Volume 1
Capítulo 21: A Aberração de Rasuey
O Sol já havia deixado os céus há algumas horas. Mesmo depois da discussão do dia passado, Aldren não deixaria de visitar a sua amiga que vivia na cela do porão da mansão. Afinal, aquela provavelmente seria a sua última visita à ela. Um adeus inevitável que ele próprio decidiu adiantar.
“É melhor arrancar os sentimentos pela raiz.” Pensava ele enquanto se esgueirava pelos corredores escuros da mansão para alcançar a cozinha completamente vazia.
O rapaz abriu o compartimento debaixo da pia, como de costume, e esticou a mão para pegar a chave secreta que tanto usou durante os últimos anos.
— O quê? — sussurrou estranhando a falta do objeto.
Ele se abaixou e olhou mais duas vezes para conferir que, realmente, a chave do porão não estava entre a rachadura da parede e o cano de metal da pia.
“Que estranho. Nunca antes haviam mudado de lugar essa chave. O que pode ter acontecido?...” Se preocupava sem obter qualquer rastro da resposta.
Não demorou para uma ideia vir à sua cabeça. Aldren se lembrará que aquela chave possuía uma cópia, na verdade a original, que era guardada pelo próprio dono da mansão, o poderoso Buregar.
— Se há algo de errado... — Aldren pensou alto se dirigindo para as escadarias da mansão silenciosa.
Todos estavam, ou deveriam, estar dormindo. Sem qualquer problema, o rapaz subiu a suntuosa escadaria que ligava o hall ao segundo piso da mansão.
Adentrando ao corredor principal que levava até os quartos luxuosos da casa, Aldren seguiu cauteloso e caminhou lentamente em silêncio para encontrar a grandiosa porta dupla com detalhes em marfim.
Do outro lado, estaria a antessala do quarto do casal Buregar, não era comum nem funcionários da mansão entrarem ali, uma vez que, a soberana, esposa do lorde, possuía uma doença que a debilitava muito e, com isso, o senhor Buregar tinha ordens expressas de proibir qualquer intromissão desnecessária nas suas dependências.
Mesmo sabendo de tudo isso, Aldren girou a maçaneta branca e, para a sua surpresa, a porta abriu sem resistência. Estranhou prontamente, esperava pelo menos trancada, mas não recusou a oportunidade de entrar.
Continuou se esgueirando em completo silêncio sobre o carpete pomposo da antessala. A quase absoluta escuridão dificultava a sua visão, mas era notável a estante reluzente debaixo da janela sendo iluminada pela lua minguante nos fundos do cômodo. Decidido, tentou alcança-la com passos lentos.
A grande porta atrás dele, repentinamente, emitiu um estrondo ao ser fechada. A luz acendeu no mesmo instante que o barulho ecoou e clareou por completo antessala e o luxuoso quarto no mesmo ambiente.
— Então, era você? É claro que era você.
— S-senhor Buregar... — surpreendeu-se Aldren ao se virar frente ao burguês.
— Eu lhe dei comida, moradia, estudo... E como você me recompensa? Com uma traição.
— Traição? Não, eu não...
— Já chega! — gritou o homem em tom repentinamente alucinado. — Para quem você está trabalhando?!
— O quê? E-eu não estou...
— Foi aquele miserável do Edgar, não foi?
— Quem? Não... — Verdadeiramente Aldren não fazia ideia do que o homem de cabelos poucos grisalhos e olhos arregalados dizia. Ele não conseguia esconder o nervosismo de estar sendo questionado por uma das pessoas mais poderosa de Rasuey. — Eu não fui mandado por...
— Tsc, tsc, tsc. Tão mentiroso quanto a própria mãe. — Buregar começou a caminhar em direção ao rapaz enquanto escondia a mão direita nas costas em meio a antessala.
— O quê? O que a minha mãe tem a ver com isso? — O tom de Aldren ganhou uma seriedade imediata.
— Acolhi vocês como quaisquer de meus servos. Tão ingratos...
— Não temos motivo algum para te agradecer. Minha mãe trabalhou por tudo isso. EU, trabalhei por toda essa comida e moradia da qual você falou.
— Tem razão. Tem razão. Até mesmo os ratos devem batalhar pelas migalhas. Não é, traidor?
— Aff. Eu já disse que não fiz nada de errado. — Aldren perdeu a paciência. — Escuta, eu nunca gostei de você. Então eu estou muito feliz de finalmente poder deixar esse lugar, mesmo que isso signifique trabalhar nas minas. Mas eu juro que se algo acontecer com a minha mãe, de novo, eu mesmo venho aqui dar um jeito.
— Hahaha. A claro... — respondeu o homem em tom sarcástico. — Um moleque como você? Esqueceu com quem você está falando?
— Não, de modo algum. Apenas estou te avisando.
— Engraçado. Você é realmente parecido com sua mãe. Ela me disse algo bem parecido.
— Disse? — Aldren se preocupou com o tom perverso do outro. — O que ela disse?
— Algo sobre não mexer com você, não me lembro bem. Porque você não pergunta para ela? — O homem deu de ombros e sorriu cruelmente. — Ela está logo aí do seu lado.
— Hã? — Aldren, quase que involuntariamente, olhou para os lados tentando entender do que o enfadonho falava.
Finalmente ele pode observar o quarto e a antessala em que estava, até então, tinha se focado exclusivamente no burguês. Não havia notado as prateleiras com belos enfeites em ouro, a divisória entre o quarto que também era uma estante de livros, o carpete branco com um desenho estranho em vermelho e nem o corpo sem vida de um ser humano jogado ao canto.
Aldren congelou suando frio. Seus olhos arregalaram em temor e se movimentaram lentamente até retornar ao homem de sorriso sinistro.
Dessa vez, a mão direita do Buregar estava visível. Com ela, uma bela e afiada faca de prata.
Da lâmina da arma escorria o resto de um liquido glutinoso que, ao pingar sobre chão, fabricava o desenho sem igual no carpete.
— O q-qu... — Os lábios de Aldren se mexiam, mas as palavras não saiam. Desistiu.
Correu para o corpo da mulher no canto da antessala e, quando se agachou e tocou o rosto dela para ter a certeza de quem era, sentiu o frio da morte que o cadáver emanava. Limpou a visão embaçada pelas próprias lagrimas quem nem percebeu e, finalmente, pôde ver e ter certeza de quem se tratava.
— Mãe? Mãe? M... — disse em sussurros ao abraçar o corpo da mulher. — Não. Não, por favor...
Aldren não conseguiu se segurar. O choro, as lagrimas, o lamento, vieram todos em conjunto. Duraram pouco tempo, rapidamente o rapaz engoliu tudo aquilo e olhou para o homem que acompanhava como apenas um observador sádico no centro da sala.
— Não fique com essa cara incrédula. — O tom do Buregar era completamente casual e, ao mesmo tempo, atroz. — Ela morreu no lugar que mais gostava de passar o tempo. Sua mãe adorava esse quarto. Hahaha.
— Seu... Seu maluco... — As lágrimas ferveram em ódio. Aldren se levantou após confortar o corpo delicadamente sobre o carpete imundado pelo vermelho.
— Por que está irritado comigo? Era ela quem pedia por isso. Vivia fazendo coisas erradas para ser punida por mim. — O homem batia o lado oposto da lâmina da faca na mão ao mesmo tempo que degustava cada palavra e sorria as dizendo. — Mas dessa vez, ela foi longe demais. Dar a chave do porão para você ver minha filha, foi um completo erro.
— Ela não me deu chave alguma, seu maluco! Foi eu quem... — O rapaz travou em sentimento. Suas próprias palavras o machucavam ao perceber que nada disso teria acontecido se não fosse por ele. “É culpa minha...” Pensou olhando a mancha no carpete.
— Então a coitadinha aí, nem sabia? Não teve culpa de nada? — O homem voltou a sorrir ainda mais cruel com as sobrancelhas levantadas em provocação. — É. Fazer o quê? É uma pena, a pele dela era tão... macia e cheirosa.
Os olhos de Colth se avermelharam de imediato. Não pensou duas vezes, partiu para cima do lunático.
— Eu vou acabar com você!
O homem já esperava o ataque enfurecido, segurou firme a faca e fez um movimento de corte limpo fechando o braço com pouco domínio. O que ele não esperava, era que o rapaz fosse absurdamente ágil e desprovido de medo.
Aldren deu dois passos longos para frente e, mesmo com a lâmina da faca acertando o seu ombro e o fazendo sangrar, socou o rosto do homem que se desequilibrou para trás com os olhos fechados.
O burguês, acuado, retornou o movimento da faca, abrindo o braço em um golpe contrário ao primeiro. Ele sabia que não acertaria nada, o seu oponente simplesmente desviaria do movimento com um simples passo para trás, mas desse modo, ganharia alguns segundos para recuperar o equilíbrio e se reposicionar na luta. Não saiu como planejou.
Aldren não pensou nem um pouco em recuar. Mesmo vendo a lâmina da faca vindo em sua direção em um movimento óbvio e fácil de escapar, ele manteve-se ofensivo. Recebeu o corte no peito, ainda mais profundo do que o primeiro e, se alimentando da raiva e da dor, deu mais um golpe com seu punho direito fechado no rosto do insano.
Não cessou. Com toda a sua força, o rapaz empurrou o homem ao chão e, sobre o corpo do oponente, repetiu o soco no rosto do já desconfigurado. O homem tentou mais um movimento com a faca, tarde demais. Aldren segurou seu braço e, pela terceira vez, o socou sem piedade. A faca caiu sobre o carpete deixando Buregar completamente vulnerável.
— Para! Para! — gritou o homem em dor recebendo mais uma tríade de socos no rosto.
O burguês cedeu ao desgaste, deitado quase inconsciente, não parecia mais conseguir mover um músculo se quer. Aldren se ajoelhou diante do perverso e respirou fundo penando sua raiva.
— Gosta de ver os outros sofrerem, não é? — o rapaz perguntou encarando o homem que gemia em dor. — Quero ver, se vai gostar disso...
Aldren coletou a faca de prata manchada pelo próprio sangue e se levantou com cuidado para minimizar a dor e o sangramento vindos do corte no seu peito. Fixou o olhar enfurecido sobre o derrotado ao chão.
Buregar percebeu a intenção do jovem e estremeceu.
— Espera... O que você vai fazer? Se me matar, toda a polícia de Rasuey vai atrás de você. Sabe como eu sou importante, hã?
— Cala a boca... — sussurrou o rapaz ao dirigir os seus passos para outro lado. Adentrou ao quarto no fundo da antessala com apenas um objetivo em mente.
— Espera! O que você... — Buregar arregalou os olhos sem saber o que viria a seguir. — Você não vai... Não... Socorro! Alguém! — Depositou todas as suas esperanças naqueles gritos.
— Ninguém vai te ouvir, idiota. — disse Aldren em voz alta já na outra parte do cômodo, o quarto. — Você não permite que empregados durmam no mesmo prédio que o seu, esqueceu? Azar o seu de ter uma casa tão grande.
Ao se dar conta que seus gritos realmente não chegariam à lugar algum, o homem se concentrou ao máximo para reunir forças a ponto de conseguir rastejar pelo chão em direção ao quarto principal da mansão, seu quarto.
Quando se aproximou, viu o rapaz. Parado, ao lado da cama com a faca em mãos, Aldren encarava os lençóis que cobriam a segunda residente do quarto.
— Não faça isso! Ela não tem nada a ver com isso! — implorou o verme rastejante.
— Ela não tem nada a ver?! — retrucou Aldren com gritos irritados. — A minha mãe tinha? A Celina tinha? As empregadas que você molestou, tinham alguma coisa a ver com isso, Buregar?!
— Não, por favor. Eu te imploro. — O homem moribundo se esforçava para levantar escorando-se nas paredes.
Aldren levantou a faca com a mão direita e removeu o lençol com a esquerda de uma só vez.
— O quê? — sussurrou se surpreendendo.
O que ele esperava era nada menos do que a poderosa senhora Buregar. Mas o que encontrou deitado na cama, ao remover as cobertas de seda da cama, foi um corpo completamente cadavérico.
Era como desenterrar um corpo após messes de seu falecimento. Sua pele, cinza escuro apodrecido, se colava aos ossos que definiam suas curvas. Seus cabelos mais pareciam estigmas de milho seco sobre o macio travesseiro, os lábios, antes carnudos e cheios de cor, já não existiam mais.
O fedor azedo podrido se rompeu no ambiente e chegou nas narinas de Aldren que, imediatamente, fechou a cara enojado.
— Você é completamente doente! — exclamou o rapaz enchendo a boca e cuspindo as palavras em direção ao homem.
— Por favor, não a machuque... Eu imploro. — respondeu o burguês com o rosto tomado por hematomas.
— Não a machucar? Ela é um cadáver. Está morta, não há mais nada o que machucar aqui.
— Não é verdade. Eu vou conseguir traze-la de volta... Eu sei que vou. Eu mantive o seu corpo intacto até agora, só preciso de um pouco mais de tempo. — Buregar dizia com dificuldades suas palavras. — Escuta, você é um rapaz inteligente, Aldren. Se esquecer tudo e me ajudar com isso, eu vou te dar uma vida nova. Que tal uma fazenda no pé das montanhas?
— Do que você está falando?
— Não gostou? Pode pedir outra coisa... A mansão, que tal a mansão?
— Você é completamente maluco. — Aldren sussurrou os seus pensamentos.
— Só precisa manter isso em segredo até eu descobrir como usar o sangue da Celina e então...
— Celina? — O rapaz estranhou de imediato. Ficou em silêncio por um segundo até as coisas começaram a se encaixar em sua cabeça. — Então é por isso que você a mantêm trancafiada?
— ... — O homem calou-se ao se dar conta que havia falado demais.
— Tudo por causa de um cadáver? Eu não acredito... — Aldren foi sincero. — Tanto faz. Não gosto disso, mas estou te fazendo um favor, Buregar. — Voltou a levantar a faca em direção a figura esquelética.
— Não, espera! Eu falo sério. A Celina tem a capacidade de curar as pessoas, eu só preciso...
— Já basta! Suas maluquices acabam aqui!
Aldren tomou coragem e apunhalou o cadáver. A lâmina penetrou o coração pútrido sem nenhuma dificuldade.
— Não! — o homem gritou em desespero se atirando para cima de Aldren como último recurso.
O rapaz puxou a faca de volta em reflexo e se protegeu do homem em movimento insano. Os dois se encontraram.
Antes mesmo de Aldren se dar conta, as suas mãos foram aquecidas por um líquido viscoso que escorria por entre elas. Havia rasgado o abdômen de Buregar através de uma estocada sem intenção.
— O que você...
Já estava feito, Aldren se calou. Não lamentou, muito menos se contentou, apenas abriu as mãos e deixou o corpo do homem se ajoelhar ao chão. O completo silêncio do quarto tornou tudo mais mórbido.
Buregar balbuciou algo inaudível e se debruçou sobre o carpete ao lado da cama e do cadáver de sua esposa.
— Está tudo acabado... — sussurrou o rapaz, único de pé, colocando as mãos sobre a cabeça.
Deixou o quarto de forma completamente abatida em tropeços e se dirigiu até o corpo na antessala. Seu peito ardia como nunca antes, sabia que a origem dessa dor não eram os seus ferimentos.
— Me perdoa, mãe. É tudo culpa minha... Acabou. — As lágrimas voltaram a surgir em meio aos seus sussurros culposos e desistentes frente ao corpo da mulher na antessala. — Eu deveria ter feito alguma coisa. Não deveria ter me calado como todos os outros... desculpa...
Quando estava prestes a se sentar ao lado de sua falecida mãe para esperar as consequências de seus atos, algo lhe chamou a atenção. Um brilho, vindo das mãos gélidas da mulher, ganhou os seus olhos.
Agachou sobre o corpo e, com delicadeza, abriu os finos dedos de sua progenitora para se deparar com as chaves do porão da mansão. Ficou segundos completamente imóvel enquanto uma tempestade se consolidou em sua mente.
— Não, não, não. Não pode acabar assim.
O rapaz chacoalhou a cabeça e se esforçou para remover qualquer reflexão inútil. Finalmente agarrou a chave com uma das mãos enquanto a outra secava suas próprias lágrimas.
— Você sempre tem uma resposta, não é? — Respirou fundo com os olhos fechados. — Obrigado por tudo, mãe.
Se despediu uma última vez acariciando os cabelos dela e se levantou com determinação reencontrada. Saiu da antessala e correu em disparada pelos corredores até encontrar as escadas para o térreo.
Atravessou a cozinha e destrancou a porta com toda pressa do mundo, desceu mais um lance de escadas e parou frente à familiar grade de metal.
A garota do outro lado se surpreendeu enquanto o rapaz recuperava o fôlego:
— Aldren? Você veio... Suas roupas... O que acont...
— Não dá tempo pra explicar, Celina. Preciso que venha comigo. — anunciou enquanto usava a chave para destrancar a cela.
— Espera. O que você está fazendo?
— Eu já falei. Explico depois. — Escancarou a porta e esticou o braço em direção a garota confusa. — Agora, vem.
— ...
O silêncio breve e congelante permaneceu por pouco tempo, mas pareceu eterno aos olhos de Aldren.
— Se eu ficar, vou ser preso e condenado a morte.
— O quê? Por quê? — estranhou ela.
— Depois eu te conto. Mas agora, só vem comigo.
— Eu não posso. Você sabe que eu...
— É tudo mentira. Tudo o que o Buregar disse é mentira. — tentou Aldren. — Confie em mim, nada vai lhe acontecer se você sair, nada vai acontecer a ninguém.
— É... — Celina sussurrou olhando para os próprios pés descalços.
— Espera. Você sabia? Você... — Aldren engoliu as palavras e o sentimento pasmo. Ele mesmo nunca acreditou naquilo, mas não esperava a mesma resposta por parte de Celina que tanto usou isso como motivo para nunca deixar o porão. — Esquece. Me escuta, precisamos sair daqui, imediatamente.
— ...
— Vai mesmo, ficar nesse porão para sempre? — Ele deu mais um passo adiante. — Se você ficar, eu fico e sou preso...
— Não, você não pode...
— Mas se você vir, Celina — interrompeu propositalmente. — Eu prometo que vai ver coisas incríveis lá fora. Coisas que os seus livros não conseguem contar, ou que nem mesmo foram descobertas ainda. Além disso, não precisa ter medo, eu vou estar sempre por perto.
A garota levantou a cabeça lentamente até encontrar os olhos de Aldren.
— Você promete?
— Sim. Eu prometo. — Foi sincero.
Celina respirou fundo como se estivesse prestes a mergulhar. Alcançou a mão erguida de Aldren e respondeu com um leve balançar de cabeça sem mudar a expressão séria em seu rosto. Deu um passo dificultoso para fora da cela em direção ao incerto.