A Machine-Doll Inigualável Japonesa

Tradução: Artemis

Revisão: Yuuki


Volume 5

Prólogo: A Pausa na Festa Noturna

Parte 1

 

— Uuuu, você é mau, Raishin… Mesmo que a Yaya tenha dito que “não concorda” com isso…!

Yaya, cujo quimono desarrumado estava caído até a altura do peito, reclamou enquanto chorava.

A garota chorou na cama. Seu longo cabelo negro e seus ombros brancos e puros eram fascinantes.

Raishin desviou os olhos, parecendo envergonhado.

— Bem… hummm… desculpe. Mas, veja bem, se esgueirar para a cama desse jeito foi meio que inútil.

— Por favor volte para a cama! Você sempre diz que não é bom sair do jeito que está—!

Yaya ergueu o travesseiro, que tinha a palavra “YES” escrito, e as críticas começaram a voar em direção a Raishin.

— Você é mau, Raishin! Você não apenas ignora uma garota bonita deitada seminua na sua cama, mas também pretende ficar acordado a noite toda no sofá do corredor!?

— Acho que a única pessoa má aqui é você, por ocupar a cama de uma pessoa ferida no meio da noite antes mesmo que eu percebesse.

— Mas o Raishin está ferido! O que você fará se pegar um resfriado?

— Eu já te disse para não se esgueirar para minha cama! E não tente meu corpo ferido!

*Ka-ching!*

Um som metálico foi ouvido e uma lâmina foi pressionada contra a nuca de Raishin— a lâmina pertencia ao autômato Cherubim.

A cortina divisória se abriu e um rosto desagradável surgiu na cama ao lado.

Aquele era Loki, um garoto de cabelo branco e o usuário de Cherubim.

— Você está perturbando o meu autoestudo. Vá brigar com sua amante lá fora, seu idiota do Extremo Oriente.

— De novo isso? Seu… tu- tudo bem.

Rashin subitamente controlou a si mesmo e conteve uma objeção. Cerca de dez dias atrás, ele acabou precisando pedir um favor a Loki durante a “operação de resgate da Yaya”. Desde então, ele não conseguia responder Loki como antigamente.

Ele saiu do quarto do hospital para não se tornar um incômodo. Yaya fez o mesmo, ela concertou o quimono desarrumado e o seguiu rapidamente com seus pequenos passos. Eles passaram pelo corredor e a entrada. Estava bastante animado do lado de fora da janela. Raishin e Yaya saíram para o exterior enquanto eram convidados por essa atmosfera animada.

Ele esticou bem o corpo enquanto se deliciava com o calor da luz do sol.

A sensação era boa. Quando ele olhou na direção da estrada, pôde ver estudantes caminhando pelas ruas.

Era a hora em que o serviço divino de Domingo havia terminado. Os estudantes caminhavam juntos enquanto riam alegremente e se dirigiam até o [Portão], todos no mesmo ritmo leve.

— Por que… eles estão tão alegres? Aconteceu alguma coisa?

— Você não sabe, Raishin? Um Festival começa amanhã, então a cidade está bastante movimentada.

— … Um Festival? Mas o solstício de verão aconteceu não faz muito tempo, certo?

— É a Autômato Expo em Liverpool.

— Autômato Expo?

— Se a Festa Noturna é um concurso de performance dos marionetistas, então este é um festival dos autômatos. Famosos artesãos europeus se reúnem, e eles trazem consigo os autômatos construídos por eles mesmos e testam suas habilidades. Ao que parece, vão acontecer muitas exposições e vendas de autômatos, leilões e grandes reuniões comerciais.

— Hee… um evento apropriado para a Cidade das Máquinas, hum.

— Sim! Eu soube que o Príncipe Coroado do Império Britânico virá desta vez. A cidade parece estar tão animada quanto estava durante a Páscoa!

— Páscoa? Você não sabe o que é isso, sabe? Quem te falou sobre isso?

— Ehehe… tudo isso é conhecimento de segunda mão da Charlotte-san.

Yaya corou e confessou.

— Entendo. Isso significa que você fez amizade com a Charl. Isso é muito bom.

— Não, nós não somos amigas. É apenas um acordo temporário de cessar-fogo.

— …O que é isso?

— Nós, jovens donzelas, entendemos que não é o momento de nos separarmos. Fufufu.

Ela revelou um sorriso sombrio. Como dizer isso? Os olhos dela pareciam perigosos. Raishin temia por sua segurança física e disse, antecipando-a.

— Bom, isso é por causa do que a Shouko-san fez? Porque no caso da Shouko-san, ela não teve a intenção que você está imaginando, certo? Por alguma razão, quando nós adentramos a cidade ela nos deu um cumprimento de estilo Ocidental—

Aquilo era um campo minado. O sorriso de Yaya se desfez imediatamente.

— O Raishin é um idiota! Boca a boca entre um homem e uma mulher que não são da mesma família vai além dos limites de uma saudação! A Charlotte-san me disse isso!

— Kuh! Aquela Charl, ela estava dizendo coisas desnecessárias de novo…!

Yaya rapidamente começou a chorar e cobriu o rosto com uma das mangas do quimono.

— Sniff, você não faz isso com a Yaya… e ainda assim beija a Shouko…!

— Não, isso é diferente, não fui eu quem fez isso…

— Então está tudo bem se a Yaya fizer isso?

— Não foi isso que eu quis dizer! Estou dizendo que foi mais como um acidente!

— Se é assim, então a Yaya também vai causar um acidente! Vou te sufocar!

— Você vai causar um acidente!? O que— ahhhh, pare, acalme-se!

Seus lábios cor de cereja se aproximaram. Raishin se desviou deles saltando para trás. Assim que isso aconteceu—

*Thump!*

—Alguém bateu em suas costas.

— Oops, desculpe.

A mente de Raishin relaxou, mas—

Mais do que isso, aquela era uma criatura que não permitia que sua presença fosse sentida.

Uma jovem garota de cabelo verde. Pequena e frágil. Sua pele era branca e, de relance, ela parecia ter feições nórdicas. A garota era dona de um rosto bonito, mas que, como dizer… de algum modo parecia um pouco frio.

A jovem tinha acabado de sair do prédio da Faculdade de Medicina. Vários documentos que ela carregava nos braços acabaram caindo no chão. Raishin entrou em pânico e tentou ajudá-la a recuperar todos.

— Não se preocupe comigo. Eu sou um autômato.

A garota sinalizou com a mão para Raishin e disse isso com um tom mecânico.

— Hee, é mesmo?

Raishin não parou suas mãos. Em silêncio, Yaya também começou a ajudá-los.

A jovem garota estava surpresa, e observou atentamente o trabalho de Raishin.

— Aqui está, esses são todos os documentos que caíram. Sinto muito por colidir com você… o que foi? Você está me encarando.

— Desculpe…

A jovem garota abraçou com firmeza os vários documentos— listas com os nomes dos estudantes da Academia— e encarou Raishin com grande interesse.

— Posso te perguntar uma coisa?

— Sim?

— Eu disse que sou um autômato.

— Sim, eu escutei.

— Então por que você me ajudou?

— Por quê? Isso não é normal?

— Normal… você diz?

Mais rápido do que Raishin poderia responder, e apesar da presença estranha que Yaya estava emanando,

— Sim, é normal. Assim que o Raishin vê uma garota, ele geralmente sempre… e indiscriminadamente…!

— Ei… você poderia se acalmar, Yaya? Estamos na frente de uma pessoa, não estamos?

A jovem de cabelo verde timidamente abriu a boca.

— Meu nome é Evangeline. Se você não se importa, quais são os seus nomes?

— Eu? Eu sou Akabane Raishin. Um marionetista Japonês.

— Eu sou a esposa dele, Yaya.

— Chega de piadas.

— Não é uma piada—!

— Raishin-sama…

A jovem repetiu o nome dele como se estivesse o sentindo em sua língua. Então,

— Raishin-sama é uma pessoa interessante, não é?

— Você não precisa me elogiar, sabe?

— Você é uma pessoa divertida. Você me faz sorrir.

— Você está piorando!

— Adeus.

— Negue pelo menos!

A jovem inclinou a cabeça e partiu em seu próprio ritmo.

Enquanto andava, ela cantarolava uma música meio nostálgica e gentil—

— Nossa, o que foi isso? Eu não a conhecia.

— Fufu… O Raishin… está esbarrando em garotas estranhas de novo… fufufu.

— Ei… Yaya? Por que você está com o rosto de um… demônio devorador de homens… calma, calma!

Yaya tentou estrangular Raishin, mas nesta manhã ela parecia estar com seus sentimentos magoados um pouco mais que o normal. Quando sentiu as lágrimas começarem a brotar no canto de seus olhos, ela começou a chorar em soluços.

— Você é tão mau, Raishin. Você conhece os sentimentos da Yaya, mas mesmo assim fica flertando com outras mulheres…

— Você poderia me dizer quando é que eu tenho flertado com outras mulheres? Isso não é apenas uma coisa da sua cabeça?

Raishin exibia um rosto cansado, mas por hora optou por uma resposta apática.

 

Parte 2

 

Naquela noite. No Dormitório Grifo, o quarto das irmãs Belew.

Charl abriu um livro sobre a mesa e começou a revisar a palestra do dia anterior.

No entanto, ela não estava concentrada. A ponta de sua caneta vagava pelo caderno.

A princípio, a caneta parecia se mover randomicamente, mas a próxima coisa que ela percebeu era que o desenho formava os traços de algo semelhante a um rosto humano.

Charlote, que percebeu de quem era aquele rosto, corou, rasgou o caderno e o jogou longe.

Sua irmã, Henri, que estava deitada na cama, assistia àquela cena. E o jovem dragão enrolado, Sigmund, estava deitado sobre o avental de seu vestido.

Henri trocou olhares com Sigmund e ambos assentiram ao mesmo tempo. Em seguida,

— Onee-sama. Poderia ser que você quer ir visitar o Raishin-san…?

— O que— po-por quê— por que eu faria isso!? Eu não ligo para aquele sujeito! Ele é tão pervertido… ele deve estar lá sonhando em ser beijado por mulheres de meia idade!

Sigmund, que tomou o lugar de Henri depois que esta foi repreendida e se curvou em posição fetal, abriu a boca.

— Charl, ser teimosa não vai te levar a lugar algum. A cidade estará lotada de pessoas por causa da Exposição. Se a permissão para a saída do Raishin for concedida, você deveria convidá-lo para sair e se divertir um pouco.

— Po-por que eu faria algo assim… poxa, está tão quente aqui dentro!

Charl abriu a janela com violência para encobrir o fato de que seu rosto estava queimando.

Naquele momento, ela foi atacada por um calafrio.

Ela olhou atentamente para as profundezas do bosque próximo, e viu um grupo misterioso que se destacava no crepúsculo.

Dez autômatos marchavam, formando uma fila. Todos estavam em silêncio e tinham um olhar vago em seus rostos. Eles eram como fantasmas, não tinham estabilidade e cambaleavam ao longo do caminho.

— Autômatos? Mas aqueles são… propriedades de [Gauntlets]!

Algo estranho estava acontecendo. Charl olhou intuitivamente para seu parceiro.

Sigmund ficou rígido, com os membros contraídos no colo de Henri. As patas dianteiras e as asas, que tinham sido concertadas recentemente, tremiam de maneira não natural.

— O que está acontecendo!? Você está bem!?

Por um breve momento, enquanto as irmãs o observavam atentamente com grande preocupação, Sigmund respirou fundo. No fim, ele se acalmou um pouco e disse como se estivesse lutando.

— Não se preocupem. Parece que a ameaça se foi.

— Ameaça?

— Não sei explicar muito bem, mas… eu quase fui levado embora.

— Levado embora…? O que isso significa?

— É difícil lutar contra isso… foi como uma tentação. No meu interior, algum… não, eu estaria mentindo se tentasse colocar isso em palavras. Algo assim jamais aconteceu comigo em 150 anos.

— Poderia ser… a magia de alguém?

— Muito provavelmente.

Então os autômatos que estavam marchando lá fora estavam sendo [levados embora]?

Ela tinha um mau pressentimento. Charl decidiu segurar Sigmund em seus braços.

— É melhor reportar isso à Academia. Vamos até os Executivos da Festa Noturna agora mesmo. Henri, não deixe este quarto, tudo bem?

Charl enfatizou isso para uma ansiosa Henri, segurou Sigmund em seus braços e saiu correndo do quarto.

 

Parte 3

 

Ao mesmo tempo, Raishin e Yaya jantavam na Enfermaria.

O cardápio era bolo carne e sopa de pato com lentilhas. O aroma de pimenta preta e o vapor crescente estimulava seu apetite.

— Wo————…

De repente, Yaya fez uma careta e deixou cair sua colher. Raishin ficou surpreso,

— O que há de errado, Yaya? Seu rosto está muito azul.

— Eu estou bem. Apenas fiquei um pouco tonta.

— Tonta…?

— Isso tem acontecido algumas vezes recentemente.

— Não é um problema isso estar acontecendo? Não seria melhor irmos ver a Shouko-san?

Yaya corou, parecendo feliz porque Raishin estava preocupado com ela.

— Estou bem. Minhas funções estão funcionando sem problemas— haa! Espere um pouco, o Raishin está usando a Yaya para ligar para a Shouko…!?

— Não me interprete mal! Não me olhe com esses olhos!

Raishin desviou o rosto como se estivesse fugindo. Do outro lado de sua linha de visão, e além de Loki, que também estava jantando e parecia descontente, passos ressoaram do lado de fora da Enfermaria.

Aqueles eram sons de botas de couro e garras. Balançando o peito, uma jovem garota com cabelo prateado surgiu acompanhada de cinco cães.

— Ei, Frey. Aconteceu alguma coisa com a Festa Noturna? Ainda não se passou uma hora, certo?

— Humm… o adversário desistiu.

— Desistiu— outra vez?

As sobrancelhas de Loki se ergueram e Yaya engoliu em seco como se tivesse subitamente percebido alguma coisa.

— Nos últimos dez dias, você lutou de fato apenas em dois dias… certo?

Raishin inclinou a cabeça, perplexo. Oito em dez adversários desistiram. Não importa como você pensasse, isso era simplesmente exagerado.

De repente, Raishin prestou atenção nos cães de Frey— os autômatos da série [Garm].

Os cães ergueram seus pescoços e olharam na direção do lado de fora em um estado de inquietação.

— O que há de errado com eles? Estão preocupados com alguma coisa?

— Não posso dizer muito bem, mas…

O olhar de Frey foi demorado, como se ela estivesse procurando pelas palavras certas. Então, ela assentiu profundamente.

— Eles podem ouvir… uma música…

— …Uma música?

Ele ficou confuso com a resposta vaga.

No entanto, a situação mudou rapidamente, de modo que Raishin não teve tempo de perguntar.

O chão tremeu e um autômato do tipo golem pousou do lado de fora da janela com um baque.

O que foi isso? —Eles pensaram instantaneamente.

Quando perceberam o som de múltiplos passos ecoando no corredor, Raishin e Loki imediatamente se levantaram e se colocaram à frente de Frey, encarando a porta da Enfermaria.

Aquela que apareceu antes que qualquer outro foi uma linda mulher loira.

Vestida elegantemente com um terninho e usando óculos escuros. Ela casualmente usava um sabre preso a sua cintura. Uma mulher que transmitia uma presença perigosa, como se seus dedos pudessem ser cortados apenas por tocá-la.

Eles se lembravam dela. Aquela era Avril, a secretária do Diretor da Academia.

Avril estava acompanhada por homens de aparência forte. Todos usavam o mesmo uniforme para defesa. Tinham protetores anti magia e seguravam algemas.

Raishin estava alarmado. Apenas dez dias atrás, Raishin tinha livrado Alice— a filha do Diretor da Academia— de uma desconhecida situação de vida ou morte. Sendo assim, então provavelmente o problema era…!?

Avril então lançou um olhar penetrante na direção de Raishin, tal qual uma verdadeira espada desembainhada.

— Akabane Raishin, certo?

— …Sim, posso ajudá-la em alguma coisa?

Ela se moveu rapidamente. Yaya estava cautelosa, ela começou a se erguer, mas no mesmo instante—

O braço de Avril brilhou.

O sabre desembainhado estava sendo empurrado contra a traqueia de Raishin.

Raishin estava apavorado. Ele não conseguiu reagir. Isso porque foi pego totalmente de surpresa.

Entretanto, ele não tinha certeza se teria sido capaz de reagir mesmo se estivesse em guarda. O golpe dela tinha sido muito rápido.

Frey levou algum tempo para recuperar o fôlego. Os autômatos da série Garm rosnaram baixo, mas apenas com um olhar de Avril eles puseram os rabos entre as pernas, amedrontados. Será que sentiram instintivamente a diferença de força?

Enquanto Raishin suava frio,

— …Nossa, eu não sabia que empunhar uma faca contra a garganta de alguém durante o jantar era um estilo Inglês.

— Vou lhe contar em primeira mão, mas agora tenho poderes policiais.

— …E então?

— Eu estou prendendo você sob a acusação de ser o— [Assassino de Marionetes]!

Os homens grosseiros correram ao ouvir as palavras de Avril. Raishin, que tinha sido cercado por homens musculosos enquanto ainda estava confuso, gritou instintivamente.

 



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