arquibancadas.
Algo como uma nuvem escura pairava por ali. Abaixo da nuvem, Charl e Griselda olhavam profundamente para ele.
— ...Hahaha.
Raishin riu. Ele não sabia mais o que fazer.
— Fufu... fufufu... então era isso... era algo simples desde o começo... ♡
Yaya de repente começou a falar.
Ela ergueu a cabeça de forma lenta e desajeitada, como se fosse uma boneca de corda.
— Então quem vencer será a esposa do Raishin, certo? Vou aceitar esse desafio!
— Não! Não aceite isso sozinha!
— Raishin, afaste-se! Antes de começarmos essa luta direta e justa— não consigo ver o autômato da Hinowa-san em lugar algum. Não diga que você espera vencer a Yaya de mãos vazias?
— Sua preocupação é desnecessária. Minha força de combate— pode ser o que eu quiser.
A mão de Hinowa brilhou enquanto ela pegava um maço de papeis de dentro de uma das suas mangas.
Eram pedaços estreitos de papel, parecidos com longos cartões. Pacotes de amuletos fulu com fórmulas mágicas escritas.
Hinowa sacudiu o braço. Os amuletos fulu voaram precisamente através do ar até pararem no centro do campo de batalha.
Os movimentos de Hinowa não paravam. Ela começou a escrever um círculo com a ponta de suas botas depois de girar. Aquela era a caminhada do Clã Izanagi— uma técnica chamada Henbai.
Um círculo mágico rapidamente se manifestou no chão, enquanto luz era emitida pelo corpo dela. Hinowa continuou fazendo sinais com as mãos no centro do círculo. A energia mágica presente no ar ficou mais forte enquanto ela continuava mudando os símbolos de mão, uma névoa negra emergindo dos arredores.
— Corram juntos como um Senyoumanja— Venha! Responda ao meu chamado!
O amuleto fulu explodiu em uma chama escura obedecendo às palavras de Hinowa.
Depois de um momento, algumas coisas parecidas com macacos vestidos de chamas escuras— cerca de dez deles apareceram ao redor de Hinowa, como se fossem sua guarda pessoal.
Uma comoção pôde ser ouvida através da plateia. Tinha sido uma antiga invocação mágica em meio a essa era das máquinas!
A presença fantasmagórica dos macacos era terrível. Mesmo Yaya havia recuado com admiração.
— Isso é...!?
— O método de aprisionamento de espíritos— a técnica oculta do Clã Izanagi. Geralmente alguma boneca de madeira ou algum artefato mágico é necessário para invocar um espírito, mas alguém com as habilidades da Hinowa pode fazer isso usando apenas um pedaço de papel.
— Então esses são os tão famosos Shikigamis?
Provavelmente era a primeira vez que Yaya os via. Ela podia sentir um medo instintivo percorrendo seu corpo.
Os cães Garm começaram a uivar. Ao que parece, eles podiam sentir o perigo que os shikigamis representavam.
Os shikigamis, que continham as almas dos espíritos, eram formas de vida artificiais construídas através de energia mágica. Eles eram criaturas mágicas semelhantes a outros espíritos. Todo o seu corpo era um conglomerado de energia mágica, então sua afinidade com magia era anormalmente alta também. Eles também possuíam um nível de autonomia semelhante ao de uma ban doll. Hinowa também possuía uma reserva considerável de energia, mesmo depois de invocar tantos shikigamis assim.
Hinowa assumiu uma postura de batalha depois de segurar outro amuleto fulu entre os dedos.
— Agora, prepare-se! Hinowa Domon, aqui vou e—
— Espere! Vou dizer isso antes de lutarmos, mas o desafio é inválido.
Hinowa piscou duas, três vezes em confusão. Em seguida, ela começou a ficar com uma expressão irritada e com lágrimas nos olhos.
— Você está ficando com medo depois de ver tudo isso, Raishin-sama!?
— Por favor, entenda. Isso também é para o seu próprio bem.
— ...Você está insinuando que vou perder?
— Eu não direi isso. No entanto, se lutarmos como estamos agora, eu serei desclassificado.
— ...Eh? O que você quer dizer com isso?
— Porque a Yaya definitivamente vai te atingir diretamente.
— Vadia, vadia, vadia, vadia, vou te amaldiçoar até a morte, vadia, vadia, vadia, vadia, vou te estrangular, vadia, puta, vadia, puta, vou te fazer em pedaços, vadia, vadia...
Yaya estava repetindo algumas palavras como se tentasse lançar uma maldição. Havia uma clara malícia em seus olhos. Hinowa endureceu depois de finalmente compreender o que havia de errado.
Era claramente proibido atacar o mago diretamente. Raishin acabaria sendo desclassificado se seu autômato se descontrolasse.
— É por isso que não há apostas envolvidas. Se estiver tudo bem para você dessa forma, então eu lutarei contra você.
— Sem chance...
— Yaya, você também. Eu vou te expulsar do dormitório se você machucar a Hinowa.
— Sem chance! Não posso acreditar que você está me pedindo para deixar essa vadia viver. Você é horrível, Raishin!
— É ainda mais desumano você estar tentando matar ela!
Lágrimas começaram a escorrer pelo rosto de Yaya depois de levar bronca.
Hinowa parecia ter ficado desapontada por suas próprias razões. Assim que Raishin pensou ter finalmente posto um ponto final no episódio—
As duas garotas começaram a chorar enquanto corriam em direções opostas.
No campo de batalha, apenas Frey, Olga e os espectadores estupefatos ficaram para trás.
O humor e o interesse de Olga pareciam estragados. Talvez porque ela havia decidido confiar a tarefa a Hinowa, ou talvez porque ela havia se cansado de tudo aquilo, ela decidiu deixar o campo de batalha.
— Meu Deus... ao menos parece que nada mais vai acontecer hoje.
Raishin suspirou aliviado. No entanto, é claro que não era hora para isso.
Alguém havia pousado às costas de Raishin. Quando ele se virou, sentindo a aura assassina atrás dele—
— Hum... mestra? Este é o campo de batalha da Festa Noturna.
— Sabe, eu só queria saber os detalhes do porquê aquelas duas garotas deixaram este lugar em prantos.
Charl também saltou das arquibancadas, adentrando o campo de batalha.
— Eu também gostaria de perguntar isso. Por que minha Hinowa estava chorando?
— Não... vocês duas... por favor, vamos nos acalmar primeiro. Certo? Vamos manter nosso bom senso. Calma... Vocês vão entender se convers— Pareeeeeeeeeeem!
Nesta noite, a Festa Noturna se encerrou sem nenhuma batalha.
Entretanto, mais tarde foi dito que os espectadores retornaram todos muito satisfeitos.
Eles se deleitaram com todo o poder de um Luster Cannon e de um Fragarach, afinal.
Parte 6
Havia uma residência com jardins ao redor, um local próximo a Academia na cidade de Liverpool.
A campainha desta mansão tinha tocado no meio da noite, em uma hora em que ninguém esperaria receber uma visita.
Uma garota de cabelos prateados— Irori dirigiu-se até a porta com uma lanterna nas mãos.
— Quem poderia ser... Yaya!?
Irori quase deixou a lanterna escapar de suas mãos depois de ver o rosto da visitante.
— Sua idiota! Você é a marionete registrada do Raishin-dono! É um absurdo que você saia escondido da Academia!
— Está tudo bem... eu estava com a Komurasaki até agora pouco...
— Ora! Aquela Komurasaki! E pensar que ela iria sair escondida da cama novamente...
Irori precisava repreender sua irmãzinha muito duramente. Quando ela já se preparava para ir atrás dela, ela parou depois de notar que algo parecia errado com Yaya.
— ...O que aconteceu, Yaya? Você não parece muito bem.
Komurasaki era fofa, mas Yaya também era sua outra irmãzinha fofa. Irori começou a se preocupar imediatamente.
— Apenas entre primeiro. Está frio aí fora— Mestra, a Yaya retornou. Mestra!
Irori tinha levado sua irmã deprimida até o corredor no segundo andar.
Shouko estava sentada perto de uma janela, fumando seu cachimbo.
— Você é uma garota tão má, Yaya. O que houve?
— Shouko... Uwaaaah!
Yaya começou a chorar depois de cair para agarrar a cintura de Shouko.
— Que criança mimada... Como uma garotinha voltando para casa. Por que você fugiu?
Shouko começou a acariciar a cabeça de Yaya gentilmente.
— Bom, ao menos tome um chá antes de ir. Mas você não pode ficar.
Shouko enviou uma ordem para Irori com os olhos. Irori rapidamente compreendeu a vontade de sua mestra enquanto caminhava para fora do quarto. Depois de algum tempo, ela voltou com um pequeno bule e então serviu um pouco de chá.
Yaya já havia se acalmado depois de chorar tanto.
Ela estava esperando o chá, sentada em um sofá.
Irori ficou muito surpresa quando Yaya começou a chorar, mas não parecia ser nada muito sério. Depois de se acalmar, Irori começou a servir o chá.
Talvez devido a tensão desaparecendo de repente do quarto, Irori sentiu-se tonta. A xícara já não comportava mais o chá que estava sendo servido nela, de modo que começou a derramar.
— Irori.
Shouko chamou seu nome depois de olhar para ela por algum tempo.
*...Treme*
— Irori!
— Si-sim! O que foi, mestra?
— Eu gostaria que você parasse de fazer a mesa beber o chá.
— Ah! Eu sinto muito! Eu não posso acreditar neste erro...!
Irori rapidamente pegou um pano para limpar a mesa.
Yaya dirigiu seus olhos cheios de dúvida para sua irmã depois de dar uma fungada.
— O que aconteceu, nee-sama?... Bom, eu posso adivinhar.
— Não, eu acho que... é porque já estamos no outono. O mundo que estava cheio de tantas cores de repente ficou muito insípido— o mundo parece muito cinza.
— O compromisso entre a Olga e o Raishin foi desfeito um tempo atrás.
— Que ultrajante! Isso é verdade—?
Irori começou a tossir com força depois de voltar a si.
— O-o que você está dizendo, Yaya? Que-que-que simplório. De-de jeito nenhum eu poderia estar me distraindo com tais assuntos.
Irori moveu seus olhos para a paisagem lá fora com um sorriso glamuroso, olhando para as folhas de outono iluminadas nas árvores.
— Já estamos no outono... Olhe com atenção para aquelas folhas em chamas. Ah, eu não posso acreditar que o mundo está cheio dessas cores brilhantes—
*Suspiro.*
Shouko explodiu em gargalhadas, fazendo Irori ficar tão vermelha quanto as folhas de outono.
— Por favor, não ria, mestra! Eu não tenho segundas intenções—!
Os ombros de Shouko já estavam saltando, pois ela estava apenas achando aquela situação cada vez mais divertida.
A situação acabaria saindo pela culatra se ela continuasse insistindo. Sendo assim, Irori decidiu retomar o tópico da conversa para Yaya, depois de limpar a garganta.
— Bom, Yaya. Por que você está deprimida?
Yaya cerrou os punhos, desanimada.
— A verdade é que hoje apareceu a noiva do Raishin...
— Mas ele te disse que o noivado deles foi cancelado.
— Não é isso! Estamos falando da Princesa Japonesa dessa vez!
— Japonesa—
— Parece que eles fizeram uma promessa há muito tempo... E o Raishin também parece sentir algo por ela. E essa pessoa... disse a Yaya... que ela era uma adúltera—!
Yaya começou a chorar depois de cobrir o rosto. Irori voltou-se para sua mestra, intrigada.
Shouko assentiu, respondendo muito rapidamente.
— Essa provavelmente é a Princesa do Clã Izanagi.
— Hinowa-sama—? Mas a Hinowa-sama não voltou ao Japão? Eu soube que seus estudos no exterior tinham sido cancelados antes mesmo da conclusão por ordens do líder do Clã.
Hinowa deveria ter voltado ao seu país depois de abrir mão de sua classificação e de seus acompanhantes para participar da Festa Noturna.
— Foi o que me disseram. Deve ter acontecido algum tipo de mal-entendido.
— Deixando isso de lado, mestra. Se estamos falando de uma pessoa japonesa, não haverá nenhum conflito político se algo acontecer, certo?
— ...O que você está tentando tramar?
— Por favor, não coloque assim. Mesmo se ela encontrar um pouco de granizo em seu caminho para casa, ou for atacada por uma nevasca repentina, isso não seria considerado apenas um desastre natural?
— Você realmente acha que pode vencer a próxima líder do Clã Izanagi por conta própria?
— ...Os Izanagi são um clã conhecido por sua competência e pela supremacia com o Clã Akabane. Ouvi dizer que eles mantêm o absoluto controle sobre o Oeste do Japão, e se gabam por serem a maior facção de marionetistas do país.
— Isso mesmo. Eles eram totalmente diferentes dos Akabane, que andavam por caminhos sombrios. Eles criaram raízes sobre a tranquila sociedade aristocrática, de modo que agora reinam como nobres no Japão. Você está dizendo que poderia fazer algo contra esse Clã Izanagi por conta própria?
— Is-isso é... eu poderia ao menos congelá-los!
— Que pensamento tolo. Você não poderá retornar ao Japão se for contra os nobres.
— Kuh...!
Shouko tinha alguns conhecidos nos altos escalões do exército— no entanto, sua posição oficial não era nada além de uma simples fabricante de bonecas.
Por outro lado, esses caras poderiam mover as pessoas do governo à vontade. Seus status e posição eram dolorosamente claros.
— O noivo dela... hein. Estamos falando daquele garoto que luta para lidar com mulheres. Eu não duvido que ele deva estar tendo alguns problemas.
Shouko sorriu com diversão. Por outro lado, Yaya começou a chorar mais uma vez.
— Isso não é motivo para riso...
— Ela está certa, mestra! Se por acaso o Raishin-dono se casar—
— Por que é a nee-sama que está preocupada?
— Vo-vo-você está erra... Eu não estou!
Irori se virou. Yaya continuou olhando para sua irmã, não convencida por suas ações. Os olhos de Shouko se fecharam suavemente enquanto ela observava as duas irmãs.
— Porém... Certamente há algo despertando o meu interesse nisso tudo.
— Hã...!? Não me diga que a Shouko também...!?
— ...O que você está dizendo?
Shouko franziu a testa depois de levar seu cachimbo a boca.
— Ouvi dizer que o Izanagi-sama havia previsto um presságio terrível para este ano. Espero que o garoto não seja amaldiçoado... Embora eu ache que seja impossível, mesmo que eu diga.
Shouko exalou fumaça de sua boca, com uma expressão resignada.
A fumaça viajou lentamente pelo ar, como um prenúncio sinistro do que estava por vir.