Volume 7
Capítulo 4: Quem é o Perdedor?
Parte 1
— Kreuzritter...!
Raishin contorceu o rosto. Aquele era um nome desagradável. Os caras que haviam atacado Yaya e Shouko algum tempo atrás—
Shin assentiu com uma expressão séria.
— Isso mesmo. Uma unidade especial composta por estudantes alemães à qual ele pertencia.
— O que eles procuram? O que eles querem fazer neste momento? Em primeiro lugar, esses caras deveriam ter se dispersado— e apenas aqueles dois gêmeos deveriam ter permanecido na Academia.
Shin havia puxado um pedaço de papel de seu peito ao invés de responder.
Havia um rabisco acompanhado de um mapa. Uma mensagem do inimigo.
— O alfabeto— que idioma é esse? Latim?
— Alemão. “Leve Raishin Akabane para o local especificado antes das 4:30 da tarde. Não conte a ninguém, e você não tem permissão de levar nenhum outro autômato com você. Nós estaremos esperando junto com a senhorita Rutherford”.
— Senhorita Rutherford— Alice.
— Estou convencido de que seu objetivo primordial será tentar me destruir.
— Afinal, você é o autômato mais avançado da Alemanha... uma Machine Doll, não é?
Uma Ban Doll construída como uma Machine Doll, com base nas teorias originais alemãs.
Eles haviam dito que Shin era um modelo completo disso. Através do circuito mágico equipado dentro de seu corpo, Fragarach, ele poderia exibir uma força sobre-humana, um poder ofensivo incrível e uma grande agilidade. Mesmo que não houvesse um mago por perto, ele poderia colocar essas capacidades em uso graças à energia mágica gerada por ele mesmo.
— Fragarach é uma espada lendária. Se arremessada contra o oponente, ela voaria sozinha até retornar ao usuário depois de derrotar o inimigo. Dizem que este único golpe não poderia ser parado por nenhum tipo de armadura. Comparados a isso, minha habilidade e a de todos os outros modelos semelhantes ao meu, estão muito longe dos poderes dessa lenda— apesar disso, para a Alemanha este ainda é um segredo altamente classificado.
— E se isso fosse roubado pela Academia dessa forma... é claro que eles não poderiam ficar em silêncio, apenas assistindo sem fazer nada.
Eles precisariam recuperá-lo ou destruí-lo.
— E... parece que eles também querem aproveitar para se vingar de mim.
Raishin foi quem se opôs às suas ambições, removendo completamente a influência que a Alemanha tinha sobre a Academia. Graças a isso, a Alemanha também não tinha uma boa aceitação em relação a atual Festa Noturna. Pior ainda, havia rumores de que seu relacionamento com a Academia estava piorando cada vez mais. Provavelmente, para eles Raishin era uma existência que precisava ser eliminada por razões emocionais e estratégicas.
Era por isso que a mensagem dizia para levar Raishin.
No entanto, era realmente apenas isso?
Havia algo estranho. Isso o preocupava... mas ele não tinha tempo para pensar com cuidado sobre isso agora.
— Eu entendo a situação. Então, de onde é esse mapa?
— Da entrada para a cavidade subterrânea.
— Subterrâneo... da Academia?
Algum tempo atrás, Raishin já havia entrado naquele lugar. Foi onde ele caiu com Henri.
Um calafrio se espalhou por seu corpo. Certamente, algumas coisas desconhecidas habitavam aquele lugar. Raishin se lembrou dos incontáveis olhares, que brilhavam como estrelas, que ele vira lá embaixo naquela época.
Ele teria que voltar para aquele lugar mais uma vez...
— Eu realmente não quero fazer isso... mas não tenho escolha a não ser ir. Mostre o caminho.
Raishin tentou deixar o Departamento de Ciências, mas parou de repente.
Shin não estava o seguindo. Raishin ergueu a voz bruscamente, claramente impaciente.
— E aí, Shin? Não fique aí parado!
Por outro lado, a expressão de Shin parecia a de alguém olhando para um animal estranho.
— ...Você vai comigo?
— Não tenho outra alternativa. A Charl vai ficar do jeito que está pelo resto da vida se acontecer alguma coisa com a Alice.
— No entanto, é óbvio que isso é uma armadilha.
— Sim, com certeza. Além disso, a Yaya não está comigo agora!
Eu deveria pelo menos deixar um bilhete?
Raishin tinha a impressão que... não importa o quão formidável o oponente fosse, ele poderia lidar com a situação de algum modo se pudesse reportar tudo para a Kimberley primeiro.
Porém, se fazer algo assim fizesse com que aqueles caras matassem Alice— Charl não teria mais qualquer tipo de salvação por toda a eternidade.
Um sorriso muito, muito amargo se formou em seu rosto. Sendo oprimido pela ironia da situação, Raishin começou a falar enquanto sorria.
— Essa é a minha sorte. Bom, vamos de uma vez.
— ...Entendido.
Shin passou a guiá-lo. Eles não correram para não atrair a atenção das pessoas ao redor.
Uma garota conhecida havia aparecido em seu caminho depois de atravessar o gramado na frente do prédio do Departamento de Ciências, enquanto eles se aproximavam das árvores da floresta.
Um cabelo azul-prateado e um quimono azul—
— Irori!
— Raishin-dono!
As bochechas de Irori ficaram vermelhas quando ela desviou o olhar diagonalmente para baixo. Um gesto adoravelmente cativante.
Raishin teve um desejo incontrolável de gritar para que ela fosse com ele.
No entanto, ele não conseguiu. Ele fora proibido de falar com qualquer outra pessoa e de levar um autômato com ele. Raishin precisava se dirigir desarmado até aquele local. Ele não tinha como saber de onde aqueles caras poderiam estar os observando.
E enquanto esse fosse o caso, ele tinha que se comportar como faria normalmente.
— O que houve? Algum assunto inacabado comigo?
A expressão de Raishin endureceu. Irori começou a falar, como se tivesse compreendido algo profundamente.
— Raishin-dono... a situação é assim tão urgente?
— ...Do que você está falando?
— Que o Raishin-dono— hum, ficou no-no-noi-noiv—
— ...Você está falando do meu noivado?
— Do-do-do que você está falando!? E-e-eu não falaria sobre algo tão escandaloso!
Irori começou a sacudir as mãos desesperadamente, agitando-as no ar diante de si mesma.
Raishin sentiu uma dor de cabeça. E ele tinha acreditado que ela era a mais inteligente entre as três irmãs.
Irori olhou para Raishin como se esperasse por algo, com os olhos levemente úmidos.
— É... verdade?
— Isso mesmo, eu vou me casar com a Olga— ei, tudo bem? Você está completamente pálida.
— Não se preocupe... eu sou uma mulher pálida desde o começo. Uma mulher tão pálida quanto um cadáver, portanto... fufufu.
— ...Você está falando de um jeito estranho.
— Do que você poderia estar falando? Bom, a mulher pálida aqui irá prosseguir com seu caminho e partirá uma última vez. Tenha um bom dia.
Irori bateu a testa em um poste de luz quando se virou.
Depois, ela tropeçou em um banco depois de dar alguns passos, e bateu em uma lixeira um pouco mais adiante. Irori deixou o local caminhando de forma instável, como se ela fosse algum tipo de espectro.
— ...Ela pareceu ter ficado muito alterada com isso. É realmente assim tão chocante que eu me envolva com alguém?
— Você continua tão popular como sempre, senhor Akabane. Como eu poderia esperar de um don Juan do Leste. Certamente atacando sempre que pode—
— Não saia por aí dizendo coisas estranhas você também! Se a Yaya ouvisse isso—
Raishin parou no meio de sua declaração.
Yaya não estava ali. Ele não precisava se preocupar com alguém ouvindo alguma coisa.
Seu humor terrível o deixou irritado. Raishin coçou a cabeça com força.
— Vamos, então.
— Sim.
Raishin acelerou o passo, seguindo atrás de um apressado Shin.
Parte 2
Alguns minutos depois, Raishin já estava no subterrâneo.
Eles não perderam tempo. Tendo agora saído do campo de visão das outras pessoas, ele e Shin começaram a correr com todas as suas forças.
Eles correram pelo caminho do duto de água, fazendo seu caminho através de todo o ar úmido do local. O teto tinha objetos mágicos de iluminação, então não havia necessidade de se preocupar com o caminho. O ar também era puro, então eles não sentiram nenhuma dificuldade para respirar.
Seus passos faziam barulho enquanto corriam, mas Raishin decidiu fazer uma pergunta a Shin assim mesmo.
— O que é este lugar?
— Aparentemente, é usado como um centro de abastecimento.
— Abastecimento de água... embora eu não acredite que seja água potável, não é?
— Para uso experimental, ou talvez apenas água para resfriamento— por aqui.
Shin virou à direita em um caminho que se dividia em três sem demonstrar qualquer hesitação.
— ...Você parece estar acostumado com esse lugar.
— Você já se esqueceu? Usamos esse túnel subterrâneo como fortaleza, quando a Ojou-sama se fazia passar por herdeira da Casa Grandville. Tenho grande parte da estrutura interna armazenada em minha memória.
Shin era muito superior também. Ele havia memorizado completamente este lugar labiríntico.
Embora Raishin estivesse confiante em seu bom senso de direção, ele não tinha mais tanta certeza de para onde estava olhando. Independentemente disso, ele podia ao menos entender que estavam indo em direção à parte mais profunda. O caminho que eles estavam seguindo era provavelmente conectado àquela enorme cavidade.
— ?
Por um instante, Raishin conseguiu sentir uma leve presença de alguém os seguindo por trás.
Um pequeno animal? Talvez um rato ou algo assim. De certo modo, talvez também pudesse ser um assassino muito bem treinado
Algo semelhante a hostilidade pairava no ar. Alguém estava escondendo a respiração enquanto os perseguia...?
Entretanto, Raishin não podia ouvir muito bem devido à obstrução de seus passos correndo.
— Senhor Akabane? Há algo errado?
— ...Não, esqueça. A propósito, Shin.
— Diga.
— Você é um autômato da Alemanha, certo?
— Claro.
— Então por que você jurou fidelidade a Alice?
Shin ficou sem palavras. Raishin continuou questionando-o, como se o pressionasse por uma resposta.
— Antes disso, você serviu a Família Bernstain, não foi? Então, por que você está servindo a Alice agora? Mesmo depois de sua identidade ter sido exposta.
O silêncio de Shin perdurou por mais algum tempo. Raishin decidiu fazer outra pergunta, percebendo que ele poderia não querer responder, mas Shin tinha acabado de sussurrar algo em uma voz calma exatamente naquele momento.
— Os Bernstains eram fantoches do Rutherford desde o começo.
— Eu não me conhecia. Apenas isso. Portanto, mesmo agora, eu ainda sou o mordomo da Família Bernstain.
— Depois de descobrir que a família a qual você servia era falsa— apesar disso, você foi capaz de simplesmente aceitar isso e nada mais?
— Aceitar isso e nada mais?
Shin riu de forma desdenhosa.
— Eu poderia dizer o mesmo de você. Por que você cruzou o mundo para vir até a Grã-Bretanha?
Shin deu-lhe um olhar leve, mas perspicaz. Desta vez, foi Raishin que ficou em silêncio.
No entanto— ele tinha que responder honestamente, uma vez que Shin tinha feito o mesmo.
Movendo sua língua, que havia começado a ficar pesada, Raishin respondeu com a verdade.
— Minha irmã... eu vim para matar o inimigo do meu clã.
— O Marshal Magnus? Por quê?
— Por quê...?
— Não seria porque você amava muito a sua irmã?
— ...Eu não sei. Mas essa é a única coisa que posso fazer pela Nadeshiko agora.
Shin não disse mais nada.
Porém, ligeiramente e apenas por um instante, ele pareceu ter olhado para Raishin com uma expressão solidária.
Será que ele pensava em Alice da mesma forma que Raishin pensava na irmã? Estaria ele assim tão hipnotizado por ela? Por aquela garota cruel e perigosa?
Naquele instante, o caminho subitamente chegou ao fim.
A estrada de tijolos que terminava naquele local de forma abrupta, deu lugar a um espaço totalmente aberto. As luzes também se foram, então estava completamente escuro. O teto era consideravelmente alto. O chão de pedra nua era ligeiramente íngreme.
Raishin sentiu alguns calafrios imediatamente.
Era uma presença peculiar, como se um grande número de pessoas rastejasse dentro daquela escuridão, como se algo habitasse lá.
Era sem dúvida aquela enorme cavidade. Shin começou a descer a encosta sem hesitação. Raishin começou a correr enquanto acendia o fogo em uma pequena lamparina que ele tirou do meio de seus pertences.
— Que diabos é este lugar? Você e a Alice sabem, não é?
— A Ojou-sama sabe. Claro, o Diretor também.
Em outras palavras, ele não sabe?
— Antes, quando a Charl foi ameaçada pela Alice, ela tentou assassinar o Diretor, não foi?
Em uma dessas ocasiões, Charl explodiu completamente a torre do relógio— revelando a existência deste local como consequência.
— Alice disse que tinha muitas outras razões para fazê-lo, mas no fim, seu objetivo sempre fora fazer com que o mundo se tornasse ciente da existência deste enorme buraco... estou errado?
Shin não respondeu. Não se importando com isso, Raishin continuou falando sobre o assunto.
— Naquela época, Alice ainda estava se passando pela herdeira da Família Grandville. Em outras palavras, essa era a intenção da Família Grandville— da própria Grã-Bretanha. Se o objetivo era mostrar ao mundo a parte obscura da Academia, então no fim este lugar deveria ser algum tipo de centro de pesquisa. Um local de experimentação mágica de altíssimo nível, ou então...
Se não fosse mais apenas um experimento...
— Um enorme aparato mágico...?
— ...Você é realmente um homem perigoso, senhor Akabane.
Shin estava inexpressivo. Algo semelhante a uma resposta positiva a dúvida de Raishin.
Em outras palavras, todo esse espaço aberto envolvia um aparelho colossal.
Algo de uma escala tão grande quanto isso deveria ter consumido uma vasta quantidade de orçamento, trabalho e tempo. E se eles fossem falar sobre algo que o mais prestigioso instituto de mecânica da civilização, a grande Academia Real de Maquinagem, Walpurgis, queria a esse extremo, então—
— Não me diga que isso— está relacionado a Machine Doll?
— Esta é uma metodologia completamente diferente daquela usada na Alemanha, mas— provavelmente sim.
Shin havia posto um fim em suas dúvidas. Raishin pareceu ter perdido a força em suas pernas.
Envolvendo inúmeras pessoas, assassinando às vezes, fazendo sua própria filha agir como espiã, abusando de seu poder político, e investindo uma grande quantidade capital apenas para esse propósito— tudo para o Diretor atingir seu objetivo.
Por uma Machine Doll.
— ...Se capaz de fabricar humanos é algo assim tão importante!?
É estúpido. É estúpido. É estúpido! Foi por isso que a Nadeshiko também...!
Seu campo de visão havia ficado completamente vermelho devido a raiva que sentia. Raishin, que cerrava os dentes com todas as suas forças, foi chamado pela voz calma de Shin.
— Você acha que as ações dos humanos são absurdas?
— ...O quê?
— Que os seres humanos produzam filhos, os criem e que o ciclo de vida continue assim, você acha que isso é algo absurdo?
— Isso e aquilo são coisas diferentes! Se eles querem filhos, está tudo bem que um homem e uma mulher os façam!
— Mas também há pessoas que não podem fazer isso.
— —!
— Além disso, se fosse possível projetar seres humanos, um futuro melhor provavelmente nasceria.
— O que você quer dizer?
— Excelentes humanos, seres humanos que odeiam conflitos, seres humanos dotados de um rico senso de justiça e se houvesse um mundo cheio de pessoas boas e ninguém tivesse que sofrer com guerras entre as grandes potências, nem se preocupar com aqueles que hoje cometem crimes?
— Isso isso é apenas um voto de fé! Uma ilusão!
Embora soasse estranho para si mesmo, Raishin expressou sua própria insegurança em palavras dessa forma.
Agora mesmo, ele tinha acabado de ouvir algo aterrorizante.
Ele havia ridicularizado isso como uma mera ilusão, mas— essa era uma ideia que continha uma maligna atração oculta.
Os seres humanos lutavam devido as discrepâncias em seus interesses. Mesmo agora, as grandes potências lutavam para proteger os interesses de seus cidadãos. Era tudo uma questão de quem explorava e quem era explorado.
Mesmo dentro dessas grandes potências havia um jogo de poder sobre quem controlava as coisas e quem estava sendo controlado.
Seria impossível classificar todos os seres humanos de forma equitativa. Tanto as diferenças existentes nas habilidades com que todos nasciam, quanto com as diferentes energias necessárias para sobreviver e o desejo de obter coisas, tudo isso era diferente para cada pessoas.
Porém, e se eles pudessem produzir humanos ideais, que sempre possuíssem as características ideais?
Provavelmente seria possível materializar um mundo feliz onde todas as pessoas vivessem em paz. Era possível que no momento tudo isso soasse apenas como um sonho fabricado, como meras ilusões— mas essa não seria a forma final da humanidade, o destino do caminho para a evolução?
Eles estão errados!
Essa lógica era correta sob um ponto de vista. Porém, era definitivamente errada...
— ...Isso é apenas sofisma, Shin.
— Sofisma?
— Essas pessoas não desejam obter uma Machine Doll para concretizar uma utopia. Eles apenas desejam obter armas cada vez mais perfeitas. É fácil adivinhar o que eles realmente querem, mesmo que tentem encobrir isso usando palavras bonitas.
— No entanto, como primeiro passo em direção ao ideal, também é lógico que se deseje obter algum tipo de lucro com isso primeiro.
Isso era verdade. A sociedade se movia de acordo com seu lucro. Para trazer uma mudança para toda a humanidade, primeiro seria necessário buscar algum tipo de lucro em um futuro imediato— algum tipo de recompensa.
— Sou apenas um novato em relação aos conflitos da civilização. Vamos deixar o futuro da humanidade para os líderes deste mundo. Eu só tenho que fazer o que a Ojou-sama me manda fazer e nada além disso.
Suas palavras de obediência cega haviam perfurado misteriosamente o peito de Raishin.
As palavras de Shin eram diferentes daquelas de uma simples dependência mútua.
Aquela era sua resolução. Shin reconhecia Alice como sua Senhora e decidiu fazer dessa obediência cega sua própria justiça.
Era um tipo de lealdade de alguém que tentava corrigir os erros de seu mestre para ajudá-lo a não os cometer novamente. Isso era o que se conhecia como lealdade corajosa.
Entretanto, a lealdade de Shin era diferente. Se Alice estivesse errada, então os resultados destes erros, seus crimes e suas punições por eles— ele iria lidar com todos da mesma forma que sua Senhora. Ele estava resoluto a esse ponto.
Raishin pensou que essa também era uma outra forma nobre de lealdade.
— Estamos quase no local designado.
Shin desacelerou. Logo depois, um penhasco se tornou visível à frente.
Sob o penhasco escarpado, Raishin conseguiu ver vagamente um tipo de fortaleza dentro da escuridão profunda.
— Dê-me sua mão, senhor Akabane. É uma grande queda.
Shin estendeu sua grande mão. Segurar essa mão era mais assustador do que embaraçoso para Raishin. Afinal, Shin havia tentado matá-lo no passado.
Deixar seu próprio corpo a mercê de Shin dessa forma parecia um ato imprudente, mas... Raishin decidiu aceitar.
Shin subiu no ar depois de erguer Raishin e ativar a magia do circuito Fragarach por conta própria.
Voando pelo ar, Raishin desceu como se deslizasse ao longo do penhasco com Shin.
— Senhor Akabane. Eu te odeio muito.
— Eu sei. O que aconteceu agora.
— Tanto e exatamente como o fedor exalado por um cadáver em decomposição no meio da umidade do verão.
— Tanto assim!? O que você está tentando dizer!?
— Mas apesar disso, mesmo que apenas por enquanto, você poderia acreditar em mim?— Não, você poderia acreditar naquela Ojou-sama de mente questionável?
— ...Acreditar?
— Apenas por um curto período de tempo... Apenas uma confiança momentânea seria o bastante.
Um pedido carregado de sentimentos. Shin havia, entretanto, rapidamente voltado ao seu tom habitual.
— No entanto, eu suponho que seria em vão mostrar-lhe esse tipo de sinceridade superficial. Por isso, vou colocar isso de outra forma. Você não poderá salvar a senhorita Belew se cometer um erro em seu julgamento diante do que irá acontecer a partir de agora.
Raishin conseguiu entendê-lo. Colocar dessa forma foi repugnantemente eficaz.
Depois de algum tempo, Shin desceu até o fundo do penhasco.
A superfície do lugar brilhava fracamente. Vendo de longe parecia ser mármore, mas olhando de perto parecia ser algum tipo de liga mágica. A luz emitida era como se o próprio chão tivesse sido polido.
Depois de seguirem por alguns minutos por aquele lugar, um palácio tornou-se visível.
Uma cúpula com telhado redondo, semelhante a uma mesquita. Uma estrutura cheia de enigmas, brilhante como uma concha.
— Você fez bem em vir, Raishin.
Uma voz veio em direção a Raishin da sacada do palácio.
Alice estava esperando por ele lá.
— Oi, Alice. O que é isso? Um palácio?
— O Santuário dos Tolos— também conhecido como Ciclo Spriggan ζ.
Uma palavra que ele nunca tinha ouvido. Embora ele se lembrasse do Ciclo α.
Alice deu de ombros depois de perceber que Raishin não entendia do que ela estava falando.
— Você poderia imaginar do que estou falando se eu lhe dissesse que é um dispositivo para construção de almas artificiais?
— ...Eu ouvi errado? Acho que ouvi você dizer almas.
— Deixando de lado se realmente existe algo como espírito, estou falando de um dispositivo mágico que gera uma formação de autoconsciência, fazendo-o se aderir a um espaço fixo.
Sem explicar mais nada, Alice fechou os olhos um pouco enquanto dirigia seu olhar para Shin.
— Bom trabalho, Shin. Por conseguir enganar e trazer o Raishin até aqui.
Não que ele realmente não tivesse considerado essa possibilidade, mas...
Raishin ficou atordoado por um segundo.
Alice estalou os dedos e naquele instante, tendo perdido o efeito da magia Brocken, diferentes silhuetas de seres humanos apareceram uma após a outra de dentro da escuridão. Um grande número de mais de vinte pessoas. Cerca de metade deles tinha armaduras e elmos como os dos cavaleiros medievais, todos com a imagem de uma cruz gravada em suas máscaras.
Entre eles, um jovem atraente, que parecia ser o seu líder, avançou.
— Você foi muito descuidado, Penúltimo. Quem diria que você cairia em um plano assim tão simples.
— Rosenberg...!
O estudante transferido da Alemanha cujas ambições Raishin tinha destruído uma vez—
Aquele mesmo Rosenberg estava parado ali, acompanhado de sua cavalaria.
Parte 3
Um reencontro tedioso. Raishin evitou suspirar enquanto olhava na direção de seu adversário.
O que Shin disse era verdade.
O inimigo era Rosenberg. Um nobre de uma notável família aristocrática e que havia sido derrotado por Loki no passado.
Ele não estava usando uniforme, pois já havia sido expulso da Academia. Em vez disso, exatamente como o traje de um cavaleiro, ele estava usando uma roupa formal de soldado excessivamente decorada.
— Mais uma vez, outro velho conhecido aparece.
Raishin decidiu usar um tom frívolo, exibindo uma expressão azeda, como a de alguém que acaba de pisar em um inseto.
— O que poderiam os caras que foram expulsos da Festa Noturna querer a este ponto por causa de seus resultados inferiores?
Rosenberg estava apenas sorrindo levemente. Os membros do grupo ao seu redor também não mostravam nenhum tipo de reação.
Uma compostura grande o bastante para não se deixarem levar pelas provocações... realmente inimigos formidáveis.
Raishin contou rapidamente o número de oponentes.
Os marionetistas, incluindo Rosenberg, totalizavam onze. Os cavaleiros autômatos totalizavam dez.
E no grupo, um único autômato, claramente diferente dos demais, se destacava.
Um autômato mecânico feito de metal. Seus braços eram tão grandes quanto seu torso, enquanto suas pernas eram finas em contraste. Uma enorme placa de aço cobria a parte superior de seu corpo, muito semelhante ao manto que Loki costuma usar.
Seus pulsos possuíam três objetos longos e finos, presos como se fossem barbatanas de peixe. Claramente eram lâminas— que provavelmente poderiam se projetar dos braços ao atacar, para serem usadas como garras. Com base no tamanho maciço de seus braços e lâminas, ele parecia o tipo de autômato que dominaria qualquer um em uma luta corpo a corpo.
No entanto, para algo assim suas pernas eram muito insignificantes. Pernas fortes nem sempre eram equivalentes a mobilidade. Uma vez que outras manobras rápidas poderiam ser feitas por meio de magia, também era possível pensar que elas não seriam necessárias.
Suas engrenagens internas podiam ser ouvidas no ar. Parecia um modelo antiquado. Sua ideia conceitual e a forma de suas partes, por algum motivo elas carregavam um cheiro de anacronismo. Um autômato antigo...?
Raishin não sabia sua verdadeira identidade, mas tinha certeza absoluta de algo.
Aquela coisa escondia uma habilidade feroz. Sem dúvidas.
Eles provavelmente o usariam se tivessem que lidar com algo tão poderoso quanto um Machinensoldat. Não seria exagero dizer que se eles tinham preparado algo assim, o poder acumulado entre eles não seria menor que o de Shin.
— Capturem o Penúltimo.
Rosenberg deu uma ordem. Todos os cavaleiros se moveram simultaneamente.
Os autômatos deslizaram pelo ar e cercaram Raishin. Um cerco adequado, mantendo uma certa distância entre cada um deles. Os cavaleiros começaram a avançar passo a passo, reduzindo o espaço que os separava. Eles tinham conseguido selar todas as rotas de fuga.
O que eu posso fazer?
Raishin conseguiu adquirir um Kouyokujin graças a Griselda. Embora não fosse tão bom quanto ela, ele também poderia lutar por conta própria contra outros autômatos.
No entanto, seus inimigos desta vez eram Machinensoldats. O circuito Fragarach com o qual estavam equipados tinham fundamentalmente as mesmas habilidades que o circuito de Shin. Ele não podia subestimar essa durabilidade e poder ofensivo.
Para piorar tudo, Rosenberg tinha até mesmo um autômato desconhecido com ele.
Seria perigoso resistir a eles— sem dúvidas. No entanto, era exatamente por isso que ele deveria resistir. Embora essa diferença de poder existisse agora, assim que fosse capturado ele provavelmente não teria outra chance para escapar.
O que eu deveria fazer...!?
Raishin voltou seu olhar na direção de Alice. Ela estava sorrindo.
Alice estava adorando ver a situação em que Raishin estava, com olhos provocantes como os de alguém observando sua presa cair em sua armadilha... ou assim parecia.
Com isso, Raishin finalmente conseguiu entender. Aquilo que Shin havia dito a ele apenas há alguns momentos atrás.
Então foi isso...!
Raishin estalou a língua e levantou as duas mãos no ar, mostrando que não tinha intenção de resistir.
Rosenberg arregalou os olhos, surpreso.
— Ora. Você está dizendo que não vai resistir?
Raishin o ignorou enquanto virava o rosto. Foi Alice que respondeu em seu lugar.
— Bom, é porque eu fiz a Charlotte como refém. É chato, mas é a decisão adequada para ele no momento.
— —Nesse caso, capturem-no. Não baixem a guarda.
Os cavaleiros prenderam Raishin no chão, colocando algemas mágicas repressoras de energia em suas mãos.
Um desconforto peculiar, como uma sensação opressiva e sufocante, o assaltou. Sua emissão de energia mágica foi cortada. Parecia ser um dispositivo de contenção muito poderoso.
Alice virou-se para Rosenberg depois que eles terminaram de conter Raishin.
— Bom, eu já entreguei o tesouro— podemos concluir o negócio com isso?
— Ah, é claro. Mas... perdoe-me, aparentemente eu me esqueci de alguns detalhes em particular de nosso acordo. O que mesmo nós iríamos obter de você?
— Um Akabane vivo e os dados que obtiveram observando o Ciclo Spriggan ζ. Você pôde chegar tão longe neste santuário graças a mim— isso não foi benéfico para você?
Alice apontou para o Santuário sob seus pés. Rosenberg assentiu.
— Certamente. Mesmo que tenha sido apenas pelo lado de fora, ser capaz de observar e coletar informações sobre este lugar é por si só uma grande conquista. Algo que deveria nos compensar o bastante.
— O desejo da Academia é se reconciliar com a Alemanha, bem como obter uma amostra MK4.
Alice apontou para Shin, torcendo um pouco sua pequena mandíbula. Contudo—
Rosenberg torceu o pescoço em uma postura ameaçadora.
— Bom... O que eu acho que você deveria receber...
Subitamente, um sorriso se espalhou como uma fissura atravessando o rosto de Rosenberg.
— Poderia ser outra coisa além da nossa retribuição?
Todos os cavaleiros autômatos haviam puxado suas espadas em uníssono.
Os marionetistas concentraram sua energia mágica enquanto se colocavam em postura de ataque. Raishin também notou que os autômatos não estavam cercando apenas ele, mas também Alice e Shin.
Rosenberg começou a reduzir a distância entre ele e Alice, calmamente.
— Além de conseguir um membro sanguíneo do clã Akabane, iremos seguir com nosso plano original de cuidar do traidor e destruir a amostra MK4.
— ...Bom, eu já sabia que isso iria acontecer.
Algo voou pelo céu enquanto Alice sorria.
A entidade misteriosa caiu na superfície de liga mágica do solo, causando um impacto terrível.
Raishin ficou surpreso por dois motivos.
Primeiro, porque o impacto de agora não havia deixado nem uma única fissura no chão. O piso tinha uma resistência digna de admiração.
E segundo
Foi porque a misteriosa entidade que havia aparecido era uma garota de cabelos pretos, usando um quimono escuro.
— Yaya!
Yaya rapidamente circundou as costas de Raishin e quebrou com força as algemas mágicas em suas mãos.
Shin havia saltado no ar, aterrissando rapidamente entre Alice e Rosenberg. Seus movimentos eram suaves, como se ele estivesse preparado para fazer isso desde o começo.
Yaya caminhou até se colocar diante de Raishin, como se estivesse o protegendo. Ela olhou cuidadosamente para os cavaleiros ao redor.
— Você está bem, Raishin!?
— Sim. Como você encontrou este lugar?
— Eu te disse. Que a Yaya o seguiria a qualquer lugar.
— ...Então você estava me seguindo.
Sendo assim, tinha sido ela a presença que ele havia sentido na passagem subterrânea algum tempo atrás.
...Não, espere. Ele também não tinha sentido algo parecido com hostilidade naquela presença?
— Então, onde está aquela loira imprudente? A que Yaya estava planejando matar.
— Não existe tal plano! Então essa foi a fonte da hostilidade!
Aparentemente fora a sede avassaladora de sangue que Yaya sentia por Olga.
Yaya examinou os arredores— e ficou surpresa ao ver Alice.
— Aquela pessoa! Não me diga que...!?
— Isso mesmo. Aquela Olga era uma impos—
— Você estava planejando atacar não apenas a Olga-san, mas também a Alice-san...!?
— Por que você pula tudo só para chegar a essa conclusão!? A verdadeira identidade da Olga era a Alice!
Raishin sentiu uma emoção quente em seu peito ao responder.
Yaya era igual a Shin.
Reconhecendo as virtudes absolutas de seu mestre, ela também havia decidido obedecer Raishin independentemente do que ele fizesse.
Yaya havia dito isso. Que ela sempre o protegeria. Mesmo se ele cometesse um erro, ela havia decidido continuar acreditando nele até o fim— e isso era uma grande carga de responsabilidade para Raishin.
É por isso que eu também não devo cometer nenhum erro.
Preenchido com uma nova determinação, Raishin confrontou os cavaleiros ao redor deles.
Rosenberg olhou para Alice, como se estivesse interessado em algo.
— O que é isso, Alice?
— Não seja tolo. Simplificando, é exatamente o que você está vendo.
Um grande número de pessoas apareceu por trás, cercando os cavaleiros externamente a sua formação.
Os ornamentos das jaquetas dos alunos que haviam aparecido tinham sido removidos, fazendo com que seus uniformes parecessem um traje de batalha mais adequado para o uso prático. Parecia o uniforme dos guardas da Academia, mas as cores branca e azul os tornavam definitivamente diferentes. Os alunos haviam levado Heimgardners com eles. Autômatos produzidos em massa.
Yaya também estava olhando para aquelas estranhas figuras com surpresa. Elas meio que pareciam os guardas da Academia— mas eram pessoas que ela e Raishin estavam vendo pela primeira vez.
— Quem são esses caras...?
— Katzbalger. Uma unidade especializada em interceptar e eliminar intrusos.
Alice ofereceu uma explicação ao perplexo Raishin.
Os guardas estavam sob a jurisdição do Conselho Administrativo, mas esta unidade estava sob controle direto do Diretor.
O que significava que o próprio Diretor também estava envolvido!
Alice devolveu as palavras sarcásticas de Rosenberg, falando cheia de compostura.
— Você foi descuidado, Rosenberg. Quem diria que você cairia em um plano assim tão simples.
Entendo. Então a Alice planejava confrontar o Rosenberg desde o começo...
Shin havia dito a ele para acreditar em Alice mais cedo.
Isso provavelmente deveria significar que Alice não trairia Raishin.
O objetivo de Alice era expor todos os membros dos Kreuzritter, assim ela poderia capturar todos de uma única vez.
Era por isso que ela precisava usar Raishin como isca!
— Você ainda não entendeu a razão pela qual eu escolhi este lugar para fazermos a troca?
Alice encurralou Rosenberg com suas palavras e um sorriso sádico surgiu em seu rosto.
— Você não conseguiria compreender nem metade da estrutura deste Santuário apenas observando-o pelo lado de fora. A Academia nunca abriria mão de nada da parte deles e por outro lado, era impossível que os Katzbalger não entrassem em ação se algo acontecesse dentro deste lugar.
Ao que parece... ela estava tentando usar os guardas da Academia para eliminar o inimigo.
No entanto, seus métodos eram muito indiretos. Raishin estava quase certo de que se o Diretor assim o quisesse, ele poderia ter os esmagado diretamente, sem ter que passar por todo esse drama.
Sem dar a menor importância às dúvidas de Raishin, Alice decidiu anunciar sua conclusão.
— Meu pai é um homem calculista. Ele não consideraria nem por um segundo se reconciliar com inúteis como vocês— o ato termina aqui, Rosenberg.
Rosenberg ergueu a cabeça depois de ouvir as palavras de Alice em silêncio.
— Que desleixada. Certamente... eu até mesmo sinto pena de você.
Rosenberg riu. De forma alegre e maldosa.
Raishin não perdeu o leve movimento das sobrancelhas de Alice naquele instante.
Um sinal de perigo ressoou em seu cérebro.
Um calafrio percorreu sua nuca como um pulso elétrico.
Raishin ativou o Kongouriki de Yaya imediatamente, aplicando seus efeitos em seu corpo e depois saltando como uma bala.
Depois de pousar rapidamente na varando do Palácio, Raishin agarrou Alice em seus braços e saltou para longe daquele lugar mais uma vez.
Um intenso raio caiu no lugar onde Alice estava parada há alguns segundos. Cinco Heimgardners pousaram na varanda. Eles aparentemente tinham disparado algum tipo de ataque elétrico depois de terem reduzido a distância entre eles e Alice em apenas um instante. Shin nem conseguiu reagir. Foi um esplêndido ataque surpresa.
A velocidade desses autômatos era muito superior à de um Heimgardner comum. Alice agora seria um pedaço de massa negra se a reação de Raishin tivesse sido um segundo mais lenta.
Raishin estava confuso. Os guardas sob o controle do Diretor tinham acabado de mirar em Alice—!?
Rosenberg cobriu o rosto com a mão direita. Ele parecia estar segurando o riso.
— Hum... isso mesmo! O Rutherford é realmente um homem calculista!
O corpo de Alice endureceu nos braços de Raishin.
Ela compreendeu rapidamente a situação, como esperado dela.
Sua confusão durou apenas um instante, no entanto. Alice tinha rapidamente compreendido a situação.
— ...Então é isso.
— Do que você está falando!? Explique-se!
Raishin sacudiu Alice. Ela não respondeu.
Rosenberg começou a zombar deles abertamente com desdém, depois de vê-los naquela situação.
— Você não tem cérebro, Penúltimo.
— ...Eu sou o Penúltimo, afinal. Diga de uma forma que um mau aluno como eu possa entender.
— Por mais que sejamos cavaleiros de elite, certamente não somos mais estudantes. Você acha que poderíamos ter nos movido tão livremente a este ponto sem a permissão do Diretor?
— !
— Eu conheço muito bem a sagacidade desta mulher. É claro que ela se prepararia para algo assim.
— Oi, Alice! Do que ele está falando!?
— ...É algo simples.
A garota em seus braços tremia, como se ela fosse uma impostora e não a verdadeira... Alice sussurrou, com o rosto tão pálido quanto o de um cadáver.
— Meu pai... decidiu se livrar de mim.