A Lâmina da Imortalidade Brasileira

Autor(a): Kanino

Revisão: Ana Paula, Zezin


Volume 1 – Arco 1

Capítulo 2: Por que logo você?

Xia não conseguia abrir os olhos. Onde ela estava não se podia sentir nada. Seu corpo estava leve, mas não podia se mexer.

"Estou no vazio?"

O vazio. Um local envolto de escuridão. Ela já esteve lá inúmeras vezes enquanto treinava. Contudo, desde que se mudou nunca mais esteve nesse lugar. Dominar o vazio fazia parte de ser uma escolhida, ela nunca teve medo de lá, mas depois do que aconteceu, sabia que ali seria um lugar perigoso para sua mente.

"Eu preciso sair daqui. Não quero ficar aqui."

Ela tentava desesperadamente se mover, mas era inútil, no momento que entrasse no vazio só existia um meio de sair, e ela sabia disso, mas mesmo assim tentava um outro jeito.

Não queria fazer aquilo. Não sabia se seu coração iria aguentar. Lutar para sair dali era o único jeito, se não quisesse ver. Foi então que abriu os olhos.

A claridade fez seus olhos arderem, tentou tapar sua visão, mas seu corpo não reagia. Seus olhos começaram a se acostumar com a luz e o que era apenas um borrão começou a tomar forma. Ela estava sentada numa cadeira, na sua frente tinha uma mesa de jantar.

A comida estava à mesa. Era sua comida favorita, Dan Dan Mian. Vê-lo lhe trouxe muitas recordações, sua mãe muitas vezes lhe levava para comer fora.

"O que gostaria de comer Xia?"

Ela sempre lhe perguntava e a resposta de Xia era sempre a mesma Dan Dan Mian. Amava essa comida. Desde a primeira vez que sua mãe lhe levou para comer, nunca mais se esqueceu do sabor e sempre que podia ela queria comer lá de novo.

“Mamãe aconteceu alguma coisa?”

Ao ouvir a voz seu corpo se moveu sozinho. Ah, ela sabia o que estava vendo, eram memórias de alguém que não estava mais entre eles. Seu coração começou a doer, se ela não estivesse no vazio, lágrimas teriam escorrido pelo seu rosto.

Quando acabou de levantar seu rosto viu uma criança na sua frente. A criança estava sentada e a olhava fixamente, tinha parado de comer para olhar para ela. A criança era uma garota com cerca de oito anos de idade, sua pele era branca e seus olhos penetrantes. Parecia uma boneca com longos cabelos lisos.

As duas xuxinhas vermelhas em seu cabelo preto faziam um belo contraste em seu penteado de maria chiquinha. Um vestidinho vermelho cobria seu pequeno corpo e seus pés balançavam por não conseguir tocar o chão.

“Não aconteceu nada querida, mamãe está bem, mas ela vai ficar triste se você deixar sua comida esfriar.”

A voz que saiu de sua boca não parecia tão bem, ela sabia que aquelas palavras eram de uma mãe que queria confortar sua filha. E o sorriso que deu tentava tranquilizá-la. A garota no outro lado da mesa apenas sorriu de volta e continuou comendo seu Dan Dan Mian.

Xia ficou ali observando a pequena garota comendo alegremente. Olhando para a criança seus olhos se sentiram cansados e começaram a se fechar e tudo ficou escuro novamente.

Contudo, no vazio não existia um momento de paz, e sentiu uma dor em seu peito quando seus olhos abriram novamente. Seu corpo estava esfriando, mas ela sentia o calor a sua volta. Tudo estava pegando fogo. Sua visão estava turva, mas mesmo assim podia ver uma espada perfurando seu peito, o sangue escorria pelo ferimento e uma poça de sangue logo se formou no chão.

Ela levantou seu rosto e viu uma figura toda negra no outro lado da espada. A figura estava de pé na sua frente e de seus olhos escorriam lágrimas. O lugar a sua volta estava todo destruído e uma voz lhe disse diretamente a sua mente:

“Eu quero ele.”

E, então tudo ficou escuro novamente.

Os olhos de Xia se abriram mais uma vez. Mas agora algo estava diferente, ela podia sentir seu corpo. Dessa vez não estava mais no vazio. Sua visão foi direcionada para uma luz, mas aos poucos seus olhos se acostumaram a claridade.

Foi então que viu o teto do lugar, estava deitada numa cama macia. Ela tentou se mover e seu corpo doeu, se lembrou que tinha se ferido antes de desmaiar. Mas, então que lugar era aquele? Ela forçou mais um pouco seu corpo e conseguiu se levantar.

Agora sentada na cama olhou em volta e viu que estava num quarto, era um lugar simples. Tinha apenas uma escrivaninha, um armário e uma estante com livros e jogos. Alguns pôsteres de bandas e cantoras colados na parede. Aquele lugar era comum demais.

— É melhor não se mexer muito, senão, a ferida pode abrir.

Aquelas palavras a alertaram, mas não pelo perigo sobre suas feridas , e sim por quem estava falando. Ela viu um rapaz usando o uniforme da sua escola de pé em frente a porta do quarto, ele segurava uma pequena bacia com água e alguns panos.

Seu rosto parecia cansado, seu cabelo curto estava todo bagunçado, mas mesmo assim ele lhe deu um sorriso depois de alertar sobre o ferimento. Aquele à sua frente era Kishito Hishima, um colega de sala que tinha chamado sua atenção desde que chegou ao país.

"Por que logo ele?"

Foi o primeiro pensamento que Xia teve ao olhar para Kishito na sua frente. Desde que se mudou ela ficava incomodada com ele, mas não sabia o porquê, qualquer um que olhasse para via ele como um estudante comum, até mesmo Alicia e Donovan não entendiam porque ela se sentia incomodada.

"Minha princesinha está apaixonada."

Essas foram as palavras de Alicia quando lhe falou sobre ele. Alicia estava sempre brincando, e por isso não levou muito a sério o que ela falou. Xia também sabia que não era algo como amor, ela não tinha um sentimento como esse, mas Kishito a deixava apreensiva, aqueles olhos diziam que escondia algo e isso a fazia ter medo também.

Durante os últimos meses, na escola ela o observava. Porém, por mais que procurasse ele parecia uma pessoa normal, isso a deixava cada vez mais incomodada. Então ela decidiu segui-lo hoje, a professora o tinha segurado mais tempo na escola e por isso ela achou que seria o dia perfeito para descobrir sobre ele. Porém, tudo deu errado, foi encontrada por Yuki Misuhashi e, quando estava fugindo acabou sendo acertada e desmaiou.

"Ele deve ter me trazido até aqui."

Xia estava pensando demais e ela viu que Kishito ainda a olhava de pé em frente a porta. Ela precisava dizer alguma coisa, dar uma desculpa, e depois ir embora. Um arrepio lhe ocorreu quando se lembrou do que a voz disse no vazio.

"Eu quero ele."

Estava na hora dela usar uma habilidade que sempre pensou ser inútil, atuar, ela então com um largo sorriso no rosto lhe perguntou:

— Quem é você?



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