Volume 4
Capítulo 1: Início das Hostilidades
Parte 1
— Ela está atrasada. Aquela Yaya, o que diabos ela está...
Olhando para as árvores do lado de fora da janela, Raishin estava murmurando para si mesmo.
Atrás dele, as irmãs Belew estavam sentadas com um humor sombrio. A depressão de Charl era particularmente severa. Seu estado lastimável era óbvio à primeira vista.
— Por que você está tão desanimada? Isso não combina com você, Dragonesa.
— A culpa é minha. Eu acabei machucando ela.
— Ah, pare logo de se preocupar com isso. A Frey está procurando por ela enquanto conversamos.
Assim como ele disse, Frey e os autômatos Garm estavam lá fora, a procura de Yaya.
Quando Frey se ofereceu para procurar, ele se sentiu mal em impor isso a ela, mas acabou aceitando a ajuda de qualquer modo. Como Raishin estava proibido de sair do quarto, era útil poder confiar nos tipos Garm em momentos como este.
A porta se abriu e os olhos de todos voltaram-se em sua direção.
A pessoa que entrou não era nem a Frey nem a Yaya, mas sim o Loki.
Ele notou os olhares de todos, mas, sem dizer sequer uma palavra, ele desviou o olhar.
Loki estava distraído. Sua irritação anterior tinha desaparecido completamente.
Será que havia acontecido alguma coisa? Primeiro a Yaya e agora o Loki, era como se o mundo tivesse enlouquecido.
A cadeira rangeu quando Charl levantou-se dela.
— ...Estou voltando. Henri, vamos embora.
— Você está indo procurar a Yaya? Não se preocupe, a essa altura a Frey provavelmente já a encontrou—
— Não é isso. Uma vez que fui eu quem a fez fugir, não seria justo eu ficar aqui sozinha.
— Justo?
— Sigmund. Vamos voltar para o Dormitório.
Com o dragão sobre sua cabeça, Charl deixou a Enfermaria.
Henri começou a segui-la, mas, em seguida, virou-se timidamente para Raishin,
— Raishin, hum... eu acho que você deveria tratar a Yaya um pouco melhor.
Ela subitamente começou.
— De-Desculpe, eu posso ter sido muito presunçosa!
Com isso, ela se virou e correu apressadamente atrás de Charl.
Assistindo-as se afastar, Raishin encostou-se no parapeito da janela, imerso em pensamentos.
Finalmente, mesmo a Henri começou a repreendê-lo.
(...Mesmo que ela diga isso, o que eu deveria fazer?)
Para alguém como o Raishin, que era desinteressado em amor, este era um problema complicado.
Ele sabia dos sentimentos de Yaya e esse era o problema. Como ele deveria tratá-la sabendo disso? Ele não retribuía os sentimentos dela, mas se fosse mais gentil do que costumava ser com ela, ele estaria sendo hipócrita se ela interpretasse mal essas ações.
Além disso, o que Yaya queria que ele fizesse era—
O som de respirações ofegantes o trouxe de volta à realidade.
O farfalhar da grama sendo pisoteada ficou cada vez mais alto, a medida em que uma matilha de cães se aproximava rapidamente.
Os tipos Garm estavam alinhados ordenadamente em fila. Enquanto eles orgulhosamente abanavam a cauda, Frey apareceu atrás deles, com Yaya nas mãos.
— Frey! Yaya!
Raishin saltou pela janela. Ignorando a dor em suas costelas, ele correu em direção a Yaya.
Yaya baixou a cabeça, tentando se reprimir. Os cantos de seus olhos ainda estavam molhados de lágrimas. Sem pensar, Raishin começou a gritar com ela, mas, no último momento, ele parou e, em vez disso, decidiu falar gentilmente com ela.
— Yaya. Eu estava preocupado, sabia?
— ...Eu sinto muito.
— Obrigado, Frey. Você me salvou.
Frey balançou a cabeça de um lado para o outro.
— O Raishin... também me salvou...
— Isso já está no passado — espere, você já está indo? Ao menos deixe-me te oferecer um chá.
— Mas, a Festa Noturna...
— Ah, desculpe. Eu não percebi que já estava assim tão tarde. Eu vou recompensá-la em outro momento.
— Uu... Então... da próxima vez, que tal um encontro...
Frey começou a se remexer de forma suspeita. Ela começou a entrar em pânico enquanto murmurava algo estranho, como um encanto para invocar um demônio, antes de saltar sobre as costas de Rabi.
Este era o sinal para começar sua fuga. Quando Rabi correu para longe, os outros cães seguiram atrás do par.
Surpreso pela súbita explosão dela, Raishin gritou antes que ela desaparecesse de seu campo de visão.
— Boa sorte!
— Eu vou me esforçar—
Ela acenou de volta para ele. Esse gesto fez com que seu centro de gravidade fosse alterado e ela pareceu estar prestes a cair de cima do Rabi.
O Grande Dinamarquês, que estava logo atrás dela, correu para apoiar Frey, empurrando-a novamente para cima do Rabi. Raishin riu enquanto observava Frey e seus cães desaparecerem de vista.
Naquele momento, um sentimento misterioso e inquieto correu por todo o seu corpo.
— ...Raishin? O que houve?
— Não foi nada...
Era a sensação de estar sendo observado. Alguém estava olhando para ele com más intenções.
Olhando para a enfermaria, o olhar afiado de Loki estava focado no lado de fora da janela— em outras palavras, em sua direção também. Parece que Loki também havia sentido algo.
(Será que ele também... sentiu isso?)
Deixando de lado suas modificações, Loki era uma das Crianças da Promessa. Sua afinidade com a energia mágica era naturalmente elevada e sua sensibilidade era duas vezes maior do que a de uma pessoa normal. Ela estava no mesmo nível, isso se não fosse superior, que a sensibilidade do próprio Raishin.
Se ambos tivessem sentido aquilo, então já não era mais coisa de sua imaginação.
Algo parecia suspeito. Um sentimento de inquietação começou a tomar conta dele.
— Volte aqui, Penúltimo! Ou você quer um termômetro enfiado no seu rabo!?
Uma voz dentro da enfermaria subitamente foi ouvida gritando.
Com óculos de aro preto no rosto, o Doutor Cruel estava olhando para eles com uma expressão de cachorro louco no rosto.
Parece que ele tinha vindo para fazer um check-up nos ferimentos dele. Agarrando a mão da Yaya, Raishin correu de volta para a enfermaria.
Parte 2
Alguém com binóculos assistia enquanto Raishin voltava para a Enfermaria.
O proprietário dos binóculos estava dentro da Faculdade de Direito, que ficava bem distante da Faculdade de Medicina. Não importa o quão afiados fossem os sentidos de Raishin ou dos tipo Garm, a esta distância eles não seriam capazes de notar sua presença... ou, ao menos, esta era sua expectativa.
Dentro de uma sala usada para práticas de debates, havia cerca de trinta sombras reunidas.
Eram ao todo catorze estudantes: três garotas e onze garotos.
Os demais eram claramente existências irregulares. Vestidos com armaduras de aço, havia uma veste de pano sobre as mesmas. Uma cruz preta estava gravada no pano e havia uma rosa em relevo sobre a cruz em todas as armaduras. Os elmos como um todo exalavam uma sensação de resistência e solidez. Era um projeto anacrônico, que os fazia parecer com os Cruzados da Idade Média.
O número desses autômatos era igual ao número total de estudantes.
O estudante a cargo da espionagem soltou uma pequena risada.
— Baseado no movimento dos lábios dele, eu tenho uma ideia aproximada do conteúdo da conversa.
Abaixando os binóculos, ele se virou. Ele era pequeno e frágil, com um rosto andrógino.
— Não há nenhuma indicação de que o Penúltimo e o Imperador da Espada receberão alta em breve. Parece que a Rugido Silencioso estará sozinha na Festa Noturna.
Dito isso, ele dirigiu sua pergunta as profundezas da sala.
— Quais são suas ordens, Herr?
Todos na sala direcionaram sua atenção para a figura em questão.
No centro da sala havia uma mesa redonda. No extremo oposto desta mesa, havia uma linda poltrona.
A pessoa sentada na poltrona exalava um ar que fazia com que aquela poltrona parecesse ser uma espécie de trono.
Ele tinha cabelo cor de mel que pendia sobre seus ombros, características bem torneadas e feições esculpidas para combinar com elas. Sua beleza era tal que pareciam que rosas iriam desabrochar a qualquer momento atrás dele, mas, ao mesmo tempo, ele tinha uma presença dura e perigosa ao redor dele.
— ...Que descuido da sua parte, Imperador da Espada.
Uma luz fria brilhou dentro de seus olhos azuis e ele olhou ao redor da sala.
— Esperem até que ela entre no campo e, em seguida, a dominem.
— Está realmente tudo bem, Rosenberg?
— Está? Está mesmo?
Duas estudantes vieram voando de ambos os lados, rindo enquanto falavam.
Ambas tinham o cabelo amarrado lateralmente. Seus rostos eram como duas ervilhas dentro de uma vagem e suas alturas eram completamente iguais. Colocá-las lado a lado resultaria em uma perfeita simetria. Elas só podiam ser gêmeas.
O estudante chamado Rosenberg empurrou as gêmeas para longe, irritado.
— O encarregado será.... Neun — Deixo isso para ti.
— Jawohl, Herr. Suponho que isso faça de mim o chamariz, não é?
Baixando seus binóculos, aquele chamado Nove soltou uma risada afeminada.
— Mesmo com o circuito Fragarach instalado, em última análise os nossos ainda são modelos antigos. Certifique-se de seduzir apropriadamente aquela Hundefräulein.
— ...Deixe isso comigo. Irei trazê-la até o Dreizehn.
Várias pessoas acenaram com a cabeça em reconhecimento.
Rosenberg ergueu o queixo de sobre sua mão, na qual ele vinha descansando, e se levantou.
— Agora, então, vamos nos unir em batalha. Por nossa Fatherland— Ruhm der Kreuzritter!
— Ruhm der Kreuzritter!
Saudando em uníssono, eles repetiram o mantra, que significava ‘Glória aos Cruzados’.
Tudo ali exalava um ar que promovia sua semelhança com os Cavaleiros de outrora.
Entretanto, no meio do grupo disciplinado, houve um indivíduo que não se juntou ao canto.
Era o autômato de pé diretamente atrás de Rosenberg. Em comparação aos demais autômatos, este era substancialmente menor em tamanho. Carregando um escudo tão grande quanto ele mesmo, ele juntou-se a saudação, mas não disse uma palavra sequer.
Ninguém notou esse detalhe.
As expressões nos rostos de cada um dos alunos endureceram enquanto eles corajosamente saíam da sala.
Parte 3
Eram seis e meia. Trinta minutos haviam se passado desde o começo da Festa Noturna.
O sol ainda estava forte no céu ocidental, iluminando a área. Em meio à multidão de estudantes animados, que haviam se reunido para assistirem à Festa Noturna, o brilhante cabelo dourado pertencente a T-Rex, Charl, se destacava.
Com Sigmund descansando sobre sua boina, ela estava andando com arrogância.
Os alunos automaticamente se separaram, para abrir caminho para ela. No entanto, se comparado a antigamente, havia menos hostilidade nos olhares sobre ela.
Embora estivesse se sentindo desconfortável e um pouco envergonhada, ela comprou uma torta de carne e dividiu entre ela e Sigmund.
Comparado há alguns dias atrás, o número de estudantes nas arquibancadas tem aumentado significativamente.
A razão para isso era bastante óbvia. Era tudo graças ao fato de que uma batalha real finalmente iria acontecer depois de algum tempo de ausência.
Havia um Gauntlet já dentro do campo.
Embora ele parecesse ter doze ou treze anos, não havia nenhuma chance de que essa fosse sua idade real. Seu rosto andrógino parecia tão doce quanto o açúcar. Charl sabia quem era ele.
— O 86º Assento, Walter— um aluno do Quarto Ano vindo da Itália.
— Hmph. Você esperaria um número maior de alguém do Quarto Ano.
— Em outras palavras, ele é apenas um peixe pequeno.
— Charl. Na sua perspectiva, todas as noites até que o 50º Assento entre serão apenas preliminares, não é?
— Isso porque o processo de seleção é diferente.
Havia um total de Cem escritos na Festa Noturna. Os resultados nos testes eram utilizados para calcular sua Entrada na mesma.
Um escore padronizado era obtido a partir do cálculo da média em todas as disciplinas. Assim, os alunos do Quarto Ano seriam julgados com base em suas notas durante os últimos quatro anos.
Em comparação, alunos do Primeiro Ano tinham uma facilidade relativamente maior... devido há como os escores eram calculados. Desde que eles obtivessem excelentes notas em seus primeiros testes, seus escores padronizados seriam altos o bastante para classificá-los para a Festa Noturna.
Em outras palavras, as habilidades de batalha não eram levadas em conta.
Desse ponto em diante, porém, dos cem escolhidos, cerca da metade— do 49º Assento em diante, eram classificados de acordo com seu potencial de combate. Obviamente, o Magnus era o número um.
Em última análise, qualquer um que fosse classificado como 50º ou pior carecia de experiência de combate e eram colocados na Festa Noturna apenas como buchas de canhão. Assim, Charl e Loki, que ainda eram estudantes do Segundo Ano, terem sido colocados nos Rounds era realmente um grande feito.
Sendo assim, se você fosse hábil em combates, você não seria classificado abaixo do 50º Assento.
Ou, ao menos, era assim que supostamente deveria ser...
O olhar de Charl caiu sobre o autômato de Walter.
Apenas até ontem, Walter costumava usar um autômato do tipo golem gigante.
Entretanto, a marionete ao lado dele agora— era um tipo de cavaleiro humanoide com armadura completa.
Era uma carta na manga exclusivamente para a Festa Noturna?
Algumas pessoas usavam essa tática. No entanto, alguém ter conservado seu trunfo e, mesmo assim, ter conseguido passar pela seleção, que em si já era bastante rigorosa...
(Esse cara poderia ser, na verdade, ridiculamente forte...?)
Naquele momento, a plateia começou a se remexer com emoção assim que a chegada de um novo desafiante foi anunciada.
———Finalmente, ela havia chegado. Ela tinha escolhido não fugir, mas sim lutar!
Com cinco tipos Garm atrás dela, a estudante de cabelo branco pérola fez seu caminho em direção ao campo.
Com seu físico evidente, ela estava sobre um cão, que era maior do que um lobo, de pelagem preto.
Reconhecendo Frey, Walter sorriu.
— Então você finalmente chegou, Signorina Frey.
Frey desceu de Rabi, correndo para o campo.
— Uu... Rabi, Riviera, Rubi, Revina, Robin. Vamos lá.
Eles latiram em resposta. Sem esperar para receberem qualquer comando, eles se dispersaram.
Havia apenas um inimigo. Não havia nenhuma razão para ela não usar sua superioridade numérica. Os cães corriam ao lado dos pilares de pedra alinhados, começando a cercar o adversário.
Era a tática por trás das consecutivas vitórias da Frey, a formação em cerco.
Seu cabelo branco pérola começou a se arrepiar quando ela enviou uma rajada de energia mágica. Todos os tipos Garm receberam a energia mágica de Frey e, em seguida, começaram a uivar.
Seus sons se transformaram em balas de ar, arrancando o chão a medida em que aceleravam em direção ao autômato inimigo.
Um sorriso surgiu no rosto de Walter enquanto ele colocava a mão sobre o ombro do Cavaleiro.
Instantaneamente, o Cavaleiro escapou por cima. Ele podia voar!
Como se isso fosse uma deixa, várias sombras voaram para o campo.
Havia quatro delas. Voando sem problemas, elas deslizavam pelo ar— eram autômatos!?
Cada uma das sombras tinha um estudante empoleirado sobre seu ombro.
Aparecendo com seus usuários, todos eram Cavaleiros usando armaduras completas.
Eles tinham o mesmo design do autômato de Walter e também as mesmas habilidades!
— Frey! É uma emboscada!
Charl gritou instintivamente, mas os Cavaleiros já tinham começado a se mover.
Permitindo que seus mestres descessem, cada Cavaleiro tinha como alvo um dos autômatos Garm.
Eram cinco de cada. Porém, a diferença era que Frey não seria capaz de reagir a todos de uma só vez!
Ser capaz de controlar múltiplos autômatos ao mesmo tempo — embora essa pudesse ser a força da Frey, era também sua fraqueza. Ter que controlar vários autômatos significava que seu foco tinha que ser dividido. Controlá-los se tornaria uma tarefa difícil.
Por outro lado, seus oponentes poderiam se concentrar totalmente em controlar um único autômato. Além disso, eles tinham usado um ataque surpresa, então a Frey não estava preparada para lidar com todos eles. A situação não era mais vantajosa para ela.
Desesperada, Frey ativou o circuito Sonic mais uma vez.
Cada um dos Garm uivou, disparando outra bala sonora, apontando para cada um dos cinco Cavaleiros.
(Esplendidamente feito!)
Ela tinha os alinhados de modo que os marionetistas ficassem na linha de fogo. Se as marionetes se esquivassem, os marionetistas ficariam gravemente feridos.
Como esperado, nenhum dos Cavaleiros se esquivou. Eles se tornaram literalmente o escudo que protegia seus mestres.
O tiro sônico atingiu. Houve um impacto retumbante devido a tremenda onda de choque e o próprio chão chegou a tremer.
No entanto, os Cavaleiros nem sequer recuaram um pouco.
(Eles conseguiram suportar... aquele ataque?)
Eles mal tinham sido arranhados. Faíscas dos restos de energia mágica usada ainda estavam flutuando no ar. Assim que percebeu que aqueles restos de energia mágica não pertenciam a Frey, os joelhos de Charl começaram a tremer.
Um grande volume de energia mágica tomou conta do campo. Sigmund abriu as asas em resposta.
(Essas coisas... não são normais, afinal!)
O fio que ligava a energia mágica do marionetista ao autômato era extremamente grosso. A onda de energia mágica era esmagadora. Ele era tão poderoso que, por um momento, Charl chegou a pensar que o autômato fosse aquele liberando energia mágica.
...Ou talvez realmente fosse o autômato?
Charl olhou para os marionetistas. Verificando seu banco de dados mental, ela combinava os rostos com o que ela sabia de cada um dos participantes.
— O da Direita é o Ahmad— um aluno do Terceiro Ano vindo da Índia. Então aqueles ali são o Rosso, da Itália, e o Schiller, da França. Os outros dois são do Quarto Ano.
— O país de origem deles é bem diversificado. Mais importante que isso, porém, os autômatos deles são todos do mesmo modelo.
— É isso aí! Como é que eu não percebi isso antes? Isso é extremamente estranho!
Todos eles eram veteranos...
Além disso, cada um deles estava usando um autômato que claramente possuía o design único de uma mesma série de autômatos.
(Como eu pensava, essas pessoas são uma equipe!)
Enquanto Charl estava imersa em seus próprios pensamentos, a batalha havia recomeçado.
Tendo suportado o tiro sônico, os Cavaleiros moveram-se todos ao mesmo tempo.
Eles desapareceram! Não, isso estava errado— eles simplesmente eram rápidos demais!
Seus movimentos ignoravam a inércia. Atingindo sua velocidade máxima sem nenhuma necessidade de aceleração, eles foram em direção a seus respectivos alvos.
Tendo acabado de descarregar sua energia mágica, não havia nada que Frey pudesse fazer.
A disputa acabou em um instante. Os cinco tipos Garm tiveram seus corpos ou pernas cortados e, tomando vantagem de sua subsequente queda, os Cavaleiros os prenderam ao chão.
O Cavaleiro de Walter pisou em Rabi, colocando sua espada no pescoço dele.
— Rabi—! Por favor, pare.
Frey correu sem pensar, mas Walter sorriu enquanto advertia que ela parasse.
A ponta da espada pressionou o pescoço de Rabi, fazendo-o choramingar de dor.
— Honestamente, um ataque frontal também teria sido bom, mas você tem esse poder latente, então isso poderia acabar sendo perigoso.
Walter provavelmente estava se referindo à noite em que Loki e Frey tinham se enfrentado— Rabi tinha ficado maior e passado a agir descontroladamente.
— Minha opinião pessoal é de que os fatores de incerteza devem ser, tanto quanto possível, removidos da equação, portanto nós agora chegamos a essa conclusão. Eu escutei que você considera esses cães como se fossem sua família. Se esses rumores forem verdadeiros, então você certamente valoriza as vidas deles, não é?
Com um sorriso angelical, ele proferiu as palavras de um demônio.
— Seja obediente e entregue sua luva, por favor.
Frey olhou para Rabi e, em seguida, para os demais tipos Garm.
Um silêncio mortal recaiu sobre a plateia.
Depois de exibir tal fúria e poder, a Rugido Silencioso vai desistir assim tão facilmente?
Enquanto todos observavam a situação sem respirar, Frey tirou sua luva e a estendeu em direção a Walter.
Walter sorriu e assim que estendeu a mão para pegar a luva—
Uma sombra negra subitamente surgiu em pleno ar.
Tão afiada quanto um raio, ela voou diretamente para o campo de batalha. Ainda no ar, a sombra dividiu-se em duas, cada uma mirando um Cavaleiro diferente.
Com movimentos perfeitamente sincronizados, os dois Cavaleiros foram mandados para longe.
Antes que a multidão pudesse perguntar o que era aquilo, desta vez algo voou na direção oposta.
Voando em linha reta, aquilo colidiu com outro dos Cavaleiros.
Era uma grande espada! A espada chocou-se contra o Cavaleiro, libertando o Grande Dinamarquês.
A espada transformou-se em uma forma humanoide— e ao mesmo tempo oito pequenas espadas começaram a voar pelo ar. Sendo disparadas em rápida sucessão, como se fossem balas de uma metralhadora, elas atingiram um Cavaleiro diferente, forçando-o a recuar.
Por fim, Frey voltou a si. Canalizando sua energia mágica,
— Rabi!
Com um uivo, ele atirou uma bala sônica, apontada diretamente para o Cavaleiro de Walter.
A reação de Walter foi rápida como um relâmpago. Ele forçou seu autômato para trás, desviando do tiro.
Com isso, Rabi não estava mais preso. Todos os tipos Garm tinham sido libertados.
A plateia começou a se agitar por causa da súbita mudança de eventos. E na direção em que todos os olhares estavam direcionados—
— Olá, 100º Assento aqui.
— Minhas desculpas por estar atrasado, eu sou o 99º Assento.
Raishin, envolto em ataduras, e Loki, mancando em suas muletas.
Mesmo que eles supostamente devessem estar dispensados das batalhas devido a lesões, lá estavam eles, ali de pé e com expressões normais em seus rostos.
Não era curiosidade, nem desprezo e nem admiração, mas um elogio estranho surgiu em meio a plateia.
(Aquele idiota! Ele está sendo imprudente de novo...!)
O sangue subiu à cabeça de Charl. Mas, ao mesmo tempo, ela não podia evitar a sensação de calor que atravessava seu peito.
Ambos estavam feridos. Eles claramente não estavam em condições de lutar. Mesmo assim, eles tinham vindo voando para resgatar Frey daquela situação desesperadora...!
Diante de uma comovida Charl, Raishin e Loki trocaram olhares,
— Não me copie, seu idiota!
— Você que é um copiador, seu Oriental idiota!
Eles começaram a discutir.
— Os feridos deveriam simplesmente voltar para a Enfermaria e dormir! Vá lá para as estudantes da equipe médica ficarem bajulando você!
— Volte você! E você só quer tirar proveito da situação para fazer com que as garotas caiam de amores por você!
— Amores!? Não fique dizendo essas coisas sem sentido, seu idiota supersônico!
— Idiota da velocidade da luz!
— Idiota de altíssima velocidade!
Eles aproximaram os rostos um do outro até que ficarem quase perto o bastante para se tocarem.
No momento em que forçaram seus corpos, porém, uma dor aguda percorreu o corpo de ambos. Raishin agarrou seu peito, enquanto Loki colocou as mãos do lado do corpo e, então, os dois ficaram curvados, gemendo por causa da dor provocada pelo súbito esforço.
— ...O que diabos eles estão fazendo...?
A voz estupefata de Charl ecoou em vão pelo crepúsculo que cobria o campo.
Parte 4
Suas costelas doíam.
O impacto fez com que dolorosas ondas de choque percorressem seu corpo e o pulso dele começou a acelerar. Depois daquele chute, sua clavícula, que havia sido curada, enviou a ele um lembrete de que ainda não estava em suas melhores condições.
Com suor frio escorrendo pelo seu corpo, ele olhou ao redor do campo.
Ao lado dele, Loki também tinha começado a suar frio. Ele parecia não estar muito melhor que o Raishin. Embora suas pernas estivessem em terríveis condições, ele havia saltado do Cherubim em pleno voo. Francamente, ele era um idiota.
Mas— eles tinham chegado a tempo.
A Frey estava segura. Os tipos Garm tinham alguns arranhões, mas ainda estavam bem.
O grupo inimigo não se amontoou, mas também não se afastou. Eles ficaram a vários metros de distância uns dos outros. Presumivelmente, esta era a sua formação. Verdadeiramente aquele era um grupo disciplinado.
Raishin pôde sentir a poderosa energia mágica de antes.
Essas cinco pessoas eram fortes. De forma absurda, dada sua classificação. Além disso, seus autômatos eram de alto nível.
Porém, não havia porque temer. Loki também era alguém cuja força desmentia sua posição e a Yaya era o autômato de alta classe mais forte do mundo.
— Oh cara, uma emboscada? Que furtivo — Eu não escutei nada sobre algo assim acontecendo.
O jovem andrógino — Walter era seu nome — deixou escapar uma risada.
Em contraste a isso, sua expressão encheu-se de cautela. Ele não tentou fazer o primeiro movimento.
Houve um grande impasse enquanto ambos os lados olhavam um para o outro. Seus espíritos entraram em confronto e, finalmente, repelindo o silêncio, Walter gritou para os demais membros, que haviam dado um passo atrás.
— Não hesitem! Nossos adversários estão feridos e nós temos vantagem numérica!
Diante do encorajamento de Walter, os demais membros pareceram ter recuperado sua compostura.
Flutuando no ar com Woosh, eles começaram a mudar de lugar, alterando sua formação.
— ...Ei, Penúltimo.
— Sim.
Raishin assentiu enquanto Loki murmurava. Ele nem mesmo precisou terminar a frase. Ambos reconheceram os movimentos—
Eram iguais aos do mordomo, Shin, contra quem eles haviam lutado antes.
Se ele tivesse que adivinhar, estes autômatos muito provavelmente tinham um circuito mágico similar — se não fosse o mesmo — que o Shin!
Nesse caso... era possível que houvesse um humano dentro de cada uma daquelas armaduras, exatamente como no caso do Shin?
Era um pensamento repulsivo. Eliminando as emoções indesejadas, Raishin sussurrou muito suavemente para Yaya.
— Não se descuide. Essas pessoas estão acostumadas com os combates.
— Certo!
Yaya respondeu a ele. Ela ainda tinha manchas de lágrimas, as quais eram lamentáveis de se ver, mas ao menos sua voz e sua atitude pareciam ter voltado ao normal.
De todo modo, este grupo parecia estar organizado com base em combate grupal.
No momento, havia cinco deles. Entretanto, ele não poderia descartar a chance de que houvessem mais pessoas esperando para emboscá-los.
— Como você quer fazer isso, sua Alteza? Tem cinco deles, mas a unidade de sabotagem tem potencial para até mesmo treze pessoas, sabia?
— Se você está com medo, basta sentar e assistir de longe.
— Quem é que está com medo!?
— Hmph... É por isso que você é chamado de Penúltimo.
— Você está tentando começar uma briga aqui, seu idiota!?
— Você que é idiota, seu idiota unicelular. Mesmo que existam mais pessoas esperando para nos emboscar— tudo o que temos a fazer é negar a eles a oportunidade de nos atacar, enquanto removemos esses daqui.
— E é por isso que você é um idiota multicelular. Nós somos apenas uma equipe improvisada, enquanto eles têm uma formação completa. Não importa como você pense nisso, a vantagem é deles.
— Você é um triste idiota multicelular que se rompeu — Quem você pensa que eu sou?
Atirando para o lado suas muletas, ele esticou sua mão, deixando que energia mágica fluísse para Cherubim.
O circuito mágico Jet foi ativado. Partes das costas de Cherubim começaram a girar e quatro espadas curtas, parecidas com espinhos, foram atiradas. As quatro se separaram e voaram em quatro direções distintas.
Seus alvos eram os quatro cavaleiros nos flancos.
Por um breve momento, os cavaleiros ficaram sem saber se deveriam se defender ou se deveriam fugir.
No fim, eles optaram por desviar. Eles pareciam ter algum receio do poder ofensivo do circuito Jet.
As espadas curtas mudaram de direção instantaneamente, perseguindo-os.
Um jogo de gato e rato começou. Tendo de se concentrar apenas em fugir, os quatro autômatos perderam todas as aberturas para atacar.
Loki tinha selado completamente as quatro unidades. E ele havia feito isso com apenas quatro espadas curtas!
Churubim tinha oito delas no total. Mesmo que o número de inimigos aumentasse, Loki ainda seria capaz de lidar com eles.
(Esse cara é realmente um monstro...!)
Essa energia mágica temível. Raishin estalou a língua ao mesmo tempo em que Cherubim chutava o chão. Usando a propulsão do circuito Jet para voar pelo ar, ele foi direto para o último cavaleiro— o autômato do Walter.
Ele atacou com lâminas nos dois braços e o autômato de Walter usou seu escudo para bloquear o ataque, mas isso foi inútil. O escudo foi cortado com tanta facilidade que ele mais parecia ser feito de algodão.
O autômato evitou o golpe por pouco. Cherubim checou isso por si mesmo e, então, começou a perseguição.
Só assim, Loki tinha facilmente esmagado completamente a formação dos cinco cavaleiros. Neste ponto, Raishin finalmente compreendeu as intenções de Loki.
(Enquanto todos estão focados nele... Entendo. Então é isso.)
De repente, ele percebeu Frey tremendo de ansiedade atrás deles.
Enquanto abraçava os cinco cães, ela olhava para a luta de Loki com uma expressão preocupada.
— Não se preocupe, Frey.
Raishin começou a concentrar energia mágica, enquanto sorria para ela.
— Me deixando de lado — Eu não consigo imaginar como o Loki poderia perder.
— Raishin...
— Yaya. Você está pronta?
Ele checou sua parceira. Os lábios de Yaya estavam pressionados e ela assentiu silenciosamente.
Yaya e Raishin começaram a acumular o poder, esperando pela hora certa.
A batalha acontecia principalmente no centro do campo. Subitamente, um dos autômatos foi jogado para fora. Uma das espadas o havia transpassado, cortando seu elmo e infringindo cada vez mais danos enquanto o jogava para longe.
Agora era a hora!
— Suimei Shijuuhachishou!
Yaya avançou de forma explosiva. Em um instante, ela alcançou o lugar em que o autômato estava, acertando um chute nas costas dele.
Foi um golpe limpo. Uma rachadura visível apareceu na armadura, mas ela não se quebrou.
Foi um choque entre duas forças. Assim como aconteceu com Shin, houve resistência.
Contudo—
— Tenken!
No momento em que ele mudou a natureza da energia mágica, houve um estalo audível, quando a espinha do autômato cavaleiro cedeu.
(——Funcionou!)
Embora seus circuitos mágicos fossem semelhantes ao do Shin e seus marionetistas possuíssem energia mágica equivalente, o seu potencial de batalha estava longe daquele apresentado pelo Shin, exatamente como Raishin suspeitava.
O cavaleiro caiu no chão e um líquido vermelho começou a escorrer de seu elmo. Raishin foi subitamente tomado por uma onda de náusea. Consciente de que uma abertura subitamente surgiu, um cavaleiro moveu-se em direção a Yaya, que estava apoiando Raishin como se fosse uma muleta.
Um grande machado de guerra foi brandido na direção deles. Raishin rapidamente canalizou energia mágica, ordenando que Yaya defendesse.
Seus braços finos suportaram o peso do golpe... mas não havia energia mágica o bastante e sua pele acabou sendo cortada.
Tornou-se uma disputa de força.
O Kongouriki de Yaya era forte, mas parecia que seu adversário também possuía uma estranha força hercúlea.
Fugindo de uma das espadas curtas de Cherubim, um outro autômato veio se aproximando por trás. Parecia que ele estava tentando atacá-la pelas costas.
A esse ritmo, ela acabaria sendo presa em um ataque em pinça!
Em um instante, com um rugido feroz, uma grande espada fendeu o machado de batalha empunhado pelo cavaleiro, cortando-o em dois.
Um grande volume de sangue jorrou. Em meio ao grito do marionetista e do público, uma chuva de sangue caiu sobre a Yaya, tingindo sua pele branca com um tom escuro de vermelho.
— Hmph... Você é muito ingênuo.
Atrás de Raishin, Loki finalmente comentou.
— Se você não tem estômago para a batalha, afaste-se. Você vai apenas ficar no caminho.
Tinham visto através dele depois de apenas um momento de descompostura?
Que embaraçoso. Raishin rangeu os dentes, frustrado.
— Yaya, Suimei Sanjuurokushou!
— Entendido!
Yaya saltou para cima com uma velocidade estonteante. O cavaleiro que se aproximava por trás dela a perdeu de vista e ficou confuso.
Yaya girou no ar, passando por cima da cabeça dele, deixando seu calcanhar cair sobre o autômato. Ele conseguiu apenas interceptar o chute, mas parou de se mover por causa disso.
Um Cherubim transformado avançou para esta abertura, rápido como um vendaval, e atravessou a cintura do autômato.
— ...Hmph. Você ainda pode lutar?
— É como você disse, Loki. Eu era ingênuo. Mas eu não serei assim nunca mais.
Até agora, Raishin tinha matado marionetes.
Não importava o quão humanos os autômatos adversários parecessem, isso não era motivo para ele hesitar.
Nada de bom surgia quando ele hesitava!
Jogando para longe as espadas curtas de Cherubim, dois autômatos vieram avançando na direção deles, brandindo suas espadas. Entretanto, Yaya facilmente bloqueou ambos.
— Yaya! Tenken Sanjuurokushou!
Ele deu um novo comando. Ainda sendo empurrados para trás, as armas dos dois autômatos foram jogadas para fora de seu alcance.
E então, ela acertou um chute com toda a força em seus torsos expostos.
Dois baques maçantes puderam ser ouvidos. Os autômatos cavaleiros foram jogados para longe, um para a esquerda e o outro para a direita.
De um lado, Cherubim estava lá—
Do outro, Yaya estava correndo—
Continuando a pressionar o ataque, eles pegaram os autômatos ainda no ar. A lâmina de Cherubim cortou a cabeça de um com um golpe seco e os pés de Yaya deixaram um buraco no corpo do outro.
— Na-Não hesite! Nós ainda podemos suportar isso!
Walter gritou para o seu próprio cavaleiro. No entanto, sua voz soou falha.
Não era mais uma questão de hesitar ou não.
Agora, essa era uma situação de dois contra um, a batalha efetivamente estava acabada.
Yaya e Cherubim avançaram em direção ao cavaleiro de Walter, prendendo-o em um ataque em pinça.
Walter estava perdido, sem sequer saber de qual desviar.
Em última análise, porém, não importava de qual dos dois ele desviasse, fazer isso ainda seria sem sentido.
O chute de Yaya esmagou a cabeça, enquanto as lâminas de Cherubim cortaram o torso em pedaços.
Com muita facilidade, os cinco cavaleiros tinham caído.
Seus circuitos mágicos continuavam a se ativar por conta própria. Todos estavam em péssimas condições e seus corpos estavam literalmente em pedaços— como se fossem cinzas— espalhados por todos os lados.
Os cinco marionetistas estavam em descrença, olhando para a imagem que se desenrolava diante deles.
Yaya e Cherubim estavam ambos revestidos por uma espessa camada de sangue quando voltaram-se para encará-los.
Embora eles não tivessem a intenção de intimidar os cinco, os marionetistas ainda assim deram um passo para trás.
Claro, fugir estava fora de questão. Se um marionetista tivesse sua marionete destruída no campo de batalha e fugisse, os juízes iriam anunciar isso como uma desistência.
Os ombros deles tremiam de forma mortificante enquanto todos removiam suas luvas e as atiravam a seus pés.
Naquele momento, a vitória era de Raishin e companhia.
— Os 86º, 85º, 84º, 83º e 82º Assentos— desistiram.
Tendo sua derrota anunciada, os cinco deixaram o campo desanimadamente. Vendo-os sair, Raishin deixou escapar um suspiro aliviado.
Mantendo-se em estado de alerta, Yaya veio até ele, preocupada.
— Tudo bem com você, Raishin?
— Sim... agora, então.
Ele olhou para Loki e Frey. Frey estremeceu de surpresa, endurecendo como se tivesse acabado de se lembrar de alguma coisa.
— Vocês dois, como desejam prosseguir a partir de agora?
— Hmph... O que você quer fazer?
— Vejamos. Há uma possibilidade de que ainda tenha pessoas esperando para nos emboscar — Eu não gosto das minhas chances se tivesse que lutar contra vocês dois agora.
— Que coincidência. Eu também não quero lutar enquanto algo estiver me segurando.
Os olhos de Frey se arregalaram quando ela ouviu as palavras de Loki.
Abraçando seus cães, ela olhou para o irmão mais novo com o rosto corado.
— Loki... Quer dizer...?
— ...Fazer um time com você é a coisa mais vantajosa a se fazer nesta Festa Noturna.
Algo o segurando e a coisa mais vantajosa eram contraditórias, mas Loki ou não notou ou não se importou com isso quando falou com sua irmã mais velha.
Ao ouvir sua declaração, a plateia começou a cochichar entre si.
— Você ouviu isso!?
— O Imperador da Espada vai formar um time com a Frey!
— Uma combinação de irmãos!?
O Imperador da Espada sozinho já era perigoso, mas se os cinco tipos Garm estivessem atrás dele como suporte, poderia se dizer que eles seriam tão fortes quanto um exército. Se ele não fosse cuidadoso, então eles seriam tão perigosos quanto o Marechal.
Com um arrepio percorrendo sua espinha, Raishin riu e se retirou.
Loki e Frey fizeram o mesmo em seguida. Ambos se retiraram para uma entrada oposta no campo.
Olhando uns para os outros, eles esperaram até que uma hora se passasse.
Tendo cumprido as obrigações referentes ao tempo, esta noite da Festa Noturna havia acabado ainda antes das oito horas.
Primeiro, Loki e Frey deixaram o campo.
Depois de reconhecer que eles haviam mesmo saído, Raishin também se retirou, apoiado em Yaya.
Após confirmar que as três pessoas haviam deixado o campo de batalha, o Comitê Executivo anunciou o fim das atividades naquele dia.
Sem se virar para reconhecer uns aos outros, Loki e Raishin evitaram a Galeria, dirigindo-se para seus respectivos dormitórios.
Depois de tropeçar por vinte passos, Raishin caiu para frente, caindo com o rosto virado para baixo.
Junto com o fato de que a maior parte dessa luta tenha sido um blefe— ele realmente não tinha nenhuma condição de lutar.
Parte 5
Fracamente abrindo os olhos, ele percebeu que estava dentro de um quarto que cheirava a remédios.
— Raishin! Você está acordado!?
O rosto de Yaya surgiu voando em seu campo de visão. Seus olhos negros estavam cheios de lágrimas e grandes gotas caíam por seu rosto.
— Estou tão feliz... Raishin...!
— ...Sinto muito. Eu fiz você se preocupar novamente.
Ele olhou em volta. As paredes e o teto eram familiares. Como ele pensava, ou melhor, tinha certeza, ele estava dentro da Enfermaria localizada no primeiro andar da Faculdade de Medicina, ao lado do consultório médico.
Ele vasculhou suas memórias nebulosas. Se ele se lembrava corretamente, após a batalha—
É verdade, ela tinha desmaiado.
Ele tinha sobrecarregado seu corpo já gravemente ferido. Incapaz de suportar a carga de ter canalizado energia mágica, ele acabou desmaiando.
Ele riu ironicamente. Mesmo se ele próprio dissesse isso, era como se ele não tivesse aprendido nada.
Seu peito doía, já que suas feridas haviam sido reabertas. Olhando para baixo, ele viu ataduras recentes ao redor dele, o que significava que Cruel provavelmente havia cuidado dele.
Ao lado dele, Loki dormia silenciosamente. Frey estava esparramada ao lado dele, com seu cabelo branco pérola caído sobre a cama.
Gotas frias subitamente tocaram seu rosto, fazendo com que Raishin se virasse.
— Eu sinto muito... Raishin... Mesmo que... mesmo que a Yaya estivesse com você...!
Suas sobrancelhas torceram-se quando ela cobriu o rosto e chorou. Raishin ficou chocado.
— Não chore. Você não fez nada de errado. Isso foi porque eu tentei ser legal e dar aquele chute voador antes. A culpa não é sua.
— Não... É por causa da Yaya...
Yaya estava sendo mais obstinada do que o habitual. Ela fungou, tossiu e soluçou.
— ...Você está se comportando de um jeito um pouco estranho. Aconteceu alguma coisa?
— Nada... Nada aconteceu...!
— Não há nenhuma maneira de não ter acontecido nada. Não com essa cara que você está fazendo.
Ele estendeu a mão para ela sem pensar. Assim que ele tocou o ombro dela, Yaya estremeceu de surpresa e se afastou dele.
— Ah... Eu si-sinto muito.
Yaya parecia surpresa consigo mesma. Raishin também ficou surpreso. Normalmente, a Yaya iria usar essa chance para se aproximar, mas dessa vez ela estremeceu ao seu toque.
Raishin fingiu não ter percebido isso.
— Você me trouxe aqui? Que horas são?
— Ah... Eu não tenho certeza... Eu vo-vou verificar as horas.
Yaya levantou-se e silenciosamente, para não acordar a Frey, caminhou para fora da Enfermaria.
Seus passos pareciam ficar mais pesados e mais firmes enquanto ela caminhava— ou era apenas a imaginação dele?
Parando no batente da porta, ela se virou para encarar o Raishin.
Sua beleza fez com que ele prendesse a respiração momentaneamente.
A figura dela era como a de uma flor efêmera de um modesto narciso.
Yaya baixou os olhos, dando a ele um sorriso solitário.
— Adeus, Raishin.
— Hã—?
No instante seguinte, houve uma mudança completa e ela sorriu brilhantemente como sempre fazia.
— Eu vou estar de volta assim que verificar as horas!
— Ah... sim, tudo bem.
Ela saiu correndo e o som de seus passos lentamente desapareceu enquanto ela se distanciava.
Vendo sua figura de costas, ela parecia a mesma de sempre.
Naquela noite, exatamente assim, Yaya não retornou.