A Lenda do Destruidor Brasileira

Autor(a): Pedro Tibulo Carvalho


Volume 1 – Arco 1

Capítulo 1: A criança e o demônio

O Vilarejo Cucko era cheio de plantações de trigo, com homens e mulheres capinando a terra em velocidades absurdas e sem se cansarem. O clima era de um calor agradável, e as folhas eram levadas pelo vento do céu azul.

— Ei vagabundo, quer ajudar? Não fique sonhando aí o dia inteiro, diacho! — O jovem de cabelo negro olhou para ambos os empregados de seu pai, e seus olhos castanhos se estreitaram em irritação ao ter seu cochilo interrompido.

Mas, o mais irritante era o brilho habitual que estava redor dos homens. Suspirou ao lembrar de todo o trabalho duro que teve para fracassar em obter o mesmo resultado.

— Ele tem razão, Ethan! Não vai se tornar um Mármore mesmo!

O rapaz cerrou os punhos trêmulos enquanto tentava relaxar.

Já fazia anos desde que esse tratamento começou, por isso, sentia que não devia mais se sentir incomodado com isso. Olhou para aquele que insultou o seu sonho. — Eu vou mostrar pra vocês! Um dia, vou despertar meus Ciels¹ e vou dar o fora desse lugar!

No entanto, saber e querer eram duas coisas diferentes.

Os dois começaram a gargalhar de sua resposta, como se fosse algo hilário para eles. Cerrou as sobrancelhas, criou coragem e levantou-se. Caminhou em direção a uma enxada para começar a capinar, e, ao levantá-la de cima para baixo, ignorou o cansaço para pensar na sua posição atual na vila.

O brilho que o rapaz cobiçava mais que tudo no mundo não ajudava em seu humor, e ele sentiu uma dor no peito ao lembrar dos anos de treino e meditação para acordar esse poder que todos os seres inteligentes tinham, mas que o eludia.

Os comentários maldosos o seguiam, e o rapaz apenas pensava em como sair dali e ir para a cidade grande, para realizar seu sonho de sedimentar-se como um Mármore. Um sorriso apareceu em seus lábios quando lembrou do seu objetivo.

Após um longo dia, começou a caminhar para o leste com certo entusiasmo em seus passos. Ao seu redor, casas começavam a surgir, chegou em frente a uma porta de madeira, gasta e suja dos vários anos que a casa passou sem reformas, e, ao abri-la, viu um velho deitado na cama, com algumas garrafas de cerveja ao seu lado.

O lixo não se reduzia apenas a isso. Com um suspiro exacerbado, pegou uma vassoura e um cesto e pôs-se a trabalhar. Mesmo que fosse um serviço sujo, ele não se importava com isso.

— Agradecido, Ethan!

— Não por isso, vovô.

Após terminar de aprontar o lixo, sentou-se a frente do velho com a expectativa do que viria a seguir. — Que história vai contar hoje?

O velho riu um pouco com a empolgação do neto e pareceu pensar, coçou a cabeleira branca e, sem querer, atraiu a atenção do rapaz para sua cicatriz que cobria sua testa até o início de seus olhos azuis. O rapaz ignorou tal gesto e focou nos trapos de seu avô. Após alguns minutos, seu avô se ajeitou na cama desconfortável e antiga e começou:

— Bem, que tal aquela vez que eu e meu grupo encontramo um grupo de aranhas gigantes? Tudo começou quando…

E assim, Ethan ouviu as crônicas de seu avô com a atenção capturada. Após uma hora de história, ambos viram o céu escurecer, e o rapaz soltou um bocejo cansado. — Céus, já é tão tarde? Melhor ir andando Ethan… não queremo problema com seu pai.

O jovem acenou de forma lenta enquanto saía da casa de seu avô. Sua expressão era pensativa, beirando a tristeza, e só piorou ao lembrar-se da situação com sua família. Seus passos lentos eram um indicador de seu humor.

O vento bagunçava as plantações, não havia o habitual som das crianças, que a muito já deviam ter caído no sono e os animais eram guiados de volta para os abrigos. Dirigiu-se para a sua casa, que ficava depois do campo.

Enquanto passava, viu a forma como algumas ovelhas de seu pai tremiam e tentavam em vão pulas a cerca que as prendiam. “Estranho, elas nunca se comportaram assim…”

Saiu dali e voltou para sua casa, ofereceu um rápido oi para seu pai e irmãos, que o ignoraram como sempre faziam. Aquilo já estava ficando repetitivo.

Foi para a cama logo em seguida. Não tinha forças para se levantar, para tirar as vestes de fazendeiro, e, mesmo que seu estômago roncasse, o ânimo e a força para ficar no mesmo cômodo que seu pai e os outros era nulo.

Seus sonhos, como todas as noites, foram vazios e inexistentes. Não entendia o porquê, mas achava que isso tinha relação com sua incapacidade de abrir os Ciels. Todos os outros sonhavam, e o fato de que não recebia uma resposta satisfatória para suas perguntas só o enervou mais, e por isso, deixou o assunto morrer.

Não precisava de outro motivo para que o importunassem.

Apenas dormia e acordava no dia seguinte, o dia de hoje não foi diferente. A única coisa que chamou a atenção dele foi o seu pai, que gritava desesperado sobre o desaparecimento de ovelhas. Com letargia, coçou os olhos, saiu da cama e seguiu em direção da onde ouviu os berros e murmúrios.

Quando chegou, pôde perceber rapidamente o motivo da atmosfera de medo e pânico. O motivo do comportamento estranho das ovelhas e, com um embrulho no estômago, percebeu os pedaços de carne fresca e tufos de lã que estavam lá.

A horrenda visão fez com que perdesse força nas pernas, a forma como a carne que consumiam normalmente estava era feia e suja, e vários de seus irmãos desviaram o olhar para evitar que a bile subisse a garganta.

Mas algo preocupava o jovem mais do que o massacre, e isso era o fascínio com a cena e a forma como seu interior clamava por algo que não sabia, que não tinha coragem de saber, o que era. De fato, Ethan não sabia o porquê, mas, a visão do sangue era estranhamente atrativa. A garganta ficou seca e suor caía de seu rosto.

— Isso não faz sentido algum… não ouvi nenhum barulho ontem a noite, e assim que acordamo tem essa cena de um massacre.

Ethan engoliu em seco e sentiu-se tonto, algo no ar pesava sobre si e, seja o que fosse, aquilo doía e muito. Cambaleou para trás e tocou no peito, delírios de febre começaram a rastejar por seu consciente.

Sentiu-se oco, com um frio horrível o preenchendo, e o medo da morte corroeu o rapaz. Aquela sensação de toda a vida drenada de si só fazia ficar de pé mais difícil, e também tinha o fato de que sua pele começou a ficar empapada de suor. Sem que ele soubesse, os seus familiares o olharam preocupados. — Ethan, o que aconteceu?

— Nada… só estou um pouco cansado. Eu… tenho que ir. — Seus pés o levaram em disparada para longe daquela cena, e conforme se distanciava, o sangue começara a gelar mais e mais e seu estômago roncava, clamava por algo que não sabia o que era.

Com uma passada entorpecida, lembrou-se do rosto de sua mãe, um de preocupação. A vergonha começara a crescer dentro de si ao relembrar do fato de que ela era a única que não o abandonou, a única que viu seu esforço, e ele a preocupou.

“Como posso me tornar um Mármore se todos ao meu redor me tratam como um pedaço de vidro?” O pensamento veio com um gosto amargo, pois não conseguia se imaginar forte o bastante para enfrentar os desafios que viriam com a vida que escolheu. “Não… não posso pensar assim!”

O medo do futuro corroía sua mente, mas o medo de estar ali era maior. Como a estação de eterna primavera que sua cidade estava presa, Ethan nunca mudou. Nunca amadureceu e, dentro de si, pensava que não haveria mudanças nunca. Não precisava de mudar.

Mesmo assim, aquela visão fez algo dentro de si mudar e tinha medo dessa mudança, pois, dentro de si, algo acordara. Algo que ele não compreendia, mas cuja presença ancestral e nobre que habitava ali o aterrorizava, e o medo quebrava-o em pedaços.

O pior, no entanto, era o sentimento que vinha acompanhado desse despertar sombrio. Como se cada gota de seu ser clamasse por aquele sangue e sair de perto dali estava cortando-o por dentro, e tal mudança começara a refletir no mundo ao seu redor, prova disso era a lua, que se aproximava cada vez mais do sol, e a quietude da brisa.

No instante seguinte, viu-se em frente a uma capela, seu coração se acalmou, como se a luz de Seth que ali habitava o enchesse e tirasse os sentimentos ruins. Ethan nunca foi alguém religioso, mas não podia negar a influência que a igreja tinha na sociedade.

O mais importante foi a forma como a laceração interior parou e a quietude tomou conta de seu ser. A brisa voltou, ao som de pássaros piando. As nuvens que tanto amava voltaram a andar e o turbilhão de emoções em seu interior sumiu.

Como se a besta se acalmasse.

Caminhou em direção dali e estava para abrir as portas em busca de mais conforto, mas algo o parou. Mesmo sentindo o calor dali, o sentimento de líquido frio, que escorria pelo seu nariz, era perturbador por alguma razão. Um sentimento de algo saindo de dentro de si fez com que sua mão fosse até o líquido e limpasse-o.

Disso, esperava duas coisas disso. Sangue e ranho… mas o líquido negro, que escapava de dentro de si, não era uma delas, e a forma como o sentimento de frio e vazio sumiam conforme escorria só mostravam para si que algo estava errado.

— Você está bem, jovem?

O rapaz meramente grunhiu uma afirmativa e saiu correndo para longe do reverendo, sem olhar para ele. O homem era famoso na cidade por ser muito religioso e um ótimo curandeiro, mas, naquele dia, algo dentro de si quebrou, e o medo dentro de si despertou quando olhou para o chão, onde o líquido negro caíra e que começou a corroer o chão e que estava retirando a vida e cor do que tocava.

 

O jovem continuou correndo, e, com a ausência do frio, percebeu que seus pés chegaram na floresta de Cucko, um lugar agradável, que trazia memórias a mente do rapaz, como a vez que seu pai o levou para pescar num dos riachos de águas cristalinas do local, ou das várias vezes que caçou os insetos, cujo arranjo de sons era constante no local.

Hoje, no entanto, a floresta estava quieta, quase morta. Não havia o calor ameno da primavera, apenas um frio que invadia os ossos de Ethan, que não sabia se vinha da floresta ou de si mesmo.

Sem a vida da estação, as folhas começaram a cair das árvores, suas cores mortas e textura ressecada e quebradiça, algo incomum e que nunca fora visto pelo adolescente de cabelos negros. O sentimento de ser observado por um predador muito maior que si também o assustava e o compelia a sair dali o mais rápido possível.

Mesmo assim, sentiu algo dentro de si o chamar e ordenar que seguisse em frente. Seu corpo trêmulo e exausto caminhou para frente, e seus pés pisaram na grama seca. Cambaleou, mas conseguiu se segurar numa árvore, que quase despedaçou-se com seu toque, algo que fora ignorado por ele.

O sentimento de destino era muito forte.

Dessa forma, avançou num ritmo cauteloso e moderado, sem notar a quietude absoluta da floresta e o sentimento opressivo que ela possuía. Seu instinto o compelia a seguir em frente, e, mesmo relutante, fez como ordenado.

Uma dor de cabeça infernal começara a atacá-lo, e o sentimento de ter uma faca quente enfiada em seu crânio fizera com que perdesse o equilíbrio e caísse, seu rosto descansou no chão frio, que parecia perigosamente convidativo para ele, que ardia em febre.

Mas levantou-se, com o pescoço curvado em clara exaustão. Não sabia o porquê de fazer isso, mesmo que seu senso comum gritasse para que saísse dali para nunca mais voltar, não podia deixar de imaginar os tesouros que o aguardavam no topo.

A besta acordou, e parecia faminta.

“Não… não posso ter medo… como vou me tornar um Mármore se tiver medo do escuro!”

Era patético para si, alguém que queria ser um Mármore não deveria ficar amedrontado com qualquer coisa. Não só isso, mas havia a esperança que, se achasse o ladrão das ovelhas, seu pai talvez o aceitasse. Com esse pensamento, sua passada ficou mais rápida e motivada.

E mesmo motivado, a fraqueza e vazio cresciam conforme andava. O frio interno e a saliva em sua boca só o atrapalharam e, por um momento, considerou a hipótese que isso era uma tolice e que devia voltar para casa e esquecer disso tudo.

Mas, tão rápido quanto veio, esse sentimento desapareceu quando enfim chegou no local onde seu interior o chamava. A dor no seu peito foi a pior coisa que sentiu em sua vida, seu sangue pareceu coagular e seu corpo congelou.

Caiu no chão.

Mesmo sem forças para se levantar, sentiu algo o puxando para cima e, ao olhar para a direção, viu apenas uma caverna. Lambeu os lábios em nervosismo e medo ao notar a forma que as sombras rastejavam, como vermes num cadáver.

Chegou mais perto, e as sombras pararam para o observar. Pareciam, aos olhos de Ethan, serpentes prontas para atacar ao comando do mestre delas. Soltou uma respiração que nem sabia que prendeu e avançou em direção ao interior.

— Olá? Tem alguém aí?

Adentrou, seus pés afundaram num líquido que não conseguia identificar, sentiu o cheiro de carne podre que permeava o local, ouviu as gotas de líquido, que pingavam das estalagmites. Quando sentiu o líquido cair sobre si, tocou nele e perdeu a voz novamente.

Sangue. Litros e litros de sangue.

A luz permeou o local e o rapaz quase caiu ao ver a aberração a sua frente. Grande e pegajosa, era uma parede de carne podre e olhos vermelhos, que cobria todo o interior da caverna ancestral. O que achou ser estalagmites eram, na verdade, dentes, com carne os rodeando.

Caminhou para trás, mas tropeçou ao ouvir uma voz em sua mente, que parecia entediada, sem dar o valor que o rapaz achava que merecia. Os olhos focaram-se em si, o vermelho brilhou ainda mais forte, e o temor cresceu dentro de si. — Aonde vai, pequenino?

Ao ver que a coisa era inteligente, Ethan parou de andar, diversos cenários passaram em sua imaginação, todos desagradáveis. Aquele ser era perigoso, isso estava claro para ele… assim como o fato de que ele tinha que sair dali na primeira oportunidade que surgisse e alertar os outros… — Cuidado, pequenino. Seus pensamentos o traem… acha mesmo que eu deixaria que entrasse no meu covil sem que tivesse confiança de que pudesse… lidar com você?

Nisso, o rapaz parou de pensar e seu coração, acelerado, ameaçava sair pela boca… mas, de alguma forma, aquilo era natural para ele. Como se aquela situação fosse corriqueira, começou uma conversa com o ser enquanto tentava esconder seu nervosismo. — O que diachos é você?

A parede começou a rir levemente, como se achasse aquela uma pergunta tola, cuja a resposta devesse ser óbvia. — Kukuku… Então os tolos da igreja de Seth realmente não são honestos com os cordeirinhos que os seguem… eu sou Agar, um demônio e estou ao seu dispor.

Nisso, um tentáculo de carne e veias pulsantes surgiu do chão e foi até ele, como se o cumprimentasse em clara zombaria. O rapaz apertou o mesmo em clara relutância. Alguns segundos se passaram, o ser arregalou seus vários olhos e reganhou a compostura antes de falar. — Sim, eu sinto em você… um poder que há muito não fora sentido. A última vez que eu senti isso foi…

Silêncio caiu sobre a mente de Ethan, que se perguntou o motivo da parada súbita, até que o riso do demônio Agar se tornou uma gargalhada. — Kukuku! Eu era apenas um recém-nascido naquele tempo, mas como esquecer daquela sensação… daquele vazio! Garoto, diga-me teu nome!

— Ethan…

Sobrenome?

— Não tenho… meus antepassados não conseguiram mais pagar a taxa familiar, e, como resultado, perdemo nosso nome e influência.

O demônio pareceu pensar, mas riu outra vez, os tentáculos voltaram para a base da carne.

E pensar que aquela maldita família perdeu seu nome… como será que meu senhor reagiria a isso? Kukuku… isso é uma pena. Também é uma pena que alguém como você seja tratado da forma que é pela sua família e povo… mas não se preocupe, pequenino. Vou ter certeza de que eles recebam justiça.

Com isso, algo quebrou dentro do rapaz. Olhou para o demônio com olhos arregalados, e a culpa começou a corroer seu coração. A carne começou a retroceder do local, e o rapaz só pôde observar desesperado enquanto o monstro sumia.

— O que quer dizer? Ei! O que quer dizer!? — Sua voz saiu alta e esganiçada, mas tudo que o cumprimentou foi um som de carne espremida e então silêncio.

Nisso, o rapaz percebeu que estava só.

Correu em direção ao vilarejo sem se importar com os tombos e quedas, apenas dando enfoque a sua preocupação, só queria chegar em casa e ter certeza que estava tudo bem… e ao chegar na vila Cucko, percebeu que as coisas não estavam nada bem.

A começar com o eclipse que cobrira os céus e que criou uma enorme sombra, o cheiro de queimado e sangue também permeavam o local.

Diversos monstros deformados e feitos de carne podre matavam ao seu bel prazer as pessoas inocentes do vilarejo enquanto criavam pilhas e mais pilhas de sangue, tripas e ossos. A imagem fez com que a bile subisse a garganta, mas manteve-se forte.

Vários dos homens e até algumas mulheres lutavam por suas vidas, lágrimas nos seus olhos e a tremedeira eram indicadores o quão despreparados estavam com tudo aquilo. Os números dos monstros só cresciam, e mesmo com vários ali já no Primeiro Céu, a resistência era inútil.

As pernas do rapaz se moveram ao ver sua mãe prestes a ser esmagada. O desespero consumia, e não queria que sua última memória com ela fosse dele sair correndo. A mulher viu o rapaz e esticou sua mão para ele, seus olhos arregalados e úmidos foram tudo que ele viu antes do punho da criatura explodir o crânio da mulher.

— Não… NÃO, NÃO, NÃO!

Seus gritos ecoavam enquanto tocava na poça de sangue e carne.

O rapaz se pôs a correr novamente, cada segundo via mais gente morrer e a cada segundo que se passava não podia fazer nada. NADA! Sempre que ele chegava perto demais de alguém, essa pessoa era morta.

Aqueles que estavam ao seu alcance se tornavam pedaços de tripas e sangue espalhados na terra.

Não conseguiria salvar ninguém. Aqueles que o subestimaram agora clamavam por ajuda, mas, mesmo assim, era lento demais. Sempre que se aproximava, via seus compatriotas serem mortos.

A culpa cresceu em si uma vez mais.

Ainda assim, mesmo que não pudesse ajudar… sabia de alguém que podia. — Vovô… — Sua voz saíra num quieto sussurro e correu em direção a casa de seu avô com um sorriso de esperança em seu rosto. “Se existe alguém aqui capaz de proteger todo mundo, com certeza é ele!”

No entanto, a realidade era cruel e quando chegou na casa de seu avô, a única coisa que o rapaz viu foi um velho implorando por misericórdia, disposto a oferecer sua alma para conseguir viver mais um pouco.

A raiva tomou conta de si quando viu a cena decepcionante. Perguntou-se quantos não poderia ter tentado salvar no tempo que correu até aqui, e a decepção deu lugar ao ódio ao notar algo sobre a risada dos monstros. “É a mesma risada…” Caiu de joelhos ao lembrar-se do ser. — Agar!

Seu grito atraiu a atenção de várias criaturas e, com um rugido e lágrimas em seus olhos furiosos, tentou socar uma das aberrações. Mesmo que seus punhos clamassem por justiça, o monstro meramente usou seu braço de carne para o mandar voando. O jovem sentiu seu mundo girar, junto com a ausência de peso, e então seu rosto impactou contra o chão.

Tudo doía, mas, ainda assim, não pode deixar de direcionar um olhar esperançoso para seu avô, o homem que mais admirava… mas tudo que recebeu de volta foi a culpa do velho bêbado, que desviara o olhar.

Traiu o jovem uma vez mais.

“Não…” Seus cabelos foram levantados e as aberrações o forçaram a ver a pior cena de sua vida… — NÃO! — A cabeça de seu avô caiu no chão e um jato de sangue saiu do oco. Seu herói havia perdido para o mal.

Após isso, o rapaz sabia que estava para ser morto mas, naquele momento, uma luz santa o envolveu.


Notas:

1─ Ciels, ou Céus, são pontos vitais que, quando despertados, dão grande poder á um ser vivo. Só podem ser alcançados com muito treino e meditação.

 

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