Volume 1

Capítulo 15: Ganhando Dinheiro

Sienna moveu-se até perto do enorme elefante que caminhava a passos lentos. Detrás do animal, ela começou a prestar atenção nas frutas que caiam sem que o mercador percebesse. As pesadas patas batiam contra o chão, causando sons fortes.

Engolindo em seco, a garota de cabelo branco chegou ainda mais perto do animal, apenas alguns centímetros de distância. Ela olhou para cima, procurando o momento certo para que pudesse pegar uma das vermelhas maçãs.

O animal balançava de um lado para o outro, movimentos leves e tranquilos, mas que eram capazes de estremecer de leve as cestas nas costas. Uma fruta deslizou pelas fibras e despencou para próximo das patas pesadas.

Sienna então jogou-se para a frente, estendendo sua mão e conseguindo, com total sucesso, pegar a fruta vermelha.

Seguindo a visão das cestas, ela continuou a buscar oportunidades de abate. No entanto, sempre precisava prestar atenção para não ser pisoteada, além de evitar os olhares do mercador.

A pequena ladra continuou por um tempo nesse processo repetitivo. Ao conseguir cerca de cinco maçãs, ela viu uma oportunidade de pegar a sexta. Correu até a fruta, que acabou batendo nas costas do animal e voando para o lado dele.

Sienna quase arremessou o corpo inteiro para conseguir pegar ela e com isso passou perto de ser esmagada, mas, por sorte, conseguiu rolar por debaixo dele, caindo no chão respirando pesadamente.

— Nossa! — disse ela com o rosto branco, mas logo o choque passou e um sorriso surgiu em seu rosto. — Essa passou perto...

Ela ria nervosa, mas o sorriso largo e a adrenalina que sentiu eram bem agradáveis.

Sienna recolheu as suas maçãs e, como uma pequena gatuna, correu para um beco para planejar os próximos passos do seu astuto plano.

Andando pelas ruas lotadas, ela encontrou um alvo.

Havia um jovem perambulando pelas ruas. Ele tinha uma cor de pele mais clara em comparação com os demais moradores da cidade, além de andar com o nariz em pé, ação essa que irritou-a um pouco.

Ele era moreno clarinho, cor de leite com um pouco de café. Os olhos eram castanhos acobreado, que brilhavam pela luz do sol refletida em seu rosto fino, e, além disso, suas pupilas eram pequenas, deixando a cor ainda mais notável.

Também usava uma armadura de couro leve, revestida com algumas partes acolchoadas próximo das articulações. Ele usava roupas chamativas de cores fortes como azul e amarela. A única parte aparentemente comum em seu conjunto era a espada que carregava na cintura que, apesar de não parecer tão extravagante, tinha um valor muito maior que qualquer outra coisa em seu conjunto.

A luz do sol reluziu na guarda mão prateada da espada, criando um ambiente sublime de tranquilidade e superioridade em volta do rapaz. O rosto erguido, as roupas excêntricas e o humor enfeitado fizeram com que Sienna enjoasse apenas de olhá-lo e, por isso, ela sabia que este era o seu mais perfeito alvo.

— Com licença, senhor! — chamou a menina com um pequeno sorriso e falsos olhares entusiasmados.

O jovem olhou para a menina de cima para baixo e o rosto desagradável que fez não fugiu dos olhos dela.

— Não quero comprar nada... — Com grosseria, ele nem lhe deu atenção, apenas virou e continuou seguindo seu caminho.

— Me desculpe... Pensei que o senhor fosse um daqueles grandes guerreiros. Parece que eu estava errada. — Sienna também deu as costas para ele, fingindo decepção, mas aguardou um pouco, torcendo para que fosse bem sucedida.

Antes de dar mais um único passo, o rapaz travou no ar. Ele ainda tinha uma perna erguida e, como se fosse puxado por uma corda, deu um giro rápido no ar.

— É claro que sou um grande guerreiro! — vociferou com magnificência.

Um sorrisinho astuto surgiu no rosto de Sienna e um pensamento passou por sua cabeça: “Ele já caiu no meu truque. Agora vai comer na minha mão.”

Sienna virou e encarou o rapaz com seus enormes olhos brilhando.

— É mesmo?! — exclamou com alegria falsa. — Eu sabia! Com uma arma tão incrível, eu tinha certeza de que o senhor era alguém importante.

Apesar de encenar a maior parte do tempo, a sua fala com relação à espada era real. E, por conta das provocações da menina, ele puxou-a da bainha.

Sienna havia chutado pela aparência exterior que tipo de espada era, mas, ao ser puxada, teve certeza, um Florete. Uma arma destinada a esgrima e notoriamente utilizada para duelos. O exemplar possuído pelo jovem demonstrava toda a elegância dessa arte.

Uma lâmina fina e alongada, com cerca de 70cm, feita de um material leve e reluzente. Ela conduzia até um pomo de mesmo material, mas coberto de uma tinta negra que mantinha o aperto e impedia mão de escorregar até a lâmina. Logo vinha o punho, com leves demarcações para ajudar a manter a firmeza e por último o pomo prata que brilhava ao sol.

A respiração de Sienna parou por um instante e sua encenação tornou-se real, ela estava muito animada. Ela não sabia o porquê, mas queria ter aquela espada em mãos. Segurando seus impulsos, continuou com a encenação.

— Esse é o Florete passado de geração em geração na minha família. Uma arma destinada aos heróis mais honradas, astutos e poderosos, uma arma digna da minha grandeza. — Um verdadeiro mar de humildade, Sienna achava até cômico.

— Grande guerreiro, poderia demonstrar algumas das suas incríveis habilidades? — pediu em saudação.

— É claro! Lhe mostrarei minhas habilidades de estocada... Me arrume algum alvo. — Ele olhou os arredores e notou as maçãs da jovem. — Essas frutas! Me dê elas que demostrarei minhas habilidades.

— Bem... — Sienna gaguejou um pouco, parecendo receosa em entregar as maçãs. — Eu não posso entregá-las, minha mãe me mandou vender elas. Se eu voltar para casa sem nada, ela não vai me perdoar.

O jovem não queria mais escutar as baboseiras que a menina dizia, queria apenas demonstrar suas habilidades. Então, ele puxou um saco de moedas do bolso.

— Pegue, isso deve pagar pelas maçãs. Agora, me dê logo elas. — A bolsa de moedas caiu diretamente na mão de Sienna. O arrogante jovem ergueu a mão e fez um gesto para que lhe fosse entregue as frutas.

Sem pensar duas vezes, Sienna entregou. O homem pegou as maçãs, arremessando-as para o alto. Em seguida pôs a espada em guarda. Enquanto as frutas vermelhas caiam, ele fazia leves movimentos rítmicos com a arma, criando uma bela imagem prateada residual.

O resultado chegou rápido. O espadachim arrogante atravessou cada uma das frutas com precisão, tudo realizado pelos ágeis golpes de mão e pelos belos movimentos quase dançantes. Era inegável que, apesar da personalidade desagradável do jovem, as suas habilidades com o Florete eram altas.

 A lâmina ficou com as maçãs presas perfeitamente, como um grande espeto. O jovem apenas deu um corte para baixo, deixando a lâmina limpa e sorriu satisfeito.

— Gostou? — Ele guardou a espada e virou de costas para criar um ar misterioso.

— Eu adorei! — A voz de Sienna era animada, mas os olhos da garota reviravam.

— Então adeus, garotinha. Hahaha! — O espadachim andou rindo, agindo como um grande herói que partia para a guerra. — Estou partindo para o porto, pois logo todo o continente vai ouvir meu nome! Hahahap

Sienna olhou ele pelo canto do rosto, achando-o risível. Ela segurou a sua própria risada, surpresa com a confiança e arrogância dele.

— Que cara mais engraçado... Bem! Deixe-me ver o que recebi desse meu plano. — O sorriso travesso ressurgiu em seu rosto enquanto seus olhos brilhavam em ganância.

Ela abriu a bolsa de moedas rapidamente e se viu satisfeita com o ganho. Havia muito mais do que ela imaginou, algumas moedas de bronze e até mesmo uma de prata. Todas aquelas maçãs não deveriam valer nem mesmo uma única moeda de prata, mas ela conseguiu muito mais que aquilo.

Antes de partir, Sienna viu uma das maçãs caídas no chão e abaixou-se para pegar. Ela limpou a sujeita em cima da avermelhada em suas roupas e deu uma mordida.

— Não quero desperdiçar... Obrigada, grande guerreiro sem nome! — Após comer a fruta, ela zombou do jovem e partiu.

A garota correu rapidamente do local em busca de um lugar onde poderia mudar de aparência.

 

 

Truman entrou em uma situação difícil, pois mulher lhe observava com frieza. O jovem tremia de medo, mas a sua força de vontade era maior que o medo.

— S-solte! Solte ela! — vociferou em direção a bela mulher.

Ela usou um dos braços para segurar a garotinha chorando e o outro ergueu e então estendeu na direção de Truman. As unhas tornaram-se afiadas como lâminas e cresceram até parecerem realmente lâminas.

— Some daqui, moleque. Você não sabe com o que está se metendo — ameaçou raivosa.

Truman engoliu seco e deu um passo para trás, soltando o pedaço de madeira que tinha em mãos. Ele buscou recuperá-lo, andando de costas passando a mão pelo chão, mas isso só lhe fez cair.

— Hahahahah! — A mulher ria alta da situação ridícula de Truman. — Você tentou dar uma de heroizinho, tudo para isso? Você é só um covarde!

Com as risadas altas, o medo e a raiva que sentia, ele conseguiu achar algo no chão, uma pedra. Ele viu o rosto da garota chorando e se debatendo e isto lhe fez reunir toda a ira que tinha.

— Não me chame de covarde!

A pedra voou das mãos de Truman em alta velocidade e, com precisão, acertou o belo rosto da mulher, em seguida, o sangue pintou o chão de vermelho. A mulher abaixou a cabeça e colocou a mão que segurava a menina no próprio rosto. A garota saiu correndo sem olhar para trás.

Truman respirava rapidamente, surpreso com a própria coragem. A felicidade que sentia logo sumiu, pois a mulher levantou a cabeça e o encarou. Uma enorme ferida estava estampado na sua testa e uma veia cobria o seu pescoço.

A outra mão da mulher também tornou-se uma garra e ela partiu em direção a Truman.

O jovem se virou, tropeçando nos próprios pés, tentava fugir, porém foi interceptado um instante depois. A mulher lhe agarrou pelo pescoço de costas e o jogou no chão na outra direção. A dor percorreu o seu corpo e um grito baixo escapou.

— Meu rosto... Seu moleque desgraçado!

A mulher pulou em cima do corpo do jovem, prendendo-o no chão. Ele se debatia de um lado para o outro, mas não conseguia escapar. Logo a garra foi erguida para cima e o suor frio escorreu pela sua garganta, ele pensou que já estava morto.

Antes que a mão pudesse descer e arrancar sua garganta fora, ele olhou para o decote da mulher e viu uma tatuagem entre os seus seios.

— C-cassino... — A mão parou no meio do caminho.

— O que você disse?! — interrogou a mulher.

— C-cassino Jaisen...

A tatuagem no peito da mulher, era isso que Truman estava lendo. Observando o rapaz, ela soltou um sorriso.

— Então você sabe ler? Gostaria de arrancar suas tripas fora, mas você sabe ler. Vai ser bem mais útil que uma criança normal. — A mão da mulher voltou ao normal e se fechou em um punho, isto foi a última coisa que Truman viu.

O som do soco ressoou pelo beco sujo e logo um corpo sendo arrastado também.



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