Volume 2
Capítulo 124: Promessa Quebrada
Colth e Aldren se encaravam, frente a frente.
O Imperador permaneceu imponente, o olhar fixo no inimigo, inabalável. As sombras ao seu redor se contorciam e vibravam, inquietas, aguardando o momento certo para atacar.
“Colth, você consegue ver também?” Perguntou Lashir, na mente do guardião de Anima. Continuou: “As sombras que acompanham o Aldren, elas não estão mais mascaradas pela magia de Hui. Ele também parece mais fraco. É a sua chance.”
Colth inspirou fundo, assentindo. Seu coração batia rápido.
— Então foi isso que você se tornou, Aldren? — perguntou ele. Agora finalmente enxergando a corrupção em sombras que antes era invisível aos seus olhos. — A magia de Anima pode esconder, ou disfarçar, mas o peso de nossas escolhas ainda vai estar nos nossos ombros, não é?
Aldren inclinou levemente a cabeça, um esboço de sorriso sem humor no rosto.
— Do que está falando? Você não sabe de nada — rosnou o imperador. — Seu sacrifício é vazio.
— Você acredita mesmo nisso, não é, Aldren? Que tudo deve ser oferecido em troca de poder ou propósito. Que o sacrifício é um fim inevitável, frio e intencional.
— Essa é a ordem geral da natureza — começou. Apontou para Lux acorrentada ao altar. — Desde quando aquela mulher decidiu que sua solidão era o seu pesadelo. Desde que tomou consciência de sua divindade e sonhou em ser adorada. Desde a criação dos mundos e de seus deuses, tudo. Sempre o sacrifício estivera lá. O sacrifício de uma abelha operária quando ferroa um intruso para assegurar sua colmeia. O de um salmão nadando contra a correnteza e morrendo de exaustão para desovar suas crias. A lagartixa que solta o seu rabo de propósito quando são atacadas por predadores para os confundir. Sacrifícios são necessários.
— Não dê ouvidos a ele, Colth! — gritou Goro, do outro lado do salão, próximo a Garta, que também observava aflita, presos pelas sombras aos seus pés.
O punho de Colth se fechou, mas não por raiva. Seu olhar manteve-se firme, apenas balançando a cabeça em negação.
— Você continua com medo, não é, Aldren? — disse, a voz séria. — Pouco a pouco, você perdeu. Sua família, seus amigos, seu mundo, seu filho. E no fim, Hui te deu uma visão muito mais confortável. Afinal, sacrifício não é perda, certo?
Aldren não respondeu de imediato, mas seu olhar estreitou-se, enchendo-se de raiva.
— Não fale como se fosse superior. Porque você não é.
Colth suspirou, mantendo a avaliação.
— No começo, achei que você estivesse só confundindo as coisas. Que Hui tivesse colocado essa besteira de “sacrifício” na sua cabeça. Mas então percebo que foi você quem procurou por isso. Ficou muito mais fácil lidar com todos os problemas, com todas as perdas. E agora, que escalou tudo isso desesperadamente, chegou no alto e ficou obcecado com a vista, não quer cair, não de novo. Vai negar, lutar e afastar qualquer coisa que se aproxime e ameace essa sua vista e ainda vai pintar isso como um sacrifício.
A pálpebra de Aldren tremeu. Um sutil sinal do ódio contido.
Colth não parou.
—A abelha não decide morrer, o salmão não reflete sobre seu fim, a lagartixa não deseja perder parte de si. Diferente de você, Aldren. Sacrifícios são um efeito colateral da vida. Fazer disso uma regra para a sua própria vida, não é algo nobre ou belo. É apenas fraqueza. Uma aberração distorcida que engoliu um covarde irreconhecível.
Aldren cerrou os dentes.
— Já chega dessa merda!
Ele avançou.
As sombras subiram pelo seu corpo como serpentes e tomaram o seu punho, enrijecendo-se pela magia corrupta. O golpe veio direto, rasgando o ar rumo ao rosto do oponente.
Colth se moveu rápido.
Seus pés deslizaram pelo chão liso do salão, desviando-se do soco com um arranque ágil para o lado. Porém, não bastava apenas evitar o primeiro golpe. Como Colth previu, as sombras não pararam com o movimento de Aldren, elas se projetaram para o lado desenhando um arco no ar, esticando-se como tentáculos para acertá-lo.
Os olhos de Colth brilharam vermelhos por um breve momento.
Seu próprio sangue endureceu, vindo de seus ferimentos, coagulado sob o comando de Lashir, formando uma camada protetora sobre seu braço esquerdo. As sombras colidiram contra a barreira carmesim.
O impacto também foi o ponto de início do seu contra ataque. Colth esticou o braço direito com a adaga de Sathsai em mão e tentou um corte vertical.
A lâmina passou pelas sombras causando um corte invisível sem afetá-la.
— Merda... — sussurrou Colth, percebendo a invulnerabilidade daquela coisa.
Aldren aproveitou o ataque nulo do oponente. Adiantou um passo, segurou o braço de Colth com a mão direita e avançou com a palma esquerda da mão em sombras sobre o peito dele.
Foi interrompido. A mão do imperador acertou algo sólido. O escudo de Agnes focado em absoluto controle de Colth.
— Tsc — O imperador percebeu que havia avançado demais.
E Colth, mesmo sem poder usar ambas as mãos, o encarou.
Sem pensar duas vezes, fechou os olhos com força e lançou a cabeça para frente.
Uma cabeçada com máxima potência. Violentamente acertou o rosto de Aldren e o fez cambalear para trás. Mas não durou muito. As sombras conduziram seu movimento, e mesmo com alguma desorientação, ele girou sobre o próprio eixo elevando a perna esquerda em um chute poderoso na altura do ombro de Colth.
Acertou. O guardião de Anima resistiu com dificuldade e foi obrigado a caminhar alguns passos para trás cambaleante. Ouviu a voz de Lashir preocupada ecoar em sua mente:
“Colth, eu não sei se você percebeu, mas se eu continuar usando o seu sangue desse modo, para lhe proteger, você vai acabar morrendo. Além disso, o seu escudo de Agnes não vai aguentar muito mais.”
Colth não teve tempo de pensar ou responder. O imperador rugiu:
— Você ainda não entendeu, Colth?! Seu sacrifício é fraco. Por isso que vai perder!
Aldren não permitiu que o oponente descansasse. Avançou rápido com ambas as mãos envoltas por sombras rastejando sobre sua pele.
Colth tentou se proteger apenas com a adaga, poupando a energia mágica e o próprio sangue. Ele apontou a lâmina em direção a Aldren e defensivamente cortou o ar com ela na mão direita.
O imperador já não estava com a sua agilidade de antes, mas as sombras quase que lhe impulsionavam. Ele levou a mão coberta pela corrupção em direção a adaga e não desviou do ataque.
A lâmina cravou-se por entre a sombra, mas não pareceu cortar carne, e nem sangue foi derramado. Era como se Colth tivesse esfaqueado um travesseiro de plumas. Estranhou, mas não teve tempo de reagir. Sua mão foi segura pelas sombras, consumida até o pulso com a adaga, para dentro daquele ser de trevas.
O guardião de Anima arregalou os olhos, percebendo a adversidade e temendo pelo que viria a seguir.
O punho direito de Aldren veio rápido em novo golpe, envolvido pelas trevas, em direção ao rosto de Colth. O guardião reagiu rápido, levantou o escudo de Agnes com a sua concentração, e se protegeu bem a tempo.
O golpe do imperador acertou em cheio o escudo, que aguentou bem, mas o custo da concentração e magia recaía sobre Colth de forma impiedosa. A fadiga ficava evidente em seu rosto iluminado pelas faíscas de luz mágica que dispersavam através do impacto poderoso entre sombra e escudo.
“Colth, as sombras!” Lashir exclamou na mente dele.
Ela rapidamente agiu ao perceber que as trevas avançavam pelo braço direito de Colth. O rapaz tentava remover a mão dali, mas o tentáculo de corrupção era impassível. Lashir foi obrigada a conduzir o sangue dos ferimentos do guardião para até o perigo iminente, e então coagulá-lo, impedindo o avanço das sombras pelo seu corpo.
Ainda assim, a mão direita de Colth continuava presa no ser de sombras, junto com a sua adaga e com o braço esquerdo de Aldren.
— Pare de resistir! — gritou o imperador.
Ele deu mais um soco violento no escudo de Agnes, que permaneceu firme.
“Colth!” Lashir ecoava na mente dele absolutamente preocupada. “Se eu usar mais uma gota do seu sangue, é provável que você caia desacordado.”
— Tsc.
— Acabou, Colth! — gritou Aldren, com mais um poderoso murro no escudo.
As pernas de Colth tremeram com o impacto, mas ele resistiu. Seguiria resistindo. Prometeu isso.
— Não vai se mexer, é? — furioso, Aldren. — Muito bem, então. Chegou a hora de você me responder à pergunta que fiz mais cedo.
O imperador virou o rosto em direção ao altar. Lux permanecia em sofrimento, enquanto dois dos encapuzados, ainda de pé, esperavam pela sua vez.
— Vamos ver, quem você vai escolher para sacrificar! Vamos ver se sacrificaria todos!
Era notório o que Aldren pensava, mesmo assim, Lashir desconfiou ao máximo na mente de Colth:
“Ele enlouqueceu? Se usar o sacrifício e a plena magia de Lux em nós, ele também será esmagado. A não ser que...”
— Não faça isso, Aldren! — gritou Colth. Sua visão começando a embaçar.
O imperador apenas piscou. E o seu desejo se fez verdadeiro.
Ambos encapuzados caíram. Ao mesmo tempo, uma espessa onda de energia partiu de Lux e ganhou forma sobre o salão e as cabeças de Goro e Garta.
A guardiã de Finn engoliu seco. Agiu rapidamente para tentar um deslocamento desesperado, mas a sua magia foi consumida pela sombra aos seus pés, que também lhe impedia de se mover ou empunhar a espada.
Goro arregalou os olhos, olhando para o alto e vendo aquela maciça energia se aproximar deles, rápida e letal. Não havia o que fazer naquela situação. Suas pernas e armas estavam fixas pelas sombras ao chão.
— Ah, não... — sussurrou se apequenando. Rapidamente se virou para Garta.
Seus olhos se encontraram em puro desespero e angústia.
Goro então apontou o olhar para Colth. Como se suplicasse algo.
A energia caiu sobre eles, como uma cachoeira mágica, pronta para esmagar e destroçar os seus corpos.
— O que você vai sacrificar, Colth! — gritou o imperador, impiedoso, com um sorriso terrível no rosto. — A esperança em forma de guardiã, ou o melhor amigo?!
***
— Ei, Colth.
O sussurro de Goro cortou a quietude da noite.
— Hm? — Colth murmurou, sonolento. — Vai dormir, Goro. Amanhã vai ser um dia cheio.
Deitados lado a lado nas camas improvisadas em meio a oficina de Beca, Goro ficou com o canto mais próximo da parede, mas seus pensamentos inquietos não o deixavam descansar.
— Eu não vou conseguir dormir. Preciso te dizer isso, ou vou passar a noite inteira acordado.
O vento noturno assobiava lá fora, atravessando a Vila Nova Tera.
Colth respirou fundo, impaciente. Se virou sobre os lençóis empilhados e, na fraca luz noturna, viu o rosto de Goro. Tentou manter os olhos abertos, mas logo desistiu. Balbuciou:
— O banheiro é na última porta. Você não quer que eu vá junto de novo, não é?
— “De novo”? — repetiu Goro, meio confuso.
Colth fez uma careta e abriu os olhos frustrados, ainda tentando se acomodar. Em seguida, não conseguiu conter um sorriso nostálgico:
— É. Teve aquela vez, no acampamento quando estávamos treinando para a Defesa, lembra?
— Ah — Goro trazia as suas memórias. Imediatamente se explicou em defensiva: — Isso foi no meio da floresta de noite. Alguém tinha que segurar a lanterna para mim.
— Não fale besteiras — Colth riu, irônico. — Só tinha mato lá. Você não precisava nem mirar, muito menos ver. Me chamou naquela vez porque tem medo do escuro.
— Tínhamos treze anos — rebateu o outro.
— A Agnes era mais nova que você, e sempre te chamava de covarde.
— Sua memória voltou com tudo mesmo, em? — criticou Goro.
— É. Voltou sim. Legal. Boa noite — Colth disse finalizando apressado, tentando virar para se cobrir, já impaciente.
Mas Goro não estava pronto para deixar a conversa morrer ali.
— Boa noite… Espera aí! Eu não disse o que queria falar.
Colth deu um suspiro abafado, sem paciência.
— Para de gritar, Goro. Vai acabar acordando os outros.
— Desculpa — sussurrou em resposta. — Mas eu ainda preciso te dizer.
— Então fala — Colth não moveu um músculo.
Goro se virou um pouco, ficando de lado, a mente ainda processando as palavras que precisavam ser ditas.
— Tá… deixa eu ver… — fez uma pausa, claramente tentando formular algo com cuidado. Foi o pior nisso: — A Garta está te traindo.
Colth, ainda com os olhos fechados, demorou para reagir, mas então os arregalou de surpresa. Virou-se na cama, encarando Goro com um semblante de total confusão.
— O quê?
Goro desviou o olhar antes de tentar explicar:
— Quero dizer. Está te traindo... romanticamente.
Colth respirou fundo, um pouco desapontado com o amigo. Ignorou completamente o tom de revelação dele.
— Bem que eu achei que você estava felizinho demais, Goro. Você bebeu, não foi?
Goro, um pouco ofendido, respondeu rapidamente.
— Não. Eu não bebi. Escuta, eu sei que vocês não estão namorando nem nada, mas ela já te beijou e...
— É, Goro. Não estamos namorando. Não somos um casal. Nunca fomos. Logo, não tem como ela me trair, tá legal?
— Ah, que bom. Eu achei que poderia estar rolando algo entre vocês ainda. As coisas poderiam ficar estranhas daqui pra frente. Mas já que não, então fico mais aliviado e posso dormir tranquilo — Goro virou-se na cama, aparentemente pronto para terminar a conversa e dormir. — Boa noite.
— Espera aí. “Estranhas daqui pra frente?” Que papo é esse, em?
— Não é nada não. Melhor dormirmos. Como você disse, amanhã será um dia longo.
— Tá brincando, né? Não vai me dizer quem foi que...
Nesse momento, a porta da oficina se abriu, cortando a conversa. Beca apareceu, com uma expressão de puro ódio, usando um pijama branco como a neve que contrastava com a escuridão da noite. Seus olhos semicerrados deixavam evidente a raiva de um sono perturbado. Fez Colth encolher um pouco nas cobertas.
— Para de fazer barulho, seu babaca. Tem gente tentando dormir — esbravejou ela.
Colth, totalmente envergonhado, não soube o que dizer. Ele baixou a cabeça e, com a voz rouca, murmurou:
— Ah... Desculpa...
A porta voltou a se fechar, e a pouca claridade do quarto onde Beca, Garta e Iara dormiam, abandonou à oficina.
O silêncio retornou e Colth, já com a cabeça em seu travesseiro, encarava o teto baixo imutável. Suspirou se desapegando de qualquer pensamento que pudesse fazê-lo perder o sono. Mas então, antes que viesse a fechar os olhos novamente, Goro sussurrou mais uma vez, o tom quase neutro, mas um pouco envergonhado:
— Eu a beijei.
Ele ainda manteve as costas para Colth, sem mostrar o rosto. Mas era óbvio que esperava pela reação do outro.
Colth não se moveu. Apenas arregalou os olhos, impactado pela revelação.
Foram alguns segundos de sólido silêncio. Era possível ouvir o movimentar de algumas pequenas engrenagens na oficina, possivelmente uma das invenções de Beca dentre tantas outras, rodando os ponteiros como um relógio, marcando o tempo e o desconforto no ar.
— Ah. Legal — Colth sussurrou. Sem saber o que dizer.
Goro finalmente se virou na cama. O rosto parecia sério em direção ao amigo:
— Eu estou com medo, Colth.
— Hã? — Se virou para ele. Se viu impressionado ao encontrar os olhos de Goro sinceros.
— Eu sei que parece algo completamente insano, mas... desde que o mundo de Tera começou a desmoronar, eu nunca estive tão feliz.
As palavras caíram pesadas entre os dois. Colth o observou em silêncio.
— No começo, eu achei que fosse um desses caras sórdidos, malucos, que não se importam com nada — continuou Goro, a voz baixa em confissão. — Mas não. Eu odeio essa merda toda. O sofrimento, a morte, a crueldade. Só que, depois que tudo aconteceu com a Iara... depois que eu achei que tínhamos a perdido, e depois de você tê-la salvado... foi aí que eu percebi.
Os olhos dele brilharam sob a pouca luz da oficina antes de continuar.
— Eu estava feliz por causa de vocês. Por estar perto da Iara, da Celina... e de você, Colth.
O amigo sentiu a emoção de Goro acertá-lo ao ouvir seu nome de forma tão honesta.
Goro continuou:
— Só de pensar em perder vocês, eu já me sinto mal. Mas com a Garta... — Ele parou por um momento, lutando para colocar os pensamentos em palavras. — Com a Garta é diferente. Eu me odeio só de pensar nisso.
Apertou os punhos, os olhos perdidos distante. Colth apenas o deixou falar. E Goro avançou em suas palavras puras:
— Eu sei que o mundo está uma merda. Sei que não deveria estar pensando nisso agora. Mas não consigo evitar. Eu não quero vê-la triste, mas também não quero perdê-la de vista. — hesitante. — Sempre achei que ela fosse inatingível, sabe? Como se nada nem ninguém pudesse derrubá-la. Mas agora… agora eu vejo que ela também carrega peso demais. E isso me assusta.
Goro respirou fundo. Fechou os olhos por um momento, e voltou a falar decidido.
— O que eu quero dizer, Colth... é que eu adoro o jeito mandão dela. O jeito como ela tenta agir como se não tivesse medo, mesmo estando apavorada. Como ela não aceita que precisa de ajuda, mas sempre está disposta a ajudar todo mundo. Eu amo o quanto ela é genuinamente confusa. Como se estivesse sempre lutando contra si mesma, tentando esconder que, no fundo, tem um coração de flor.
Ele riu de leve, mas com algo melancólico no riso.
— Ela odeia que as pessoas vejam esse lado dela. Mas eu vejo. Sempre vi. Desde a primeira vez que coloquei os olhos nela. Um belo girassol tentando crescer em meio a espinhos.
— Eu nem sabia que girassóis tem espinhos... Mas por que está me dizendo tudo isso?
— Eu estou com medo. Poderia dizer que tenho mais medo de que alguma coisa aconteça a ela, do que com qualquer outro, incluindo a mim. Por isso quero pedir a sua ajuda.
— Hã?
— Lembra do que me disse no refúgio do Índigo, logo antes de nos separarmos? — Goro não esperou pela resposta. — Me disse para não deixar ela entrar em confusão... Eu falhei miseravelmente nessa tarefa é verdade, mas agora, sou eu que estou pedindo.
— Goro, eu estou entendendo onde você quer chegar, mas...
— Eu sei, eu sei. Eu pareço um completo covarde pedindo isso. Mas em quem mais eu poderia confiar? Porra, você é um guardião com três tipos de magias diferentes. Derrotou a Lashir, trouxe de volta o Mon, salvou a Iara... até ajudou a impedir que uma ilha inteira voadora despencasse do céu — Goro estava inteiramente convencido do que estava dizendo. Em seguida, diminuiu o tom: — Eu, jamais conseguiria nada disso. Agora entendo o motivo de você ter sido o escolhido de Toesane para a Defesa, e não eu.
— Não é bem assim...
Colth abriu a boca para protestar, mas Goro o cortou antes mesmo que ele tentasse.
— Me promete, Colth. Me promete que não vai deixar nada de ruim acontecer com essas pessoas. Principalmente a Garta. Mesmo que sua vida dependa disso, mesmo que a minha vida dependa disso.
O silêncio se estendeu.
Colth prendeu a respiração, sentindo a gravidade daquele pedido. Goro o encarando, esperando. Implorando.
— Eu... prometo.
Goro soltou um suspiro longo, como se estivesse carregando algo pesado demais para aguentar sozinho.
— Isso me deixa mais aliviado.
A tensão, que crescera até aquele ponto sem nem ter sido percebida por eles, se dissolveu por completo. E então, Goro virou o rosto, os olhos vagando pelo teto. Sorriu antes de comentar:
— Hoje, mais cedo... eu a vi um pouco triste — continuou ele, a expressão mais serena. — A Garta. Ela disfarçou, como sempre faz quando está mais pra baixo. Revirou os olhos quando perguntei se estava tudo bem. Soltou alguma reclamação sobre mim e tentou deixar qualquer sentimento distante. Mas eu percebi.
Colth ficou em silêncio, apenas absorvendo aquelas palavras.
— Eu não sei o motivo. Não sei o que deixou ela daquele jeito. Mas sei que... vou sempre protegê-la. Eu sinto isso. E naquele momento, eu simplesmente não consegui me segurar.
Goro mordeu de leve os lábios, tentando buscar a explicação dentro de si.
— Então... eu a beijei.
A confissão saiu num sussurro. Não de vergonha, mas de peso.
O tic-tac da engrenagem rodando ao fundo parecia ainda mais alto no silêncio absoluto que se seguiu. Colth piscou lentamente, a boca entreaberta, os olhos arregalados tentando processar.
Mais alguns segundos se passaram.
— E então? — Colth quebrou o silêncio, a voz neutra, cautelosa, mas curiosa.
Goro riu baixo, fechando os olhos.
— E então... ela me deu um soco no estômago.
Colth quase se engasgou.
— Você tá de brincadeira?!
— Eu juro. Ela me acertou de verdade. — Goro abriu um pequeno sorriso, levando a mão ao abdômen como se ainda sentisse o impacto.
— E tá feliz por isso? Talvez você seja um desses malucos sórdidos de quem falou mesmo...
— Não estou feliz pelo soco... na verdade, doeu bastante. Mas... depois disso, ela saiu andando rápido, quase fugindo. Só que, antes de ir embora, se virou e me disse...
A porta da oficina foi escancarada com um estrondo novamente.
— EU FALEI PARA CALAREM A BOCA!!!
Beca queimava de raiva, os olhos em chamas. Dessa vez, empunhava um cano de metal, alguma peça de uma de suas invenções, e avançou sem hesitar:
— Agora vocês vão dormir lá fora!!!
Os dois saltaram da cama ao mesmo tempo, como se tivessem levado um choque.
— Espera aí, Beca...
— Desculpa, baixinha...
— NÃO ME CHAMA DE BAIXINHA!!!
E assim Colth e Goro passaram o resto da noite encarando o céu escuro e o chão frio desconfortável do lado de fora.
***
A maciça energia dos sacrifícios à Lux se aproximava deles. Garta e Goro não tinham o que fazer naquela situação. Suas pernas e armas estavam seguras pelas sombras ao chão do salão.
Então, Goro ergueu o olhar para Colth. Havia desespero, mas também determinação em seus olhos dourados. Queria que Colth se lembrasse do desejo que ele mesmo expressara. Seu maior desejo de proteger Garta.
Colth apertou os dentes em ar de sofrimento como resposta.
Goro, certo de que o amigo já havia entendido o recado e que podia contar com ele, deixou seus ombros descansarem e levou seus olhos até a guardiã, em despedida.
Os olhares de Goro e Garta se encontraram em angústia e desalento. Ela deixou os lábios vacilarem em algum sussurro e apertou com força o punho esquerdo, o único que não havia sido tomado pelas sombras, gritou com toda a sua força em direção a Colth:
— Nem pense nisso! — ameaçou ela.
Mas Colth já havia se decidido.
A energia caiu sobre Garta e Goro como uma torrente mágica, um dilúvio de poder pronto para destroçá-los. A pressão era absurda, uma força avassaladora. Mas, no último instante antes da morte certa, um círculo translúcido e luminoso surgiu sobre a cabeça de Goro.
O rapaz se surpreendeu completamente. Mirou seu rosto para o alto, e foi iluminado pelo escudo de Agnes acima dele, o protegendo.
— Eu não, Colth... — sussurrou ele, atônito. O escudo brilhando intensamente. — Idiota!!!
A energia despencou sobre os dois.
O rugido da magia aos ouvidos de Goro era insuportável. O ambiente tremeu, e tudo ao redor foi engolido por aquela enxurrada de energia mortal. Mas o rapaz surpreendido estava ao centro, intocado. Protegido. Como se estivesse abrigado por um guarda-chuva em meio à tempestade.
Ele sentiu a raiva crescer. Não podia ver além da cortina de energia mágica, tampouco ouvir qualquer som externo. Mas estava seguro, e isso o fez repleto de ódio. Afinal, se estava a salvo sob o escudo de Agnes, era porque Colth o havia escolhido para receber tal proteção ao invés de Garta.
— Por que eu?! — Goro gritou para o nada. — Você prometeu! Eu te falei... então por quê?! Eu vou... Eu vou acabar com você!
A enxurrada diminuiu. E Goro manteve os olhos fixos em direção a posição de Garta, ansioso e inquieto para verificar o estado da guardiã, até que finalmente a energia cessou por completo. Um círculo perfeito se formou desenhado no chão liso de mármore contornado pelo piso chamuscado de magia ao seu redor. Com o fim do ataque, Goro pôde ver além da sua proteção.
Ele prendeu a respiração. Os olhos se encheram e a boca tremeu.
Lá estava Garta, no mesmo lugar de antes. Ilesa.
A guardiã, assim como ele, ainda estava presa pelas sombras aos seus pés e na sua espada. Porém, ela carregava um escudo físico avermelhado na mão esquerda.
Posicionando o escudo sobre a cabeça, a guardiã aguentou a enxurrada firme. Goro demorou para entender, mas quando percebeu que a estrutura do escudo que a assegurou era de puro sangue coagulado, não pôde deixar de ficar agradecido.
Os dois trocaram olhares, aliviados pela segurança mantida. Mas então, voltaram a realidade no momento seguinte. Se preocuparam e miraram os olhos para o outro lado do salão.
“Colth!” gritou Lashir, na mente do guardião. Ele estava sem forças, anêmico, lutando para manter os olhos abertos, enquanto a sombra viva ainda segurava o seu braço direito e o imperador dominava o seu braço esquerdo.
— Não conseguiu sacrificar nada, não foi?! — esbravejou Aldren, dominante a Colth. — Você é fraco!
O imperador não mediu forças. Soltou o guardião e o socou na barriga. Um golpe com toda a força e ódio que podia concentrar nos punhos.
Colth não teve qualquer resistência, foi arremessado, cuspindo sangue e rodopiando pelo ar até finalmente chocar-se violentamente com as costas na parede ao fundo.
— Colth! — gritou Goro.
— Colth! — gritou Garta.
“Colth!” gritou Lashir em sua mente. “Você precisa levantar agora!” ... “Colth?”
Estagnou-se no chão. A poeira pousando sobre o seu corpo imóvel.
Aldren caminhou vitorioso em direção ao oponente derrotado. No caminho, abaixou para coletar a adaga de Sathsai ao chão que acabara de ser perdida por Colth, e voltou a avançar calmamente de encontro ao guardião.
— Fraco. Inútil. Covarde! — esbravejava o Imperador à medida que se aproximava e brincava com a lâmina da adaga entre os dedos. — Quem não consegue sacrificar nada, nunca vai ter qualquer sucesso. Vai sempre perder e rastejar pelo chão como um verme que você é, Colth!
“Colth, pelo amor de Rubrum, levante.” Lashir bem que tentou assumir o controle do corpo do guardião, mas aquilo em que ela baseava o seu poder estava fragilizado. Reclamou em lastimas fervorosas: “Eu disse que você não aguentaria mais! Por que me fez protegê-la!?”
Colth sentia o chão frio na sua bochecha esquerda. Sentia as suas costelas partidas, sentia as suas pernas sem força. Mesmo assim, ele sorriu.
— Lashir, quando você falou que iria me derrotar com a sua magia, eu não achei que seria tão dolorido.
“Do que você está falando? Cala a boca e levanta!”
— Acho que eu sou o pior de todos, não é? Parece que só eu quebro promessas... — Colth tossiu débil. — Eu sou bem ruim nisso, não é?
Aldren parou diante de Colth, impondo-se sobre o corpo caído do guardião. Sua sombra viva o rodeando. Com um movimento lento e calculado, passou o polegar pela lâmina da adaga, raspando a pele contra o fio afiado, testando a precisão da arma. Seu olhar frio e convicto.
— Guardião de Anima, uma grande piada — intitulou ele. — Sabe o que torna esta lâmina especial? Ela corta tudo. Corpo, mente, alma. Foi assim que Hueh e Hui se dividiram. E agora, servirá para algo ainda maior. Perfurará sua essência e a entregará à Lux.
— Sai de perto dele! — Garta gritou. Ela lutava contra as sombras que a prendiam, com os músculos tremendo de esforço. Mas não havia escapatória.
Aldren nem sequer lançou um olhar para a guardiã. Para ele, as súplicas de Garta eram um ruído distante.
Com um empurrão do seu pé, o imperador virou o corpo frágil de Colth, deixando-o exposto de barriga para cima, vulnerável. Então se ajoelhou sobre o guardião, segurando a adaga com firmeza, pronto para o golpe final.
— Eu sabia que você não conseguiria sacrificá-la, Colth — disse, com um tom sereno, apenas constatando um fato. — Você é fraco demais para isso. Um covarde desde sempre. Não protegeu sua família, não carregou o fardo da sua cidade, se escondeu em pânico quando a Capital precisou de você. E tudo isso... tendo a dádiva do deus de Anima.
Aldren girou a adaga nos dedos, deixando a lâmina refletir a luz trêmula ao redor.
— Mas me diga, Colth, você alguma vez usou esse poder para o bem de mais alguém além de você? A resposta é simples. Não. Você a usou para aproximar as pessoas de você, não foi? Manipulou as mentes delas com magia, com a dádiva que recebeu. Achou mesmo que ninguém perceberia?
Aldren inclinou-se mais, antes de continuar com as palavras ríspidas.
— Colocou Celina em risco, quase a matou... e mesmo assim, ela se tornou sua aliada. Mentiu e traiu Goro, e ele voltou a ficar ao seu lado. Desmoronou a vida da Garta... e, no fim, ela também ficou ao seu lado. Tera, aliada. Índigo, aliado. Dilin e Montague, aliados. Talvez, se fosse você quem tivesse ido atrás de Bernard, ele também teria sido um aliado — Aldren olhou de perto a lâmina afiada da adaga. — No final, você nunca passou de um covarde. Um covarde carente, desde o começo.
Colth respirou fundo e, contra todas as expectativas, sorriu. Em seguida riu, curto, rouco, interrompido por um gemido de dor.
— Não me faça rir... meu corpo está todo ferrado, seu besta... ai, ai...
Aldren se surpreendeu com àquela resposta. Olhou desacreditado para ele:
— Como pode achar graça de algo assim? Na sua situação...
— Tem razão. Não é engraçado. Na verdade, é triste — sua voz saiu trêmula, mas com algo que Aldren não esperava: — É triste ver o que você se tornou. Você fez os seus sacrifícios, trocou qualquer um por poder, e agora fica aí... me olhando com inveja.
A expressão de Aldren se endureceu.
— Cala a boca! Você não é nada mais do que um erro de Hueh!
Colth tossiu, um som áspero que causou mais dor ao seu peito. Mesmo assim, seus lábios se curvaram em um sorriso sarcástico.
— E você, um acerto de Hui. Um produto moldado por ele para desejar poder acima de qualquer coisa. Um imperador de uma única cidade. Um homem sem ninguém em quem confiar. Um vazio com complexo de superioridade, assim como ele.
O silêncio pairou entre os dois. Então Aldren riu seco.
— Acha que pode me provocar? Eu sei o que está tentando fazer.
Colth fechou os olhos por um instante, reunindo as forças que lhe restavam. Quando voltou a abri-los, encarou Aldren com um olhar sério.
— Não estou provocando. Mas sabe... acho que você tem razão, Aldren. Às vezes, os sacrifícios são importantes.
Aldren arqueou uma sobrancelha.
— Fico feliz que no final você tenha entendido. Uma pena que foi tarde demais — ele ergueu a lâmina da adaga. Seu rosto frio. — Obrigado pelo seu sacrifício, guardião de Anima.
Desceu com a lâmina em um só movimento. Perfurou a pele, a carne, o coração e a alma.
Colth não gritou de dor ou raiva. Imediatamente colocou ambas as mãos sobre as mãos de Aldren que portavam a adaga e se concentrou uma última vez.
Aldren sentiu primeiro um arrepio. Uma sensação incômoda, rastejante, como um formigamento sombrio subindo por seus braços. Sua expressão mudou num instante. O olhar satisfeito transformou-se em inquietação. Tentou puxar a adaga de volta, mas Colth não permitiu. Suas mãos ensanguentadas não pareciam se esforçar, mas a magia que corria ali os ligava com força, mantendo a lâmina cravada na carne e as mãos conectadas.
— Me solta! — Aldren gritou, a voz tomada por urgência. Algo estava errado. Muito errado. — O que você está…?
Colth abriu um sorriso débil, uma gota de sangue escorrendo pelo canto da boca enquanto seus olhos piscaram vermelhos por um momento. Sussurrou:
— Desencarne.
E então aconteceu.
As sombras ao redor do corpo de Aldren estremeceram. Primeiro um tremor. Depois, um puxão. Elas começaram a se contorcer, como fumaça viva tentando escapar, mas não havia para onde fugir.
Aldren arregalou os olhos quando sentiu o primeiro puxão dentro de si. A escuridão que o envolvia, que fazia parte dele, estava sendo arrancada. Roubada. Engolida pelas mãos de Colth.
— O que você está fazendo?!
Ele tentou recuar, mas as próprias pernas fraquejaram. O chão sob si pareceu distante por um momento. Sentiu a energia sendo drenada, e o terror tomou conta de seu rosto.
— Querendo ou não... corrupção também é magia — Colth murmurou, a voz fraca pela dor. Seu corpo tremia em esforço, mas ele não parou. — A Lashir me disse que absorver isso vai manchar minha alma de uma forma que não tem reversão. Mas... o que é uma alma corrompida para alguém que já está todo fodido e à beira da morte, não é?
— Lashir… a guardiã de Rubrum? — A voz de Aldren falhou, o choque quebrando seu resto de compostura. — Até ela...?
As sombras continuavam a ser sugadas, puxadas como fumaça por um redemoinho, torcendo-se, debatendo-se, tentando escapar. Mas não podiam.
Aldren soltou um grunhido, forçando todo o seu corpo para tentar se desvencilhar, mas as mãos de Colth tinham algum magnetismo inexplicável. A adaga que ele cravara no peito do guardião parecia uma âncora, um selo. E o medo se instalou de vez quando percebeu que estava prestes a deixar seu poder escapar por completo.
— Seu filho da puta... me solta!
— Eu estou quebrando a promessa que fiz para Agnes — Colth continuou, a respiração cada vez mais irregular. Seu corpo estava esgotado, mesmo assim ele ria entre as palavras. — Mas... como isso está te livrando de algo ruim e maligno... acho que ela vai me perdoar por usar a magia de Absorção de Rubrum.
— Colth, seu imbecil! — Aldren rosnou.
— Sacrifícios são necessários, não é?
Aldren tentou gritar algo, ordenar, escapar, mas já era tarde.
Um som melancólico ecoou no ar, como uma despedida no fechar de portas. Algo se rompeu.
Toda a corrupção foi drenada de Aldren num único e violento puxão final. Sua respiração falhou, seus olhos reviraram por um momento. E, por fim, conseguiu arrancar a mão do cabo da adaga, cambaleando para trás como se tivesse sido atingido no peito por um golpe invisível.
Colth sorriu leve, vitorioso. Seu peito subiu em uma última e fraca respiração antes do silêncio. Aos poucos, seus olhos se fecharam, serenos, aceitando o desfecho. E então, seu corpo enfim cedeu, deixando a alma escapar.
No mesmo instante, Goro e Garta sentiram o aperto das sombras em seus tornozelos se desfazer.
Goro se colocou ao lado da guardiã, e Garta não perdeu tempo. O brilho prateado de sua lâmina reluziu enquanto ela firmava os pés e preparava o ataque. Seu olhar encontrou Aldren confuso do outro lado da sala. Ela apertou os dentes, o pulso firme, pronta para avançar. Apenas um golpe. Um único e certeiro golpe seria o suficiente. Mas então...
Antes que ela pudesse se mover, um brilho intenso se acendeu atrás dela.
Forte. Quente. Vivo.
O calor percorreu suas costas antes mesmo de seus olhos entenderem o que estava acontecendo.
Ela girou rapidamente para trás, assim como Goro, o coração disparado de preocupação ao ver.
As correntes de Lux estavam se partindo.
Cada elo se despedaçava, uma a um, ressoante como vidro se estilhaçando. Então, uma rajada de vento tomou o salão, rodopiando em volta dela, levantando destroços e poeira.
Garta e Goro instintivamente levantaram o braço ao rosto para se proteger do clarão e do vento, seus pés escorregando levemente para trás com a força da explosão mágica.
— Isso é... — Goro tentou colocar o seu temor em palavras.
Garta cerrou os punhos, os olhos fixos na tempestade de luz que se formava à frente. Ela não precisava ouvir o restante da frase para entender.
A morte de um guardião havia acontecido.
O sacrifício para o Dadivar estava completo.
E a Deusa Lux estava livre.
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