A Lâmina da Imortalidade Brasileira

Autor(a): Kanino

Revisão: Zezin


Volume 1 – Arco 1

Capítulo 27: Me desculpem por isso

— Ótimo, então está combinado.

A garota demônio disse animada. Parecia gostar de saber que nós iríamos com ela.

Depois disso não aconteceu nada muito importante. Nós nos juntamos a ela para almoçar e eu pude ver como era a relação entre os irmãos.

A garota demônio estava preocupada pois não conseguiu falar com ele depois que voltou. Esse modo autoritário dela era um modo de mostrar sua preocupação.

Quando ela soube que nada tinha acontecido a garota demônio ficou mais tranquila e parecia um garota normal. Se não fosse pelo que eu tinha visto antes também seria enganada.

Logo depois a garota demônio e Alicia começaram a conversar sobre a viagem dela. Ela contava sobre tudo o que aconteceu sob as incessantes perguntas da Alicia. Durante todo o tempo ela ficou agarrada ao braço do Kishito como uma criança enquanto falava.

Olhando ela agindo assim, me lembrei de quando estava com minha mãe. Todo o tempo que podia eu estava agarrada a ela mas isso só começou depois que meu pai morreu.

Eu ainda me lembro dos sorrisos alegres da minha mãe quando estávamos todos juntos, não importava o quão duro foi o dia para ela no trabalho, a noite ela sempre estava sorrindo. Naquele tempo eu era bastante novo, acho que tinha uns 10 anos, por isso não entendia tudo que estava acontecendo e só via os seus sorrisos.

Só anos depois eu fui entender o que estava acontecendo. Minha mãe trabalhava com vendas em uma loja de eletrônicos, eu nunca entendi nada desses aparelhos mas minha mãe costumava falar sobre eles e como funcionavam para mim. Eu a escutava achando que um dia eu teria o mesmo conhecimento do que a dela.

A loja onde ela trabalhava era grande e tinha vários tipos de aparelhos, minha mãe era uma grande vendedora e só com o salário dela poderia sustentar nossa família e vivermos bem mas estávamos sempre com grandes dívidas.

Com a ajuda do meu pai que trabalhava como entregador aos poucos estávamos conseguindo quitar todas as dívidas.

Apesar de me lembrar mais da minha mãe sorrindo nem sempre era assim, havia dias que meus pais estavam brigando e no final minha mãe sempre chorava. Ele a culpava por termos tantas dívidas.

Ela sempre teve um bom coração e estava disposta a ajudar, mas tinham pessoas que usavam isso para abusar da bondade dela. No entanto, depois que descobria que foi enganada ela nunca ficava triste. E era esse coração bondoso que as vezes irritava meu pai.

Ele com a ajuda dos amigos conseguiu um novo emprego que era melhor do que o atual mas precisaria mudar de cidade, depois de muita conversa eles decidiram se mudar. Mas nem tudo sempre acontece como planejado e em um acidente meu pai veio a falecer.

A partir desse dia minha mãe mudou, ela não estava superando a morte do meu pai. Quando eu a via desse jeito a minha reação era ir até ela e abraçá-la. Com o tempo ela melhorou mas não mostrava mais aquele sorriso cheio de alegria. Foi por isso que sempre que podia eu estava perto dela a agarrando tentando fazê-la se sentir melhor.

Eu achava que enquanto eu estivesse agarrada a ela eu podia diminuir a falta que sentia do meu pai enquanto mostrava para ela que eu estaria sempre ao seu lado.

Pipipi pipipi pipipi.

— Ah! Eu quase me esqueci!

A voz da garota demônio me trouxe de volta das minhas lembranças. Ela parecia preocupada enquanto falava.

— O que ouve Rika? — Kishito perguntou quando a garota demônio se levantou abruptamente.

— Eu prometi as minhas amigas que ia entregar os presentes que trouxe hoje antes da aula começar. — A garota demônio pegou a marmita dela — Eu tenho que correr eu deixei eles no meu armário. Kishi-ni você pode guardar a toalha pra mim?

— Tudo bem pode ir, eu arrumo tudo. — Kishito a respondeu.

— Obrigada. — A garota demônio se virou para a gente — Foi bom conhecer vocês, nos vemos depois da aula.

E com um acenos de mão para nós a garota demônio saiu correndo até sair da nossa visão. Ela parecia animada para entregar os presentes.

— Por favor me desculpem por isso!

Hã?

Esse pedido de desculpa me pegou de surpresa, foi quando me virei e vi Kishito se curvando para a gente.

— Eu não sei como mas Rika sempre sabe quando eu estou mentindo e por isso não pude inventar uma desculpa para ela. — Kishito pareceu ter visto que estávamos confusos e continuou — Como eu não podia mentir e… também não podia falar a verdade….

— Então você tentou omitir. — Eu completei.

Kishito levantou a cabeça e nos deu um sorriso meio sem graça. A garota demônio o conhecia tão bem que nada que ele fazia fugia dos olhos dela.

— Mesmo que veja que você não mentiu ela não iria perceber que você não falou toda a verdade? — Alicia perguntou algo que eu também queria saber.

— Bem, ela sabe que eu não falei toda a verdade. Por isso estou me desculpando já que ela usou isso para forçar vocês a ir nesse jantar. — Kishito se curvou de novo. — Desculpe por usar vocês.

Suspiro.

Kishito tentou nos usar para convencer a garota demônio que não tinha acontecido nada nos últimos dias e que ele apenas não conseguiu falar com ela. Mas a garota demônio usou isso para nos forçar a ir nesse jantar em troca dela não fazer mais perguntas sobre o que aconteceu.

Se fosse apenas isso eu não me importaria muito mas se eu desobedecer o Sr. Hayama mais uma vez… Eu não sei o que vai acontecer.

— E agora o que faremos sobre a ordem do Sr. Hayama? — Eu perguntei para a Alicia e o Donavan.

— Isso é fácil. Assim como ele nos usou de escudo contra a Rika-chan nós vamos usar ele de escudo também. — Alicia me respondeu com um sorriso perverso.

Kishito abria e fechava a boca mas no final não disse nada. Ele apenas podia concordar e esperar se tornar um escudo para a repreensão do Sr. Hayama. Eu diria que ele foi esperto em não dizer nada já que poderia piorar se ele falasse algo para Alicia. Ela e a garota demônio são parecidas em algumas coisas.

Não havia muito para ser dito então apenas esperamos Kishito arrumar a toalha xadrez e voltamos para a sala de aula.

Quando chegamos na sala não faltava muito tempo para começar a aula e logo o sino tocou. Nós nos sentamos e as aulas ocorreram tranquilamente.

Passamos a tarde toda estudando sobre história e biologia. Essas matérias onde apenas precisamos decorar não é um problema para mim então apesar de parecer que eu estava prestando atenção, na verdade eu estava com bastante sono. Se as aulas demorassem mais um pouco eu com certeza iria dormir. Eu estava bastante cansada dos ultimos dias.

Para a minha sorte o sino tocou indicando o fim das aulas. Eu esfreguei meus olhos e comecei a guardar meus livros e cadernos que estavam quando a garota demônio entrou na sala.

Com suas palavras de incentivo para Kishito ela logo nos arrastou para a sala dos professores.

Dentro da sala estava a Ueno-sensei arrumando alguns papéis numa estante. Ao lado dela tinham dez caixas fechadas. Agora eu tinha entendido por que ela não recusou nossa ajuda.

— Ueno-sensei nós chegamos! — A garota demônio chamou a Ueno-sensei.

— Ah obrigada por virem me ajudar. Com a ajuda de vocês nós terminaremos bem rápido. — Ueno-sensei respondeu.

— Não é nada Ueno-sensei, sempre que precisar pode contar conosco. — Alicia tinha ido a frente e falou. — O que nós temos que fazer?

— É bem simples…

Ueno-sensei nos mostrou como ela estava organizando esses papéis. Em sua grande parte ela precisava da nossa ajuda para separar os papéis das caixas enquanto ela os colocava em seus respectivos lugares na estante.

Era uma tarefa bastante simples e como nós estávamos em seis pessoas, a tarefa poderia acabar rápido.

Isso é claro se Alicia e a garota demônio apenas fizessem a parte delas.

Durante todo o tempo as duas brincavam, falavam e riam. Elas pareciam ser amigas de muito tempo. E muitas vezes durante essas brincadeiras elas nos atrapalhavam e tínhamos que recomeçar uma parte do nosso trabalho.

E o Kishito... Ah o Kishito. Ele era o principal alvo das brincadeiras delas e muitas vezes precisava recomeçar. Ele também tentava fazer com que a garota demônio parasse de brincar e se concentrasse na tarefa mas era inútil e ela usava isso para irritá-lo.

O único que trabalhava como se não estivesse acontecendo nada era o Donavan. Ele tinha muita concentração e por mais que elas tentassem puxá-lo para as brincadeiras era inútil. As mãos dele se moviam tranquilamente e não eram perturbadas por elas. Elas desistiram depois de um tempo e voltaram sua atenção para o Kishito e às vezes para mim.

Por causa disso nós demoramos mais tempo do que o necessário mas finalmente tínhamos terminado a tarefa.

Com tudo arrumado nós nos reunimos e seguimos para o próximo passo. Era a hora de ir no jantar na casa da garota demônio e do Kishito.



Comentários