Volume 1 – Arco 1
Capítulo 42: Decisão sobre o futuro
Haviam se passado apenas alguns dias desde que Kishito começou a treinar na Formação de Distorção Espacial e seu progresso estava além da imaginação. Para alguém sem conhecimento sobre a mana, mostrou uma grande afinidade e controle inatos.
Depois de se conectar a mana, Kishito demorou apenas um dia para circulá-la em seu corpo e em dois dias, conseguiu subir a montanha mesmo com as fortes tempestades. No entanto ele não parecia tão feliz apesar das conquistas, graças a conversa com Alícia.
Depois da conversa, ficou preocupado sobre o que fazer quando chegasse a hora dele seguir a Makuredan, principalmente com Rika.
Levá-la para a Makuredan e viver fugindo ou deixá-la para trás até um momento em que seria forte o suficiente para não temer ninguém?
A única pessoa que estava sempre nos pensamentos do Kishito antes da Xia aparecer era a Rika. Ela é sua irmã e a única pessoa da sua família que estava viva.
Seus pais morreram quando era mais novo e após este acontecimento foi morar com a Yukiko e o Ryoji.
Mesmo sendo bem tratado por eles, Kishito achava que, por estarem ali, atrapalhavam a vida do casal, mantendo consigo sempre um sentimento estranho de não pertencimento que nada entendia.
Depois de descerem da montanha, Alicia se despediu e foi embora. Kishito olhou distante em direção ao mar que se agitava por um momento antes de sair da Formação da Distorção Espacial.
Desde que Kishito começou seu treinamento essa foi a primeira vez que ele saiu cedo de lá, todos os outros dias ele aproveitava o quanto podia do tempo que estava dentro da Formação da Distorção Espacial, mas dessa vez foi diferente.
A lua já estava no céu quando entrou em casa. Observando no relógio, viu que era nove horas da noite.
"Eles já devem estar dormindo."
Yukiko e Ryoji dormiam cedo por causa causa do trabalho, já Rika, não gostava muito da noite, por isso, também ia dormir cedo.
Kishito entrou em casa com passos leves para não fazer barulho, cuidando para não esbarrar em nada, pois a casa estava com as luzes apagadas e ele não quis ligar para evitar acordar os outros. No entanto, quando ia subir as escadas, ouviu vozes vindo da sala e, quando conferiu, encontrou a televisão ligada.
A visão do Kishito foi até o sofá e viu Rika dormindo desajeitada. Fazia um tempo desde que a viu dormindo, o fazendo sorrir nostalgicamente. Nessas últimas horas, esteve pensando sobre o que Alicia falou e agora, olhando para Rika, teve ainda mais dúvidas.
Como se tivesse percebido que tinha alguém ali, Rika abriu os olhos e viu Kishito parado ao seu lado.
— Kishi-ni? — A voz da Rika era sonolenta quando ela falou.
— Dormindo no sofá de novo? Isso vai fazer mal a sua saúde. - A voz do Kishito soou gentil e amável.
— Eu peguei no sono. — Rika respondeu ainda sonolenta. — Que horas são?
— Nove horas.
— Hm! — Rika se sentou no sofá.
Kishito olhava para Rika e se lembrou de muitas coisas que aconteceram com eles, fazendo seu olhar se tornar mais gentil enquanto se sentava ao lado dela.
— Aconteceu alguma coisa para me olhar desse jeito? — Rika perguntou ao ver o rosto carinhoso, mas que, porém, tinha um toque de nostalgia.
— Não, não aconteceu nada, eu estou apenas pensando em algumas coisas. - Kishito deu um leve sorriso.
Rika encarava, ainda sonolenta, o rosto do Kishito iluminado apenas pela luz da televisão. Este olhar que ela tinha não era o mesmo de quando estava perto de outras pessoas, pois esses momentos onde se encaravam apenas com carinho só acontecia quando estavam sozinhos.
Sem querer continuar o encarando, voltou o olhar para a televisão, onde estava passando o episódio de uma novela. Os personagens conversavam numa lanchonete sobre um acontecimento anterior, onde o interesse de Rika foi atraído.
Sob essa pouca luz, Rika se ajeitou no sofá e deitou com a cabeça na coxa do Kishito sem tirar o par de olhos da televisão. Kishito, por sua vez, não parecia nenhum pouco incomodado, pelo contrário, sua mão se moveu para acariciar o cabelo dela.
Desde a morte dos seus pais, os irmãos Hishima se tornaram o único apoio um do outro. Quando eles estavam com outras pessoas, Rika mostrava um jeito autoritário com Kishito, que não se importava muito, mas, em momentos como esse era quando mostravam seus verdadeiros sentimentos um para o outro.
Os minutos passaram e os dois irmãos continuaram desse jeito enquanto viam televisão até a voz da Rika soar baixo.
— Sua preocupação tem a ver com nossos planos?
— Uhum!
— Você está pensando em incluir eles nele?
— Sim... mas não seria tão fácil.
— Nós precisamos mesmo deles? Podemos continuar com o mesmo plano e ser apenas nós dois. — Rika se virou para olhar para Kishito.
— Algumas coisas mudaram, por isso... não podemos ser mais apenas nós dois.
Rika ficou quieta e olhava para Kishito, que mantinha um olhar perdido, virado para a televisão. Ela o observou por mais um tempo antes de falar.
— Isso tem a ver com o que você faz quando sai com eles? Não me diga que está aprendendo a tocar algum instrumento, ninguém acreditaria nessa mentira. O que você faz quando sai?
— Eu ainda não posso te dizer, mas, tenha certeza que vai mudar muita coisa. Então não faça mais perguntas, pois quando chegar a hora eu vou te contar tudo. Aguente mais um pouco, tá bem?
Os olhos da Rika o encaravam com tranquilidade até ela se virar novamente para a televisão e responder baixinho.
— Tudo bem.
O tempo passou e Rika caiu no sono novamente enquanto recebia um cafuné de Kishito. Depois dela dormir, Kishito ainda permaneceu no sofá por mais um tempo, com sua mente rodeada de reflexões e dúvidas sobre o que iria fazer quando a hora chegasse.
Após esse momento, se levantou do sofá e pegou Rika no colo, já que não queria deixar ela dormir no sofá. Com calma para não acordar ninguém da casa, a levou para o quarto e a colocou da cama com delicadeza. Depois de cobri-la, saiu com ainda mais esmero.
No corredor, olhou para o teto e murmurou: — Por que eu estou na dúvida? Não tenho o que pensar. Para qualquer lugar que eu for, vou levá-la comigo.
*****
Nuvens cobriam o céu da cidade de Xangai, onde pingos de chuva lavavam a cidade em um ritmo tranquilo, contrário a toda movimentação diária no lugar. No centro, entre o grande show de luzes dos prédios, milhares de pessoas andavam de um lado a outro com guarda-chuvas, ilustrando uma cena clássica de filmes antigos.
Nesta cidade iluminada, havia um bar chamado Pequeno Dourado, que fica numa parte afastada do centro e, no entanto, é considerado um dos principais locais de festas da cidade. Construído nos anos 70, mais especificamente em 1967, sendo desde então um local bastante movimentado, não era frequentado apenas por pessoas comuns, sendo mais conhecido como ponto de encontro entre guerreiros.
Eles usavam o Pequeno Dourado para trocar informações e marcar encontros. Devido a isso, a bar foi tachado como o lugar neutro para guerreiros em Xangai. Não era uma ordem ou regra, mas, acabou sendo estipulado e seguido pelos próprios guerreiros que frequentavam o bar em um dia aleatório. Ninguém se atrevia a agir descontroladamente ou seriam punidos pelos próprios frequentadores.
No entanto hoje estava sendo um dia diferente dos dias comuns no bar Pequeno Dourado.
— Aaaaahhhhhh!
— Rápido! Fujam!
A porta da entrada abriu com um estrondo e várias pessoas saíram correndo, com um claro horror em seus rostos. O som dos gritos desesperados abafaram tudo em volta e cada vez mais pessoas apressavam-se até a saída.
Quando a correria começou, os seguranças que estavam na porta tentaram forçar sua entrada, porém, foi em vão. Tentar passar no meios das pessoas que fugiam era completamente impossível, de modo que eles ficaram completamente impotentes. Somente depois de um tempo, quando o fluxo diminuiu, conseguiram entrar.
Assim que entraram, viram uma cena estranha, onde, no meio do bar, tinha um homem caído no chão enquanto vários outros que ficaram para trás estavam em pé, encarando um casal que andava em direção ao homem caído. Os seguranças deram um passo à frente, no entanto, quando iriam falar, um homem que conheciam entrou na frente e os impediu.
Este homem era baixo e vestia uma calça preta com uma blusa social branca desabotoada perto do pescoço. Com cabelos curtos e olhos pequenos que pareciam estar fechados, tinha um sorriso encantador que permanecia em no rosto por todo o tempo.
Quando os seguranças viram quem os impediu, cruzaram os braços em respeito.
— Sr. Huang? — Um dos seguranças parecia confuso quando disse o nome do homem.
— Não se intrometam. Deixem eles fazerem o que quiserem, assim, depois irão embora. - O homem que foi chamado de Sr. Huang falou voltando seu olhar para o bar.
— Sim senhor! — Os guardas pararam e observaram de longe o que acontecia.
Apesar do sorriso Sr. Huang estava com os punhos apertados enquanto olhava para o casal que agia como queria.