Volume 2

Capítulo 72: Mundo Órfão

— Que poder absurdo... — sussurrou Goro tendo que aguçar os olhos para enxergar o outro lado da cratera que preenchia toda a sua visão. — Mas de que “parada” vocês estão falando?

— Você estava dormindo? Não ouviu a conversa entre o Koza e o Índigo? — perguntou Iara em tom de bronca ao lado dele na beira do abismo.

— Aquele negócio da arma?

— Idiota, não é só uma arma — afirmou Garta estudando o local em ruínas deixado pelo epicentro da explosão de Tera há nove anos. — É a lâmina do espaço, a espada divina de Finn.

— Ah, sim. Aquela espada usada por Tera na luta contra Lux.

— Isso. Finn deixou a espada com Tera, como um presente — elucidou Iara. — Ela usou para combater as maldades de Lux. Mas antes de sua derrota, cravou a espada no chão e utilizou sua magia de Tera para invocar a explosão do tempo.

— Eu sei, eu estava lá — vangloriou-se Goro.

— Tanto faz — respondeu emburrada. — O importante é que a espada está até hoje cravada na pedra maciça do tempo. Muitos tentaram arrancá-la de lá em busca de seu poder absoluto, mas quem se atreve a tocá-la recebe um castigo divino.

— Castigo?

— Na verdade, não suportam o poder da magia de Finn. A maioria, ao tocar no cabo da espada, tem as pontas dos seus dedos derretidos. Koza e Índigo acreditam que uma magia especifica de Finn envolve a arma, impedindo que qualquer um que não seja reconhecido pela espada, seja recusado. Aí é que entra a guardiã, e filha, de Finn — concluiu Iara observando o rosto sério de Garta mirando o fundo da cratera.

A guardiã sentiu o vento no alto da ribanceira chamá-la como em um encanto. Proferiu determinada:

— Se a teoria de Koza estiver certa, eu poderei empunhar essa espada.

— Uma espada com poderes de uma deusa — comentou Goro entendendo a importância. — Com certeza, precisamos disso.

— O único problema — alertou Iara apontando para o fundo da depressão distante. O que passou despercebido até então, saltou aos olhos. — São dezenas de lunáticos que vivem em um único bando. Eles caminham pela base da cratera, sem rumo, à procura de qualquer coisa que se movimente.

O que era descrito, era facilmente observável agora. Quase uma centena de homens e mulheres caminhavam, esbarrando uns aos outros com roupas rasgadas e enlameados, sem rumo. Era como se estivessem hipnotizados, mantinham os olhos apontados para o céu e acompanhavam uns aos outros dando voltas e rondando o lugar.

— Se vamos fazer isso — Iara continuou —, se certifiquem de não serem notados, ou seremos perseguidos e estripados por eles.

— Estripados? — Goro engoliu seco. — Essa arma vale mesmo a pena?

Garta ignorou a pergunta, avançou até a beirada e começou a descer o terreno extremamente inclinado. Iara foi logo atrás, com a aljava cheia de flechas no cinto e o arco nas costas, teve o cuidado necessário para acompanhar a mulher.

— Esperem — pediu Goro sem ser atendido. — Vão fazer isso durante o dia? Eles vão nos ver...

Iara continuava descendo o declive ao lado de Garta em direção ao fundo da cratera. Comentou sincera:

— O seu amigo é sempre assim?

— Ele não é... — Garta entortou os lábios enquanto avançava o caminho acidentado. — Ah, esquece. Ele só vai nos ajudar a achar a chave para eu tirar essa coleira do meu pescoço, tá bom?

— Aí, vocês me ouviram? — perguntou Goro se apressando, também avançou seguindo-as. Foi obrigado a descer a inclinação para não ficar sozinho para trás.

Garta continuava os seus passos descendentes desviando de pedras, destroços de aço e pedaços de construções espalhados entre a areia grossa que se acumulou por anos no que sobrou da Capital.

Chegou à base da cratera e rapidamente agachou atrás de uma pilha de metal retorcido. Mais à frente, era possível ver os indivíduos amontoados em caminhada lenta, como uma procissão pelos arredores da área central do lugar inóspito.

Iara chegou logo atrás e fez o mesmo que a guardiã. Agachou ao seu lado e ficou observante aos estranhos caminhantes amontoados.

Goro foi o último, acompanhou as garotas, mas não resistiu em perguntar:

— O que estão pensando em...

— Shhh. — Garta tapou a boca do rapaz com as próprias mãos. Sussurrou com a face ameaçadora: — Cala a boca.

Iara trouxe a explicação ao confuso, sussurrou:

— Como são cegos, os lunáticos possuem uma audição mais aguçada do que o normal.

Goro observou mais atentamente aqueles que andavam em círculo e finalmente percebeu que seus olhos eram esbranquiçados e nebulosos.

— Eles são cegos? — perguntou o rapaz sussurrante após ter sua boca livre novamente.

Iara continuou explicativa com a voz baixa:

 — Os doentes enlouqueceram pela falta da lua no céu. Insanos, ficam a maior parte do tempo procurando pela lua no céu, mesmo durante o dia. Isso fez com que seus olhos queimassem aos poucos devido a luz excessiva bombardeando suas pupilas, até não possuírem mais visão alguma. Mesmo assim, continuam procurando pela lua.

— Mas se eles são cegos, mesmo que a lua volte ao céu, eles nunca vão conseguir vê-la novamente. Por que continuam fazendo isso? — sussurrou Goro.

— É por isso que são chamados de lunáticos — rebateu Iara.

Garta balançou a cabeça negativamente, julgando a falta de atenção de Goro durante a conversa e confecção do plano na noite passada. Encheu a boca de sarcasmo e rancor:

— Se quiser perguntar o motivo para um deles, nós esperamos você aqui.

Goro observou mais uma vez os lunáticos distantes à frente, e calou-se suando frio ao ver um deles com sangue e tripas por todo o seu corpo moribundo. Possuíam uma respiração ofegante e pesada, como se estivessem o tempo todo irados com suas unhas grandes e afiadas que se destacavam nos corpos magros cheios de cicatrizes e ferimentos expostos.

— Não, tudo bem. Eu vou só ficar aqui mesmo — concluiu Goro, deixando suas perguntas de lado.

— Ótimo — finalizou a guardiã. Voltou-se a Iara, entregou a sua mochila para ela e mostrou a face destemida e confiante:  — Vamos nos separar aqui. Sabe o que fazer, eu conto com você.

— Ah, claro. — Surpreendeu-se a garota devido aquela energia ousada. Rapidamente mostrou determinação em resposta empolgada com a voz baixa: — Pode deixar comigo, Garta.

A guardiã acenou positivamente com a cabeça e, antes de continuar virou-se ao rapaz para dizer com a confiança que carregava: — E Goro, não faça nenhuma besteira.

Ela avançou em silêncio na direção central da cratera deixando os outros dois para trás deslumbrados.

— Ela é tão legal — Iara sussurrou sua admiração.

— Legal? Ela não tem nada de legal — comentou o rapaz com um sentimento estranho lhe confundindo.

— Ah? Você está falando sério? — perguntou a garota de rosa ao se levantar e começar a caminhada pelas margens da cratera.

Longe do centro e dos perigos que os lunáticos representavam, Goro não se deu por satisfeito, continuou com o assunto:

— O que tem ela de tão especial? Ela até sabe lutar bem, mas é muito irritante com esse jeito de se achar superior sobre os outros.

— Olha quem fala... — sussurrou a garota.

— O quê?

— Não é nada — Iara balançou a cabeça ainda caminhando em direção para objetivo ao canto da cratera. — Mas você não entendeu. Ela não se acha superior, ela é superior.

—Você é uma admiradora obcecada inconsequente da guardiã assustadora, por acaso?

— Guardiã assustadora?

— É como chamam ela — rebateu Goro.

— Ninguém chama ela assim.

— Eu chamo.

— Aff. Eu não sou obcecada. Só estou dizendo que você não conhece tão bem a Garta. Ela não é do tipo que vai chorar ou lamentar, muito menos cair nas provações baratas suas. Se quer ter a atenção dela, vai ter que mostrar que se importa, não só com ela, mas principalmente com os outros.

—... — Goro ficou sem palavras. Parou seus passos por um segundo.

— Ah. O que eu estou falando? — Parou Iara e colocou a palma da mão na própria testa se punindo. — Estou dando dicas para um concorrente meu. — Se virou para o rapaz com o dedo indicador apontando para o céu nublado. — Não pense que isso vai acontecer de novo.

— Do que você está falando? Eu não quero nada com a guardiã assustadora. E isso o que você falou agora, só prova que é mesmo obcecada pela guardiã assustadora.

— Eu só quero ser igual a ela, tá bom? — Iara voltou a caminhada na direção prevista.

— Então você está fazendo um péssimo trabalho — Goro acompanhou a garota que lhe mostrou as sobrancelhas em dúvida. — Ela é toda “morte e angústia”. E você é toda “alegria e... roupas cor de rosa”.

Iara encheu as bochechas de um ar insatisfeito e, com os olhos certos de sua decisão, retornou a resposta enquanto mantinha os seus passos:

— Não é disso que estou falando. Quando eu era criança, a Garta salvou a minha família. Ela nos ajudou a encontrar uma casa, comida, roupas, tudo o que precisávamos. Mesmo sendo completos desconhecidos e correndo riscos ao fazer tudo isso, Garta não hesitou em nos ajudar. Éramos apenas andarilhos, fugitivos de uma guerra e recém chegados à uma cidade sem piedade. Morreríamos em poucos dias, por fome ou pelos guardas que odiavam os vindos de fora, “turvos” como nós na Capital corrompida pela ambição.

— Então, debaixo daquela casca dura como pedra tem um coração. Tá bom — complementou Goro com um ar tendendo ao sarcasmo.

— Não é só um coração. Enquanto a Garta ajudava a minha família, o Gerente que ela servia, descobriu. Garta foi punida das piores maneiras que se pode imaginar. Ela teve seus sonhos arrancados, sua mente inundada e seus sentimentos destroçados. Cada fibra de sua coragem foi despedaçada e minada até a exaustão. Mesmo assim, continuou. Continuou sem hesitar, nem mesmo por um segundo, ajudando aqueles que mais precisavam. É isso que eu quero. Quero ser forte como ela para poder ajudar aqueles que necessitam. Porquê são essas as pessoas que fazem a diferença e devem ser admiradas.

Goro compreendeu que, por trás daquela aparência inabalável, havia uma alma marcada por lutas e dores profundas que só alguém forte como a Garta poderia suportar. Ele engoliu em seco, admirado, mas não trouxe isso à tona, pelo contrário, retornou com a sua insensatez acobertada:

— Então é isso... realmente você é uma obcecada pela guardiã assustadora, uma fã.

— Tsc. — Iara mostrou os seus olhos inocentes em conjunto com as sobrancelhas arqueadas em desgosto. Um tom agridoce entre sua raiva e sua natural meiguice. — Eu não sou obcecada. E pare de chamar a Garta por esse apelido ridículo.

— Você é ainda mais fofa quando está irritada, sabia?

— Para de me fazer de boba e...

— Claro, claro — Goro simplesmente se esquivou das palavras zangadas da garota. — Será que nós já estamos chegando?

Iara desfez sua expressão irada e deixou para trás o assunto anterior. Respondeu séria com seu ar gentil de volta:

— É logo ali.

A garota apontou para um prédio alto em ruínas ao canto da cratera alguns passos dali. Sobre a construção, uma grande estrutura de aço erguia-se aos céus alcançando a superfície para fora daquele abismo.

Naquele local, as paredes da cratera possuíam um declive ainda mais acentuado, impossível de se alcançar a superfície sem uma boa escalada. Mas o que se destacava de fato por ali, eram os destroços de aço que formavam uma passagem entre os escombros do centro da velha Capital até a margem de fora.

Iara parou na entrada do prédio em meio a tantos outros destroços e ruínas que um dia foram uma grande cidade:

— Aqui, vamos subir pelas escadarias do prédio e escalar a torre de rádio caída para preparar o caminho para a Garta.

— Preparar?

A garota revirou os olhos e tirou de dentro da mochila que carregava um pedaço grande de corda enrolada.

— Você não prestou atenção em nada ontem mesmo, né? Amarra isso aqui naquele destroço. — Apontou para o que se parecia a parte superior de um poste de metal quase completamente soterrado entregando uma das pontas da corda. — Vamos subir até o topo da cratera pela torre de rádio para amarrar a outra ponta. Quando chegar a hora, a Garta vai se agarrar na corda na base, aí puxamos ela lá de cima até a superfície. Isso vai evitar dos lunáticos nos perseguir para fora daqui.

— Parece um bom plano — comentou Goro observando o prédio à frente e o metal retorcido no telhado que se estendia até a borda da cratera enquanto amarrava a corda no local indicado pela garota. — Isso é uma torre?

— Costumava ser. Era o prédio do ministério das comunicações, agora só serve de ponte daqui até o lado de fora.

— Caramba... — Goro ficou boquiaberto.

— Vamos, é melhor nos apressarmos, a Garta já deve estar próxima da espada e deve chegar em alguns minutos — concluiu Iara, caminhando para dentro do prédio.

— Tá, claro — concordou o outro.

Assim que a garota passou pela abertura que costumava ser a porta de entrada do prédio, ouviu um ruído vindo de sua lateral, se virou rápida, mas não teve tempo de sacar sua faca de sobrevivência acoplada no seu cinto, algo lhe abraçou impedindo sua reação.

— Ah! — Ela gritou tentando afastar o corpo leve, porém absurdamente forte cheirando a podridão do inimigo surpreendente.

Goro imediatamente se espantou, viu a garota ser atacada por um daqueles lunáticos e rapidamente foi ao socorro.

O agressor tinha a sua pele manchada castigada pelo sol. Sem cabelos, seu couro cabeludo parecia ter sido arrancado, era possível ver parte do seu crânio cercado por ferimentos cicatrizados por queimaduras. A coisa já não era mais humana, suas roupas rasgadas combinavam com sua atitude animalesca de ataque e seus olhos totalmente brancos.

O selvagem tentava alcançar o pescoço da garota com suas unhas afiadas enquanto ela as afastava com toda sua força segurando os braços do lunático, aquilo não duraria por muito mais tempo. O ameaçador era mais forte e efusivo sobre sua presa. Goro percebeu isso.

Avançou sacando seu revólver de Sathsai e o apontou para a lateral da cabeça, sobre a orelha esquerda da criatura humanoide, colocando os seus dedos sobre o gatilho. Um regate simples com uma solução rápida. Atirou.

O raio de luz traçou uma linha reta atravessando a cabeça daquela coisa e deixando para trás um buraco perfeito da espessura de um prego no cérebro corroído do lunático. O brilho cessou, mas inesperadamente, o ataque continuou.

— Ah! — Iara gritou mais uma vez ao ser forçada a recuar os seus passos e bater com as costas na parede desbotada do prédio enquanto o ataque da criatura avançava.

— Que merda é essa? — Goro se surpreendeu.

Era para o lunático estar caído agora, sobre uma poça de sangue alimentada pelo buraco de seu próprio crânio. Nenhum ser humano seria capaz de resistir ou sobreviver a um ferimento desses, mas esse foi o erro do rapaz, achar que aquela coisa era humana.

As unhas afiadas do lunático passavam há centímetros do pescoço frágil de Iara que, contra a parede, não podia fazer nada se não ser resistir com toda a sua força que era consumida rapidamente.

Goro se viu tão encurralado quanto a garota enquanto pensava sobre o que fazer. O seu revólver de Sathsai estava no estágio de recarregamento, demandaria muito tempo para a sua recarga completa e mais um disparo, além disso, mais um disparo não era indício de um ponto final naquela situação, afinal, a coisa resistiu à um disparo, talvez resistisse a mais um, quem sabe. Mas isso era um pensamento leviano, até chegar o momento de uma nova possibilidade de disparo, Iara já teria a sua jugular exposta ao ar árido por aquelas unhas animalescas da criatura que cintilavam a morte.

— Ah! — Mais um grito da garota que resistiu a mais um ataque.

— Merda! — Respondeu Goro se forçando a agir.

Guardou sua arma ao cinto e avançou. Abriu os braços e em seguida abraçou o moribundo ofensivo pelas costas. Trançou suas mãos ao peito do lunático e o puxou com toda sua força para tira-lo de cima da garota.

A coisa se debateu cortando o ar com suas unhas afiadas se distanciando do rosto de Iara. Sem encontrar alvo algum o lunático mudou sua obsessão, levou suas garras até o seu novo agressor para tentar se desvencilhar dele. A criatura cravou suas unhas sobre os braços de Goro que o cercava e as arrastou sem piedade.

— Ah! — Goro sofreu à medida que a pele de seus braços era rasgada pelas dez pequenas lâminas nas pontas dos dedos do imigo.

O abraçou com mais força, impedindo que se soltasse, enquanto o seu próprio sangue escorria quente pelas suas mãos.

Iara se recuperou rápida, finalmente alcançou a sua faca de sobrevivência que carregava no cinto e não hesitou em crava-la no inimigo exposto à sua frente. Fincou a lâmina de aço no centro da testa da criatura exposta, logo acima dos olhos leitosos que emanavam uma aura maligna.

A criatura teve um espasmo antes de derradeiramente tentar acertar a garota à sua frente com as unhas ensanguentadas. Iara velozmente girou o cabo da faca e a arrancou do crânio podrido se afastando do ataque. As unhas da criatura novamente cortaram o ar sem acertar nada mais, em seguida, perdeu a vida sem se quer dar um último suspiro.

O lunático se tornou apenas um corpo pesado sem vida nos braços de Goro.

Iara se escorou na parede, a mesma que havia lhe encurralada servia de apoio para o seu descanso de agora. Respirou fundo esperando os níveis de adrenalina no sangue baixarem à um nível normal novamente. Goro largou o corpo sem vida do inimigo fedendo a chorume ao chão e fez o mesmo que agarota.

Respiraram fundo recuperando o fôlego enquanto observavam a criatura que mal sangrava sobre o mármore empoeirado do que um dia foi o hall do prédio do ministério das comunicações.

— Você está ferido, Goro — disse Iara, evidenciando o óbvio enquanto buscava algo na mochila.

— Droga. Eu gostava tanto desse casaco — comentou ele escondendo as dores ao ver os ferimentos em seus braços sob o pano rasgado da sua vestimenta.

— Aqui. Tira o casaco e estende os braços — solicitou Iara enquanto desenrolava as bandagens para iniciar os primeiros socorros dos ferimentos.

Ela enrolava as ataduras sobre os ferimentos do rapaz estancando o sangramento enquanto ele mordia os dentes em reflexo à dor.

— Isso vai ser o suficiente, por enquanto — disse ela ao finalizar o curativo do rapaz.

— Obrigado.

— Não foi nada. Na verdade, eu é quem deveria agradecer. Você me salvou ali, né? — rebateu ela apontando o lunático morto com os olhos.

— Foi mesmo, essa coisa é bem resistente para alguém que está doente.

— Isso é por causa da magia de Lux, não é só uma simples doença.

— Isso explica como eles sobrevivem nesse buraco por tanto tempo e são tão fortes. Mas tanto faz, o importante é que estamos bem — respondeu Goro sorrindo, mas logo fez uma expressão de dor ao movimentar o seu corpo para vestir o casaco novamente.

— Está doendo muito? — Iara se preocupou.

— Não é nada. Não vai ser uma criatura feia dessas que vai me parar. Mas me diz, eu ganhei uns bons pontos aqui, acho que me aproximei da Garta, você já é minha fã também? — sorriu escondendo a expressão de dor.

Iara mostrou o seu sorriso espontâneo enquanto negava com a cabeça o deboche dele. Voltou a observar o cadáver da criatura e disse com alguma preocupação:

— Eu só espero que ela esteja bem com tantos deles por aí.

— Não se preocupe, ela é forte. Além disso, se o seu plano der certo, nem vai precisar lutar contra os lunáticos — concluiu Goro com palavras reconfortantes e caminhou em direção às escadas. — Vamos, ainda temos de subir todo esse prédio.

— Certo — concordou Iara deixando de lado sua inquietude e se juntando ao rapaz. — Espera aí, então você ouviu os planos ontem à noite?

— É... Eu devo ter escutado alguma coisa — Goro continuou os passos disfarçando, enquanto Iara franzia a testa ao segui-lo.



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