Volume 1
Capítulo 2: Batalha da Aldeia Goblin
A rota do lago subterrâneo até a superfície era um único longo caminho dentro da caverna, pelo qual eu estava saltando e escorregando. Eu estava me movendo um pouco melhor do que originalmente imaginei. Mesmo na úmida escuridão, usar a “Percepção de Magia” fez com que parecesse tão brilhante quanto um dia ensolarado para mim.
Quando cego, eu estava muito focado em meus passos para notar, mas slimes podem se mover bem rapidamente quando querem. Eu nunca fiquei particularmente cansado, mas não havia nenhum motivo real para me apressar também, então eu mantive um ritmo de caminhada regular pelos padrões humanos. (Isso definitivamente não era porque da última vez dei cara na água.)
Enquanto andava, eu descobri que o caminho estava bloqueado por um grande portão... o primeiro objeto feito pelo homem que eu vi nesta caverna. Muito suspeito, mas não me surpreendeu muito. Era como qualquer um dos múltiplos RPGs que eu havia visto antes. Toda sala de chefes, geralmente, tinha um portão na frente.
Então, como vou abri-lo? Usar “Lâmina de Água” para abrir meu caminho pelas barras? Parecia uma ideia decente, mas enquanto pensava nisso, a porta se abriu sozinha, fazendo um rangido. Com medo, corri para um lado e observei.
— Whew! Finalmente abri essa coisa. Todo o mecanismo da tranca deve ter enferrujado... — Alguém disse.
— Sim, aposto nisso. Ninguém sequer tentou entrar aqui por trezentos anos ou algo assim, né? — respondeu uma segunda voz.
— Não há registros de alguém tentando entrar. Tem certeza de que estamos seguros? Não estamos nos deixando abertos para um ataque repentino...? — comentou uma terceira voz.
— Gah-hah-hah-hah! — riu a segunda. — Qualé. Talvez esse cara tenha sido invencível alguns séculos atrás, mas é só um lagarto grande, não é? Eu já contei a vocês sobre como derrotei um basilisco sozinho uma vez, não contei? Vai ficar tudo bem!
— Eu estava pensando sobre isso, na verdade, — a terceira voz respondeu. — Você tem certeza de que é a verdade, Kabal? Um basilisco é um monstro de classificação B. Você realmente lidou com ele sozinho?
— Pare de bancar o idiota! Eu sou de classificação B, sabia?! Um réptil enorme não vai me perturbar!
— Certo, certo. Só mantenha sua guarda, se puder. E lembre-se, nós sempre podemos usar minha habilidade “Escapar” se as coisas ficarem ruins...
— Podemos guardar o bate-papo amigável para mais tarde? — a primeira interviu. — Preciso de um pouco de silêncio. Já é hora de ativar a “Artes de Ocultação”!
Três deles, pelo que soou, porém, nenhum deles estava fazendo um grande esforço em furtividade. E eu entendi tudo que disseram, também. Estranho.
Certo. Sua habilidade “Percepção de Magia” pode ser adaptada para decifrar ondas sonoras que possuam significado intencional armazenada dentro delas.
Okay. Então eu não podia falar com eles, mas podia entender o que estavam falando. Isso era bom. Eu nunca fui muito talentoso em línguas estrangeiras. Eu sempre fui uma daquelas crianças no fundo da sala, reclamando: “Por que eu preciso disso? Nunca vou morar fora do Japão! Guarde para alguém que vai!”
Agora que estou aqui, algo me diz que aquela desculpa não funcionaria por muito mais tempo. Hora de ler uns livros, eu acho.
Mas isso não era importante. O que eu deveria fazer? Essa era uma questão mais difícil do que abrir a porta, com certeza. Eu não sabia o que eles queriam, mas se eu tivesse que adivinhar, eles eram aventureiros. Caçadores de tesouros, talvez? Eram os primeiros humanos que eu havia encontrado nesse mundo... eu sentia um impulso em segui-los para ver o que planejavam. Mas... ooh, se um slime que não conseguia falar a língua deles aparecesse, o que fariam? Me atacar sem nem pensar, eu aposto. Melhor deixar para a próxima. Segurança primeiro. Eu podia deixar as coisas humanas para quando eu pudesse me comunicar com eles.
O homem magro que liderava o trio fez algo, e os três repentinamente começaram a sumir de vista. Não inteiramente, lembre-se. Ele mencionou alguma coisa sobre “ocultação” ... algum tipo de habilidade, presumivelmente. “Eu me pergunto para que ele aprendeu aquilo. Não para entrar no quarto das pessoas, eu espero. Que escandaloso. Terei que fazer amizade com ele mais tarde.”
Uma vez que o trio sumiu de vista seguindo pelo caminho, pulei de volta para a ação. Não há necessidade de apressar, não era como se essa seria minha última chance de encontrar pessoas. Devagar e sempre se vence a corrida, como os antigos diziam, e eu acredito neles.
Pela porta eu fui e, antes que qualquer um deles pudesse voltar para verificar as coisas, desapareci.
※
Prosseguindo uma boa distância da porta, eu cheguei em uma intersecção com vários caminhos que se ramificavam dela. Qual delas me levaria até a superfície? Pensar sobre isso não ajudaria muito, então eu escolhi um caminho e segui reto.
Estalido! Estalido!
Nossos olhos se encontraram.
Lentamente, eu desviei os meus. Havia uma gigantesca serpente de aparência ameaçadora diante de mim, uma com escamas espinhosas negras, pele dura e uma aparência que fazia as serpentes da Terra parecerem fofinhas. Essa criatura em meu caminho me fez sentir como um cervo — ou um slime — sob holofotes.
Minha mente ficou em branco. Talvez eu ficasse bem se ela não me notasse? Lentamente, tentei me afastar. Sem sorte. A serpente negra levantou a cabeça, correspondendo aos meus movimentos. Ela sibilou para mim enquanto me ameaçava silenciosamente com os olhos. "Droga. Não vai deixar eu me safar!" Nós não precisávamos trocar palavras para isso ficar claro.
Devo lutar contra ela? Eu possuía esse golpe finalizador que passei a última semana treinando, não é? É só que... você sabe, lutar com um monstro como esse precisaria de um pouco de... força extra. Em outras palavras, eu estava cagando nas calças.
“Mas aguente firme. Controle-se. Pensando nisso, eu já passei por coisas mais assustadoras antes. Lembra-se de Veldora? Comparado com aquele dragão, esse cara... Inferno, talvez não seja tão assustador, afinal.”
“Talvez tudo dê certo!”
Com um estado mental um pouco mais calmo, levei um momento para avaliar a serpente negra. Ela deve ter pensado que havia me atordoado em silêncio, que era incapaz de me mover. Provavelmente pensando em modos de acertar o golpe final em mim. Talvez tenha achado o conceito de me engolir inteiro muito sem graça ou algo assim.
Bem, não adianta me segurar. Sem outro momento de hesitação, eu endireitei-me na direção do pescoço da serpente e soltei uma “Lâmina de Água”. Com um letal corte, a lâmina perfurou o ar e acertou o monstro.
Aconteceu tudo em um instante... tão rápido, eu duvidei dos meus olhos. Sem qualquer resistência, a “Lâmina de Água” cortou a cabeça da serpente negra. Uma serpente tão grande, tão ameaçadora, eu estava certo de que não seria nada além de um lanche da tarde.
Essa habilidade... pode ser um pouco mais forte do que imaginava. Se eu a tivesse usado no trio de aventureiros, as coisas poderiam ter ido muito mais rápido. Ainda bem que decidi experimentá-la em um monstro primeiro.
Antes de prosseguir, vamos fazer uma rápida recapitulação do que estava ocupando meu estômago no momento. Veldora, 15%. Água, 10%. Ervas medicinais, poções de recuperação e semelhantes, 2%. Minérios e outros materiais, 3%. Total, cerca de 30% em uso. Cada golpe de “Lâmina de Água” não usava nem mesmo um copo normal de água, então... wow, eu provavelmente poderia cuspir milhares delas antes de sequer começar a me preocupar com a falta de água.
Muito mais eficiente do que algum feitiço estupido. “Acho que estarei dependendo disso contra monstros por um tempo.”
Então, sobre essa serpente. Teria alguma habilidade que eu pudesse roubar ao absorver e analisar? Não há tempo a perder. Vamos tentar.
O resultado foi... nada mal. Além da capacidade de me disfarçar como uma serpente negra, eu ganhei as duas habilidades seguintes:
“Visão de Calor”: Habilidade Natural. Identifica quaisquer reações de calor na área local. Não afetada por nenhum efeito de ocultação.
“Sopro Venenoso”: Habilidade Natural. Um poderoso ataque venenoso (corrosão) do tipo respiração. Afeta uma área de sete metros à frente do usuário em um raio de 120 graus.
Parecia que esse veneno tinha um efeito corrosivo em seu alvo, danificando qualquer equipamento ou carne que tocasse. Um aventureiro normal provavelmente teria muitos problemas contra esse cara, não é? Embora, quem poderia dizer, realmente, dado o tipo de magia disponível neste mundo.
Passei um tempo analisando as habilidades dessa serpente que acabei de vencer. Quanto mais cartas na minha mão, melhor, imaginei.
Os resultados:
- Imitar a serpente negra aumentava meu volume corporal.
- As habilidades que acabei de ganhar podem ser invocadas sem ter que imitar a forma da serpente, embora seu desempenho possa sofrer como resultado.
Para entrar em mais detalhes:
- Eu podia quebrar e armazenar os monstros que consumia com “Predador” em meu estômago. Eu usei “Predador” em meu próprio corpo para reparar danos, e isso forneceu algumas células extras para ajudar.
- “Habilidades Naturais” pareciam ser habilidades exclusivas de um certo tipo de monstro. “Absorver”, “Auto-Regeneração” e “Dissolver” são minhas habilidades naturais como slime. Contudo, para usar as habilidades naturais, eu precisava tomar a forma do monstro em questão, caso contrário não poderia usá-las completamente. Eu ainda podia usá-las parcialmente, no entanto, algumas habilidades — como “Visão de Calor” — pareciam funcionar bem de qualquer forma.
Resumindo: “Predador” era foda pra caralho. Eu mal podia esperar para pegar algumas outras habilidades úteis com essa coisa.
※
Três dias se passaram após minha batalha contra a serpente. Eu ainda estava na caverna. Eu não conseguia sentir calor, frio ou qualquer coisa, mas pelo que sabia, estava muito frio aqui.
Eu ainda não tinha visto um único raio de sol, mas minha visão ainda funcionava muito bem no escuro. No entanto, uma certa ansiedade estava começando a aparecer em minha mente... Quer dizer, eu tecnicamente sabia que não era possível, mas não podia deixar de pensar nisso: — ...Eu não estou perdido, estou?
Não. Eu não podia estar. Que tipo de idiota se perde logo na primeira caverna? Essa primeira caverna facílima devia ser um trampolim que te ajuda a mergulhar na experiência, não? Parecia que aquele trio de aventureiros sabia para onde diabos estavam indo, não é?
Eu ficaria bem. Provavelmente era apenas um caminho realmente longo. Não saber o caminho exato realmente me deixou um pouco nervoso, no entanto. Havia alguma maneira de obter ajuda.
Certo. Exibir o percurso que você tomou, em seu cérebro?
Sim
Não
Pfft. Eu ri de mim mesmo. Você está brincando comigo?! Eu pensei, incapaz de resistir a choramingar um pouco. Se eu tinha algo assim, porque não me disse mais cedo?!
Claro que eu escolhi “Sim” imediatamente. Eu costumava pensar que auto mapeamento era trapaça, mas agora que eu sabia o erro dos meus caminhos. Com jogos antigos, era esperado que você trouxesse seu próprio lápis e papel quadriculado, preenchendo os quadrados com cada passo que você desse na masmorra. Isso era o que os tornava tão divertidos — certificar-se de que você estava no caminho certo com cada passo que você dava. Com o passar do tempo, porém, as pessoas ficaram mais dependentes dos guias de estratégias e os jogos começaram a ser fornecidos com seus próprios recursos de mapeamento integrados. Sugava toda a verdadeira diversão do gênero, você poderia dizer — mas uma vez que você se acostumava com a conveniência, não havia como voltar atrás.
O que estou tentando dizer é... se você sabe que tem um recurso tão poderoso na ponta dos dedos, é melhor usá-lo, certo? Além disso, isso não era um jogo. Era a vida real.
Eu olhei o mapa que surgiu em minha mente.
“Eu estou lendo isso direito? Parece que eu tenho circulado pela mesma área de novo e de novo…”
………
……
…
Seguindo o mapa em meu cérebro, mergulhei em um ramo da caverna que nunca me preocupei de olhar antes.
Lá, fui recebido por uma visão que me iludiu completamente pelos últimos três dias.
“Heh-heh-heh. Acho que estou mesmo perdido. Embaraçando-me desta forma... essa deve ser uma caverna infernal. Eu preciso passear por aí.”
(E minha falta de direção não era o problema, tudo bem?!)
Eu devo estar chegando perto da entrada... do ar livre. Musgo e ervas daninhas estavam começando a aparecer nas paredes e no chão. E eu não sabia onde o sol estava, mas a luz, fraca como era, estava começando a entrar. O que significava que era dia. Ao longo do caminho, eu tive alguns encontros com monstros. Para ser exato:
- Um monstro centopeia (“Centopeia do mal”, classificação B+)
- Uma aranha grande (“Aranha negra”, classificação B)
- Um morcego vampiro (“Morcego gigante”, classificação C+)
- Um grande lagarto encouraçado (“Armadurasauro”, classificação B-)
Sem mais daquelas serpente negras, contudo. Talvez fosse única.
Eles eram todos muito fortes. Não que eu pudesse falar, dado que “Lâmina de Água” ainda era suficiente para terminar uma batalha por si só. Mas o morcego desviou das minhas lâminas por tempo o suficiente para dar algumas mordidas e meus ataques apenas ricocheteavam no corpo do lagarto se eu não acertasse no ângulo certo.
Eles não seriam derrotados facilmente. A centopeia se escondeu por tempo suficiente para me atacar pelas costas, mas entre a “Percepção de Magia” e a “Visão de calor”, eu já tinha ideia dos meus arredores, então estava preparado. Uma “Lâmina de Água” lançada para trás foi o suficiente para terminar este encontro.
A aranha, por outro lado. Oof.
Pra começo de conversa, eu sempre tive um problema quando se tratava de insetos. Era como se eu fosse fisicamente repelido por eles. Apenas um olhar era necessário para mim, obrigado. Virar um slime deve ter fortalecido minha fortitude mental, ao menos, o suficiente para que eu lutasse com aquele cara sem fugir gritando.
Sinto muito, cara, você está recebendo um ataque com força total! Cinco “Lâminas de Água” de uma vez, atiradas profundamente em seu tórax. Eu não queria isso em minha vista por outro segundo.
Não que isso me impediu de consumi-la depois, nem nenhum dos outros caras. Sobrevivência do mais apto e tal. A aranha e a centopeia me fizeram dar uma pequena pausa, sim, mas eu segui em frente.
Apesar de que, se algum monstro barata aparecesse, eu definitivamente teria saído correndo. Não era uma questão de vencer ou perder. Só porque eu podia não queria dizer que eu sempre deveria.
Entre isso e aquilo, eu consegui absorver vários monstros nessa caverna. Vamos ver as habilidades que eu adquiri.
Serpente Negra: “Sopro Venenoso”, “Visão de Calor”
Centopeia: “Exalo Paralisante”
Aranha Grande: “Teia Pegajosa”, “Teia de Aço”
Morcego Vampiro: “Drenar”, “Onda Supersônica”
Lagarto Encouraçado: “Couraça”
Sempre que você consegue um brinquedo novo, você quer usá-lo, né? Eu também. Então eu usei o “Grande Sábio” para pesquisar todas as habilidades que aprendi.
Basicamente, eu não usei o “Sopro Venenoso” da serpente. Eu, na verdade, me transformei para tentar usar contra o lagarto, e... tipo, whoa. Toda aquela armadura não fez nada pelo armadurasauro. Ele literalmente derreteu em uma poça de gosma diante dos meus olhos. A coisa mais nojenta que vi na minha vida, todos aqueles órgãos e pedaços de carne por toda a parte. Tive que borrifar outra dose para quebrar o resto dos bocados mastigáveis. A última vez que teria que ver isso, espero.
Realmente, esse sopro era quase forte demais para ser considerado. Eu não queria usá-la demais, se possível. “Visão de Calor”, contudo, era incrível. Praticamente toda criatura viva emite calor. Combinado com “Percepção de Magia” significava que era quase impossível me emboscar. Não havia como dizer que tipo de magia ou habilidades especiais eu encontraria ao começar a lidar com humanos ou monstros inteligentes de alto-nível, então eu não podia me dar ao luxo de baixar a guarda.
Em seguida, a centopeia. Eu quase não queria imitar aquele cara, por conta da aparência e tudo mais. Seu sopro tinha aproximadamente o mesmo alcance que o da serpente negra, e sua forma também era do mesmo tamanho. Como eu imaginei, tentar usá-lo na forma de slime limitava o alcance para apenas cerca de um metro. Poderia ser útil para um ataque surpresa, eu suponho, mas se um inimigo já estivesse dentro desse raio, eu seria derrotado a menos que eu me transformasse ou corresse, então...
A armadura do lagarto, como mencionei, apresentava zero resistência contra o “Sopro Venenoso”. Eu não podia esperar muito disso. Além disso, eu já tinha "Resistência a Ataque Físicos”, então não havia muito sentido. Usá-la na forma slime só fazia minha superfície externa um pouco mais dura, tipo os slimes metálicos que apareciam naquela série de RPGs e davam um monte de EXP. Dava um belo brilho metálico ao meu corpo turquesa; o que quer que tenha feito comigo deve ter mudado o modo como a luz reagia à minha superfície. Eu não queria testar o dano que levaria com isso, então seu efeito permaneceu um mistério. Esse pequeno tom extra pode ajudar a assustar meus inimigos em submissão.
Isso basicamente envolvia os três. A verdadeira carne, por assim dizer, estava nos outros dois. Eles eram fascinantes pra caramba.
Primeiro, a aranha. Quem não queria imitar aquele famoso super-herói que fazia todas as coisas aracnídeas? Disparando teias de suas mãos, poderosas o suficiente para deixá-lo balançar ao redor de arranha-céus, e tudo mais?
“Teia Pegajosa”, aparentemente, foi originalmente concebida para permitir que o usuário envolvesse suas presas em teias, deixando-os imóveis. Mas eu poderia usá-la para fazer alguns arremessos de teia extravagantes? Vamos tentar. Aponte para aquele galho de árvore e... Whoosh! ...Swiiiiing………
Então, uh, vamos para o fio de aço.
O que? “Teia Pegajosa”? Nunca ouvi falar. Apenas uma habilidade que deixa você pendurado imóvel no ar. E vamos para... “Teia de Aço”.
Eu acho que isso serve para bloquear ataques inimigos. A aranha a usa para ajudar a criar uma teia eficaz (isto é, labiríntica), o Sábio me disse. Então eu prendi um fio e chicoteei-o contra uma árvore. Whoosh! Snap!
E cortei o tronco imediatamente.
Com “Percepção de Magia”, eu podia dizer que essa “Teia de Aço” seria extremamente difícil para o olho nu de um ser humano detectar. Se eu trabalhasse um pouco com ela, aposto que poderia ser uma arma decente. Eu passei um pouco de tempo fazendo exatamente isso, no caso de vir a calhar mais tarde.
Finalmente, o morcego. Para ser honesto, desse zoológico inteiro, minhas maiores expectativas estavam no morcego.
Tipo... quer dizer, nossa, “Drenar”. Se acertar, você poderá usar 70% das habilidades do seu alvo por um período limitado. Grande whoop! “Predador” era muito mais eficaz. Fale sobre uma queda abrupta na qualidade. E qual é o sentido de sugar o sangue de alguém quando você pode simplesmente analisar seus dados? “Eu vou deixar isso de lado”.
“Onda Supersônica, por outro lado, despertou meu interesse. Esta habilidade tinha o efeito de confundir seus inimigos ou fazê-los perder a consciência, mas era originalmente usada para ecolocalização. Assim como os morcegos no meu planeta natal, você podia usar essas ondas sonoras para descobrir exatamente onde você e outros objetos estavam posicionados.
Mas a habilidade não importava para mim. As ondas sonoras que emitia importavam. Esse slime estava prestes a recuperar a voz. Fale sobre um golpe de sorte. Em vez de ter que reinventar as células que eu tinha, poderia apenas absorver um monstro relevante e absorver a habilidade para mim.
“Posso formar uma voz? Essa é a parte complicada.” Então eu continuei minha pesquisa.
Inquieto, abandonando todo o sono (que eu já não tinha), andei por três dias e três noites, tentando.
O resultado final:
— EU VENHO DO ESPAÇO SIDERAL!
Perfeito!
Ainda estava um pouco distorcido, como alguém batendo na garganta enquanto gritava através de um ventilador, mas era, definitivamente, uma voz! Agora tudo que tinha que fazer era ajustá-la!
Tentando meu melhor para acalmar minha excitação, comecei o longo e árduo processo de ajuste de voz.
Essas ondas supersônicas eram tão úteis. Eu pensei lembrar de ter lido algo sobre uma arma que usava ondas sonoras. Um detonador sônico ou uma bomba sônica ou algo assim? Eu poderia fazer isso?
Recebido. Há uma chance de que a habilidade “Super Vibração” possa ser derivada de “Onda Ultrassônica”. Isto não pode ser adquirido no momento.
“Então eu preciso derivar ou mudar a habilidade de alguma forma? É uma pena, mas não posso fazer nada por enquanto, eu acho. Não é como se tudo fosse ser entregue a mim em uma bandeja de prata. Talvez eu esteja ficando muito ganancioso, mas quanto mais cartas em mãos, melhor, certo?”
“Não há necessidade de empurrar as coisas rápido demais. Obter cordas vocais é uma enorme vitória por si só. Eu deveria estar feliz com isso.”
Olhando para trás, eu havia obtido diversas habilidades em um curto espaço de tempo enquanto vagava por aí, continuando com a minha pesquisa enquanto almejava pela saída.
E, enquanto isso levou um tempo, finalmente consegui. O lado de fora. A primeira vez que consegui me aquecer na luz solar deste mundo.
※
“Parece que já faz um tempo, saindo assim. Já se passaram vários meses, parando para pensar. Espero que a luz não me queime ou derreta como um vampiro…” embora, como um monstro, eu teria um conhecimento instintivo do que seria perigoso para a continuação de minha existência.
As pessoas fazem coisas que sabem que são ruins para elas o tempo todo, né? Sem piada. Nós poderíamos aprender algo com esses monstros.
A caverna, no final, estava em uma floresta. A saída era apenas um buraco no pé de uma montanha... que tá mais para uma pequena colina, na verdade, que se destacava contra as vastas árvores que a rodeavam. De fato, graças a densa folhagem, essa colina era o único ponto em que se podia ver o sol. Um passo para a floresta, e tudo estava escuro novamente.
Subindo para o topo da colina, eu vi uma espécie de padrão estranho esculpido nela. Um pentagrama mágico ou algo assim? Certamente parecia isso. Talvez aqueles aventureiros que eu encontrei fossem os responsáveis? “Acho que não importa muito”. É como dizem, um homem sábio se afasta do perigo. Então me afastei.
Uma quantidade razoável de tempo se passou desde que saí da caverna. O sol estava começando a se pôr, o que indicava que eu deveria ter chegado a saída por volta do meio-dia. Eu tinha um relógio interno surpreendentemente preciso, e teria sido bom se ele pudesse se alinhar com um senso de tempo padronizado.
No momento que pensei sobre isso, aconteceu. Sheesh. “É tão fácil fazer coisas assim? Esse Sábio é um grande assistente pessoal para se ter por perto.”
De qualquer forma, já passava das quatro da tarde. Hora de se preparar para o jantar, mas, infelizmente, eu não precisava mais comer. Eu podia, mas a falta de significado do gesto provavelmente me faria sentir vazio por dentro.
Então continuei brincando com as novas habilidades que eu havia obtido dos monstros que consumi na caverna. Como usá-las, maneiras legais de combiná-las, o que mais eu podia fazer com elas, etc. A fala foi um foco particular.
Foi o que ocupou meu tempo enquanto eu continuava pelo caminho que encontrei. Nenhum destino em particular. Seria legal se houvesse uma cidade ou aldeia com alguém legal com quem eu pudesse conversar... mas tudo estava incrivelmente tranquilo nos últimos dias. Enquanto na caverna era comum ser atacado com frequência, do lado de fora não recebi quase nenhuma atenção. Apenas uma vez, enquanto praticava minha fala, uma matilha de lobos começou a me perseguir. Eu tentei ameaçá-los: — Ah? — eu disse – e foi o suficiente.
— Yipe! — com ganidos patéticos, eles fugiram para longe. Estamos falando de vários caninos enormes, cada um com dois metros ou mais de comprimento, e a visão de um slime os assustou. Patético.
Não que eu me importe em ficar sozinho. Contudo, conseguir o olfato de um lobo seria bem legal.
A reação me surpreendeu o suficiente para que eu prestasse atenção aos meus arredores. Acontece que não apenas os lobos... nenhum monstro se atrevia a ficar a alguns metros de mim.
Eles estavam realmente com medo? Com certeza parecia isso, mas... tipo, por quê?
Enquanto pensava sobre isso, minha habilidade de “Percepção de Magia” avistou um grupo de monstros se aproximando.
Nada como uma boa crise vindo até você do nada, huh?
Eles eram pequenos em tamanho, seus equipamentos simples e mal feitos. Seus rostos estavam sujos e desprovidos de inteligência, mas com suas espadas, seus escudos, seus machados de pedra e seus arcos, não eram totalmente bestiais. Levou meramente um instante para minha massa cinzenta descobrir quem eram eles... goblins, aqueles infames saqueadores de muitos grupos de aventureiros.
Fale sobre como se manter no roteiro. Sem dúvida, eles estavam aqui para atacar os heróis mais fracos... o que significava, eu, eu acho. Mas, sério, trinta deles contra um único slime? Meio demais, não é?
E, no entanto, eu não senti nem um pingo de medo. Meus instintos me diziam que eu não tinha absolutamente nada a temer. Suas espadas estavam enferrujadas e suas armaduras eram finas e rasgadas nas bordas. Alguns deles estavam vestidos com nada além de farrapos manchados. Comparado aos lagartos encouraçados e as aranhas com enormes lâminas serrilhadas em seus pés com as quais havia lidado antes, não conseguia imaginar os equipamentos deles infligindo qualquer dano em mim. Além disso, se as coisas ficassem cabeludas, eu podia entrar no modo serpente negra e soltar o “Sopro Venenoso” neles, transformando-os em poças de gosma...
Enquanto os avaliava, o aparente líder dos goblins abriu sua boca.
— Grah! Indivíduo forte… Você tem negócios por aqui?
“Huh. Goblins falam. Ou talvez ‘Percepção de Magia’ esteja me ajudando a decifrar seus grunhidos.”
“E... vamos lá, ‘indivíduo forte’? Primeiro, eles estão me cercando com suas armas; então rolando o carpete vermelho para mim… O que eles querem?”
Isso me deixou curioso. Eles não pareciam prontos para cair em cima de mim imediatamente. Pode ser uma boa chance de testar minha fala. Não há melhor momento para começar do que agora.
Eu dei uma rápida olhada nos goblins .
Para eles, esse deve ter sido um dos momentos mais frenéticos de suas vidas. Seus olhos, assim como suas armas, estavam mirados em mim, apesar de que alguns deles estivessem prontos para fugir com a menor provocação. O líder, enquanto isso, estava completamente apto ao posto, seus olhos estavam sérios, praticamente perfurando buracos em minha forma gelatinosa.
“Hmm. Eles parecem inteligentes o suficiente. Talvez essa coisa de conversar possa funcionar, afinal.”
“Mas, eles me entenderão?”
Concentrei meus pensamentos em minha, ainda recém-nascida voz, e cautelosamente tentei algumas palavras.
— Prazer em conhecê-los, eu acho? Meu nome é Rimuru. Eu sou um slime.
Os goblins murmuraram entre si. Será que um slime falante os surpreendeu, talvez? Eu pensei… apenas para encontrar alguns deles já se curvando diante de mim, jogando as armas fora.
Estranho.
—G-garrh! Indivíduo forte! Nós... nós vemos sua força poderosa. Por favor! Abaixe sua voz!
Mm? Eu coloquei muita força nela? Talvez me entenderem não fosse tão importante assim, afinal. Claramente eu estava os enlouquecendo.
Imaginei que deveria me desculpar. — Sinto muito, eu ainda não ajustei isso direito…
— Nós... nós não precisamos de nenhum pedido de desculpas de alguém tão grandioso quanto você!
“Acho que funcionou. Isso está se tornando uma prática legal.” Fiquei impressionado que o bom e velho japonês funcionou com esses caras. Com toda a gentileza que me deram, imaginei que deveria retribuir o favor..., mas, considerando o quão aterrorizados estavam, eu também poderia mostrar a confiança que eles achavam que eu tinha.
— Então, precisam de algo? Eu não tenho nada para fazer por aqui.
— Entendo. Aldeia de nós é adiante. Sentimos monstro forte por perto, então patrulhar viemos.
— Um monstro forte? Eu não vi nada do tipo…?
— G-gaah! Grah-gah-gah! Que piada! Você não pode nos enganar, mesmo nessa forma!
Esses caras estão com a ideia errada. Aparentemente, acham que o tal intruso poderoso se disfarçou de slime. Bom, goblins, a casta inferior mundialmente famosa na hierarquia dos monstros. Eu não deveria ter esperado muito.
Os goblins e eu conversamos por mais algum tempo e, em pouco tempo, acabei recebendo um convite para a aldeia deles. Eles estavam dispostos a me levantar um pouco, até. Caras muito legais, considerando o quanto estavam desgrenhados. Então aceitei. Eu não precisava dormir, mas um pouco de descanso nunca machucou ninguém.
Ao longo do caminho, eu ouvi um pouco das fofocas locais. Acontece que o deus que eles adoravam havia desaparecido recentemente. Sem isso, os monstros locais começaram a agir muito mais do que antes. Ao mesmo tempo, mais aventureiros humanos... “indivíduos poderosos”, como eles dizem... estavam começando a invadir a floresta. E assim por diante.
E, curiosamente, quanto mais falávamos uns com os outros, mais claramente eu comecei a entendê-los. Deve ter sido minha habilidade “Percepção de Magia” se acostumando com como quer que a língua goblin passava pelas partículas no ar. “Talvez entrar em algum tipo de prática com goblins antes de minha grande estreia humana foi uma boa ideia, afinal”, pensei enquanto seguia em frente."
A aldeia era surpreendentemente suja. Talvez eu não devesse esperar muito de um covil de goblins. Eles me guiaram ao que, eu suponho, fosse o mais estruturalmente sólido dos prédios. Tinha um telhado de palha esburacado que estava apodrecendo em certas áreas, paredes contendo apenas alguns pedaços de madeira lisa pregadas a ela. Nenhuma favela que eu havia visto em meu mundo poderia derrotar essa.
— Sinto muito por mantê-lo esperando, honrado hóspede. — Um dos goblins disse ao entrar. O líder da força expedicionária que encontrei mais cedo o acompanhava.
— Oh, não há necessidade disso. — Eu disse, mostrando meu sorriso de vendedor — ou, nesse caso, meu sorriso de slime.
— Não se preocupe comigo, eu não esperei por muito tempo.
Algo sobre sorrir para o parceiro de conversação sempre fez maravilhas para manter negociações seguindo seu rumo. Uma vez que você estava ciente disso, era assustador o quão bem funciona. Não que eu soubesse o que estávamos negociando ainda.
— Peço desculpas por não podermos te fornecer mais hospitalidade, — o goblin disse enquanto trazia algo parecido com chá para mim. — Eu sou o ancião desta aldeia.
“Até goblins devem ter essas coisas”, eu pensei enquanto bebia um gole (bem, tecnicamente, deslizei por cima da xícara de chá, mas é quase a mesma coisa). Eu não conseguia detectar nenhum sabor disso, o que fazia sentido, já que eu não tinha esse sentido. Acho que foi para o melhor, pelo que eu sabia. Minhas habilidades de “Análise” não detectaram nenhum veneno, mas supostamente possuía um sabor amargo e ácido.
Era bom ver os goblins tentando bancar os bonzinhos comigo, contudo, então me certifiquei de educadamente beber.
Então decidi ir direto ao ponto: — Então, a que devo o favor? — perguntei. — O que fez você decidir me convidar para sua aldeia? — Isso tinha que ser mais do que monstros agindo como amigos entre si.
O ancião da aldeia tremeu um pouco. Então, firmando sua resolução, ele virou-se para mim.
— Você ouviu, eu acredito, que os monstros têm estado mais ativos por aqui recentemente? — Eu tinha, no caminho até aqui.
— Nosso deus tem protegido a paz nesta terra por gerações, mas cerca de um mês atrás, ele se escondeu de nós. Isso permitiu que os monstros começassem a se intrometer em nossas terras mais uma vez. Nós não desejamos deixar que isso continue, então temos lutado de volta…, mas em termos de energia bruta, eles são bem mais fortes.
Hmmm. Ele estava falando sobre Veldora? O tempo bate. Mas se os goblins quisessem minha ajuda…
— Eu te entendo muito bem, mas eu sou apenas um slime, então não estou certo se posso fornecer a ajuda que você precisa…
—Grah-ha-ha! Confie em mim, não há necessidade de tal modéstia! Não é mero slime que pode emitir a força mística que você emite! Não consigo imaginar porque você está tomando essa forma…, mas você recebeu um nome, não é mesmo?
Mística… o que? O que é isso? Não me lembro de soltar nada como isso. Eu foquei em minha magia.
Sentindo a mim mesmo ao invés de meus arredores. Então eu percebi. Havia, de fato, algum tipo de aura ameaçadora cobrindo todo meu corpo. Você pensaria que eu teria notado no meio das transformações e tolices da “Couraça”, mas era tarde demais agora.
Whew. Fale sobre embaraçoso. Aqui estou eu, emitindo toda essa coisa mística, e nem me preocupei em dizer “com licença”. Me sentia como se estivesse andando no meio da Rua Principal, mostrando tudo que tinha para o mundo. Com todas a mágiculas no ar da caverna, não havia reparado.
Isso é mau! Muito mau! Mas ao menos explicou porque os monstros na floresta reagiram daquela forma. Poucos deles teriam gostado de me atacar. Ninguém era estupido o suficiente para ser enganado pelas aparências.
Bem, melhor seguir com isso.
— Hee-hee-hee… Impressionante, ancião. Você notou?
— Claro, meu amigo! Mesmo na forma que está, certamente não há como esconder a força dentro de você!
— Ah. Bem, se você percebeu isso, então eu acho que vocês têm muito a prometer!
“Agora estou curtindo isso! Vamos apenas puxar um pouco as cordas do ancião e me tirar dessa confusão.” Ao mesmo tempo, tentei encontrar uma maneira de extinguir a aura mística ao meu redor, fuçando com a magia ao redor para tentar empurrá-la de volta.
— Ohh... estávamos sendo testados, talvez? Então, certamente espero que sejamos dignos. Muitos seriam intimidados à submissão por tal força.
A essa altura, minha mística, o que quer que fosse, estava quase toda escondida. Voltando a ser apenas um bom e velho slime comum. Engraçado pensar nisso, porém... mais cedo, se eu tivesse aparecido como um slime comum, a floresta inteira teria tentado matar? Isso teria sido uma chatice.
— Você está certo. Qualquer um disposto a falar comigo sem ficar apavorado com meus poderes místicos deve ser digno.
“Digno de que?” Me perguntei em silêncio.
— Ha-ha! Muito obrigado. Vou me abster de perguntar por que escondeu sua verdadeira forma..., mas tenho algo a lhe pedir. Você estaria disposto a ouvir?
Já imaginava. Ninguém iria até um monstro assustador e medonho sem motivo algum.
— Depende do que for. — eu disse, tentando manter minha arrogância. — Mas vá em frente. Declare seu objetivo.
Aqui está o resumo.
Acabou que alguns monstros recém-chegados das terras ao leste estavam invadindo a área, na esperança de tomá-la. A área era o lar de várias aldeias goblins, incluindo essa, e até mesmo os confrontos pequenos tinham resultado em um grande número de mortes de goblins... incluindo alguns goblins nomeados.
Uma dessas criaturas nomeadas era tipo o guardião dessa aldeia, e com sua morte, o valor de manter essa aldeia intacta diminuiu dramaticamente.
As outras comunidades goblins haviam largamente abandonado esta terra. O raciocínio deles era que poderiam fazer os recém-chegados atacar essa aldeia, ganhando tempo para desenvolverem contramedidas próprias. O ancião da aldeia e o líder da expedição que me cumprimentaram tentaram argumentar com eles, mas foram friamente ignorados. A frustração estava clara em suas vozes conforme os dois explicavam.
— Entendo. — respondi. — Então, quantos vivem nesta aldeia? E quantos estão prontos para a batalha?
— Nós temos aproximadamente cem moradores. Contando nossas mulheres, cerca de sessenta deles estão prontos para lutar.
“Não parece muito. São goblins bem inteligentes, contudo, se estão acompanhando de perto.“
— Tudo bem. E sobre que tipos e números estamos falando com o inimigo?
— Acreditamos que são lobos gigantes — certamente parecem com lobos. Sob circunstâncias normais, precisaria de dez de nós para que tivéssemos uma chance de lutar contra um deles..., mas parecem ter em torno de cem deles.
“Huh? Que tipo de jogo impossível é esse?” Eu virei meus olhos para o ancião da aldeia. Ele não parecia estar brincando; seus olhos eram tão sinceros e dedicados quanto os goblins conseguiam.
— Então, esses guerreiros goblins bateram de frente com eles em números tão pequenos, mesmo sabendo que não poderiam ganhar?
— …Não. Essa informação que eu te disse… Aqueles guerreiros arriscaram suas vidas para obtê-la.
Oh. Talvez tenha sido uma pergunta grosseira.
Após mais questionamentos, o goblin nomeado que eles perderam acabou sendo o filho do ancião e o irmão mais velho da equipe de patrulha. Passei um momento pesando as opções, o ancião ficou em silêncio enquanto esperava minha decisão. Pode ter sido minha imaginação, mas poderia jurar que havia lágrimas em seus olhos… provavelmente estava apenas imaginando, no entanto. Lágrimas não combinavam muito bem com monstros.
Melhor aumentar a arrogância, imaginei. É assim que um monstro temido deveria agir!
— Vamos esclarecer algo, ancião. Se eu ajudar esta aldeia, o que ganho em troca? Você tem alguma coisa para me oferecer?
Não que eu me importasse em ajudá-los por um capricho. Mas precisava de dez goblins para talvez derrotar um cachorrão ou o que fosse, e eles estariam enfrentando uma matilha de cem. Não seria simples. “Eu acho que uma açãozinha da serpente negra pode cuidar deles..., mas não posso simplesmente pegar esse trabalho sem considerar tudo.”
— Nós lhe daremos nossa lealdade! Por favor, nos conceda sua proteção. Se você o fizer, prometo que juraremos nossa lealdade a você!
Honestamente, como presente, isso não é muito. Mas depois de experimentar noventa dias de solidão, até conversar com goblins é divertido. O pensamento de salvar este grupo provavelmente me repugnaria nos meus dias de humano, mas agora, eu era um monstro. Não precisava mais me preocupar em cair em uma poça e pegar alguma doença infecciosa.
Além disso, aqueles olhos do ancião. Eu podia dizer que ele estava realmente confiando em mim para dizer a coisa certa.
Eu refleti sobre minha vida passada. Quando alguém me pedia para fazer algo, sempre fazia. Mesmo que eu reclamasse e choramingasse sobre isso a princípio, mesmo que os caras do escritório gritassem comigo sobre isso, nunca fui capaz de dizer não para meu gerente ou clientes.
— Tudo bem. Seu pedido será concedido!
Eu assenti sabiamente. E foi assim que eu me tornei o guardião de uma aldeia goblin.
Os lobos gigantes dominavam o acampamento nas planícies ao leste, o suficiente para causar dores de cabeça sem fim aos mercadores que exerciam seu comércio entre o Império do Oriente e os reinos ao redor da Floresta de Jura. Cada um deles era o equivalente a um monstro de classificação C, forte o suficiente para que um aventureiro perdesse a perna se não estivesse prestando atenção.
A ameaça real, contudo, vinha quando eles vagavam em bandos. Só quando um alfa talentoso estava liderando a horda que os lobos gigantes mostravam seu real valor. O bando inteiro agiria como uma única mente, uma única criatura, cada membro agindo em sincronia. Tal bando, em pleno movimento, poderia facilmente ser classificado como B.
As planícies orientais localizavam-se próximas de uma ampla região produtora de grãos, uma linha vital para o Império do Oriente e mantida muito bem segura. Não importava o quão astutos os lobos gigantes fossem, não importava o quão avançadas fossem suas habilidades, penetrar nas linhas defensivas do Império continuava sendo uma tarefa difícil. Mesmo se conseguissem, isso despertaria a fúria do Império, colocando em questão o futuro da raça dos lobos gigantes.
O líder do bando estava totalmente ciente disso. Era algo que ele aprendeu através de uma dura experiência, em meio às muitas lutas que ele testemunhara contra o Império ao longo de várias décadas.
Atacar os mercadores de menor valor que passavam não era o suficiente para fazer o Império tomar ação... mas no momento que os lobos entrassem em seus campos de grãos, eles realmente retaliariam.
Após tantos fracassos, os lobos gigantes não mais repetiram os erros de seus companheiros. Esse era o modo de pensar do alfa. Mas seus instintos de monstro também lhe disseram que, atualmente, não haveria progresso, nada para impulsionar seu bando adiante.
Como regra geral, a raça de lobos gigantes não precisava de comida para sobreviver. Atacar e consumir humanos proporciona-lhes um pequeno lanche, mas eles não tinham muita magia.
Para o bando, seu sustento real estava nas mágiculas do mundo. Eles precisariam atacar monstros mais fortes ou massacrar humanos em massa para evoluir para criaturas de nível calamidade. O Império era muito poderoso. Mas simplesmente escolher os mercadores que passavam nunca faria nada para seus sonhos de evolução.
Então, eles ouviram histórias das terras do sul. Um território fértil, um com uma floresta que oferecia suas bênçãos... uma vasta reserva de magia. Um paraíso para monstros, era dito. Para alcançá-la, contudo, eles teriam que atravessar a vasta Floresta de Jura.
Os monstros desta floresta não eram, por si sós, grandes inimigos. Suas experiências passadas de caçar os nômades vagando para fora dela provou isso. Então, por que não entrar nela?
Simples: Veldora, o Dragão da Tempestade. Ele era o único motivo. Mesmo dentro da prisão, as terríveis ondas de força mágica estremeciam seus corações. As criaturas da floresta, eles acreditavam, aproveitavam da guarda divina do dragão... e, por isso, conseguiam viver sob aquelas ondas escaldantes. Era nisso que tinham de acreditar. Caso contrário, a verdade os enlouqueceria.
Então, mesmo doendo diariamente, os lobos gigantes tinham desistido de se infiltrar na floresta. Até agora.
O alfa virou seus olhos vermelho-sangue para a floresta. Aquele dragão malvado e horrendo não podia mais ser sentido. “Agora é a hora”, ele pensou, “de caçar a floresta limpa de monstros... e então, poderemos nos tornar os senhores da floresta.” A ideia fez com que ele lambesse seus lábios e o soasse um uivo, comandando sua matilha a avançar.
“Okay. Agora eu sou um guardião. O que devo fazer a seguir?” Para mim, parecia um dever de guarda-costas, apesar dos termos grandiosos que o ancião usou para me descrever.
Para começar, eu tinha todos os goblins capazes de lutar ao meu redor. Não era uma bela visão. Eles estavam em péssimo estado. De jeito algum eu poderia contar com eles no campo de batalha. E, de longe, o resto da aldeia parecia com… nada além de um bando de crianças e idosos. Reforços, em outras palavras, estavam fora de questão.
O ancião da vila deve ter estado com os joelhos trêmulos. Mesmo que fugissem agora, eles provavelmente morreriam de fome antes do final do dia.
Enquanto isso, os goblins ao meu redor estavam me olhando com uma fé quase religiosa em seus olhos. Isso era pesado, cara. Para alguém como eu, que viveu uma vida razoável e fácil, esses olhares aumentavam a pressão.
— Certo, — eu disse. — todos vocês sabem em que situação estamos?
Eu não estava tentando fazer uma piada. Eu só não conseguia pensar em nada inspirador que pudesse dizer.
— Sim, senhor! — o goblin líder respondeu instantaneamente. — Estamos nos preparando para uma batalha que decidirá se vivemos ou morremos!
Os outros goblins ao redor dele devem ter se sentido da mesma maneira. Alguns deles estavam visivelmente tremendo, algo que não podia culpá-los. A mente de uma pessoa pode pensar em uma coisa e o corpo fazer algo muito diferente.
— Tudo bem. — Respondi, tentando agir da melhor que podia. — Não há necessidade de ficarem agitados. Fiquem calmos, tudo bem? Vocês estando agitados ou não, se formos perder, vamos perder. Concentrem-se apenas em dar tudo de si!
Isso ajudou a aliviar meu humor. Talvez funcionasse melhor do que eu pensava.
“Melhor começar, então. Se eu pisar na bola, pode ser o fim para esses goblins. Mas preciso me manter determinado. Eu queria trazer um pouco de coragem para isso, e eu vou!”
Após um momento para recolher meus pensamentos, dei minha primeira ordem para os goblins... uma ordem que eu daria muitas vezes.
Noite. O alfa dos lobos gigantes abriu os olhos. Era lua cheia... a noite perfeita para uma batalha.
Lentamente, ele se levantou, o resto de seu bando o olhou ansiosamente.
“A quantidade certa de intensidade”, o alfa pensou.
Hoje à noite, eles destruiriam a aldeia goblin, estabelecendo uma base dentro da Floresta de Jura. Então, de uma maneira lenta, mas certeira, eles caçariam os monstros ao redor da área, expandindo seu território até que governassem a floresta. Então, quando chegasse a hora, eles se voltariam para o sul, invadindo-o pelo poder que possuía.
Eles tinham força para fazer isso acontecer. Suas garras podiam rasgar a carne de qualquer monstro, suas presas podiam perfurar qualquer armadura.
— Awooooooooooo!
O alfa deu o sinal.
Era hora da carnificina começar.
Havia, contudo, uma preocupação.
O alfa havia enviado um batedor alguns dias atrás, que retornará com algumas notícias desconcertantes... a notícia de um pequeno monstro que emitia uma força estranha e mística. O suficiente para superar até mesmo seu alfa.
Ele havia descartado esse relatório, a princípio. Era absurdo demais para ser verdade. Ele mesmo não havia detectado nada do tipo na floresta. Todo monstro que eles encontraram eram fracos. Até agora, nada semelhante havia mostrado resistência ao avanço deles... e estavam quase no centro da floresta. Uma dúzia ou mais de goblins haviam pego um ou dois membros de sua matilha, mas nada mais.
O batedor deve ter ficado empolgado demais com a próxima caçada para pensar direito. Essa foi a conclusão do alfa enquanto mantinha os olhos adiante.
Adiante havia uma aldeia. Estava exatamente onde o batedor havia dito. Ele seguiu o rastro de um goblin ferido direto para ela. Nada sobre seu relatório sugeriu que fosse uma ameaça.
Esta não era a primeira batalha do alfa. Ele era esperto e nunca baixava sua guarda. Contudo, até ele teve que admitir que a estranha... coisa ao redor da aldeia era um pouco incomum.
Era… uma cerca, como as que se via em uma aldeia humana. As casas que antes compunham a aldeia haviam sido desmontadas, formando uma defesa que cobria todos os terrenos da aldeia.
E lá, diante da única abertura na barreira, havia um único slime.
— Tudo bem, parem onde estão, beleza? — o slime lhes disse. — Se derem meia volta, prometo que não farei nada com vocês. Afastem-se daqui imediatamente!
“Bastardo impertinente. Deixando apenas uma entrada para bloquear um ataque em massa? O tipo de pensamento superficial que se deve esperar de um monstro lixo como esse. Nossas garras e presas fariam carne picada daquela coisa velha e frágil.”
Era hora de mostrar a esse slime seu verdadeiro poder. O alfa deu a ordem. Como se eles fossem sua própria mão direita, cerca de uma dúzia de lobos gigantes imediatamente partiram para atacar a cerca... uma coordenação perfeita, a razão exata pela qual o bando funcionava essencialmente como um único monstro.
A habilidade “Comunicação Mental” possibilita o comportamento coletivo. Era muito mais rápido do que dar ordens verbais, deixando o bando trabalhar em perfeita sintonia.
A primeira onda do ataque deveria ter sido o suficiente para destruir a cerca. Em vez disso, o alfa, já imaginando uma multidão de goblins gritando e lutando para fugir após o fracasso miserável daquela estratégia, soltou um grito de surpresa. A força que ele enviara para a cerca fora jogada para trás, alguns deles sangrando profundamente enquanto se contorciam no chão.
O que aconteceu? O alfa manteve sua mente afiada enquanto inspecionava a área. O slime na entrada não se moveu um centímetro. Ele fez alguma coisa?
Um de seus homens se aproximou para informar. “Era ele, chefe! A coisa com a força mística que supera a sua!”
“Besteira”, o alfa pensou enquanto olhava para o slime. Era um monstro pequeno. Eles ocasionalmente nasciam aqui e ali ao longo das planícies. Até mesmo chamá-los de “monstros” parecia absurdo... toda sua existência era insignificante. “Essa coisa, possuindo mais força do que eu…?”
O alfa fumegou.
“Impossível!”
Poucos, realmente, eram os monstros mais espertos e astutos que o alfa. Ele possuía anos de experiência, e conseguia usá-la rapidamente para formular um novo plano com calma e agilidade. E seus anos de experiência lhe diziam que esse monstro não podia ser mais forte do que ele.
Ali mesmo, pela primeira vez, o alfa cometeu um erro fatal... um que acabaria por decidir seu destino.
“Seu miserável verme de monstro... vou esmagá-lo em pedaços!”
Yeesh. Isso foi um choque.
Eu não pensei que eles iriam atacar diretamente. Eu até os dei aquele pequeno discurso heroico sobre como eu não faria nada se eles dessem meia volta, mas o ignoraram totalmente.
Em vez disso, todos os lobos gigantes começaram a se mover imediatamente, atacando a cerca de, praticamente, todos os ângulos que tinham. Eu esperava que pudéssemos conversar um pouco antes, mas me forçaram a jogar fora todo meu roteiro. Após todo aquele ensaio que eu fiz enquanto a cerca estava sendo construída.
A primeira ordem que dei aos goblins foi me mostrar onde estavam os feridos. Adicionar uma dúzia de sobreviventes aos sessenta guerreiros que tínhamos não deixaria o trabalho muito mais eficiente, mas dada a devoção deles por mim, queria fazer o que pudesse por eles.
Eles estavam todos deitados no chão de um prédio grande e aparentemente pouco higiênico. Olhando-os, eu comecei a pensar. “Aparentemente, estão usando algumas ervas para tratá-los…, mas do jeito que estão, vão morrer logo”. Eles estavam em um estado pior do que pensei... pele cortada por dentes e garras, e alguns ostentavam cortes de aparência desagradável com, Deus sabe o que, crescendo deles.
“Melhor gastar um pouco”, imaginei enquanto agia. Consumindo o goblin ferido mais próximo de mim, espirrei um pouco de poção de recuperação nele, então o cuspi de volta. O ancião se preparou para dizer algo, mas pensou melhor enquanto eu trabalhava na fila... engolindo, respingando, cuspindo.
Após terminar com alguns deles, eu olhei para trás.
Lá estavam eles, de novo, se prostrando para mim.
“Qual o problema com esses caras?”
Eles devem ter assumido que eu ressuscitei eles com meus poderes ou algo assim. Para evitar futuros mal entendidos, optei por cuspir as poções diretamente a partir daí, curando as feridas dos goblins no mundo 'real'.
O processo de cura levou tempo, mas funcionou. Quando terminei com todos, dei aos goblins restantes uma nova ordem... a cerca.
Uma cerca simples de madeira teria sido boa, eu pensei, mas não tínhamos muito tempo ou material para trabalhar. Tínhamos que ir com o que tínhamos, e foi isso o que eu fiz... sem parar um momento, fiz que eles destruíssem suas casas e usassem a madeira e outros componentes para fortalecer toda a comunidade.
No meio tempo, pedi aos goblins que eram decentes com um arco para patrulhar. Eu os avisei para não irem muito longe... lobos deviam ter bons narizes. Podia dizer pelos seus olhos que eles estavam dispostos a se sacrificarem pela causa. Estavam prontos para gritar “Pela minha própria vida” a qualquer momento. Muito mais coragem do que eu realmente precisava agora, mas duvido que houvesse alguma solução rápida para isso.
Quando a noite caiu, cerca de um dia depois que cheguei na vila, as tábuas finais estavam na cerca. Os toques finais eram minhas... teias de aranha para fortalecer e solidificar a cerca e algumas armadilhas de “Teia de Aço” aqui e ali. Qualquer um tocando a cerca sem saber o segredo seria desfeito antes que soubessem o que os atingiu. “Tenho que lembrar de buscar um corpo ou dois depois.”
Me certifiquei de que a cerca tivesse uma única entrada de um lado. Uma vez alinhada com a “Teia Pegajosa”, meu trabalho aqui estava feito. Tudo que restava era esperar que os batedores voltassem.
A essa altura, os goblins feridos estavam começando a acordar, curados de suas feridas. Eles furtivamente cutucaram seus corpos, olhando curiosamente a si mesmos de cima a baixo. “Parece que aquela coisa fornece uma explosão de energia.” Eu assumi que precisaria aplicar várias doses nos pacientes de aparência mais grave, mas funcionou muito melhor do que imaginava. Não tive queixas sobre esse erro.
Depois disso, mandei os goblins coletarem material extra, empilhar no centro da aldeia, e atearem fogo. Isso me lembrou de mais de uma viagem de acampamento, mas agora não havia tempo para marshmallow. Nós precisaríamos vigiar a noite toda. Me ofereci para lidar com isso sozinho, mas fui severamente recusado.
— Não faça isso, senhor Rimuru! Nós nunca poderíamos permitir que você carregue um fardo tão pesado!
— Ela está certa! Vamos cuidar da vigia. Por favor, senhor Rimuru, aproveite o tempo para descansar um pouco!
A multidão ao nosso redor ecoou sua aprovação. Apreciei o pensamento. Eles deviam estar muito mais exaustos do que eu, mas concordei em lidar com a vigia em turnos e descansar quando não estivesse de plantão.
Pouco antes da meia noite, os batedores voltaram... alguns feridos, mas todos em segurança. Os lobos gigantes haviam começado a se mover, disseram. Engraçado como eu pensei que esses eram monstros feios e imundos há dois dias. Agora, eu estava começando a sentir afeição por eles. “Se tiver como,” eu pensei enquanto aplicava a última “Teia Pegajosa” na entrada, “gostaria de passar por isso sem perder nenhum deles.”
Esse foi nosso processo de preparação, mais ou menos. Hostilidades estavam em andamento, então não havia muito mais o que fazer. Neste ponto, nós tínhamos que nos ater ao plano.
Eu não estava muito convencido de que a cerca era forte o suficiente para aguentá-los, mas felizmente, os lobos gigantes não conseguiam agarrá-la por tempo suficiente para destruí-la. A maioria das armadilhas ativaram como planejei. Isso foi um alívio.
Antecipando isso, pedi pequenas fendas embutidas na cerca em intervalos regulares. Essas aberturas eram para flechas, para que os goblins pudessem atacar de dentro e interferir com os movimentos do inimigo. Eles abriram fogo, e mesmo com sua péssima pontaria, eles fizeram mais do que alguns lobos gigantes gritarem pela última vez. Algumas das forças inimigas tentaram abrir os espaços e quebrá-los dessa forma… só para terem suas cabeças esmagadas por goblins empunhando machados de pedra em ambos os lados de cada buraco.
Duas horas não era nem o suficiente para praticar, mas essa aldeia estava jogando para valer. Eles ouviram tudo que disse, entenderam e agiram. E estávamos colhendo as recompensas. Os lobos eram fortes, sim, capazes de enfrentar um bando de goblins de uma vez, e talvez fossem até mais fortes como uma matilha. Porém, se fossem poderosos sozinhos, atacariamos todos juntos. Se fossem poderosos como um time, teríamos certeza de que não poderiam se unir. Use sua cabeça e você consegue fazer isso funcionar. A criatura mais forte no mundo, afinal, é um humano com um pouco de inteligência!
“Sua sorte acabou”, pensei para mim mesmo enquanto olhava para os olhos frios do chefe dos lobos gigantes. “Um animal estupido me atacando? Quão presunçoso você consegue ser?”
O lobo gigante alfa estava confuso e chocado com o quão errado seus planos tinham ido.
Seu bando estava começando a cair em desordem. Isso não poderia continuar. A matilha de lobos gigantes brilhava apenas quando unida. A desconfiança no alfa levaria a resultados fatais. Ele também entendia isso... e foi por isso que cometeu o maior erro de todos. Estava enfurecido com a fraqueza de sua matilha, incapaz de superar uma simples cerca, porém, tinha ainda mais medo de que a frustração de sua equipe logo fosse direcionada a ele.
“Eu preciso mostrar minha força para eles'', ele pensou. “Sou o mais forte do meu bando. Eu sou mais forte do que o suficiente, mesmo sozinho!”
Foi nesse momento em que tudo foi decidido.
Meus olhos ainda estavam firmes no chefe dos lobos gigantes. Para os goblins, ele havia desaparecido, presumi, mas para mim, estava caminhando em um ritmo digno de um bocejo.
Tudo estava indo de acordo com o plano. Considerei alguns resultados possíveis, e um deles estava acontecendo diante de mim. Eram animais, afinal de contas. Não ex-humanos como eu.
A “Teia Pegajosa” sobre a entrada capturou o chefe imediatamente. Pelo que eu sabia, a seda não seria o suficiente para manter um líder dos lobos gigantes preso firmemente. Não tinha como testar de antemão, mas isso não importava mais. A “Teia Pegajosa” só estava lá para que pudéssemos manter o chefe no lugar por um instante.
Se não o mantivesse no lugar e ele se esquivasse da “Lâmina de Água”, pareceria muito lamentável. Ou pior, eu poderia atingir meu time em fogo amigo. No meio de uma batalha, isso era perfeitamente possível.
Foi por isso que eu planejei a armadilha. Mas, talvez, eu tenha a complicado demais. Esses caras não tinham conseguido sequer derrubar a cerca ainda. Considerei alinhar a entrada com a “Teia de Aço”, mas optei contra isso, preocupado de que não seria o suficiente para um golpe final.
Em situações assim, era meu trabalho interpretar o homem forte, o soberano do acampamento. Foi para isso que tudo foi feito... e é por isso que, sem outro momento de dúvida, lancei uma “Lâmina de Água” na cabeça do chefe.
Acertou em cheio. A cabeça foi lançada para cima e a gravidade a pegou. Eu havia matado o chefe... e mais importante, fiz parecer fácil.
— Ouçam, lobos gigantes! Seu líder está morto! Eu lhes concederei uma escolha final. Submetam-se ou morram!
“Então, como eles vão lidar com isso? A morte do chefe os levará a um frenesi tão grande que vão avançar em mim? Eu gostaria de evitar isso, se possível.”
O restante dos lobos gigantes não mostrou nenhum sinal de movimento. “Uh-oh. Isso não vai ser um daqueles ‘Eu prefiro morrer a me submeter a pessoas como você!’, vai? Porque se for, vai ser uma guerra total.” Ainda estávamos perdendo em números, e definitivamente teríamos algumas baixas. Chegamos até aqui sem derramar nenhum sangue de goblin... duvido que perderíamos nesse ponto, mas eu preferia que terminasse sem uma luta.
Estava estranhamente quieto, comparado à batalha acirrada de um momento atrás. Eu podia sentir o olhar dos lobos gigantes sobre mim. Em meio aos seus olhares, gradualmente comecei a me inclinar para frente. Não sabia dizer como eles interpretariam isso, mas queria dizer que o chefe deles estava morto.
Em um instante, eu estava no corpo morto do alfa. Ninguém ofereceu qualquer objeção. Uma de suas matilhas, que estava perto, recuou um passo.
Então eu engoli o corpo inteiro. Era meu direito como vencedor, não é? A voz do Sábio soou em minha mente.
Análise completa. “Mimica”: Lobo gigante obtido. Habilidades naturais do lobo gigante “Olfato Afiado”, “Comunicação Mental” e “Coerção” adquiridas.
“Soa como uma vitória para mim.” Mas, apesar de ver o próprio chefe ser devorado diante deles, o resto dos lobos gigantes ainda não mostravam sinal de movimento. Hmmm… neste ponto, ou eles vão surtar e correr, ou surtar e vir até mim.
…Oh, certo! Eu disse a eles “submetam-se ou morram”, não disse? Ah, merda. Isso pode ter sido como jogar o bebê para fora junto da água do banho. “Melhor dar-lhes uma rota de fuga”, pensei enquanto me transformava em um deles.
Ativando “Coerção”, falei com eles em um grito alto e grave: —Arh-arh-arh! Ouçam-me! — Declarei para eles. — Uma vez, e apenas uma vez, deixarei isso impune. Se vocês se recusarem a me obedecer, caiam fora imediatamente!!
Imaginei que isso seria o suficiente para fazer esses cães saírem correndo. Eu estava errado.
“Juramos fidelidade a você!”
Agora eles estavam se prostrando para mim, embora parecesse mais como se estivessem se deitando para uma soneca. Mas, independentemente disso, eles, aparentemente, haviam escolhido “submeterem-se” de qualquer maneira. Talvez estivessem tendo uma pequena conferência por “Comunicação Mental” sobre isso enquanto estavam parados como estátuas.
“É melhor do que lutar contra eles, de qualquer maneira.”
Isso, mais ou menos, marcou o fim oficial da batalha nessa aldeia goblin.
※
Contudo, essa parte é sempre igual, não é? Nem é a luta que é a parte difícil; é toda a maldita limpeza depois.
“Quem foi o idiota que pediu que eles destruíssem suas próprias casas? O que vamos fazer sobre isso? E onde todos esses goblins vão dormir hoje? E o que devo fazer com todos esses cães? Quer dizer, claro, nós matamos um bom número deles, mas ainda são, tipo, mais de oitenta bocas para alimentar.”
“Eu, um… ah, dane-se. Isso é tudo por hoje, pessoas! Vou pensar nisso amanhã, quando todos acordarem.”
Por enquanto, ordenei aos goblins que acampassem ao lado do fogo, disse aos cachorros que ficassem de prontidão ao redor da aldeia e encerrei a noite.
Chegou a manhã.
Passei a noite passada pensando, principalmente. A conclusão que tirei: Deixe os goblins tomarem conta dos lobos gigantes! Perfeito!
Nós tínhamos um total de setenta e dois goblins restantes em forma para lutar. Nenhuma casualidade ontem. No máximo, alguns arranhões. Enquanto isso, tínhamos oitenta e um lobos gigantes sobreviventes parados do lado de fora da cerca da aldeia... alguns feridos, mas nenhum tão mal a ponto que uma pequena poção de recuperação não os colocasse de pé novamente.
Eles poderiam se recuperar, reconheci, com suas habilidades naturais de cura.
A manhã começou comigo alinhando os goblins que estavam acordados. As crianças e idosos assistiram do lado. Eles não podiam evitar se sobressair, devido à falta de casas para morar.
Ao meu lado estava o ancião da aldeia. Ele queria me ajudar de alguma forma, eu acho, mas não havia muito que um goblin velhote pudesse fazer por mim. Meus gostos estéticos pessoais permaneceram inalterados dos meus anos humanos.
Isso nunca mudaria, mesmo que eu tivesse virado um slime. Não teria nenhuma princesa encantada na aldeia que eu pudesse cavalgar ao pôr do sol. Provavelmente teria que esperar um pouco por isso.
Diante dessa linha de goblins, convoquei os lobos gigantes. — Hm, tudo bem. — Eu comecei, — de agora em diante, vou fazer vocês formarem pares e viverem uns com os outros, tudo bem?”
Esperei uma resposta, mas não consegui uma. Estavam esperando que eu continuasse, imaginei, não emitindo nenhum som enquanto olhavam para mim. Ninguém pareceu, abertamente, fazer uma careta com a ideia de unirem-se, então assumi que estava em um terreno decente o suficiente.
— Uh, vocês entendem o que quero dizer? Tipo, grupos de dois, ok? Vamos lá!
No momento que terminei de falar, os goblins e lobos gigantes começaram a trocar olhares com quem quer que estivesse na frente deles. Lenta e humildemente, seguiram minha ordem. O inimigo de ontem é o amigo de hoje e tudo isso. Tiveram que aprender da maneira mais difícil, mas pelo menos estavam todos a bordo.
Então notei algo, “Espera aí, algum desses caras sequer tem nome? Como eles conseguem se chamar e coisa do tipo? Que merda.”
— Ancião, — eu disse enquanto observava o processo de pareamento acontecendo ao meu lado, — é muito inconveniente me referir a você e seu pessoal. Eu gostaria de dar nomes a todos vocês. Tudo bem?
Todos devem ter me ouvido, de alguma forma. Logo na palavra nomes, cada um deles fixou em mim — até os goblins não lutadores, claramente chocados por essa série de acontecimentos. — Tem… Você tem certeza…? — o ancião perguntou timidamente.
“Qual o grande problema, huh?”
— S-sim, um… se não for um problema, gostaria de dar alguns nomes?
Era como se eu tivesse, simultaneamente, explodido a mente de todos os goblins ali. Cada um deles explodiu em aplausos entusiasmados. “Que diabos? É como se todos tivessem ganhado na loteria ou algo assim. Se conseguir um nome te deixa tão feliz, por que não se nomeiam vocês mesmos?” Parecia tão simples para mim naquela época.
Comecei com o ancião, perguntando a ele qual era o nome de seu filho. Ele tinha sido o único goblin nomeado da aldeia, agora falecido, infelizmente. Era “Rigur”, aparentemente.
Então eu adicionei um d no final e nomeei o ancião de “Rigurd”. Nenhum motivo particular para isso — só soava legal. — Se seu filho estivesse aqui, — brinquei, — você poderia fazer com que ele declarasse o nome dele e meio que acrescentar d no final, não é?
Ninguém riu. Eles pensaram que eu estava falando sério. — Eu… eu não posso expressar minha gratidão o suficiente, — ele choramingou, — por ter a permissão de assumir o nome de meu filho! — “Sim, ótimo. Estou apenas brincando, sabia.” Estava começando a me sentir um pouco culpado..., mas, ah, que diabos!
O líder dos goblins patrulheiros, enquanto isso, nomeei de Rigur. Poderia ter adicionado “II” no final, suponho, mas porque tornar isso mais complicado do que deveria? “Rigur” estava bom. Bom o suficiente para fazê-lo ajoelhar-se diante de mim em oração, como se esse fosse o momento mais emocionante de sua vida. Droga. A maçã não cai longe da árvore.
Então, continuei por toda a linha. Também nomeei o resto dos espectadores enquanto estava nisso, fazendo famílias pensarem em seus nomes juntos e pensando em qualquer coisa para os órfãos e solteiros da aldeia.
“Eles não esperam, tipo, continuar reciclando esses nomes para as futuras gerações, esperam? Se Rigurd tiver um neto, talvez ele pudesse começar a se chamar de ‘Rigurdd’. Ou se ele tiver um bisneto, ele poderia ser ‘Rigurddd’, e ‘Rigurd’, então, passar para a geração mais jovem.”
“Algo assim? Bem aleatório? Talvez, mas de que outra forma as tradições familiares começavam?"
— Senhor Rimuru, — o recém-batizado Rigurd perguntou lamentosamente, — estamos tão, tão gratos por isso, mas… você… tem certeza?
— Do que?
— Quero dizer, estou plenamente ciente da extensão de seus poderes mágicos, Senhor Rimuru, mas… fornecer todos esses nomes de uma só vez… Você vai ficar bem?
“Do que ele estava falando? Eu estou apenas dando nomes para as pessoas.”
— Mm? — eu respondi, — Não, sem problemas, eu acho. — Então voltei a isso. Rigurd ergueu as sobrancelhas por um momento, mas não lhe dei mais atenção.
Assim que terminei com os goblins, era hora de passar para os lobos gigantes. Seu novo líder era o filho do antigo... tão forte (e com uma força de vontade tão forte) quanto seu pai, e já parecendo tão imponente quanto.
Olhando em seus olhos dourados, eu pensei por um momento. Hmm. Que tal Ranga? A combinação dos caracteres japoneses para “tempestade” e “presa” em uma pequena brincadeira. Perfeito! Barato, talvez, mas continuei com isso. Eu sou a tempestade; ele tem as presas…
O que quer que viesse em mente primeiro era melhor, imaginei. Esse não era o meu forte.
No momento que o chamei de Ranga, comecei a sentir como se praticamente todas as mágiculas que fluíam por meu corpo estivessem sendo drenadas. A sensação de vazio... do violento esvaziamento de minhas entranhas... era alucinante. “O que… O que está acontecendo?” Era uma fadiga como nenhuma que senti antes.
Reportando. O estoque restante de magia no seu corpo ficou abaixo do limite aceitável. Entrando no modo repouso. É esperado que o tempo de recuperação seja de três dias.
Eu ainda estava consciente. Não precisava dormir… exatamente, e conseguia ouvir a voz do Sábio.
Lenta, mas seguramente, comecei a entender. Eu usei muito da minha… magia? Tipo, atingir zero MP? Como eu gerencio isso? Eu estava me esgotando esse tempo todo sem perceber? Com certeza não me sentia assim.
Tentei me mover. Sem resposta. “Esse ‘Modo repouso’ deve ser algo tipo hibernação.” Eu não estava dormindo, mas não conseguia me mover. Tudo que podia fazer era sentar... o que estava tudo bem, porque os goblins haviam preparado um lugar de honra para mim junto ao fogo, então poderia aproveitá-lo. Nada mais a fazer, ou que eu pudesse fazer.
Aproveitei a oportunidade para refletir sobre o que acabara de acontecer. Por que eu fiquei sem magia após começar a nomear pessoas? Fazer isso consumia mágiculas de alguma forma? Pensando nisso, elas realmente começaram a fluir quando nomeei o líder, não é?
Ainda era apenas uma teoria, mas parecia claro para mim que nomear monstros requeria magia.
Levei cerca de dois dias para chegar a essa conclusão.
Certamente explica porque Rigurd estava tão espantado com o que eu estava fazendo, entre outras coisas.
“Isso... Oh, merda, isso não é de conhecimento comum entre monstros, é?”
— Caraaaas, — eu queria gritar, — vocês têm que me contar essas coisas!! — Mas não tinha ponto em descontar nos outros. Não que isso fosse me parar quando pudesse me mover novamente, imaginei.
Inicialmente, os goblins pareciam meio preocupados sobre como eu tinha ficado quieto como uma pedra, mas… em algum lugar ao longo do caminho, a questão de quem tinha o direito de limpar minha superfície e cuidar de mim quase explodiu em um conflito violento. “O que eles estão fazendo? Este é um harém em que eu sinceramente não gostaria de estar envolvido.” Eu estava começando a me sentir como uma lâmpada mágica que as pessoas podiam esfregar por três desejos.
Finalmente, o terceiro dia passou.
R E C U P E R A D O!
Apesar de esgotar minha magia mais cedo, me senti mais forte e mais rico em magia do que antes de meu pequeno acidente. Magia era o poder para exercer força sobre o mundo, e as partículas ao redor eram a energia que a impulsionava. Isso parecia ser a extensão dela.
“É uma daquelas coisas do tipo ‘o que não me mata me fortalece’?” Eu ponderei experimentar, mas desisti. Não parecia haver muita necessidade, e se eu morresse no processo, pareceria um idiota. Mais um caso de exagerar cedo demais.
De qualquer forma.
Os goblins operários, percebendo que eu estava acordado, começaram a se reunir ao meu redor. Os lobos gigantes, que estavam vindo da base externa, se juntaram a eles. O que era bom, mas…
— Hm… ei, pessoal? Vocês, tipo, ficaram maiores?
Eles tinham. Os goblins tinham, em média, um pouco menos de um metro e meio de altura. Agora eles estavam com quase 1,80 m.
O cara ao meu lado parecia ter quase dois metros.
“Esses… são goblins, certo? E, olha só os lobos. Lembro deles sendo muito mais marrons.” Agora, o pelo deles era preto, com um brilho lustroso. Eles também haviam crescido, com os maiores tendo 2,7 ou 3 metros de comprimento. Eu não me lembro de nenhum deles ter mais do que 1,8 anteriormente.
O que realmente chamou minha atenção foi o lobo na frente, andando adiante silenciosamente. Juro que ele tinha que ter pelo menos 4,5 m. Eu podia sentir a força mística escapando de todos os poros. Não era nada como o chefe que venci alguns dias atrás... entre sua aparência e presença, tinha que ser um monstro de nível mais alto. A marca de nascença em forma de estrela em sua testa e o magnífico chifre também levantaram algumas bandeiras vermelhas.
Meeeeio assustador.
— Meu mestre! — essa besta dos meus piores pesadelos berrou em uma língua humana fluente. — Como me deixa feliz te ver bem novamente!
“Puta… é o Ranga? O que aconteceu nos últimos três dias?” Fiquei me perguntando enquanto os monstros, uivando e comemorando, me cercavam.
※
Tudo bem…
Então, nesses três dias em que estava no modo espera, todos os monstros ao meu redor cresceram. Isso era esquisito. A única coisa que poderia produzir algo assim era… evolução, suponho. Então, nomear um monstro o evolui?
E Veldora não falou sobre algo assim por um tempo…? A diferença entre monstros “sem nome” e “nomeados”?
Oh, certo! Algo sobre como ganhar um nome provide algum tipo de "bênção divina” que ajuda a aumentar sua habilidade como um monstro. Daí a evolução.
Bem, inferno, não se admira que todos estivessem felizes. E não se admira que esgotei todas as minhas reservas mágicas de uma só vez.
A evolução dos monstros acontece rápido. Diria que eles não “crescem” tanto ao ponto de se tornarem criaturas completamente diferentes. Os olhos caídos e vazios dos goblins agora brilham com uma pálida luz de inteligência. E as fêmeas… “Yow! Elas realmente se parecem com mulheres agora!”
Eu estava chocado, mal podia falar.
Huh? …Huh?!
Isso literalmente me fez olhar novamente. Esses caras eram como pequenos diabinhos um minuto atrás, talvez mais próximos à babuínos do que humanos, e agora... bem, usando o termo oficial... os machos eram “hobgoblins” e as fêmeas “goblinas”, embora o último parecesse bem estupido para mim. Ambos tinham evoluído e, de acordo com Rigurd, eles ouviram a chamada “Fala do Mundo” quando evoluíram... algo que todas as criaturas evoluídas experienciavam. Uma ocorrência muito rara, e uma que estimulou Rigurd infinitamente, a julgar por como ele não conseguia calar a boca sobre isso.
Contudo, não era algo totalmente feliz para mim. Antes, as goblins fêmeas cobriam seus corpos inteiros com farrapos. Agora, graças à evolução, as roupas minúsculas permitia a visão de certas… coisas. Não havia como ignorar agora. Os machos certamente pareciam felizes com isso. Mesmo que eles mesmo não estivessem usando nada além de tangas…
A aldeia precisava desesperadamente de comida, roupas e abrigo. Melhor começar com as roupas primeiro, imaginei.
Outro problema que tinha que lidar era o Ranga. Ele estava tão feliz que eu estava de volta à plena consciência que não parava de me seguir e me incomodar. Se você gosta dessas bolas de pelo, suponho que estaria no paraíso, mas sempre fui mais uma pessoa de gatos. Não era a pior coisa, mas ainda assim.
— Então, Ranga, — eu disse, — tenho certeza de que apenas nomeei você da matilha, então… como é que todos os outros lobos gigantes evoluíram também?
Era verdade. Minhas reservas mágicas esgotaram no momento em que nomeei essa coisa.
— Meu mestre! Nós, lobos gigantes, somos um e todos. Meus irmãos e eu estamos conectados — meu nome é o nome de nossa matilha!
Huh. Então toda a turma evoluiu junto.
O “um e todos” era algo que o líder antigo nunca acreditou totalmente, como Ranga explicou. Se tivesse, aquela batalha poderia ter seguido uma direção diferente. Ranga, entretanto, já tinha adquirido controle total de sua matilha, ao que parecia, permitindo que todos evoluíssem de lobo gigante para “lobo da tempestade”. “Mais poder para todos” é como ele coloca.
— Bom trabalho! — eu disse, já que ele parecia estar desesperadamente pescando por elogios. Ele sacudiu o rabo de um lado para o outro, uma exibição que era tão adorável em uma besta tão enorme. Por outro lado, um lobo feliz de cinco metros poderia produzir vento suficiente para me lançar para fora da vila.
— Ei, cuidado com o que faz com essa coisa! — eu o avisei. O olhar oprimido que ele me deu em resposta me fez rir... e a maneira como ele, então, encolheu seu corpo para cerca de três metros me fez parar. Sua raça podia ajustar seus tamanhos, aparentemente. “Que útil”, eu pensei enquanto o instruía à continuar com o tamanho pequeno a partir de agora.
O maior problema de todos, contudo, era onde diabos manteríamos todos esses caras. Os pares lobos-hobs pareciam estar compartilhando suas casas uns com os outros... não que eles tivessem casas, então era realmente mais como os hobs usando os lobos como cobertores. A falta de roupa estava me matando, mas a moradia também precisava de atenção. Então. E agora?
※
Eu vi uma montanha de comida empilhada diante de mim. Isso resolveu um de nossos problemas, pelo menos.
Uma vez que usei toda a minha magia, o resto deles começou o processo de evolução. Levou cerca de um dia para ser concluído, e queriam celebrar tanto isso quanto o fim da batalha com um banquete. O ancião não deixou isso acontecer até que eu me recuperasse, então, em vez disso, eles passaram o tempo juntando a comida primeiro.
Eu notei que eles estavam brigando entre si para ver quem cuidaria de mim enquanto estava repousando, mas não pela evolução ou coleta de alimentos. Este “modo repouso” me deixou quase indefeso. Preciso ter cuidado com isso.
A maneira como eles começaram a agir sem esperar por ordens, pelo menos, foi muito apreciada. O processo de evolução deve ter feito maravilhas pela inteligência deles. Deve ter impactado sua força mental mais do que físico.
E a comida! Durante seus dias de goblins comuns, eles viviam de frutas, nozes, plantas comestíveis e quaisquer monstros ou animais que pudessem caçar. Agora, com a ajuda de seus lobos da tempestade, podiam cobrir muito mais terreno.
Os pares tinham, para a minha surpresa, ganhado a habilidade de usar a “Comunicação Mental” um com o outro... goblins que podiam guiar seus lobos com mais segurança do que os melhores jóqueis. Não conseguia adivinhar o quanto isso melhorou a capacidade de combate deles, mas os inimigos anteriormente imbatíveis eram, agora, apenas um aquecimento para eles. Toda essa montanha de comida foi o resultado dos últimos dois dias.
Mas depender da caça e coleta os deixaria em perigo se algo acontecesse com seu ambiente. Teriam que começar a pensar em algo como agricultura em breve. Um suprimento constante de comida é a chave para uma vida em abundância. Eu precisaria descobrir que tipos de produtos cresciam bem aqui, bem como que tipo de cultivo de grãos (assumindo que havia tipos diferentes nesse planeta). Sempre algo novo para explorar, pelo menos.
Hoje, no entanto, só queria desligar meu cérebro e aproveitar a festa. E eu o fiz.
Durante a noite, celebramos as evoluções, o fim da guerra e, o mais importante para mim, minha recuperação.
No dia seguinte, reuni a população inteira ao meu redor. Tínhamos muitos problemas para resolver, mas tinha algo ainda mais importante para contar a eles.
Nós precisávamos decidir as regras da aldeia.
Regras, como todos sabiam no Japão, eram uma necessidade para manter uma sociedade comunal. “Porque eu disse!” só iria tão longe por aqui, não importa quantas vezes eu tenha usado essa frase na minha vida passada.
No fundo, tinha três regras em mente – três princípios que eu queria ter certeza que seguiriam. De resto, imaginei que poderiam descobrir sozinhos.
— Todos aqui? Tudo bem! Eu tenho algumas regras para lhes dar! Três, para ser exato. O mínimo que eu quero é que todos vocês sigam.
E, então, eu expus meus padrões:
- Não brigar com seus amigos.
- Não atacar os seres humanos.
- Não menosprezar outras espécies.
Eu poderia ter mais se continuasse pensando sobre elas, mas não podia esperar que seguissem muitas desde o começo. Em vez disso, me mantive só no básico. Mas, como veriam isso?
— Posso fazer uma pergunta? — Rigur gritou. — Por que não podemos atacar os humanos?
Rigurd deu a seu filho o olhar mais sujo que já vi de um hobgoblin. Ele estava com medo de que eu estivesse ofendido? “Eu gostaria que pudéssemos manter as coisas um pouco mais informais, mas…”
— Simples: Porque eu gosto de humanos! Isso é tudo.
— Ah! Muito bem! Entendi!
“Você… entendeu? Bem, nossa, essa foi fácil.” Mas não consegui ler um único indício de discordância em nenhum de seus rostos. Eu esperava um pouco mais de debate sobre o assunto. Fale sobre uma decepção.
— Humanos vivem em grupos, — eu continuei, dando minha explicação completa, precisando ou não. — Se você colocar as mãos neles, podem retaliar com força e se jogarem tudo que tem em você, duvido que seriam capazes de se defender. É por isso que é proibido interferir com eles. Além do mais, ajudaria se todos vocês fossem amigáveis com eles…
É verdade, porém, ela só existe por eu gostar de humanos, vendo que eu costumava ser um deles.
Ranga assentiu profundamente com isso. Parecia fazer sentido para ele. Ele deve ter suas próprias razões para pensar que desafiar a humanidade era uma má ideia. Os hobgoblins, por sua vez, pareciam ainda mais convencidos do que antes, então não me preocupei muito em pensar neles.
— Mais alguma coisa?
— O que você quis dizer com ‘Não menosprezar outras espécies’?
— Bem, todos vocês são recém-evoluídos, certo? Só estou dizendo, não deixe que isso suba a sua cabeça e comece a dominar espécies mais fracas! Só porque você é um pouco mais forte, não significa que você seja uma raça superior e poderosa agora. Mais cedo ou mais tarde, seus rivais ficarão tão fortes — ou até mais fortes — e vão querer se voltar contra você. Isso seria ruim, não seria?
Eu tinha os ouvidos de todos na plateia. “Parece que funcionou bem o suficiente”. Tinha certeza de que alguns deles não ouviriam a razão, mas é melhor tentar cortar essas coisas pela raiz, de qualquer forma.
— Isso é tudo. Sigam essas regras o máximo que puderem, tudo bem?
As primeiras regras que a aldeia já teve foram gravadas em pedra. Todos assentiram em aprovação e, com isso, a cortina se ergueu para uma nova vida para todos eles.
Com as leis locais fora do caminho, era hora de começar a dividir os papéis. O vigia da aldeia, os cozinheiros, o grupo de coleta de materiais para a aldeia fazer as coisas, os que constroem casas e ferramentas…
Decidi designar o dever policial para os lobos da tempestade por conta da “Comunicação Mental”.
Restavam sete após todos os hobgoblinss serem pareados, e com Ranga praticamente colado na minha bunda, isso fazia seis que eu podia enviar em patrulha.
Além disso, imaginei que deixaria os detalhes da tarefa para Rigurd.
— Rigurd, eu te nomeio como ‘lorde dos goblins’! Será seu trabalho manter esta aldeia bem administrada e bem governada.
Em outras palavras, joguei tudo no colo dele. Tão duro quanto possível.
Mas, pense nisso. Trabalhei para uma empreiteira geral na Terra. Não sou um governante. E, se eu me prendesse demais a essa vila, nunca teria a chance de visitar uma cidade humana. Mesmo que isso significasse ser um pouco agressivo, teria que entregar isso para ele algum dia.
Estava esperando algum contra-ataque, mas...
— S-sim, senhor Rimuru!! Eu te prometo que eu, Rigurd, irei devotar meu corpo e alma a esse posto vital!!
Ele estava soluçando lágrimas de alegria de novo.
“Justo. Deixe o rei reinar, não governar. Ou, pelo menos, deixe-o latir ordens de vez em quando, e deixe-o sozinho caso contrário.”
“Sabe, lembro de Rigurd ser um goblin trêmulo e enrugado quando nos conhecemos. Agora, ele é um hobgoblin no auge de sua vida... musculoso e cheio de energia. Ele pode ser até mais forte do que Rigur. Como isso aconteceu? Quanto mais eu mexo com essa coisa mágica, mais louco me parece.”
— Muito bem. — Eu gritei. — Está em suas mãos agora, Rigurd! Agora, eu estava assistindo a construção. É terrível, não é?
Mal podia se chamar as estruturas de casas. Esses eram goblins mais fortes e mais espertos, mas suponho que pedir que repentinamente desenvolvam habilidades técnicas era um pouco demais.
— Me dói admitir isso, Senhor Rimuru. Porém, nunca tivemos a necessidade de casas muito grandes no passado…
— Sim. Vocês são muito maiores agora, afinal. Quanto a roupas… Vocês estão expondo pele demais. Você poderia conseguir algumas roupas por aí?
— Ah! Sim! Há algumas pessoas que conheço e com quem fizemos negócios várias vezes. Talvez possam fornecer roupas que se ajustem às nossas necessidades. Na verdade, com as habilidades deles, podem saber como construir casas também!
Hmm.
Tendo trabalhado para uma empreiteira, eu tinha um olho para uma construção de qualidade decente. Em termos do que eu podia realmente construir, contudo, minha habilidade era limitada aos seus projetos básicos de DIY de domingo à tarde. Não é o suficiente para ajudar como capataz de construção. Se esses empresários pudessem ajudar com isso, talvez valesse a pena visitá-los.
— Entendo, — respondi. — Não faria mal falar com eles. Com o que você os paga? Dinheiro?
— Não, Senhor Rimuru. Nós temos algumas moedas que pegamos de aventureiros, mas que permanecem armazenadas. Em vez disso, obtivemos os materiais que precisamos por meio de troca ou trabalho de curto prazo.
— Oh. Então, quem são esses caras?
— Eles são conhecidos como anões.
“Anões! A infame raça de ferreiros! Tenho que dar uma conferida!” E enquanto a crise das roupas era resolvida, algo tinha que ser feito sobre suas capacidades defensivas. As armaduras não ofereciam mais proteção do que os farrapos... e nem sequer podiam usá-las, pois não cabiam mais. Era certamente um problema, e enfrentar isso agora seria matar dois coelhos com uma cajadada só.
Só havia um problema. Quase nada que eles tomaram dos aventureiros de passagem tinha muito mais uso, e qualquer dinheiro que eles guardassem não devia ser muito. O que poderíamos negociar? Outro problema para arquivar para mais tarde, talvez…
— Vou tentar visitar eles. Você pode fazer os arranjos para mim, Rigurd?
— Ah! Ah, claro, senhor Rimuru! Terei tudo para sua jornada até amanhã à tarde!
Ele parecia entusiasmado o suficiente para me sentir seguro em suas mãos. Provavelmente me daria o dinheiro restante, também, não que eu esperasse muito.
Moeda de troca, contudo, huh? Seria engraçado se fosse papel.
Pensando nisso, no entanto, também não tinha muito dinheiro comigo. Ao menos, o fato de que uma moeda de troca existia nesse mundo era uma boa surpresa. Imaginei que existia, mas não tinha ideia de como era circulada.
“Quando chegar a uma cidade humana, terei que sair e conferir os preços. Mas isso pode esperar até depois dos anões. Após todo o trabalho árduo em colocar essa cidade em forma, uma visita tranquila me faria maravilhas. Estarei com a minha própria humanidade em breve... conferir as outras raças poderia me ajudar a aprender um pouco mais sobre esse mundo maluco.”
Embora, sendo tecnicamente, uma sub-raça de pessoas, os anões aparentemente viviam em suas próprias grandes cidades. Eles também possuíam um rei, embora nenhum goblin sequer tenha visto um relance dele. Apenas ser autorizado em suas cidades era considerado uma conquista para toda a globlinidade.
Comecei a me perguntar sobre o estado da discriminação de goblins por aqui. Eu era um slime, afinal. Seria tratado de forma justa? Havia muitas ansiedades para entreter, mas ainda mal podia esperar para conhecer alguns daqueles carinhas. A excitação permaneceu fresca em minha mente durante o resto da noite.