Volume 2
Capítulo 2: Um olhar sobre o segredo
Parte 1
Os adultos estavam sempre falando sobre seu irmão.
— Deus, a habilidade do Tenzen é notável.
— É como se ele tivesse uma força divina, um verdadeiro prodígio.
— Uma arma como essa só é vista a cada cem anos.
— Certamente, o nome Akabane irá se espalhar por toda a Terra.
E como sempre, aquela conversa tomou a mesma direção de sempre.
— Por outro lado, Raishin...
— Ele já tem doze anos, mas ainda não mostra nenhum interesse em marionetismo.
— Eu ouvi que, na melhor das hipóteses, seu talento é medíocre, mas ele não tem desejo, então nada virá dele.
Os olhares na direção do garoto eram frios. Eles eram cheios de descontentamento, desprezo e até mesmo um pouco de pena.
Aqueles adultos deviam achá-lo repulsivo em algum lugar de seus corações.
Sentimentos de inutilidade. A falta de orgulho. Aspirando a ser igual ao irmão mais velho absolutamente talentoso. E também, a inveja. Essas emoções surgiram dentro do garoto, que correu para fora do salão de prática.
O pai era rígido, mas era um homem que conhecia a importância de se esperar. Ele iria esperar no salão de prática pelo filho, que estava completamente desmotivado.
Entretanto, haviam limites para sua paciência.
Visitas frequentes ao dojo da cidade, ocasionalmente ficando até tarde ou mesmo não retornando para casa—isso continuou por três anos, até que um dia, quando as Íris Orelha de Coelho estavam florescendo, sua quota de paciência finalmente acabou.
— Mostre-me a força das artes marciais que você tem aprendido por todos esses anos.
Convocado para o salão de prática, o pai convocou três marionetes e o garoto foi chutado, espancado e atirado sobre o hall. A dolorosa provação continuou por cerca de uma hora. Quando ela terminou, o garoto não conseguia mover nem as mãos e nem as pernas.
As artes marciais que ele havia usado para fortalecer seu corpo eram inúteis diante das marionetes do pai.
Ele pensou que se pudesse derrotá-lo completamente, os sentimentos do filho quanto ao marionetismo mudariam. Entretanto, o filho não era do tipo que iria apenas aceitar aquilo silenciosamente.
Com seu pequeno corpo coberto de ferimentos, ele gritou com veemência para o pai.
— Pai. Vou dizer isso claramente. Eu nunca irei ser um marionetista nesta vida!
Sem se abalar pela declaração, o pai olhou em silêncio para o garoto.
Seu olhar era mais duro do que o Monte Fuji no inverno. Com o poder dos olhos, com o qual podia controlar várias marionetes, ele olhou ferozmente para o garoto e disse em um tom seriamente mórbido:
— Esta é uma casa de marionetistas. Aqueles que não ingressarem no marionetismo, não pertencem a este lugar.
— ... Obrigado por sua orientação.
Seu ultimato fora recebido com uma declaração igualmente provocativa. Com suas mãos e joelhos no chão, o garoto fez uma reverência para o pai e deixou o salão de prática. Ele retornou ao seu quarto e começou a empacotar seus pertences. Envolvendo algumas roupas sobressalentes e seu futon em uma trouxa— subitamente ele se deu conta de que sua mãe estava parada a porta, com um olhar de preocupação no rosto.
— Você está falando sério sobre ir embora? Para onde você vai?
— Não se preocupe. O instrutor já havia me dito “Venha para o dojo!’, então eu ficarei bem.
— Tão teimoso. Tal pai, tal filho.
Ela deixou escapar uma pequena risada. Sorrindo como uma mãe que cedeu a um filho mimado, ela não disse mais nada, mas o ajudou a fazer as malas.
E então, acompanhando-o até a entrada principal, ela, de repente, mencionou algo:
— Seu pai pediu que eu dissesse isso a você: “Não pegue um resfriado fora daqui”.
Por um instante, ele sentiu algo quente e suas lágrimas, inconscientemente, vieram à tona.
Mesmo que ele tivesse sentido antipatia por aquele lugar e não tivesse nada além de memórias tristes, ele havia vivido ali por doze anos. Abandonar sua família e ir embora era algo doloroso de se fazer.
Entretanto, ficar fungando e chorando agora seria irritante e isso não combinava com ele. Apressadamente acenando um adeus para a mãe, ele fingiu uma atitude despreocupada quando deixou a casa sem olhar para trás.
Quando ele atravessou o portão, no momento em que ele dava seus primeiros passos, alguém veio, ansiosamente, correndo atrás dele.
— Onii-san! Espere!
Parecia que ela havia fugido no meio da lição. Sem fôlego ao alcançá-lo, a pessoa vestida de preto era ninguém menos que sua irmã mais nova.
Seus olhos eram profundamente negros e, diferente dos irmãos mais velhos, eles eram redondos e transmitiam gentileza. Os olhos de sua irmã estavam úmidos naquele momento e sua voz tinha um certo tom de súplica.
— Onii-san... Você realmente vai sair de casa?
— Eu sou do tipo que come espadas e golpes de jiu-jitsu no café da manhã. Combina mais com meu estômago, entende.
Ele era ruim com humor negro, então tentou colocar as coisas com uma atitude frívola.
— Um cão não pode esperar voar pelo céu. Entretanto, você é diferente. Ao contrário de mim, você possui a habilidade de voar alto pelos céus.
— Isso não é verdade! Tenho certeza que até mesmo você—
— Torne-se uma boa marionetista. Uma que possa superar nosso irmão Tenzen.
Seja lá o que sua irmã estava prestes a dizer, ela parou.
Ela sabia o quanto sua decisão era inabalável e o quanto ele era teimoso.
Seus olhos tremiam e seus ombros chacoalhavam, como se ela estivesse tentando suportar alguma coisa.
E então, incapaz de se segurar por mais tempo, ela agarrou as costas de seu irmão.
Aquela sensação parecia tão real que Raishin acordou surpreso.
Parte 2
No momento em que algo tocou suas costas, seu corpo se moveu como um relógio.
Ele ainda estava meio sonolento, mas seu corpo se moveu por reflexo para prender o intruso.
Prendendo-o com uma chave de braço, ele empurrou o intruso contra sua cama. Não importasse o quão forte fosse o oponente, ele não seria capaz de se mover com facilidade. Se as coisas piorassem, ele poderia facilmente deslocar o ombro do invasor.
O braço era magro. A pele na qual ele estava tocando não parecia a de um homem. Ele podia sentir um leve e agradável aroma no ar. A escuridão tornava impossível ver quem era, mas parecia se tratar de uma garota.
— Droga, Yaya! Quantas vezes eu tenho que te dizer para não se esgueirar para minha cama?
— Raishin!? Um ataque noturno?! É a raposa!?
Em resposta a voz de Raishin, Yaya veio voando... da outra cama.
— ... Hum?
Então, quem era a garota que Raishin havia imobilizado e que se debatia devido à dor?
— Espere apenas um momento, Raishin! Eu irei trazer uma luz agora!
— Espere, Yaya. Não traga a luz aqui—
Antes que ele pudesse terminar, a lamparina havia sido acessa.
A luz avermelhada do fogo na lamparina revelou duas coisas.
Em lágrimas devido à dor de ser imobilizada, havia uma garota de cabelos aperolados.
Andando para lá e para cá, nervoso, havia um cão-lobo de pelo preto.
Yaya deixou a lamparina cair de suas mãos. Uma pequena brasa caiu na ponta da cama, chamuscando-a um pouco, mas ninguém disse sequer uma palavra.
Quebrando o silêncio pesado, Yaya falou primeiro.
— Qual o significado disso, Raishin...? Você não deixa Yaya ficar na sua cama... mas você a divide com outras mulheres... e até mesmo fica por cima delas desse jeito...!
— Espereespereespere! Como você pode pular direto para esse tipo de conclusão?!
O cabelo preto de Yaya se contorcia. Seus olhos estavam arregalados. A luz vinda da lamparina no chão iluminava seu bonito rosto, fazendo com que ela parecesse um espírito vingativo. Era uma visão assustadora.
— Acalme-se! Isso é apenas outra tentativa de assassinato. Tente se lembrar. Até mesmo você tentou se esgueirar para minha cama para me matar das primeiras vezes - hum?
Algo duro estava sendo pressionado contra seu joelho. Avistando ‘algo’ na cintura dela, Rashin sentiu-se violentamente aliviado. Pegando aquilo, ele a levantou para que Yaya visse.
— Veja, Yaya! Essa garota estava carregando uma faca com ela. É uma tentativa de assassinato no fim das contas! É por isso que ela se esgueirou até aqui!
— Uu... Essa faca...
Meio em lágrimas, mas com uma voz forte, Frey começou a dizer algo—algo desnecessário.
— Se você rejeitasse minha confissão... Eu ia cortar minha garganta com ela...
— Não minta! Mesmo que seja uma piada, isso está indo muito longe!
Grandes gotas de lágrimas começaram a cair quando Yaya começou a fungar.
— Es... espere um minuto, ok? Isso é uma armadilha digna de Zhuge Liang¹... ok?
Um momento depois, um estridente choro de angústia ecoou profundamente pelo dormitório Tartaruga na escuridão da madrugada.
— Cala a boca, Raishin! Que horas você pensa que é?!
Apenas alguns poucos minutos se passaram antes de um homem com um chapéu noturno viesse voando.
Com sua consciência desmoronando, Raishin ficou extremamente feliz com a rápida chegada do Chefe do Dormitório.
Parte 3
—então, por favor, diga isso a Shouko.
A manhã seguinte. No primeiro andar do dormitório Tartaruga, no lobby.
Faltava apenas meio dia até o início da Festa Noturna e a escola estava agitada. Bem no meio disso tudo, com um olhar rabugento no rosto, Raishin estava ao telefone. Seu rosto e seus braços estavam cheios de hematomas frescos. Ele estava sofrendo com todos os machucados em seu corpo.
— Eu gostaria de uma investigação sobre o passado da Frey. Eu realmente preferia fazer isso sozinho, mas minhas mãos estão ocupadas lidando com os ataques dela.
Do outro lado da linha, Irori engasgou.
— Então, o inimigo tem bombardeado você com várias artes mágicas?
— Não, os ataques não são de natureza mágica. E ainda assim, eu quase morri na noite passada.
— Ela fez isso ao Raishin sem usar artes mágicas!? A oponente é realmente tão poderosa assim?!
— Não, bem, não exatamente, mas acho que você pode dizer isso.
— Entre nós irmãs, Yaya é a mais indicada para missões de guarda-costas e de escolta. Para o Kougouriki de Yaya ser inefetivo, a oponente deve ser uma guerreira temível. Eu entendo. Irei comunicar a Mestre imediatamente.
— Ah, ei, espere. Acho que você ficou com a ideia errada—ah.
A ligação havia sido cortada. Irori havia desligado depressa. Ela provavelmente havia entendido mal alguma coisa... mas estava tudo bem. Não era como se ele tivesse mentido quando disse que sentiu que estava em perigo.
Levar o fone de volta ao lugar causou nele uma grande dor. A pessoa que havia causado isso, sem dúvidas ainda estaria no quarto, com o café da
manhã intocado, chorando incontrolavelmente. Ela estava seriamente deprimida.
(E ainda... isso era estranho.)
Colocando o fone no lugar, Raishin pensou consigo mesmo.
Ele não queria se gabar, mas os cinco sentidos de Raishin eram mais desenvolvidos do que os da maioria das pessoas. Era comparável aos de um soldado que havia passado por diversas missões. Mesmo quando ele estava dormindo, o menor dos ruídos iria acordá-lo.
O quarto de Raishin era bastante velho. Soltar a trava enferrujada, abrir a porta que chiava e esgueirar-se até sua cama sem acordá-lo não era algo que uma pessoa comum fosse capaz de fazer.
Além disso, Frey era uma pessoa muito lenta. Ele não conseguia imaginá-la tentando um golpe tão arriscado.
Se ela era capaz de fazer esse tipo de coisa—
(... Uma arte mágica?)
Uma arte mágica que pudesse esconder a presença de uma pessoa. Artes mágicas capazes de aumentar a discrição eram desenvolvidas desde a Renascença. Obviamente, não eram limitadas somente a isso. Como na vez com Loki, Rabi havia disparado ‘algo’ que destruiu o pavimento.
— Início da manhã e você já está com uma cara tão emburrada.
Eu não quero ouvir isso de você, pensou Raishin enquanto se virava.
De pé na entrada do lobby, com um olhar mal-humorado no rosto, estava Charl.
A luz do sol incidia sobre seu lindo cabelo dourado, fazendo-a brilhar. Olhando como se estivesse prestes a ir para o culto de Domingo, ela vestia o uniforme da escola, como sempre. Sigmund estava descansando sobre sua boina.
Com as mãos nos quadris, ela virou o peito, arrogantemente, na direção dele.
— Eu me lembrei de um famoso boato sobre a Frey, então eu vim até aqui para contar a você. Agradeça-me e me reverencie enquanto escuta o que tenho a dizer.
— Escute-a, Raishin. Ela saiu perguntando pelos dormitórios femininos algumas vezes.
— Ca-Ca-Calado, Sigmund! Ou eu vou alimentá-lo com ervas daninhas a partir de agora!
— Desculpe por fazê-la passar por todos esses problemas. Por favor, diga-me.
As bochechas de Charl ficaram levemente vermelhas e cobrindo seu embaraço com uma leve tosse, ela continuou.
— Você sabe algo sobre a D-Works?
— ... D?
— Estou surpresa. Como você pode ser um marionetista na Academia e não saber disso?
Ela suspirou. Parecia que, de algum modo, ela ficar surpresa estava se tornando rotineiro.
— Ela é uma oficina de Maquinagem em ascendência e que vem ganhando notoriedade nos últimos dez anos. Eles também se envolvem no desenvolvimento de circuitos mágicos e, a cerca de cinco anos atrás, eles patentearam o circuito mágico Sonic. Eles são uma das empresas nomeadas para um contrato de fornecimento de tecnologia de última geração para o Exército Britânico.
— Parece uma oficina próspera. Então, o que têm eles?
— Eles são os patrocinadores da Frey. Bem, da Frey e do Loki.
Patrocinadores. Em outras palavras, eram eles quem pagava suas enormes taxas escolares.
— Falando nisso, poderia ser que aqueles autômatos que eles possuem—
— Provavelmente são novos modelos desenvolvidos pela D-Works. Possivelmente, são até mesmo protótipos.
— Protótipos? Eles pretendem testar seus protótipos na própria Festa Noturna?
Em uma batalha na qual eles não podiam se dar ao luxo de perder, eles iriam usar protótipos não-confiáveis?
— Vamos lá. Não tem a menor chance de eles arriscarem seus autômatos em uma aposta tão arriscada.
— É o inverso. A Festa Noturna é uma luta extremamente dura pela sobrevivência. É um jogo de soma zero, no qual só pode haver um vencedor. Mesmo que você faça isso de modo normal, não será fácil se tornar o Wiseman. Embora possa ser uma aposta arriscada, ter uma nova tecnologia pode ser uma vantagem. Além disso, Charl olhou para cima, na direção de Sigmund,
—A Festa Noturna é como uma feira mundial de Maquinagem. É um lugar onde o velho, o novo e as máquinas de qualidade superior se reúnem. Os circuitos mágicos que tornarem-se populares aqui, certamente irão se espalhar pelo mundo todo.
— ... Entendo. É um perfeito campo de testes.
Eles seriam capazes de testá-los sem precisar ir para a guerra. Enquanto a recuperação do corpo fosse garantida e eles pudessem reunir dados, perder o trono de Wiseman não seria grande coisa.
E melhor que isso, se eles quisessem vender seu produto para o exército—
Não havia um lugar melhor para demonstrá-lo.
— Se for esse o caso, então obviamente eu sou peça chave no trabalho deles...
Uma derrota no primeiro round significaria que nenhum teste poderia ser feito. Seria a pior demonstração possível.
Se Raishin estivesse fora da equação, então as chances de encontrarem um adversário forte no começo seriam reduzidas. Usando as análises do resultado das batalhas, ajustes poderiam ser feitos e pesquisas sobre como adequá-los as necessidades do exército poderiam progredir, reforçando sua posição.
Entretanto — era realmente por essa razão que Frey armara aqueles esquemas para ‘assassiná-lo’?
Charl estava franzindo a testa em silêncio e virou-se, com uma expressão dura no rosto.
— O quê? O que há de errado agora?
— Nada, sério. É só que... bem, eu escutei alguns rumores desagradáveis.
— Rumores? Sobre a D-Works?
— Ouvi dizer que eles subornam pessoas importantes e forçam para conseguirem permissões e que eles fazem pesquisas ilegais. E que o lobista deles é, supostamente, um conquistador que vai atrás de todas as mulheres.
Charl voltou a si com um sobressalto.
— Isso é algo que eu li na ‘Bingo’, uma revista de fofocas de alguns alunos do Terceiro Ano. Eles escrevem esses tipos de coisas estúpidas.
— Aliás, é a favorita da Charl.
— Ca-Ca-Calado, Sigmund! Eu sou Charlotte da nobre família Belew! Sem chance que eu leria revistas tão desprezíveis como aquela!
A filha de uma família nobre não deveria ficar lendo revistas de fofoca, pensou Raishin, mas ele não disse isso em voz alta.
— De todo modo, você entende agora, certo? As ‘circunstâncias’ por trás das ações que Frey tem tomado ultimamente, são pelo bem da D-Works. Para testar seu novo modelo e almejar a posição de Wiseman, eles querem eliminá-lo para que, então, eles possam vencer a Festa Noturna.
— Parece que é assim.
— Não precisa se segurar. Esta noite, aniquile-a completamente.
— ... Agora que você mencionou isso, hoje à noite. Minha grande estreia.
Entre seus relatórios e as tentativas de evitar os ataques, ele havia esquecido completamente disso. A Festa Noturna, pela qual ele esperou por tanto tempo, iria, finalmente, começar naquela noite.
Charl piscou e a expressão em seu rosto era problemática.
— Você não deveria estar um pouco mais nervoso? Você realmente é uma pessoa estúpida... Você tem certeza que vai ficar bem desse jeito?
— Não se preocupe. O que quer que aconteça, aconteceu.
— Não seja tão convencido. Ninguém iria se preocupar com um pervertido como você.
Virando-se, ela deu meia volta na direção da entrada do lobby. Correndo atrás dela, Raishin caminhou com ela até o jardim em frente ao dormitório.
— Obrigado. Isso foi de grande ajuda.
Virando-se de costas, Charl murmurou com a voz baixa.
— O amuleto.
— Hm?
— Não se esqueça do amuleto de defesa que eu dei a você. E do lenço também.
Tendo dito isso, ela rapidamente se afastou. Sigmund acenou um adeus para Raishin com sua cauda.
— O que ela é, minha mãe?
Raishin riu ironicamente. Procurando em sua camisa, ele tirou um pingente de prata.
Runas foram gravadas no pingente e, sob a luz do sol, ele brilhava com uma misteriosa luz. Além de ser um símbolo dos sentimentos de Charl, ele parecia ter algum poder também.
De repente, o pingente estava preenchido por uma luz branco-azulada... ou era assim que ele se sentia.
Passando os dedos pelo amuleto, ele podia sentir a vibração entre os dedos. Sua testa vibrou com a dor e uma premonição desagradável percorreu todo o seu corpo.
Mais por instinto do que pela razão, Raishin percebeu que algum tipo de perigo se aproximava.
E então, a realidade não traiu sua premonição.
Rasgando o chão, espalhando pedaços de solo por todos os lados, ‘algo’ como um canhão passou voando por ele.
Parte 4
Na sacada do auditório central, várias mesas elegantes foram postas.
Os alunos vinham usá-las para descansar. Normalmente, estaria lotado com estudantes, mas uma vez que era Domingo à tarde, havia apenas algumas poucas pessoas ao redor.
Em uma das mesas, sentada em uma cadeira que dava a ela uma visão clara do dormitório Tartaruga, estava uma mulher.
Ela vestia um quimono peculiar, com um grande decote, enfatizando seu amplo busto. Embora usasse pouca maquiagem, ela ainda transmitia alguma sensualidade. Embalando o tabaco em um tubo, ela parecia muito com a cena de um retrato. Os movimentos de suas mãos eram graciosos, sem nenhum esforço desperdiçado, o que era bonito.
Era a mulher chamada Shouko.
Uma artesã de marionetes vangloriada no Japão, a artesã inigualável da arte Karyuusai.
Sua aparência, assim como o tapa-olho, o qual pouco fazia para esconder seu belo rosto se destacava como um polegar inchado... ou era isso que deveria acontecer, mas os estudantes passavam sem nem mesmo olharem para ela. Eles nem mesmo pareciam notar sua presença. Inacreditavelmente, parecia que eles eram completamente incapazes de vê-la.
Shouko inalou, expulsou a fumaça e limpou as cinzas. Olhando com satisfação, ela facilmente voltou seus olhos para baixo, sem reabastecer seu cachimbo.
A Academia estava cheia de vida. A praça, que viria a ser o palco da Festa Noturna, já estava concluída e a cortina cerimonial e a tenda que abrigava os juízes já estavam no local. Os estudantes estavam inquietos, como se estivessem se preparando para um festival.
Deslizando seus olhos para o lado, ela olhou para o exterior velho do dormitório Tartaruga. Na frente dele, havia árvores alinhadas como se formassem um túnel que conduzia ao edifício. Sem manutenção, no centro daquela densa folhagem havia uma coloração branca que se destacava em meio ao verde. Os olhos de Shouko focaram-se naquele ponto.
O branco pertencia ao cabelo de uma garota.
Com um cabelo aperolado, uma estranha estudante estava parada em meio às árvores.
Com ambas as mãos erguidas, ela estava concentrando sua energia mágica. Como se ela estivesse praticando artes mágicas básicas, ela estava profundamente concentrada. Ela parecia estar praticando sozinha em um lugar em que ninguém pudesse vê-la.
Resumidamente, Shouko olhou para a garota.
Notando algo, ela pegou seu tapa-olho.
Ao girar o disco, o obturador abria e fechava entre as três lentes instaladas nele. Escolhendo a lente vermelha, Shouko observou a garota.
Ela parecia ter visto algo. Shouko estava perdida em pensamentos, antes de deixar escapar um suspiro.
— ... Então é assim que é. Pobre criança.
Ela olhou para a garota com pena em seus olhos.
Naquele momento, uma dama alta estava passando próxima a ela.
Ela tinha cabelo ruivo penteado para cima e estava vestindo um jaleco branco sobre seu traje de educadora.
Era a professora titular de Raishin, Kimberly. Seus olhos azuis viraram-se na direção de Shouko.
Por um instante, sua linha de visão cruzou com algo que não deveria ter sido visto.
Sem parar, ela caminhou como se nada tivesse acontecido.
Tendo dado alguns passos adiante.
— Heh.
Ela tinha um pequeno sorriso no rosto.
Shouko também sorriu por um momento, antes de voltar seu olhar para o túnel de árvores.
Neste instante, diante dos olhos de Shouko, uma grande quantidade de energia mágica havia sido concentrada.
Parte 5
Raishin era incapaz de entender a natureza da coisa que voava em sua direção.
O ar estava sendo distorcido e ondulava. Se ele tivesse que por isso em palavras, era como uma lâmina sem forma física. A lâmina invisível tinha várias camadas sobrepostas e, rodopiando, ela arrancava o pavimento enquanto ia diretamente em sua direção!
Aquela ‘coisa’ invisível estava cortando o solo e o cascalho com cerca de um metro de diâmetro. Se ele fosse atingido por aquilo, ele iria acabar virando picadinho.
Raishin já estava movendo seu corpo. Ele saltou para longe como um gafanhoto.
Levando seu corpo para longe, ele saltou um pouco mais para compensar uma possível falta de percepção, mas o campo de efeito da arte mágica era maior do que ele previra.
Olhando para o seu braço esquerdo, a manga de seu uniforme havia sido cortada.
Foi uma sensação sem graça. Não havia nenhuma dor. Mesmo assim, incapaz de usar o braço esquerdo, ele caiu para o lado direito. Lançando-se, ele assumiu uma postura cautelosa.
Ele sabia quem havia feito isso. Recentemente, ele havia visto esta arte mágica de perto.
Ela estava deixando de lado sua fachada lenta e mostrando quem realmente era? Se fosse isso, então ele estava em apuros. Ele não tinha certeza se conseguiria segurá-la até que Yaya viesse...
— Não! Rabi, pare!
A intenção do atacante de matar Raishin era... provavelmente inexistente.
Frey segurava Rabi firmemente, tentando com todas as suas forças mantê-la sob controle.
Energia mágica emanava de todos os cantos de seu corpo. Entretanto, não parecia que ela estivesse fazendo isso voluntariamente. Em um estado de pânico, Frey agarrava-se firmemente ao pescoço de Rabi.
Obviamente, algo estava errado com Rabi.
A primeira coisa era que seus olhos estavam diferentes. Normalmente redondos e fofos, agora eles tinham a ferocidade de um animal selvagem. Suas presas estavam à mostra e saliva escorria de sua mandíbula. Ele estava olhando para Raishin como uma besta selvagem que acabara de farejar o cheiro de sangue.
Ele estava com algum tipo de problema? Era um defeito na parte mecânica?
— Ei, saia daí!
Ele violentamente puxou Frey, que ainda estava parada, olhando para trás por cima de seu ombro, para fora do caminho. Rabi saltou sobre Raishin, mirando seu pescoço, mas Raishin caiu de costas e segurou Rabi, levando seus pés contra o abdômen do cão, para adicionar algum efeito.
Agachando-se, ele tateou o cinto em sua cintura. Pegou um recipiente cilíndrico e, com uma mão, puxou o pino de segurança. No momento em que Rabi se recuperou e virou seu focinho para Raishin, ele atirou o objeto.
Houve um grande estrondo. Uma força explosiva, assim como uma forte luz, foi liberada, obscurecendo qualquer campo de visão.
Os olhos de Frey giraram e ela caiu no chão. Rabi deu dois, três passos antes de também cair.
Afastando a fumaça, Raishin levantou-se devagar.
Ele acordou Frey, dando-lhe tapinhas no rosto.
— Ei, saia dessa. Você está bem?
— Uu... Uu?
Sua visão lentamente foi retomando o foco. Assim que ela se restabeleceu, Frey pôs-se de pé.
— Rabi! Rabi!
— Não se preocupe. Era apenas uma granada de atordoamento. Não era letal.
Frey levantou Rabi. Depois de algum tempo, Rabi levantou a cabeça, com um olhar vazio no rosto. Inclinando ligeiramente a cabeça, ele começou a farejar.
Era o mesmo cão inútil de sempre—ou melhor, era Rabi.
Frey agarrou-se ao pescoço de Rabi, abraçando-o com força.
Depois disso, como se tivesse se lembrado de alguma coisa, ela virou-se para Raishin e, educadamente, inclinou a cabeça.
— Sinto mubrigada...!
Parecia que ela havia combinado o ‘sinto muito’ com o ‘obrigada’.
— Eu realmente não entendo o que houve, mas parece que tudo terminou bem.
— Sim, obrigada... Uu?
— O que foi?
— ... Você está ferido.
Ela estava olhando para o braço esquerdo de Raishin.
O ferimento em seu braço esquerdo havia sido muito pior do que ele imaginara. Havia um corte muito profundo em sua pele, onde ele havia sido atingido. Mesmo que ele tivesse desviado, o ferimento havia sido bem ruim. Se ele tivesse sido acertado em cheio, o golpe poderia ter cortado seus ossos completamente.
Frey vasculhou atrás de sua cintura e abriu uma bolsa. Ela tirou um anticéptico e uma bandagem e, com mãos experientes, fez os primeiros socorros em sua ferida.
— Desculpe pelo problema. Aliás, você sempre carrega isso com você?
— É porque eu... frequentemente... me machuco.
— Isso porque você é muito desajeitada.
— Desajeitada...
Chocada, ela repetiu “Desajeitada...” algumas vezes.
— Então. Algo deve ter acontecido. O que foi isso?
Frey rapidamente ficou em silêncio, balançando a cabeça.
— Você não estava, deliberadamente, mirando em mim, não é? Por que a arte mágica ativou?
— Uu... Sinto muito.
Lágrimas lentamente começaram a se formar na base de seus olhos.
— Não chore. Eu não estou bravo com você nem nada.
— Você está...
— Não estou.
— Você está...
— Eu disse que não estou. Estou apenas curioso. Aquilo pareceu estranho para mim.
Frey havia afundado em um silêncio determinado. Raishin suspirou.
— Olhe, eu vou dizer isso francamente. Eu posso ser um vilão, mas não sou um demônio. Eu não planejo me retirar e também não pretendo ser derrotado. Mas, quando se trata de um ouvido atento, você poderia tentar falar comigo antes de afastar a ideia.
Frey olhou para ele, perdida. Seu olhar vacilou, olhando para Raishin—
E decidiu não fazer isso. Ela provavelmente estava com medo.
— As coisas já chegaram a esse ponto, então não basta parar agora. Diga. Por que você está tentando tanto me matar? O que você está escondendo? E também, isso tem alguma coisa a ver com o Imperador da Espada—
— Vamos apagá-la, Raishin.
De repente, uma voz diferente me interrompeu.
Porque ele estava focado na expressão de Frey, Raishin havia falhado em notar a chegada dela.
A sombra dela crescia enquanto Yaya aproximava-se.
Como uma torneira aberta, as palavras de Yaya prosseguiam sem parar.
— Recorrer ao uso de Maquinagem, essa pessoa é uma assassina tanto no nome quanto nas ações. Por favor, dê a Yaya a ordem para derrotá-la. Yaya vai ter certeza de não deixar sobrar nem um pedacinho dela.
— ... Como se eu fosse fazer esse tipo de coisa.
— Seja mais decidido! Nesse ponto, você poderá ficar em perigo! Raishin vai—
— Não se preocupe comigo.
— —se deixar levar por esses dois montes de gordura...!
— Ah. Suas verdadeiras intenções apareceram.
— De qualquer modo, todas as raposas deveriam ser massacradas por—ah!
Quando Yaya notou, Frey já havia aumentado a distância entre eles.
Abraçando-se nas costas de Rabi, seu lenço balançava na medida em que eles fugiam. Fosse Frey inesperadamente hábil ou fosse Rabi o único hábil, ela não caiu de suas costas e desapareceu de vista.
Havia um silêncio estranho.
Um momento depois, Yaya estava chorando compulsivamente.
Grandes lágrimas caiam de seu rosto enquanto ela chorava. Com sua energia mágica estava descontrolada, suas lágrimas cristalizavam, formando esferas de água com a densidade do aço.
— Ei, pare de chorar desse jeito. Você está ferida em algum lugar?
— Raishin é tão cruel... deixando Yaya de lado para poder se encontrar com uma amante...
— Você está, deliberadamente, ignorando a ferida em meu braço? E falando nisso, é a primeira vez que eu escuto sobre uma amante.
O choro prosseguia. Yaya estava consideravelmente chateada. Com tudo que havia acontecido nos últimos dias e com o incidente da noite passada, ela estava mais instável do que nunca.
Tentar participar da primeira batalha neste estado seria preocupante. Mesmo que não houvesse feito nada de errado, Raishin tentou melhorar o humor de sua parceira.
— Vamos lá, pare de ser tão rabugenta. Um marionetista de terceira categoria como eu, só pode contar com alguém como você.
O choro foi substituído por um silêncio mais ameaçador do que nunca.
— ... Então, como é que você vai ajudar a melhorar o meu humor?
Instantaneamente os olhos de Yaya brilharam. Essa era uma péssima situação para Raishin, mas já era tarde demais.
Yaya havia juntado as mãos, fechado os olhos e aproximado o rosto.
... Essa posição. Não poderia ser.
Ela queria um beijo?
Suor frio surgiu em seu rosto. Eles estavam em um local inapropriado. As pessoas já haviam começado a se reunir ao redor deles. Indubitavelmente, eles haviam escutado a explosão anterior e vieram ver o que estava acontecendo. Além disso, estávamos bem em frente ao dormitório, então ele estava ciente das inúmeras pessoas que observavam das janelas.
— Raishin... Depressa... <3
Ela pediu com uma voz doce. Como diabos eu poderia fazer isso diante de todas essas pessoas, ele instintivamente pensou. Mas, se ele a ignorasse agora, seria um inferno pagá-la mais tarde. Era uma perspectiva terrível.
O suor escorria por seus poros. Ele estava paralisado como um cervo travado diante dos faróis de um caminhão.
Abruptamente, ele sentiu a presença de alguém.
Alguém estava se aproximando sem fazer nenhum som. E também era veloz. Não era a velocidade de um humano normal. Assim que ele concluiu seu pensamento, a coisa já estava diante dele.
Algo acertou suas costas com um baque.
Se fosse o punhal de um assassino, Raishin certamente estaria morto, mas—
— Raishin! Já faz muito tempo—!
Algo estava abraçando suas costas gentilmente, algo macio e suave e esse algo era o corpo de uma garota.
Olhando para a inocente e sorridente garota, tanto Raishin quanto Yaya exclamaram ao mesmo tempo.
— Komurasaki!
Parte 6
Quando perguntada se queria beber alguma coisa, Komurasaki respondeu:
— Leite!
Eles estavam no quarto de Raishin. Sorrindo feliz, Komurasaki olhava ao seu redor.
Seu rosto era parecido com o de Yaya. Ela era incrivelmente linda—embora o modo como ela foi construída desse a ela um aspecto mais fofo do que bonito. Com uma expressão despreocupada no rosto e o cabelo vermelho preso em twintails, se comparada a Yaya, ela parecia mais uma criança. Balançando as pernas, com uma expressão feliz no rosto enquanto ela esperava pelo seu leite, ela parecia um gatinho feliz.
Seu peito doía estranhamente. Talvez devido ao que aconteceu antes, mas suas memórias de infância também estavam caindo fortemente sobre ele.
Pegando o leite que havia sido servido na cafeteria no café da manhã, ele o esquentou e deu a ele.
— Você ficou maior, não foi?
— Tee-hee, isso não é óbvio? Você quer tocá-los?
— Não tire a roupa! Eu não estou falando dos seus seios. Estou falando da sua altura!
— A divisão celular finalmente se estabeleceu e, assim como planejado no meu design, eu vou crescer para manter o equilíbrio!
— Uau. Eu realmente não entendo isso, mas acho que você logo irá se comparar a Yaya.
— Se o Raishin acariciá-los, tenho certeza que eles ficarão maiores do que os da Onee-san <3
— Pare de falar sobre os seus seios! Altura! Nós estamos falando da sua altura!
— Se você está falando da minha altura, então como eu já entrei no meu período estável, eu não serei capaz de crescer mais.
— Período estável?
— Coisas de adulto. Ahh, agora eu posso ser a noiva do Raishin <3
— Ahaha, a Komurasaki é tão brincalhona, ahaha. Sua Onee-san tem algo a dizer para você. Venha sentar ao meu lado, Ko-mu-ra-sa-ki-!
Yaya estava batendo em um pedaço do tatame, indicando um lugar ao seu lado.
— Pare com isso, Yaya. Depois de eu ter todo aquele trabalho para conseguir instalar isso, você está destruindo tudo.
— É verdade— se você continuar sendo tão violenta, Raishin vai odiar você!
Como se tivesse acabado de ser atingida por um ataque, Yaya endureceu, em estado de choque.
— Sem chance... Raishin... vai odiar... a Yaya...?!
Outra situação incômoda estava se desenvolvendo. Raishin sentiu uma dor de cabeça chegando, mas primeiro ele decidiu ignorá-la e virou-se na direção de Komurasaki.
— Então, o que a Shouko disse?
— Você queria saber mais sobre a pessoa chamada Frey, certo?
— Sim—espere, eu telefonei apenas hoje de manhã. A investigação já acabou?
— Raishin, você vai estar ocupado com a Festa Noturna hoje à noite, certo? Por causa disso, nós nos movemos depressa.
Ela disse isso como se não fosse nada demais. Entretanto, não havia como ninguém fazer isso tão depressa. Por razões ainda desconhecidas por Raishin, parecia como se o Exército houvesse conduzido uma investigação sobre Frey.
Komurasaki não estava aqui devido ao pedido de Raishin.
Parecia mais que ela estivesse aqui por alguma outra razão.
Antes de Raishin enviar o pedido de SOS, Shouko já estava investigando a história de Frey?
— Para você ter vindo até aqui, quer dizer que você vai colocar seu poder em prática. Em outras palavras— tem algum lugar onde eu tenho que ir, certo?
— Uau, Raishin, você é bom—
Komurasaki sorriu para ele com um ar de inocência.
— Os militares ainda não têm um quadro completo. Mas, se nós formos até lá, você será capaz de encontrar algo sobre a Frey e o Exército vai descobrir o que eles querem saber.
O Exército estava usando Raishin para se infiltrar na D-Works e descobrir tudo sobre eles. Talvez até mesmo tenha algo a ver com os segredos do Exército Britânico.
Diante da mente de Raishin, a imagem de como Rabi estava anteriormente surgiu. Um rosto feroz com os dentes arreganhados. E ele estava agitado. Havia alguma coisa acontecendo com aquele autômato canino.
— A questão é que esta é uma ordem militar, certo? Entendido. Vamos lá.
— Por favor, espere Raishin. Falta pouco mais do que meio dia para o começo da Festa Noturna!
Yaya interviu, preocupada. Raishin riu.
— Eu sou um cão do Exército. Meu objetivo original vindo aqui era espionagem. Este é o tipo de acordo com o qual eu concordei antes, certo?
— Mas... Não. Eu entendo.
Ela assentiu, a ansiedade em sua voz desaparecendo. Yaya tinha um olhar firme no rosto quando disse:
—Eu irei segui-lo, Raishin. Não importa para onde você vá, mesmo que seja para o banheiro.
— Não venha quando eu estiver no banheiro.
— Ah, Onee-san, você não pode ir.
Segurando a caneca nas mãos, Komurasaki falou.
— Dessa vez—as únicas pessoas que tem permissão para ir são Raishin e eu, apenas nós dois.
— Não... Sem chance!
— Tudo bem, então, vamos—
Deixando de lado a caneca, Komurasaki se agarrou ao braço de Raishin. Isso era como uma irmã mais nova bajulando o irmão mais velho e, é claro, Yaya não ia ficar em silêncio sobre aquilo tudo.
— Es-Es-Espere, Raishin! Yaya vai também!
— Você não pode. Pense sobre isso. Se a Academia souber que você deixou o Campus, o governo Britânico irá confiscá-la. Nós poderíamos nunca mais nos encontrar. Isso é algo que eu não iria querer.
— Raishin... Na verdade você pensa na Yaya desse jeito... <3
— E também, ordens da Shouko.
Algo estalou.
— Shouko outra vez, Shouko, Shouko...! Se Shouko falasse para você morrer, você morreria?
— Idiota, por que você está agindo... O que há de errado?
— Não me faça ficar preocupada com você—
Yaya estava meio chorando e meio com raiva. Raishin passou a mão pela cabeça dela e ela ficou em silêncio.
Como fazia com sua irmã mais nova, Raishin fez carinho em sua cabeça, enquanto falava suavemente.
— Eu volto logo, então seja uma boa garota e espere pacientemente. Ok?
— Si-Sim... <3
A expressão no rosto de Yaya mudou completamente. Com as bochechas levemente coradas, Yaya assentiu de bom humor.
— Vamos lá, Komurasaki.
— O-k—Então, eu vou pegar o Raishin emprestado por um tempo. Vou ter a certeza que ele me preencha completamente!
Sua fala foi, claramente, pensada para gerar uma resposta e as pupilas de Yaya arregalaram-se.
— Você tem energia mágica suficiente para esconder completamente nós dois?
— Não se preocupe, eu sou muito forte. Não apenas vou esconder nossas presenças, mas também vou selar qualquer som que fizermos ou qualquer cheiro que emitirmos.
— Então, você engana olhos, ouvidos e nariz. É ridiculamente seguro.
— Para um humano normal, nós estaremos completamente escondidos. Mesmo se fizéssemos coisas pervertidas agora mesmo, a Onee-san nunca seria capaz de nos encontrar <3
Yaya estava abrindo e fechando a boca como um peixinho dourado. Lágrimas começavam a aparecer depressa em seus olhos e seus ombros tremiam. Tudo que ele havia feito para melhorar seu humor agora ia por água abaixo.
— Espere... Yaya. Você entende que ela estava brincando, certo? É apenas um exemplo, ok?
— Uu...
Era hora de ir. Concentrando sua energia mágica, ele deixou que ela fluísse para as costas de Komurasaki.
O circuito mágico, Yaegasumi, foi ativado. Embora ele não entendesse como ele funcionava, desde que ele deixasse isso com Komurasaki, a arte mágica seria ativada sem problemas. Essa era uma das coisas boas da Maquinagem.
Subsequentemente, Raishin desapareceu da vista de Yaya.
— Agora, então, vamos lá—!
A voz de Komurasaki também não foi ouvida por Yaya. Obviamente, o efeito continuou mesmo após eles deixarem o quarto. Passando por vários estudantes, nem mesmo um deles notou nenhum deles. Nem mesmo o menor sinal de visão, audição e nem mesmo cheiro estavam presentes.
Com cuidado para não tocarem em nenhum estudante, eles caminharam pelo corredor e saíram do dormitório.
Enquanto caminhavam, Komurasaki deu uma risadinha.
— Raishin, você realmente é uma boa pessoa—
— O que você está dizendo do nada... Eu não sou bom, nem nada. Na verdade, eu sou bastante insensível. Eu não passo de um bastardo usando a Yaya em minha busca por vingança.
— Hee hee.
Komurasaki continuou rindo por alguma razão. Ela parecia, de algum modo, ter uma expressão feliz em seu rosto.
— Então, para onde estamos indo?
— Vejamos... O orfanato!
— Orfanato?
E então, Komurasaki disse claramente.
— É a ‘casa’ da Frey!
NOTA:
1 – Zhuge Liang(181—234) foi um dos personagens chave no período dos Três Reinos da China, sendo apelidado de "Dragão Adormecido". Era dotado de uma inteligência ímpar não só a nível militar, inventor de vários engenhos e produtos que conhecemos nos dias de hoje, sobretudo na China.