Volume 4
Prólogo: Tão Doce Quanto um Doce
— Oh, Raishin, e se eu fizer isso desse jeito... <3
Com a ponta do seu dedo branco rastejando para cima e para baixo, Yaya acariciou delicadamente a frente de uma certa coisa.
— Ah, está tão duro... ufufu, os dedos da Yaya são assim tão bons?
Raishin deixou escapar um leve gemido—
— ...Diga, Yaya,
— Sim? <3
— Você poderia lavar os pratos em silêncio? Quero dizer, estou feliz por você ter se oferecido para lavar os pratos e tudo, mas...
Eles estavam na ala reservada para os pacientes, que estava localizada no primeiro andar da Faculdade de Medicina, ao lado do consultório médico.
Havia um lavatório localizado em um canto do quarto e a Yaya estava usando-o para lavar os pratos.
Uma Yaya emburrada virou a cabeça para trás, em direção a Raishin, e dirigiu-se a ele com um tom espinhoso.
— Me deixe em paz. Uma vez que o Raishin não quer se importar comigo, eu estou fazendo meu treinamento com estes pratos.
— Que tipo de treinamento é esse!?
— Treinamento para lavar as costas.
— Esse claramente não é um gesto para lavar as costas! Por que suas mão estão se movendo para frente e para trás?!
— Ah, talvez um rolo ou uma salsicha sejam melhores—
Uma terceira voz a interrompeu, fazendo com que Raishin e Yaya virassem suas cabeças.
Henri estava de pé na entrada, usando seu traje de empregada, sorrindo enquanto segurava a roupa lavada.
— Eh... Ah... Um... Se você está lavando coisas, por favor deixe isso comigo.
Com suas orelhas vermelhas, Henri tomou os pratos das mãos de Yaya.
Yaya começou a tremer, inquieta.
— Raposa... você está tentando roubar os holofotes da Yaya... e substituir a Yaya!?
— Vocês dois! Não ensinem coisas estranhas para a Henri!
A voz indignada que apareceu pertencia a beldade de cabelos dourados, Charl. O dragão cor de metal dela, Sigmund, estava empoleirado no topo do seu chapéu.
Yaya tinha uma visível expressão de desagrado em seu rosto.
— ...então você veio novamente, Charlotte.
— É claro. Você tem algum problema com isso? Mesmo que a Henri esteja sendo protegida por pessoas da Nectar, eu ainda estou preocupada que ela possa ser atacada por pessoas estranhas. Tanto quanto possível, eu tenho que ficar perto dela, para que ela possa estar em segurança.
— Mesmo que você diga isso, a verdadeira razão não é porque você quer ajudar o Raishin?
— O que... Eu... Sua... i-diota! Uma suspeita assim tão vulgar! Em primeiro lugar, tomar conta dos feridos é meramente uma parte das Obrigações da Nobreza!
— Nesse caso, vá se tornar uma enfermeira no hospital da cidade.
— Eu polidamente declino. Estou ocupada com a Festa Noturna.
— Que conveniente você ter sempre uma desculpa pronta! Ah, já chega! Agora que chegou a isso, a Yaya vai simplesmente eliminar todas as raposas com toda a minha força!
— Música para os meus ouvidos! Sigmund, oblitere esta besta!
Sigmund suspirou, suas asas bateram no ar e ele voou todo o caminho até a cama do Raishin.
— Seus problemas simplesmente não terminam, hein, Raishin?
— Sim... você também, hum?
Houve um momento de simpatia mútua entre eles quando começaram a rir juntos.
Yaya e Charl pareciam ambas prestes a partir para a violência física. Henri estava se esforçando para segurar a Charl. De qualquer modo, as duas irmãs pareciam vívidas o bastante. Vendo como elas— especialmente a Charl— estavam de bom humor, Raishin sentiu-se aliviado.
Apenas ontem, o Diretor havia convocado todo o corpo estudantil e Charl havia baixado sua cabeça diante de todos.
Ela se desculpou por ter destruído a Torre do Relógio e por ter causado uma grande confusão em torno do Diretor.
Desnecessário dizer que ver a T-Rex se desculpar de forma tão franca causou um impacto considerável sobre os alunos.
O que o Diretor disse na sequência também foi bastante efetivo. Graças a uma determinada fonte desconhecida ter espalhado a história, todos sabiam que a Henri tinha sido sequestrada e que a Charl estava apenas tentando recuperá-la.
Da mesma forma como um delinquente cuidando de pequenos animais faria os outros pensarem “Uau, ele pode ser um cara legal”, a razão por trás das ações da Charl fez com que a inimizade que todo o corpo estudantil estava sentindo por ela, fosse transformada em simpatia e, assim, as hostilidades para com ela diminuíram.
Obviamente, nem tudo havia sido resolvido.
Foi descoberto que o estudante considerado como mentor de todo o incidente, o Presidente do Comitê Executivo, Cedric Granville, estava em prisão domiciliar por todo este tempo.
Em outras palavras, a pessoa contra quem Raishin havia lutado não era o verdadeiro Cedric.
Sendo assim, então quem era? Seria algum participante da Festa Noturna? Se for esse o caso, então qual era o seu objetivo?
No fim, a única coisa de que ele sabia era que não sabia de nada.
No entanto, ficar pensando sobre isso agora era inútil. Ele sentia que devia apenas sentir-se grato pelas irmãs terem saído ilesas daquele calvário.
— Raishin... você está olhando para a Charlotte com esses olhos gentis...
Raishin engoliu em seco. A Yaya tinha alterado seu alvo para ele!
— Embora você nunca tenha olhado para a Yaya desse jeito— Ah! Não me diga que por causa desse incidente o nível de intimidade entre vocês aumentou... Você fez aquilo com a raposa pelas costas da Yaya...?!
— É claro que não! Não confunda as coisas! Charl, diga alguma coisa!
Uma Charl com o rosto completamente vermelho abriu a boca para dizer algo, mas ela subitamente voltou a fechá-la e virou a cabeça para a direção oposta.
Foi um gesto elegante e que era, para todos os efeitos, uma afirmação. Yaya retrucou e começou a fazer um enorme alvoroço mais uma vez.
Naquele momento, a cortina, que tinha estado fechada, foi aberta com violência.
Surpreendida, Yaya ficou em silêncio. Raishin reflexivamente preparou-se para a grande espada que, inevitavelmente, o atacaria.
Em vez disso, Loki lentamente arrastou-se pela abertura.
Ele olhou para Raishin com seus olhos vermelhos. Inesperadamente, porém, ele não disse uma palavra sequer.
Arrastando ligeiramente os pés, ele deixou a Enfermaria. Atrás dele, o autômato de aço, Cherubim, zumbia com seus ruídos metálicos enquanto o seguia para fora.
— ...qual é o problema dele? Eu tinha certeza de que ele iria começar uma briga.
Charl inclinou a cabeça, perplexa. Henri tinha um tom preocupado em sua voz.
— Raishin, você fez alguma coisa com o Loki? Será que você o irritou?
— Eu não fiz nada!
Subitamente, Yaya voou em direção a Raishin.
— Por favor, tire as suas calças, Raishin!
— Ao menos me dê uma razão para fazer isso!
— Hoje é um dia favorável, então...
— E o que isso tem a ver com você tirar minhas calças!?
— É uma continuação de hoje mais cedo! É hora de mostrar isso para as raposas! Mostre a elas o modo caloroso e viscoso como a Yaya e o Raishin passam todas as noites! Mostre a elas que, desde o começo, nunca houve espaço para noivas, Loki ou raposas no nosso mundinho particular...!
Enquanto soluçava, Yaya lançou um olhar intimidador para as irmãs Belew, como se fosse um gatinho ameaçado.
Entretanto, Charl riu de tudo isso, mantendo sua notável compostura.
— Eu não irei mais cair nessa. Eu já enxerguei através da sua atuação e sei que você não irá fazer absolutamente nada.
— Charl... você finalmente entendeu...!?
Raishin estava comovido. Por alguma razão, Charl corou enquanto continuava a falar,
— Bem, quero dizer, você me disse isso naquele momento. Você disse que eu poderia me esconder atrás de você por quanto tempo eu quisesse. Isso significa— em outras palavras— que você vai cuidar de mim... por toda a vida... certo?
Raishin não pôde ouvi-la. Ele inclinou a cabeça, perplexo. No entanto, as intenções do que ela havia dito alcançaram Yaya com clareza.
— Uu... Uwaaaaaaaaaaaaaah!
— Eh!? Yaya!?
Passando velozmente por uma atordoada Henri, Yaya fugiu para o corredor.
— Yaya! Onde você está ind...
Yaya continuou a fugir. Naquele momento, Frey apareceu na porta e foi atropelada por uma Yaya em fuga, o que fez com que ela caísse no chão. Seus seios balançaram vigorosamente com o impacto e suas pernas se abriram, permitindo uma visão clara do que estava entre elas, o que fez com que Raishin ficasse instantaneamente vermelho brilhante.
— Dia após dia e eles continuam interferindo com meus estudos... Estou cansado disso!
Enquanto caminhava por uma trilha no meio do bosque, um Loki irritado reclamou para ninguém em particular.
— Estamos participando da Festa Noturna, não estamos? Na qual o vencedor leva tudo, enquanto os perdedores ficam sem nada, um extremamente duro jogo de soma zero. Eu não me importo se eles querem brincar, mas, no mínimo, eles deveriam deixar isso para depois que a Festa Noturna acabe. Você não concorda com isso, Cherubim?
[Hum... Sim...?]
— ...o que há com essa reação? Não me diga que você pretende dizer que é interessante observar de fora?
[Não. Não... Estou pronto.]
— Hmph. A esse ritmo, pode ser que voltar logo para o dormitório seja mesmo o preferível.
[Sim. Estou pronto.]
Cherubim seguia atrás dele como um cão fiel. Ver sua aparência regular, inalterada como sempre, ajudou Loki a se acalmar um pouco.
Hmph... Por que estou com tanta pressa, de todo modo?
Ele sabia a resposta. Era porque seus ferimentos não estavam se curando como ele esperava— e isso o deixava inquieto.
Se fosse apenas ele, então estaria tudo bem. Ele lidaria com isso de algum modo. Mas agora...
A imagem do rosto sorridente da Frey apareceu dentro de sua mente. Loki estalou a língua, irritado.
Que ridículo...!
Balançando suas muletas violentamente, ele forçou suas pernas, apesar da dor, e rapidamente desceu pelo pequeno caminho em que estava.
Seu objetivo era o Dormitório Raphael para garotos. Ele aceitava apenas estudantes com notas excelentes e cada um dos estudantes aqui tinha seu próprio quarto particular. Ele era mais antigo que o Dormitório Grifo para garotas, mas em termos de serviços, ambos estavam praticamente no mesmo nível.
Ele não queria chamar atenção. Contornando o jardim, ele se dirigiu para a porta dos fundos.
De repente, ele sentiu a presença de uma fraca fonte de energia mágica e parou.
Forçando seus ouvidos, ele conseguiu ouvir uma voz fraca vindo de entre as árvores.
Era fraca a débil. Era uma voz baixa, que soava como o farfalhar das roupas ao vento. Isso tinha que ser...
Uma garota chorando?
Loki hesitou por um momento, antes de seguir em direção a origem da voz.
Ele entrou na floresta. Finalmente, ele pôde ver uma pequena sombra, iluminada pela luz do sol que atravessava a copa das árvores.
Ele se perguntou se este seria um encontro casual com uma fada.
Era uma garota. Parecia que ela tinha acabado de fugir de algum lugar e ela vestia apenas um vestido. Por alguma razão, ela não estava usando sapatos, permitindo que Loki visse seus pés brancos e nus.
Era um rosto que ele não reconhecia. O que quer dizer que ela muito provavelmente não era uma estudante.
Um autômato...?
Ainda assim, mesmo que fosse uma marionete, ela era incrivelmente realista.
Havia cor em sua pele, o sangue fluía através de suas veias. Ela parecia tão delicada que era difícil imaginar a existência de peças mecânicas em algum lugar dentro dela. Sua vivacidade realmente se destacava. Não importa como ele olhasse para ela, as lágrimas que desciam pelo rosto dela tinham que ser reais.
Construir um autômato tão vívido quanto ela não era apenas uma questão de fazê-lo ser parecido com um ser humano.
Se ele não fosse feito corretamente, iria parecer apenas uma fusão profana com um corpo morto, criando uma abominação grotesca, que pareceria um cadáver ambulante.
Mas não havia absolutamente nada de estranho com essa garota. Os autômatos na Academia eram todos de primeira classe, mas este tipo de artesanato era guardado secretamente com punho de ferro— como a Yaya do Raishin e o Esquadrão do Magnus.
Notando a presença de Loki, a garota virou-se, surpresa.
Lágrimas espalharam-se por seu rosto, brilhando sob a luz do sol.
— ... Weiße Kinder.
Ouvindo este termo sair da boca da garota, a área ao redor dos olhos de Loki começou a se contorcer.
Ao mesmo tempo, Yaya estava chorando enquanto caminhava pelo bosque.
— Uu... uu... o Raishin é um idiota! Mesmo que ela saiba como a Yaya se sente...
Lágrimas caíam por seu rosto enquanto ela continuava descendo pelo caminho em que estava.
— Era comovente.
Ela refletiu sobra a beleza de Charl, que era o bastante para iluminar os arredores.
O cabelo dourado dela brilhava. Ela era alta e tinha proporções melhores que as de Yaya.
Yaya se perguntou se a única coisa em que ela tinha vantagem sobre Charl era no tamanho de seus seios.
Mesmo assim, não havia como dizer se os seios de Charl iriam crescer. Afinal, Charl não era uma boneca construída para ter uma forma específica, mas sim uma garota humana viva.
Parecia que uma faca havia sido forçada contra seu peito.
O que ela havia dito para as irmãs Belew agora havia retornado para dar um tapa em seu rosto.
Pensando em toda a conversa de mais cedo sobre a falta de espaço para os outros, uma marionete se intrometer no espaço entre um macho humano e uma fêmea humana seria...
Ela soluçou. Aquele era um pensamento insuportável e ela continuou a chorar ainda mais alto.
— Por que você está chorando?
Ela ficou tão surpresa que suas lágrimas pararam de cair.
Enquanto ainda estava fungando, ela se virou para ver uma estudante parada ali.
Ela tinha um brilhante cabelo prateado, que chegava até a altura de seu peito. Seu sorriso era calmo e gentil e só de olhar para ele Yaya sentiu-se curada, com uma sensação de calor envolvendo-a.
Yaya a reconheceu. Esta garota estava na mesma classe que Raishin em uma das disciplinas obrigatórias.
— Eu acredito que esta seja a primeira vez que nos encontramos. Prazer em conhecê-la, pequena linda boneca. Eu sou...
Com um brilhante sorriso no rosto, a garota colocou a mão sobre seus modestos seios.
— Alice Bernstein.