A Lenda do Destruidor Brasileira

Autor(a): Pedro Tibulo Carvalho


Volume 1 – Arco 1

Capítulo 5: O treino começa

— É o quê? — Com as costas rígidas, estava pasmo com a oferta daquele que o salvou. Engoliu em seco e percebeu a seriedade do homem e não pôde deixar de apertar os punhos ao lembrar do como era fraco.

Agora, aquele que o salvou também mostrava interesse em lhe ajudar a ficar mais forte. A resposta era óbvia para si e estava na ponta da língua, mas não podia deixar de pensar se tinha uma armadilha ali.

Era bom demais para ser verdade. Não sabia nada do homem, ou do lugar que estava. E mesmo assim, também sabia de sua fraqueza. Lembrou-se do fracasso na estrada, no quão difícil foi fazer meras flexões.

Também havia o poder dentro de si que não compreendia.

Haviam tantas coisas que ganharia que os riscos eram quase insignificantes. Assim sendo, sabia o que devia fazer ao ver o rosto do homem. Falava com convicção e honestidade, e, por isso, sabia que podia confiar no velho.

Olhou bem no fundo dos olhos dele, e os dois começaram uma competição. Ambos buscavam algo no outro, algo que não encontrariam, pois não havia desonestidade na alma de nenhum deles.

O homem estava realmente sério em sua proposta e isso deixou o jovem pensativo. Não só teria uma chance de sobreviver na Vila dos Ladrões mas, talvez, passasse também no exame. Não tinha pretensão de que sua primeira tentativa fosse um sucesso.

A taxa de aprovação era muito baixa.

Assim sendo, a resposta era clara para si mesmo e, com um sorriso radiante que transparecia a felicidade que sentia, junto a esperança renovada, o rapaz aceitou a oferta do Samurai, que ficou aliviado com tal coisa. — Obrigado, senhor!

— Não me chame de senhor! A partir de agora é Mestre Ittai! — Sim, estava aliviado. Seu estilo morreria se não passasse para outro estudante, um que chegou na hora certa. Mesmo perdendo a esperança de se vingar, o velho Ittai sentia a obrigação de passar o que sabia para frente.

Afinal, assim era a humanidade.

— Agora, vamos começar.

Não deu o tempo para o rapaz protestar e, invés disso, puxou-o para fora da cama e notou, com certa frustração, a ausência de músculos úteis no corpo dele. Não era como se não houvesse nada por baixo das roupas, apenas que o que havia ali era não era o correto para um espadachim.

O jovem protestou contra o tratamento, frustrado com o fato de que não podia fazer nada, sentia-se um saco de batatas. Isso fez com que ficasse irritado e esperneasse enquanto xingava o espadachim com seu dialeto caipira.

— Certo, também teremos que dar um jeito na forma que fala.

— Que diacho tem de errado como eu falo?

Apenas suspirou e abriu a porta da cabana. Com um movimento rápido, atirou o garoto no chão frio. O rapaz ficou incomodado com a temperatura. O sol bateu em seu rosto e pôde perceber que estavam numa clareira semelhante aquela em que fora atacado pelos lobos antes.

Só que essa tinha um pequeno lago, com um fosso, além de um local para cortar madeira e uma pequena cozinha, com um tecido encima. Não pôde deixar de reparar, também, nas Runas protetoras, que foram entalhadas na madeira das árvores e que mantinham os animais longe.

Levantou-se do chão e olhou para o Samurai com certa raiva. O mesmo meramente bufou e fez pouco-caso do desgosto de seu novo pupilo. Tinham coisas mais importantes a tratar.

Atirou uma das vassouras para Ethan, que a pegou com um olhar surpreso. Após alguns segundos, reparou nos arredores e não pôde deixar de olhar confuso para o Samurai. A limpeza do local, junto ao pedaço de pau em suas mãos só podiam significar uma coisa. — Tá falando sério, sô?

— Vou lhe mostrar como brandir uma espada. Pare de reclamar e me observe. — Pôs-se ao lado do rapaz e tirou sua espada branca da bainha. Pôs seus pés afastados numa diagonal de poucos graus, olhou para frente com um foco que assustaria qualquer um, levantou sua arma, deu um passo para frente.

E trouxe os braços para baixo.

O rapaz observou tudo, desde a postura e ângulo, até a onda de choque que aquele movimento comum mas poderoso gerou. Estava maravilhado e até mesmo um pouco assustado com a violência do ataque.

Ao olhar para frente, notou várias folhas no chão e diversas árvores sem qualquer verde em suas copas. O mais impressionante para si foi a distância que a onda de choque percorreu, algo esperado, visto que 10 metros depois da árvore inicial, todas as outras naquela linha estavam completamente nuas.

— Faça 100 vezes esse movimento, e então partiremos para o próximo. — Para Ittai, aquilo não era nada. Era apenas mais um feito comum que podia fazer sem esforçou, isso estava claro em sua voz e postura relaxada.

Engoliu em seco e pôs-se na posição de seu mestre, que foi para trás e começou a observá-lo de longe. O velho não deixou de perceber o quão perfeita era a postura do rapaz, ou como sua respiração naquela forma era ideal… assim como notou a forma como ele se segurava para não usar força demais, algo que o velho acabara de fazer,

— Ei garoto, qual seu nome?

— Ethan, senhor!

“Já disse para não me chamar de senhor…” Por mais que sentisse certa incomodação, aquilo que viu era mais importante. A forma do garoto era algo estranho. Uma imitação perfeita da técnica que mostrou mais cedo.

— Me diz, Ethan… já praticou com uma espada antes?

— Nunca, senhor… por quê?

O velho não respondeu, e o rapaz não tornou a perguntar. Ambos meramente caíram num silêncio contemplativo, em que cada um focava sua mente em algo diferente. O mais jovem da dupla apenas usava a risada de Agar para superar seus limites, enquanto o mais velho relembrava de quanto tempo precisou para alcançar a perfeição no movimento.

Ambos estavam irritados.

Hyaa! — Brandiu a espada uma vez mais, enquanto seu professor olhava para ele, com espanto em seu interior enquanto pensava no que mais poderia ensinar a ele. O velho não pôde deixar de lembrar da ausência de músculo do menino, e decidiu que trabalharia a partir disso.

Sim, hoje era um dia de sorte para Ittai. Conseguiu um pupilo novo, e um realmente promissor. “Bem, por mais impossível que pareça, é melhor me focar no aqui e agora, invés de contemplar sobre o fato de que tem um gênio na minha frente.”

Entrou na cabana e deixou o jovem sozinho. Foi até um baú, feito por uma compatriota a muito tempo atrás. Alisou a superfície enquanto lembrava do sorriso brincalhão dela e do quanto aprendeu sobre Runas com uma das melhores Magas que Gália já produziu.

Tirou o papel que selava o baú, abriu-o e pegou os tecidos que ali estavam. Eram marcados com Runas que aumentavam o peso do objeto de acordo com o núcleo. Usou isso para treinar logo após o massacre, e conseguiu ficar forte por conta da dedicação que possuía.

Deixaria as memórias para lá, visto que tinha um trabalho a fazer. Saiu dali e foi até onde o rapaz brandia a arma, com quatro tecidos em sua mão direita. Esperou alguns minutos, onde não observara o jovem, pois sentiria inveja do seu talento caso o fizesse.

Enquanto isso, a vassoura que Ethan brandia pesava em suas mãos. Sentia como se, com o mínimo descuido, ela voaria longe. Seu corpo começara a aquecer e seus joelhos já ameaçavam desistir. Não sabia o porquê, mas aquele movimento começara a afetar seu equilíbrio como um todo.

Quando chegou enfim a centésima repetição, deixou a vassoura cair, e seu corpo seguiu o mesmo caminho. Estava exausto demais para sequer mover-se ou sair do chão. O velho foi até si, a sombra dele pairava perigosamente.

— Levante-se e pare com essa cena patética.

Ante a voz ríspida do seu mentor, o rapaz usou todas as suas forças para sair do chão. Tossiu um pouco e olhou para o velho, clamando por ajuda. — Ande logo. Não temos o dia inteiro. — Com um grunhido, levantou-se.

Seus joelhos bambos eram tudo o que Ittai precisava ver para saber que o próximo exercício era o correto. O jovem bufava, mas reganhou o controle de sua respiração após ver os olhos irritados do velho.

— Dê-me os braços.

Ethan fez como ordenado e olhou com curiosidade para os tecidos que seu mestre amarrara em seus pulsos e calcanhares. Não sabia o que era aquilo, mas não pôde deixar de sorrir com tal coisa, que achara muito engraçada. O que raios isso tinha à ver com seu treino?

A graça virou horror ao notar as runas costuradas no tecido.

— Ei…

Antes que pudesse dizer qualquer coisa, sentiu a gravidade o puxar para baixo. Normalmente, 2 quilos extras em cada braço e perna não seriam demais, mas em seu estado atual, conseguia sentir seus ombros e joelhos protestarem. Dirigiu um olhar temeroso para o velho.

— Agora, pegue a vassoura e faça o que eu lhe ensinei. Mais 100 vezes!

O rapaz resmungou, mas fez como ordenado, tendo problemas em manter-se de pé. Ao pegar o cabo da vassoura, ele o segurou com dificuldade e foi até o local onde treinara antes. — Não reclame. Um Samurai, para dominar a técnica, precisa brandir a espada 10000 vezes!

Mesmo que dissesse isso, o jovem sentia que aquele tratamento era cruel. Não reclamaria, pois precisava tornar-se mais forte para concretizar seu sonho e vingança, mas sentiu uma pontada de irritação sempre que a espada escapava de suas mãos e tinha que se abaixar para pegá-la.

“Como eu pensei… ele só consegue copiar o que seu corpo é capaz de acompanhar.”

Assim, continuou cortando o vento como podia, e quando a espada foi balançada pela 47a vez, desabou no chão, que o recebeu de braços abertos.

Estava para dormir, quando… — Aiii! — Uma vassoura bateu em sua testa. Levantou-se e olhou com raiva para seu mentor, que meramente apontou para o local onde o jovem estava antes e ordenou que começasse do zero. — Isso é bissurdo!

— Sempre que fraquejar, começará do zero! Agora vá em frente! — O rapaz olhou para o homem com horror, mas o pior estava por vir. — Se não concluir isso em duas horas, ficará sem jantar.

Após o mentor entrar na tendinha para preparar a janta, o rapaz começou a praguejar. — Merda de treino… merda de velho… merda de floresta!

 

Nisso, os dias foram passando rapidamente. Uma semana de treino já havia sido concluída, e o rapaz enfim conseguia brandir a espada 100 vezes sem problemas. De fato, ele conseguia ir até a casa dos duzentos golpes sem perder o fôlego.

A relação com seu mestre melhorou também, e ambos estavam mais relaxados na presença do outro. Ittai até mesmo contava para si histórias de seu passado, como seu avô fazia antes.

— Ótimo trabalho rapaz! — A voz saiu abafada em seu prato, que, como o pupilo esperava de seu mentor, era devorada com gula mal contida.

Estava para agradecer o elogio, quando afastou seu prato do garfo descuidado de Ittai. — Isso é meu! — O velho riu e concedeu a razão para o rapaz. Ambos continuaram o almoço num silêncio agradável. Ethan mostrava suor em seu rosto, resultado do seu treino matinal.

Quando acabaram, ambos agradeceram a comida e se levantaram. — Ei Ethan, pegue!

O rapaz mal teve tempo de se preparar, mas conseguiu, com alguma dificuldade, pegar a espada que fora lançada em sua direção. Antes de formar uma breve irritação, notou como era a arma a sua frente. Uma espada medieval simples, com lâmina dos dois lados e feita de ferro. — Essa é a espada que usará a partir de hoje. Ela se chama Bento, e foi de um dos meus amigos mais íntimos.

— Obrigado, mestre Ittai!

O velho sorriu ao ouvir o ‘mestre’. Demorou alguns dias até que o jovem enfim começasse a chamá-lo dessa forma. Foi um trabalho lento, assim como era mudar o dialeto que usava. O samurai admitiria, porém, que talvez nunca conseguisse tirar o lado caipira de seu pupilo.

— Antes de começar, no entanto, quero que tire esses pesinhos e coloque alguns mais… adequados. — Entrou na cabana e, após alguns segundos onde o rapaz tremia levemente com a expectativa e medo do que viria a seguir, emergiu de lá e lançou para o jovem quatro pesos, cada um muito mais pesado do que os que tinha no braço. — Esses são pesos de 10 quilos. Se conseguir brandir uma espada com eles, conseguirá vencer vários dos oponentes que estão nessa floresta.

Engoliu em seco, sentou-se e pôs os tecidosnos punhos e calcanhares, mesmo que tivesse medo, tinha que seguir em direção ao seu sonho. Levantou e pôde sentir o peso de cada um deles puxando-o para baixo. Suspirou e então começou a brandir sua nova arma.

Cada golpe o levava mais perto do chão e fazia com que seus joelhos, abusados pelo esforço, tremessem mais e mais. Era necessário muito controle e força para não cair de cara na grama, duas coisas que o rapaz ainda precisava aperfeiçoar.

Sua dedicação impressionou e alegrou o espadachim, que o observava de longe. De fato, após conseguir a companhia que tinha agora, as coisas estavam bem mais interessantes, tão que estava com medo de deixá-lo ir.

Mas não podia manter a coleira no pescoço do rapaz para sempre.

Também havia algo em sua mente. “Ethan é talentoso… de forma extraordinária. Ele já dominou a técnica que eu mostrei para ele ao ponto de me superar… acho que está na hora de apresentar mais algumas coisinhas!”

— Ethan! — Quando o jovem já estava no vigésimo corte. — Vou te ensinar uma técnica nova. Prepare-se.

Nisso, o guerreiro pegou sua espada e começou a lançar seu peso para frente, usando-o para dar estocadas com a arma, como se ela fosse uma lança. — Isso é uma das bases do meu estilo, e vai lhe ser útil mais para frente! Comece.

Ethan fez como ordenado e, para sua frustração, caiu diversas vezes no chão, mas se levantou em todas elas. Cada vez que caia, recomeçava a contagem. A técnica precisava de um balanceamento de peso que o rapaz ainda não tinha, mas sentia que estava próximo de obter.

Mesmo que pudesse copiar a postura do Samurai perfeitamente, executá-la era impossível para si. Claro, ganhou um pouco de músculo com o tempo, mas ainda era meio franzino.

Continuou bravamente. Sabia de suas limitações, mas estava disposto a ultrapassá-las. O foco em seus olhos gerou um sorriso no rosto do Samurai, que o observava de longe.

O jovem chamava a memória para si e executava a técnica da melhor forma que podia, e foi na tentativa número 7 que conseguiu enfim parar de cair. Começou a executar a técnica com perfeição, mesmo que todo o corpo doesse.

Os músculos ainda protestavam, como se estivessem sendo rasgados, esticados além do limite, mas não parou. Foi ao final da tarde que o rapaz concluiu 100 estocadas e enfim pôde relaxar.

Moveu seu corpo suado para dentro da tenda, o cansaço físico e mental gritavam para que fosse para sua cama de palha, a mesma que acordou uma semana atrás, mas ainda tinha que jantar. Ittai sempre o ensinou a importância de uma dieta balanceada.

Guardou a espada Bento em sua bainha, que era feita de couro, e sentou-se no chão. As pálpebras estavam pesadas, mas não dormiu. Após alguns instantes, um prato com ensopado estava em sua frente, e teve que assoprá-lo para não se queimar. — Você evoluiu muito desde que chegou aqui. Nem parece mais aquele garoto esquálido de antes!

Sorriu com o elogio, um verdadeiramente genuíno, que mostrava o quão orgulhoso estava de sua progressão. — Sim, tenho que agradecer o senhor e o seu treino dos infernos por isso.

— Acredite garoto, estou pegando leve contigo. Se fosse meu mentor, já estaria morto a muito tempo.

Ambos ficaram em silêncio, o ensopado descia na garganta dos dois, que sentiam-se mais e mais satisfeitos. — Você não fala muito do seu mentor… como ele era?

— Bem… falar do meu pai não é um assunto exatamente agradável. Mas, se quer tanto saber…

— Não precisa não, Mestre Ittai. — Não queria deixar o clima desagradável, e seu mestre era o tipo de velho rabugento que ficava insuportável ao lembrar de algumas coisas, portanto, de forma sábia, segurou-se.

O velho sorriu e então olhou para a janela. — Uma tempestade está vindo… é melhor não treinar amanhã. Me diga, como anda sua meditação?

— Vai mal… não pude meditar muito essa semana. — Um calafrio percorreu sua espinha ao relembrar do sentimento de vazio e das vozes, que ainda o atormentavam, mesmo nos sonhos. Não conseguia meditar pois tinha vergonha do veneno negro que vomitava constantemente sempre que o fazia.

Seu mestre assentiu, e então foi decido que o rapaz deverá voltar a meditação amanhã. Ethan apenas concordou.

 

No dia seguinte, o rapaz de cabelos negros estava sentando na posição de lótus, os dedos dos pés flexionavam-se por conta do nervosismo e apreensão, enquanto várias perguntas circulavam sua cabeça.

Perguntas como: “E se ele ver aquele veneno? E se ele tocá-lo? E se ele me rejeitar?”

Para que nada disso acontecesse, manteve-se no primeiro andar. O esforço feito para não avançar era monumental, mas as águas escuras o puxavam com muita intensidade.

Após alguns segundos, não pôde resistir e foi para o segundo portão. Sentiu o medo tomar conta de si, usou esse mesmo sentimento para prender-se onde estava. Não mostraria aquele lado para seu mestre.

Mesmo que quisesse saber o que raios estava errado, tinha medo. Medo de que seu mestre virasse as costas para si. Era esperado, afinal. Quem, em sã consciência, abrigaria uma… uma…

Uma aberração? Um monstro? Ou até mesmo um demônio? Não sabia o que era atualmente. Nem de onde vinha aquele lodo negro dentro de si, nem o que significava, ou o que aquilo o tornava! O jovem começou a perder a direção do que era.

Ainda assim, lembrou-se das palavras de Agar. O que queria dizer com ‘naquele tempo’? Ou ainda mais importante… como sabia sobre o vazio que o torturava? E por que seu sobrenome era tão importante no grande esquema das coisas?

Sou aquele que anuncia o prelúdio do fim!

A frase maldita repetiu-se de novo e de novo. Como uma maldita canção dos antigos, ela ressoava em sua mente e, com tal distração, o jovem perdeu as forças e foi levado para as sombras profundas.

Com a queda, vieram emoções negativas. Era tanto ódio e rancor que sentia seu Ego sumir ante aquele redemoinho. Sim, não rejeitou tais sentimentos dessa vez… ao contrário, aceitou o ódio e tristeza. Como se o vazio incentivasse tal coisa… incentivasse o rapaz a desejar o profano.

Eviscerar, violar, destruir… todas eram coisas erradas, mas pareciam tão naturais para ele. Era como se aquilo fosse seu elemento natural… como se o jovem desejasse, dentro de si, fazer aquelas maldades.

No vazio, conforme caia, Ethan começara a perder a consciência. Pensar estava cada vez mais difícil, e sua consciência nublada o impedia de ver as coisas com clareza. Sim, cairia mais e mais… no entanto…

— Ethan… pare… por favor… — a voz esganiçada de seu mentor falou, e o rapaz imediatamente percebeu o que estava fazendo e voltou para a realidade.

Estava sobre seu mentor, as mãos agarravam o pescoço do velho e buscavam impedir o ar de entrar nos pulmões. O rapaz saiu de cima do guerreiro, pondo-se no canto em que dormia, acuado demais para sequer olhar em direção do Samurai.

Aquilo que temia… estava por vir.

Ittai tossia, enquanto tentava recuperar a respiração. Seus olhos foram até Ethan com uma raiva imensa brilhando neles, e foi ai que viu a forma como seu aprendiz murmurava pedidos de perdão, além da forma como tremia e suava.

Era como se tentasse desesperadamente conter algo dentro de si, como se houvesse um monstro implorando por ser liberto. O Samurai recuperou a respiração e imediatamente entendeu que o jovem tinha mais problemas do que parecia.

— Ethan, eu… — O idoso parou quando o rapaz vomitou uma gosma negra. O chão rachou com o peso dela. Parecia devorar a madeira, que ficava mais e mais cinza e sem vida. A imagem era assustadora, e o cheiro pior ainda.

Aquilo que temia chegava mais e mais perto.

Aproximou-se do rapaz, todos os instintos de batalha que desenvolveu ao longo dos anos gritavam para que saísse dali. Para que não se envolvesse com aquela criança… e, pela primeira vez desde o dia do massacre do seu antigo Bando, ele ignorou tais instintos.

Puxou o rapaz para si, colocando-o em seus braços. O jovem começou a soluçar, temeroso que o seu mestre o rejeitasse. Quem não o rejeitaria depois daquilo? Apenas um louco gostaria de ficar perto dele…

Aquilo que ele temia…

Imagens de seu vilarejo voltaram a sua mente. Imagens daqueles que perdeu… daqueles que sua curiosidade e bravura falsa condenou. Abraçou o seu mentor, com medo que o velho que tanto o ajudou se juntasse aos rostos que via nos sonhos.

Os mesmos que o condenavam, que o acusavam. O medo de seu mentor fazer o mesmo era tanto que Ethan não conseguia sequer pensar. Mesmo que eles se conhecessem a pouco tempo, o rapaz devia a sua vida e quem era hoje ao homem… e pensar em perdê-lo era doloroso demais.

— Está tudo bem, meu pupilo idiota… — A voz veio calma e doce… uma que causava uma imensa dor no peito do jovem. Não queria que aquele que o salvou o achasse patético. — Você pode chorar… juro que não vou contar para ninguém.

Aquilo que ele temia, não se concretizou.

E assim, o rapaz deixou tudo que segurou desde o dia do massacre esvair-se de seu peito.


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Também vou deixar uma enquete para saber qual personagem vocês querem que o capítulo extra seja sobre. As opões são: Ethan; Beell; Inasa; e Ittai.

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