Volume 1

Capítulo 30: Magia e Aura

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Sienna sentava-se na parte detrás da carruagem. O sol batia contra o seu rosto e o vento contra os seus curtos fios de cabelo branco.

A carruagem tremia e balançava enquanto a paisagem de areia e a brisa suave refrescava o calor da região. Porém logo se tornou entediante a mesma visão repetitiva.

— Senhor Furlan, ainda vai demorar muito?

— Precisamos procurar um guia no próximo vilarejo. Depois a viagem vai ser mais rápido, então cerca de uma semana.

A garota escutou tudo e se jogou no chão de madeira rolando de um lado para o outro, até ser parada por Ângela.

— Vamos chegar logo. Sossegue.

No restante da tarde, Sienna brincou e explorou as coisas que pegou no salão. Ela tinha um maior cuidado com a arma de fogo, apesar de ter usado a munição dela contra Amon.

A espada era ainda mais complicada. Ela mal conseguia segurar a lâmina com as duas mãos, sendo que era uma espada curta de uma mão.

Ângela viu a dificuldade e pegou a espada com dois dedos, apenas de brincadeira, mas ficou surpresa quando notou uma coisa.

— É uma lâmina encantada...

Até Morpheus deu uma rápida olhada para trás quando escutou, mas logo voltou a guiar. Ele parecia não se importar muito.

— Lâmina encantada?

— Sim. Você já viu as adagas do Morpheus?

— As lâminas do Senhor Furlan? Sim, vi algumas vezes.

— Elas tem um encantamento que absorve luz e emana escuridão, o que potencializa o poder do seus ataques, mas o dele é um encantamento muito simples. O dessa lâmina é mais poderoso.

Morpheus parou a carruagem de repente, interrompendo a conversa.

— Está ficando de noite. Vamos acampar por aqui. Ângela, vá buscar algo para fazermos uma fogueira.

A ogra concordou e saiu. Assim que ficou longe o bastante, Morpheus se sentou ao lado de Sienna.

— Ângela é uma grande lutadora, mas é péssima explicando as coisas. Essa espada não é uma lâmina encantada; isto é só uma generalização. Ela é feita de um metal especial que ressoa do fundo do mar.

— Do fundo do mar?

— Sim. Na época em que as sereias ainda viviam nesse continente, elas usavam amuletos e outras coisas feitas desse material. É até estranho ver uma espada feita com ele, já que deveria ser bem frágil e leve.

Sienna olhou para espada com outros olhos e rapidamente se lembrou.

— Senhor Furlan, o senhor me prometeu, lembra?

Morpheus de repente se lembrou da promessa.

— Ainda quer aprender magia?

— Quero!

— Então está bem. Irei te ensinar...

Morpheus chamou ela para fora da carruagem e arrumou tudo o que precisava para explicar todos os conceitos básicos da magia.

Então a aula começou com algumas conceituações e explicações de termos.

Primeiro ele explicou o que era o Epicentro de Mana, depois passou para o funcionamento da Mana em si.

Contou sobre a energia natural que habita em todos os seres e como ela influenciava no todo. Mana era como o oxigênio; sem ele era igual sem vida.

E então finalmente o tópico de interesse da garota chegou e ela até consertou a postura, atenta a cada palavra.

A Magia era o ato de manipular a mana a sua vontade; seja para destruir, seja para construir; seja interna, seja externa. Não importava o uso, ainda assim você seria um mago.

Havia dois principais tipos de Magia: Elemental e Não-Elemental. Dentro de ambas, haviam categorias, graus e divergências.

A Não-Elemental não era afetada por elementos externos e alguns até confundiam com a Aura — outra área do uso de mana.

Como feitiços desse tipo eram, em sua maioria, os mais fáceis de se aprender e os mais fracos em questões bélicas, criou-se um preceito de que era para iniciantes.

Morpheus não foi muito a fundo nisso e passou para o tipo Elemental, explicando que todas as pessoas no mundo tinham uma pré-disposição para algum deles ou até para mais de um.

Fogo, Água, Terra, Ar, Luz e Sombras. Todos os outros eram evoluções, derivações ou fusões entre estes 6 tipos de forças da natureza.

Explicou então que sua magia de manipulação de Sangue não era nada mais que uma derivação da Magia de Água.

Com todo esse conteúdo, a primeira aura de conceitos básicos estava para terminar quando Ângela retornou com um gigantesca pilha de gravetos.

— O que estão fazendo?

— Senhor Furlan está me ensinando magia.

— Hã? É mesmo? Ele explicou sobre os níveis dos magos?

— Níveis? — Uma interrogação pareceu brotar da cabeça dela. — Ele só falou sobre Mana, Magia Elemental e Não-Elemental.

Ângela olhou para o homem de preto com um sorrisinho e sentou no chão, soando um barulho alto.

— Morpheus é um chato que acredita em baboseiras filosóficas. Magia se trata de poder! Um grande mago é como um grande guerreiro!

— Barbaridades — comentou Morpheus. — Garota, ela está falando sobre uma classificação porca usada pelos reinos para definir qual mago é mais forte que o outro; também é usado em guerreiros e outras classes.

Sienna voltou a olhar para ambos esperando uma explicação. Morpheus suspirou e explicou para ela.

Na guerra, a magia era classificada de forma diferente. Era classificado com base no poder de destruição e nas formas de uso.

Ele queria explicar aos poucos para não confundir a cabeça dela, mas foi forçado a dar algo mais raso.

Antes de tudo, ele contou sobre as classificações de magos e guerreiros com base no que os antigos impérios classificavam:

Baixo, Médio, Alto, Senhor, Nobre, Rei, Mestre, Grão-Mestre e Santo. Com o nível baixo sendo quase inofensivo e o nível Santo com magias capazes de destruir uma cidade inteira.

Monstros e Criaturas também era classificados pelo mesmo número. Logo em seguida, Morpheus começou com suas reclamações.

Dizia que era algo falho, que não definia o verdadeiro poder de um mago e que era algo que servia apenas aos bárbaros.

Ângela começou a rir.

— Você diz isso, pois é classificado apenas como um Mago de Classe Rei.

Uma veia surgiu na testa do rosto inexpressivo do homem.

— E você, dona Ângela? — perguntou a menina.

— Eu? Sou classificada apenas como uma Maga de Classe Baixa ou Média, mas sou uma Guerreira Santa.

Sienna ficou boquiaberto e seus olhos brilharam como pérolas.

— Incrível! — exclamou a garota. — Você também pode me ensinar a ser uma Guerreira?

— Então você quer ser uma Cavaleira, Sienna?

— Uma Cavaleira?

— Sim. Pessoas que dominam tanto a Aura como a Magia igualmente.

Sienna nem pensou duas vezes em aceitar, então Ângela foi quem virou sua professora. Aprender Aura era bem mais simples que magia.

Nada de grandioso e espalhafatoso. Era necessário apenas ter um Epicentro e saber manipular essa energia pelo corpo para fortalecer.

Técnicas de aura eram basicamente artes marciais, então era só treinar o corpo sem parar para ficar mais forte.

Um pouco depois da explicação, Sienna perguntou:

— Morpheus é um Cavaleiro? Eu vi ele lutando corpo a corpo com as marionetes e ele é bem forte também.

— Não, ele é uma variação. Conte a ela.

Morpheus deu um olhar para trás e disse:

— Eu sou um Assassino de Classe Santo. Eu não tenho a resistência, mas tenho a força e velocidade de um guerreiro e a magia de um mago.

Sienna se lembrou da luta no Cassino e conseguiu entender. Com a noite chegando, eles todos foram dormir.

Morpheus deixou um familiar vigiando pelos céus.

Sienna por outro lado não conseguiu dormir após ver tantas maravilhas. Sem que ninguém notasse, ela se levantou de madrugada e tentou manipular seu mana.

Seguiu o que havia aprendido teoricamente. Imaginar a mana como parte do corpo, visualizar a imagem na mente e tentar mover pelo corpo.

Pelo gigantesco talento dela, sentiu a energia que passava pelo corpo e tentou mover externamente.

Conseguiu um resultado imediato. Moveu um grão de areia para o ar próximo do seu nariz. Uma magia de manipulação externa, mas ainda não era o bastante.

Ela queria aprender a manipular a mana interna.

Quando ela colocou a consciência para dentro do corpo e tentou mover a energia, os gigantescos olhos vermelhos surgiram.

Eles instantaneamente voaram na direção dela e ela gritou, cuspindo um pouco de sangue e acordando os outros dois.

— Sienna, você está bem? — exclamou Ângela.

— O meu familiar não detectou nenhum invasor. O que aconteceu? Ela está ferida?

A garota se levantou da areia e ficou de pé, olhando para os dois e estendendo a mão suja de sangue.

— Eu acho que tem alguma coisa errada comigo...

Morpheus rapidamente examinou o corpo da menina, mas não encontrou nada que levasse a veneno ou outro tipo de ferimento ou doença. Pediram então uma explicação e ela lhes contou tudo, escondendo apenas a parte dos olhos vermelhos.

— Ela pode manipular a mana externa, então o problema não é no mana dela. Se ela não pode usar magia interna, então...

Sienna viu o rosto nervoso de Ângela enquanto escutavam as palavras de Morpheus.

— É o Epicentro dela, não é? — A ogra perguntou.

— Só pode ser. É a única explicação, mas como ela criou um tão cedo e como ele se danificou tanto? Eu nunca vi isso acontecer.

Então, enfim, Morpheus lhe explicou. Sienna não poderia utilizar magia interna até que descobrissem qual era o problema com seu Epicentro.

Isto significava que o plano de se tornar uma guerreira também foi atrasado, já que Aura era puramente manipulação da mana interna.

— Você só poderá manipular elementos externos, assim como fez com a areia. Isto é considerado magia Não-Elemental e se chama telecinésia. Tem suas óbvias limitações, mas é o que você pode fazer por agora — explicou o homem.

— Não se preocupe, Sienna. Vamos descobrir o que você tem.

A garota acenou com a cabeça, acreditando em suas palavras. Ela apertou o punho com força, pois ainda estava irritada consigo mesma.

Havia lembrado que disse que iria ficar forte, mas algo sempre lhe atrapalhava.

A noite passou rapidamente, junto aos dias e finalmente estavam se aproximando do vilarejo.

Nos últimos dias, Sienna aprendeu mais e mais sobre magia e seus tipos.

Magia disforme que era apenas a mana concentrada em um elemento, usado para ter poder destrutivo puro, magia de manipulação que dava forma aos elementos, magia de criação que era um dos tipos mais avançados e muitos outros.

Enquanto revisava seus conhecimentos, conseguiu ver, ao longe, uma pequena vila abaixo do sol; este que estava se pondo.



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