Volume 1 – Arco 1
Capítulo 10: O último pássaro?
A alma de Kishito estava deitada no chão perto da Laila que sem se importar muito olhava pra Xia com um sorriso no rosto. Xia olhou pra ele e se sentiu frustrada por não ter conseguido salvá-lo.
Depois de tudo que ele fez para salvá-la e no final ela pegou sua alma e a trancou ali. Ela não só não fez nada por ele como também o impediu de seguir em frente.
Xia continuou olhando para a alma de Kishito quando percebeu que havia algo diferente. Ela olhou em volta e viu todas aquelas almas deitadas em suas vestes brancas e quando olhou pra Kishito, ela reparou que existia uma marca vermelha em seu peito por baixo de suas vestes. Essa marca tinha um leve brilho que apenas se olhasse bem alguém poderia ver.
"O que é essa marca?"
Estendendo a mão para tocar a marca Xia se agachou perto da alma. E quando estava prestes a tocá-la.
— Se encostar nessa marca você irá matá-lo. — Laila que estava olhando as ações de Xia falou:
— Por que apenas ele tem essa marca? — Xia parecia surpresa e não tocou na marca depois do aviso de Laila.
Xia olhou em volta e não viu mais Laila, ela tinha desaparecido. Sem saber o que fazer ali ela achou melhor não tocar na alma de Kishito. Para ela Laila era um demônio que se disfarçava naquela forma infantil e mesmo sem gostar dela uma coisa ela tinha que admitir, Laila nunca mentia.
Se aquele pequeno demônio disse para não tocar então ela não tocaria. Xia já tinha ficado muito tempo ali, por um momento ela pensou em procurar sua mãe entre aquelas almas, mas achou melhor não. Mesmo se ela tentasse provavelmente Laila a impediria então ela decidiu ir embora. Usando a força da mente ela começou a se desligar da Sala dos Sonhos.
Abrindo seus olhos lentamente, Xia despertou de seu estado de meditação, na sua frente estava o senhor Hayama que ainda a olhava fixamente. Ela tinha ficado algumas horas dentro da Sala dos Sonhos, mas no lado de fora não tinha se passado nem ao menos um minuto.
Xia não estava familiarizada com a Sala dos Sonhos, pois essa foi a terceira vez que foi lá e essa foi a primeira vez que viu o Arranjo do Primeiro Guardião. Laila era alguém que guardava muitos segredos, mas sempre deixava bem claro o que ela procurava, ela queria as almas que tinham os fragmentos.
As pessoas da Makuredan sempre foram os peões de seu grande plano e ela nunca escondeu isso. Agora Xia era uma de suas peças mais importantes e ao mesmo tempo era descartável.
— O que você viu? — Hayama perguntou, enquanto a olhava esperando a resposta.
— Ele está na Sala dos Sonhos, Laila me mostrou ele.
O senhor Hayama mudou ao receber a resposta, colocou a mão no queixo, e abaixou a cabeça enquanto a preocupação estava estampada em seu rosto. Xia não sabia o que fazer nessa situação e permaneceu parada sem dizer nada, ela não sabia se tinha que perguntar, mas Alicia a vendo assim toma a sua frente.
— Senhor o que está acontecendo?
Senhor Hayama levantou a cabeça e começou a explicar o que estava acontecendo.
— Encontraram duas pessoas desmaiadas num beco durante a madrugada. De acordo com o policial que os encontrou, o lugar estava cheio de vapor, buracos no chão e marcas de cortes nas paredes. As duas pessoas foram levadas ao hospital, um deles é policial e está em estado grave.
— Isso é impossível, eu vi ele morrer e sua alma está na Sala dos Sonhos. — Surpresa, Xia se exalta com o senhor Hayama.
— Sim, e isso deixa as coisas mais complicadas. — Sem se importar com o modo que Xia falou o senhor Hayama continua.
— O que quer dizer senhor. — Percebendo que tinha se exaltado Xia volta ao seu tom normal.
— Um usuário de fogo e com o poder de retornar a vida. Parece que encontramos o último pássaro. — Yago estava entrando na sala enquanto explicava para Xia.
— Sim. Agora nós precisamos confirmar isso. Vocês duas estão dispensadas. — Senhor Hayama complementou voltando a olhar para a televisão.
Alicia estava se virando para sair, mas desistiu quando viu Xia ainda parada no mesmo lugar. Ela parecia estar criando coragem para dizer alguma coisa. Alicia vai até ela e lhe dá uma leve cutucada e fez um pequeno sinal com a cabeça quando Xia a olhou para ela continuar. Xia lhe acena concordando.
— Senhor Hayama!
— Sim Xia? — O senhor Hayama perguntou, enquanto continuava a ver televisão.
— Senhor eu queria permissão para ir confirmar se ele é um pássaro.
Senhor Hayama virou seu rosto e olhou para Xia. Ele viu que ela estava um pouco nervosa mesmo depois de criar coragem para falar. Em seu rosto ele esboçou um sorriso e disse:
— Já tem alguém lá para testar o garoto.
A decepção era visível no rosto de Xia, que já ia se virar para ir embora quando o senhor Hayama continuou:
— Mas, esteja preparada que eu tenho outra missão pra você em relação a ele.
— Sim senhor. — Apesar de seus rosto sério os olhos de Xia brilhavam, enquanto respondia a ele.
*****
A luz branca num teto branco estava deixando a visão de Kishito um pouco embaçada. Ele tinha acabado de abrir seus olhos e não sabia o que estava acontecendo, a luz o incomodava, mas ele não conseguia se mexer. Seu corpo estava paralisado e ele voltou a fechar os olhos, sua boca se mexeu, porém nenhum som saía.
Mesmo forçando seus olhos fechados, a luz ainda o incomodava e durante um tempo que ele não pôde contar ele tentou forçar seu corpo a se mexer. Acalmando-se ele começou a ouvir um barulho de sucção e pressão, contudo não podia identificar o que era.
Até o momento que seus olhos se abriram novamente quando ouviu um barulho de uma porta se abrindo.
— Oh! Eu não esperava que você acordasse tão cedo.
Kishito ouviu uma voz masculina, mas não conseguiu ver quem estava falando e continuou olhando para o teto esperando uma oportunidade de saber quem era.
— Ah certo você não deve tá me vendo.
O homem então chegou perto de Kishito e entrou na sua linha de visão. Com cerca de trinta anos de idade o homem tinha um rosto triangular, seus olhos castanhos estavam atrás das lentes de seus óculos redondos e seu cabelo curto. O jaleco branco que vestia não deixava dúvidas dele ser um médico. Ele deu um sorriso para Kishito e continuou a falar:
— Oi, eu sou o Dr. Tsukayama. Como eu fiz sua cirurgia eu sou responsável por você nesse tempo que vai passar no hospital. — O Dr. começou a olhar uma prancheta e continuou — O senhor tem uma boa saúde já que acordou rápido depois da cirurgia e isso é bom. Você teve sorte por alguém pagar essa cirurgia, eu nem imaginava que mandariam me buscar depois que aceitei esse trabalho. Agora tudo vai depender do seu corpo.
— Dr. Tsukayama? — Uma voz feminina foi ouvida vinda da porta.
— Sim?
— Aqueles quatro estão te procurando na sala de espera querendo informações.
— Tudo bem já vou lá falar com eles. — O Dr. pendurou a prancheta na cama e saiu falando: — Tatsumi-san aproveite que ele tá acordado e o prepare para fazer alguns exames.
— Sim doutor.
A enfermeira de nome Tatsumi chegou perto do Kishito. Ela aparentava ter cerca de vinte anos e tinha uma aparência bastante comum, um rosto arredondado, cabelos pretos lisos e olhos pretos. Ela deu a ele um sorriso simples e perguntou:
— Eu não sei seu nome então poderia me dizer?
Kishito abriu a boca para falar, mas nenhum som saiu dela. Ele estava sem poder falar e isso o assustou, ele mexeu a língua, no entanto não saia nenhum som. A enfermeira vendo o rosto dele assustado lhe deu outro sorriso.
— Parece que você não se recuperou completamente. Eles disseram que foi uma cirurgia rápida, mas complicada, então é normal ter alguns sintomas. A sua voz deve voltar em breve. Já que não sei como te chamar vou chamar apenas de senhor mesmo. — Tatsumi deu outro sorriso, enquanto pegou uma seringa, mostrou pro Kishito e disse: — Eu vou colocá-lo pra dormir um pouco tá ok.
Tatsumi injetou um líquido para entrar na veia do Kishito junto com o soro e saiu do quarto. Alguns minutos se passaram e Kishito sentiu-se sonolento, o barulho estranho da sucção e pressão voltou a ser escutado por ele. O barulho tinha um efeito calmante sobre Kishito que lutou um pouco, mas sem poder se mexer ele apenas aceitou e dormiu pelo efeito do medicamento.
Algumas horas depois Kishito voltou a abrir os olhos, ele estava olhando a mesma luz, mas agora ela estava com uma leve tonalidade escura. Sua visão estava voltando ao normal e percebeu que a enfermeira estava perto dele o olhando acordar.
— Ele acordou senhor. — A enfermeira Tatsumi falou.
— Obrigado. Agora você poderia nos deixar sozinhos.
Uma voz masculina foi escutada por Kishito, era uma voz firme e pesada. Apesar de suas palavras educadas sua voz não dava essa impressão. Kishito viu Tatsumi olhar para o lado e se forçou a um leve sorriso e saiu.
— Boa noite senhor sem nome, a enfermeira me disse que você não pode falar ainda. — A mesma voz de antes começou a falar. — Nós gastamos um bom dinheiro pra te manter vivo e meus amigos acham que foi tudo em vão, já eu acho que foi um bom investimento. Então, que tal mostrarmos a eles que eu estava certo?
Kishito tinha escutado falar do médico que alguém tinha agido para o salvar, mas ele não entendia o porquê. Kishito se lembrava que o policial tinha perfurado seu peito e achava que tinha morrido. Ele tinha certeza que seu coração foi perfurado. Porém, agora ele tava ali num hospital e esse homem que dizia ter salvado ele estava ali também.
— Isso é uma perda de tempo Henry. — Uma outra voz masculina falou, mas dessa vez ele parecia estressado.
— Acalmasse garoto, não é assim que as coisas funcionam. — Uma terceira voz masculina foi escutada que tinha um tom calmo e sereno.
— Aff! Garoto levante ele por enquanto e me deixe falar. Se continuar me interrompendo essa será sua primeira e última missão. — A primeira voz voltou a falar depois de suspirar um pouco.
— Sim, senhor Henry.
O garoto não replicou e acionou um botão que fez a parte do peito e cabeça do leito aonde Kishito estava se levantar. Agora sentado ele podia ver as pessoas que estavam falando. Na sua frente estavam quatro pessoas, três homens e uma mulher.
No entanto, Kishito não olhou muito para eles pois logo percebeu uma coisa estranha, ele olhou para baixo e viu dois fios junto com dois tubos saindo do seu peito. Com os olhos ele seguiu os fios e viu uma máquina ao lado da cama que parecia bombear algo para seu corpo, o barulho que ele tinha escutado um tempo atrás vinha daquela máquina e ele ficou espantado pois rapidamente ele suspeitou o que era. Mas ele não queria acreditar até que uma voz confirmou tudo, era a voz do primeiro homem novamente:
— Esse é o seu novo coração. O que achou dele?