Volume 1 – Arco 2

Capítulo 57: Sinal (2)

Hoje Jahan tinha um encontro marcado, estando feliz por ter vencido sua vergonha e chamado Shantian para um passeio. Normalmente essa relação entre os dois seria mal vista na aliança, pois, ele é um jovem mestre e ela uma comum do clã.

No entanto, as pessoas não se importavam tanto, depois do que aconteceu com seu avô, a aliança passou a desprezar o clã e não se ligavam mais com o que acontecia nele. Por raiva de não poderem mais sair e colocando a culpa no clã Rouhani, mas não podendo fazer nada contra eles, as pessoas dos outros clãs chamavam o de Jahan de Jardineiros.

Os pais e o avô de Jahan não se importavam com isso e até o encorajaram depois de ver como ficava quando estava perto dela. Eles achavam os dois um bom casal onde um ajudava o outro para superar esse preconceito que sofriam na aliança.

Mesmo encorajando o neto Jahan, Rostam não podia deixar ele faltar com as obrigações. O passeio tinha sido marcado, mas no dia seu avô falou que não podia ir, pois, teria que cuidar da árvore. O garoto brigou e discutiu, contudo, no final teve que cancelar o passeio para ir cuidar da árvore.

Jahan estava cabisbaixo por ter que cancelar com Shantian, mas para sua surpresa a garota não ficou triste e nem brigou. Ao invés disso, ela aceitou bem e se ofereceu para irem juntos cuidar da árvore.

Agora os dois estavam ali carregando os equipamentos para o jardim onde a árvore estava plantada.

— Essa árvore parece bem especial para seu avô. Ele te falou por que gosta tanto dela? — Shantian perguntou enquanto ajudava Jahan a carregar os equipamentos.

— Eu não sei. Meu avô nunca me contou o que tem de especial nela, sempre que eu perguntava ele falava que ela é de grande importância para a aliança. — Jahan respondeu.

Shantian ainda estava curiosa e continuou perguntando: — Que importância? Desde que ele a trouxe você disse que ela nunca mudou, nem ao mesmo cresceu.

Isso era algo bem conhecido entre as pessoas da aliança, a árvore trazida pelo avô de Jahan nunca mudou desde que foi plantada no jardim. Mesmo depois de cinquenta anos ela continuava como uma pequena árvore de um metro de altura.

— Meu avô nunca me contou, ele disse que eu só saberia depois que me tornar o mestre do clã. Até lá a única coisa que deveria saber é como cuidar da árvore. — As palavras do seu avô ainda estava fresca em sua mente, pois, era falado quase todos os dias.

Depois disso Shantian não perguntou mais e os dois andaram em direção a árvore. No entanto, durante o caminho algo chamou a atenção deles, um brilho vermelho estava vindo da direção onde a árvore ficava.

Os dois se surpreenderam e foram correndo para ver o que estava acontecendo. Chegando perto eles viram algo estranho, a pequena árvore estava pegando fogo. Quando Jahan olhou mais cuidadosamente, viu que o fogo não estava queimando a pequena árvore, mas apenas a encobrindo sem feri-la.

Jahan como um guerreiro e o jovem mestre do clã percebeu que o fogo era alimentado por mana que estava sendo produzida pela árvore. A árvore era bem comum, ele cuidou dela há anos, mas nunca a viu produzir mana antes.

— A árvore está pegando fogo o que fazemos? — Shantian estava preocupada ao ver a árvore sabendo que o avô de Jahan cuidava muito dela. A garota não era uma guerreira, por isso não enxergava a mana da árvore e começou a se desesperar.

Jahan estava surpreso com o evento, mas logo se acalmou e olhou para Shantian: — Corre e chama meu avô, vou tentar apagar o fogo.

Shantian acenou com a cabeça concordando e saiu correndo depois de soltar o equipamento no chão.

Com Shantian indo embora, Jahan não perdeu tempo quando começou a se preparar para apagar o fogo da árvore. Aquele não era um fogo comum que apenas jogando água em cima seria suficiente.

Ele cavou um buraco na frente da árvore e jogou um líquido amarelo que seu avô preparava, em seguida pegou à terra que carregou num balde e o tampou.

Essas ações foram feitas rapidamente por Jahan, estando acostumado, essa era a mesma técnica que seu avô lhe ensinou para cuidar da árvore. Depois colocou as mãos no chão e começou a recitar uma das magias do clã, ele estava tentando sugar a mana que a árvore estava produzindo para extinguir o fogo.

— Isso não vai funcionar.

Jahan escutou a voz de um homem idoso e se virou, Shantian apareceu empurrando uma cadeira de rodas com um senhor de idade sentado nela.

Aquele era seu avô, Rostam Rouhani.

Por sua idade avançada, Rostam não podia mais andar, com noventa e dois anos e a pele cheia de rugas, seu cabelo era ralo e brancos como leite. No entanto, os olhos ainda continham o brilho da ferocidade do guerreiro que foi um dia.

— Avô! — Jahan estava feliz ao ver seu avô chegando assim ele poderia lhe contar como apagar o fogo da árvore. — O que eu preciso fazer para apagar o fogo?

Rostam não respondeu fixando seu olhar na árvore. Com os olhos sérios enquanto encarava a árvore, ele ficou alguns minutos assim sem dizer nada.

Jahan e Shantian ficaram ao lado dele sem dizer nada, vendo que Rostam estava concentrado e não queriam atrapalhá-lo.

Suspiro!

— Eu não pensei que aconteceria tão cedo. — Rostam murmurou mudando seu olhar para Jahan e Shantian. — Eu queria que essa geração tivesse uma vida simples e feliz, mas parece que os Deuses têm outros planos.

— Avô? — Jahan não entendeu o comentário.

— Vá criança, avise a seu pai para reunir o conselho. — No fim Rostam só falou isso, logo depois voltou a observar a árvore enquanto Jahan e Shantian corriam para a casa do clã.

Jahan não sabia porque, mas vendo o rosto do seu avô observando a árvore, ele percebeu que algo grande estava para acontecer.

 

*****

 

Uma grande árvore podia ser vista a quilômetros de distância de onde Jaciara estava. Seu olhar atravessou vários quilômetros apenas para acompanhar os acontecimentos com a árvore nesse momento.

O que ela via não era algo novo para ela, mas a trouxe preocupações que não tinha há muito tempo. Na última vez que viu essa cena o mundo mudou muito e se acontecesse de novo, uma mudança drástica poderia acontecer novamente.

Ela não estava preocupada com as mudanças que poderia ocorrer, mas sim o sangue que seria derramado quando essa mudança começar.

Dessa vez ela não era mais uma garota que não tinha tantas preocupações podendo andar livremente pelo mundo, agora ela estava numa posição de poder que foi conquistada na última grande mudança. Suas preocupações agora seriam como manter o máximo de pessoas vivas do seu clã.

Ela não era mais ingênua que pensava que poderia salvar todo seu clã, estando numa posição de poder, essa tarefa seria impossível. Uma vez que começasse, corpos estariam espalhados por todos os lugares, e se desse um passo errado, o seu corpo também seria um deles.

Morrer já não era uma das preocupações da Jaciara há muito tempo, para alguém que viveu tanto seria apenas uma questão de tempo até isso acontecer. No entanto, depois de receber esse nome ela tinha jurado a proteger seu clã com tudo que podia.

Porém, agora Jaciara só pode lamentar estar velha e não saber se vai durar até o final para ver o destino de seu clã.

Cof, cof, cof.

Juciara começou a tossir e levou um pequeno lenço próximo à boca, ela já carregava ele porque se tornou uma ocorrência comum essas tosses. Quando retirou o lenço e olhou, uma mancha de sangue apareceu.

Durante toda sua vida o tempo foi a única coisa que não pode derrotar, esse ano faria noventa e quatro anos e seu corpo estava todo enrugado. Seu cabelo tinha se tornado branco há muito tempo e seu corpo pequeno não parecia mais conseguir se suportar em pé.

No entanto, Jaciara foi uma guerreira por toda sua vida e usando sua mana ainda podia se suportar, mas seu corpo piorava a cada dia, não muito pela idade e sim por uma doença. O corpo que uma vez foi forte não conseguia lidar com uma simples doença mais, nem mesmo os remédios de seu clã fazia efeito.

— Senhora? — Uma voz preocupada a chamou.

Jaciara olhou para trás e viu um jovem com cerca de dezenove anos ajoelhado por perto com o rosto cheio de preocupação ao vê-la tossindo. O jovem era um dos seus netos e aquele que estava mais próximo dela, ele sempre ficou ao seu lado depois da descoberta da doença.

Quando ela olhava para seu neto, via alguns traços de suas feições na juventude. O cabelo preto e liso, a pele morena que vinha desde seus ancestrais e um rosto que parecia ter sido moldado a mão pelos deuses. E o olhar, ela tinha o mesmo olhar quando era jovem. Um olhar que dizia que enfrentaria a tudo para manter seu clã vivo.



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