Volume 2
Capítulo 1: Cidade Portuária Libelle
O sol está sentado em seu trono no céu limpo, seus raios assando a terra.
Esses raios solares banham as ruínas. As plantas murcham e a água é tão escassa que até o próprio ar parece seco. Cada brisa de vento faz a areia rodopiar no ar. É evidente à primeira vista que essa terra desolada marrom-acinzentada, que se estende até onde os olhos podem ver, seria um lugar difícil para qualquer ser vivo chamar de lar.
Essa terra desolada é a região conhecida como Fronteira Selvagem.
Não há nada de muito interessante à vista. Nuvens de poeira flutuam pela terra seca. É um ambiente hostil que poucas pessoas se atrevem a pôr os pés; um ermo árido e ruinoso que separa um país protegido de outro.
Apenas uma estrada percorre a região, subindo até uma pequena colina. Ela está longe de ser bem conservada—pelo contrário, é tão deplorável para uma estrada que é quase como se o chão tivesse sido desgastado por acaso.
Duas garotas estão caminhando por essa longa trilha.
Uma delas é uma jovem mulher de aparência madura e traços encantadores. Um enorme laço de cor preta segura seu cabelo em um rabo de cavalo, e ela está vestindo uma túnica anil de sacerdotisa. A longa fenda no lado direito de sua saia revela pernas longas e deslumbrantes calçadas com botas de amarrar na altura do joelho.
Seus passos são rápidos e seguros. A jovem mulher parece bem acostumada em viajar e não demonstra sinais de exaustão.
A outra garota possui um rosto mais infantil.
Seu cabelo preto parece enroscar em seus ombros. À primeira vista, seus seios são suas características mais proeminentes, mesmo estando completamente cobertos por suas roupas. Seus passos são um pouco instáveis. Reparando que a exaustão estava tomando conta dela, a outra garota encurtou seus passos para acompanhar o ritmo de sua companheira.
As duas garotas estão usando mantos iguais, em parte para protegê-las do sol. Enquanto elas percorrem a trilha em silêncio, uma das garotas murmura para si mesma.
“Minha alma está esgotada demais para continuar…”
“Se isso fosse verdade, você não seria capaz de reclamar disso.” A jovem mais madura retruca a garota com rosto de criança.
Essa estava longe de ser a primeira ou segunda vez que ela fez esta declaração. Na verdade, ela reclamou incontáveis vezes durante o percurso da jornada até então. A resposta fria parece insinuar que não valia mais a pena levar suas queixas à sério.
Porém, a garota com rosto infantil não fica nem um pouco desencorajada.
“Hee-hee, talvez você tenha razão, Menou. Se eu não pudesse mesmo continuar, também acho que não teria energia suficiente para reclamar. Quer saber porquê eu ainda tenho um pouco de energia apesar dessa jornada horrorosa?”
“Talvez porque esses dois melões que você chama de seios armazenam umidade para mantê-la hidratada…?”
“É claro que não!”
A resposta da garota chamada Menou claramente indica que ela não quer desperdiçar energia pensando na resposta. A outra garota balança seus punhos, indignada com a indelicadeza e desinteresse de Menou.
“Menou, sua pervertida! Guarde esses tipos de comentários para quando chegarmos na próxima fase do nosso relacionamento!”
“Sinto muito, Akari. Jamais direi isso novamente.” A expressão de Menou fica séria. Ela se curva imediatamente. “Minhas sinceras desculpas. Fui muito longe dessa vez. Poderia fazer o favor de evitar falar estupidez dessa natureza futuramente?”
“Aww… Por que está sendo tão insensível?”
Por alguma razão, seu pedido de desculpas foi recebido com desprazer.
A garota chamada Akari parece genuinamente aborrecida enquanto se aproxima de Menou.
“Você não quer aprofundar seu relacionamento comigo, Menou? Você é tão cruel!”
“Seria impossível você andar em silêncio…?” Menou olha para o céu, lamentando o fato de que conversar com sua companheira de viagem é como dialogar com uma parede.
A travessia das fronteiras por essa rota de peregrinação é longa e árdua.
Neste continente, praticamente todas as divisas são cercadas pela Fronteira Selvagem. O terreno agreste só pode ser atravessado a pé por essa trilha impiedosa. Como se gastar tempo em um território não desenvolvido não fosse difícil o bastante, o fato de ser uma terra de ninguém indica que também existem foras da lei. Além disso, animais selvagens, monstros de todos os tipos e soldados conjurados da Fronteira Selvagem do leste podem atacar a qualquer momento.
Viajantes atravessam a pé em meio a essas ameaças.
Eles seguem a trilha pela manhã e descansam em um alojamento ao entardecer. Lá, eles podem organizar seus pertences, lavar suas roupas, comprar suprimentos e de outras formas se preparar para o dia seguinte, e vão para a cama assim que o sol se põe. E então, eles acordam no amanhecer do dia seguinte e fazem tudo de novo.
Na rota de peregrinação, todos os aspectos da vida giram em torno de caminhar.
Em quase todas as partes da estrada, exceto as piores, eles viajam mesmo na chuva, seguindo insistentemente em frente. Esse simples estilo de vida—no qual tudo se resume a seguir em frente—é conhecido por expurgar qualquer coisa superficial da alma e do espírito. Por isso, atravessar a Fronteira Selvagem é considerado uma peregrinação e possui um significado espiritual para as sacerdotisas.
Duas semanas se passaram em uma jornada que até a sacerdotisa mais durona consideraria um desafio, mas a garota ao lado de Menou está mais falante do que nunca, para sua surpresa.
“Ei, Menou? Ei! Está me ouvindo? Eu fico magoada quando você me ignora, sabia? Você nunca ouviu o ditado ‘a palavra é prata, o silêncio é ouro’? Significa que ser quieta é importante, mas falar também tem seu valor. Resumindo, conversar é divertido!”
“Está bem, está bem. Eu só preciso te escutar, certo? Quando você terminar, poderia fazer o favor de se calar?” Menou finalmente cedeu quando Akari trouxe à tona um antigo provérbio para sustentar seu argumento infundado. Relutantemente, ela fez a pergunta que Akari queria ouvir. “Então? Por que você ainda tem energia para continuar?”
Akari sorri e estufa o peito orgulhosamente como se Menou tivesse esbarrado na pergunta perfeita. “Porque ter você ao meu lado é como um oásis para a minha alma, obviamente!”
“Eu juro…” Menou suspirou cansadamente com a resposta, a qual de alguma forma foi mais boba do que ela esperava.
É impossível imaginar isso pela forma como Akari é tão apegada a Menou, mas faz apenas três semanas que elas se conhecem. Desde o primeiro encontro entre ambas, Akari demonstra uma estranha afeição por Menou, mas ela tem se tornado cada vez mais persistente sobre isso nas últimas semanas. A essa altura, Menou começou a desistir de tratar Akari como uma acompanhante.
“Você não pode encontrar uma maneira de ser mais auto-suficiente? Quando estou com você, parece que… Sei lá, como se você absorvesse toda a minha energia ou algo assim.”
“Sinto muito, não dá. Eu preciso de Vitamina Menou para viver, e a única maneira de consegui-la é com você! Do contrário, eu irei perecer!”
“Eu duvido seriamente disso… Você viveu perfeitamente bem por dezesseis anos antes de me conhecer, não?”
“Eu não tenho mais nenhuma lembrança dos meus últimos dezesseis anos.”
“Nossa.”
Faz mais de duas semanas desde quando elas deixaram a terra natal de Menou, a capital ancestral, Garm, e começaram a viajar pela Fronteira Selvagem. Depois de manter esse comportamento pela viagem inteira, Menou não consegue mais encontrar vontade para interagir com Akari.
A propósito, existem dois métodos principais para cruzar a Fronteira Selvagem.
Um deles é seguir pela rota de peregrinação. Embora a Fronteira Selvagem seja subdesenvolvida, a rota apresenta um caminho limpo e pontos de descanso regulares ao longo do caminho, então é relativamente seguro. A outra opção é encarar a Fronteira Selvagem, mas essa é muito mais perigosa que a rota na qual Menou e Akari estão trilhando atualmente. Aqueles que escolhem esse segundo método são chamados de aventureiros.
“Esse é o nosso momento, Menou.” Akari apela. “Somos jovens, então temos que viver o presente! Não tem sentido em olhar para o passado! Precisamos caminhar em direção ao futuro!”
“Você deve olhar para o passado para se preparar para o futuro.”
Sua viagem otimista através das terras desoladas correu bem no geral, apesar de alguns pequenos percalços. No decorrer das últimas duas semanas, Menou aprendeu exatamente como lidar com Akari.
É praticamente o mesmo modo que ela lida com Momo, a qual não está ao seu lado no momento. E ao contrário de sua confiável assistente, Akari é um estorvo. Em outras palavras, a melhor maneira de lidar com Akari é ser ainda mais fria e franca do que quando ela está com Momo em seu estado mais entusiasmado.
Seus dias sem fazer nada além de andar estão quase acabando.
“Ooh!”
As duas chegaram ao topo da colina. Suas visões se expandem e Akari exclama, encantada com a vista que se estende abaixo delas. O profundo mar azul pode ser visto no horizonte.
“Menou, veja! É o oceano! E navios! E uma cidade!”
“Sim.” Menou sorriu.
Ela também sente uma sensação de conquista. Seu corpo está exausto, e seu espírito, desgastado. Mas uma vez que elas alcançassem seu objetivo, todas essas adversidades se tornariam uma sensação de satisfação.
Há uma cidade à beira-mar abaixo da colina. O contorno marrom avermelhado dos edifícios é claramente irregular. A brisa salgada do mar degradou as colinas e as deixou com um formato estranho.
“Aquela é Libelle, nossa próxima parada.”
Libelle, a cidade portuária.
É uma cidade que pode ser alcançada partindo da divisa do Reino de Grisarika da capital ancestral Garm e seguindo a rota de peregrinação através da Fronteira Selvagem por duas semanas. Libelle não é tão próspera quanto a famosa cidade turística Garm. Embora seja uma cidade portuária, ela serve primariamente como cais de pesca, então sua escala econômica é relativamente limitada.
Menou olha na direção oposta da cidade, para a trilha que elas percorreram.
Esta é sua segunda vez nessa jornada. Quando Menou era mais nova, ela uma vez fez essa peregrinação com sua Mestra e mentora—Flare.
“Veja. O oceano.” disse Flare.
“Sim, senhora.”
A visão familiar e o cheiro do mar devem ter estimulado sua memória, pois uma conversa que ela teve nesse mesmo lugar reprisou no fundo de sua mente.
“...De novo. É o oceano.”
“Sim, senhora.”
“É sua primeira vez vendo ele, não?”
“Sim, senhora.”
“Então? Qual é sua primeira impressão?”
“É grande.”
“Só isso?”
“E azul.”
A sacerdotisa de cabelo vermelho encara a pequena Menou. “...Francamente, você é entediante.”
Aqui e agora, Menou finalmente entendeu como sua mestra deve ter se sentido quando ela fez aquele comentário quase mal-humorado.
“Eu não era uma criança muito fofa, mas… Ela tinha um lado desses, eu suponho.”
“O quê?”
“Ah, nada. Eu só estava relembrando o passado.” Menou estreitou seus olhos, monitorando algo mais importante.
Ela olha para algo além do enorme mar no horizonte. Bem distante, um borrão branco é ligeiramente visível. Seguindo o olhar de Menou, Akari também nota.
“Ah, tem algumas nuvens sobre o oceano, né?” Akari comentou. “Se o tempo vai piorar, melhor nos apressarmos.”
“...Não, aquilo não é uma nuvem.” Tomando cuidado para manter seu tom estável, Menou a corrige. “Aquilo é um nevoeiro.”
“Nevoeiro?”
“Sim.”
Como elas estão em uma área relativamente elevada, elas podem ver um manto branco sobre o horizonte, denso o suficiente para ser confundido com uma nuvem. Sua presença permanente não tem relação alguma com o clima ou as correntes. Mas sim porque o ser mais aterrador que já existiu foi selado naquele lugar.
Um Erro Humano.
A causa de um dos grandes desastres que cicatrizou este mundo foi aprisionado lá dentro.
A cidade portuária fica na ponta sul do continente, o local mais próximo de um dos Quatro Principais Erros Humanos: Pandemônio.
*
A igreja aqui fica em um terreno elevado com vista para toda a cidade.
Libelle fica no Reino de Vanira ao sul de Garm, a capital ancestral do Reino de Grisarika.
Uma vez que Menou terminou a verificação de imigração necessária para entrar na cidade, ela se dirigiu até a igreja. Assim que solicitou por financiamento, a pastora quis falar com ela.
Isso faz parte do papel de Menou como uma Executora. Ela não pode envolver Akari, então deixou a garota sentada em um banco e falou para ela seriamente.
“Eu tenho que saudar a pastora encarregada desta igreja. Fique sentada e aguarde por mim aqui na capela, está bem? Nada de falar com estranhos ou me seguir. Entendeu?”
“Certo. Está bem, mas… Menou…”
“Mas?”
“O que é isso?”
Após Menou tratar Akari como se estivesse instruindo uma criança de cinco anos, Akari levanta sua mão para indicar o objeto que está enrolado em seu pulso. A própria Menou a amarrou ali há poucos instantes.
“É uma corda.” Menou respondeu tranquilamente.
Akari moveu sua boca para repetir a palavra corda, mas nenhuma palavra saiu. Incidentalmente, Menou está segurando a outra ponta.
Akari tem a forte tendência de vagar por aí quando algo chama sua atenção. Fazendo dela o alvo perfeito para um sequestro. Mesmo na rota de peregrinação, ela conseguiu causar bastante problemas à Menou. Então, como ela já havia ameaçado fazer, Menou colocou uma coleira nela.
Não literalmente, claro. Está apenas preso ao seu pulso, porém Menou está acenando com agrado.
“Não dá para confiar em você para esperar quietamente sozinha. Eu aprendi minha lição. Sempre que tirar meus olhos de você, vou me assegurar de amarrá-la com uma coleira bem firme.”
“A-ah, para, Menou!” Akari recuperou seus sentidos com uma exclamação e começou a rejeitar a corda. Ela coloca sua mão no peito e levanta a voz de uma maneira que parece quase proposital. “Não na frente das pessoas! Guarde isso para quando estivermos sozinhas! Eu sei que somos unha e carne, mas não estou pronta para fazer isso em público! É constrangedor!”
“Poderia fazer o favor de ficar quieta?”
Akari começou a gritar histericamente com uma voz alta o suficiente para todos na sala escutarem. Menou a pressionou com um calmo, porém amassador, sorriso.
“Você precisa aprender um pouco de autoconsciência. Se continuar agindo dessa forma, vou te enrolar em uma manta e arrastá-la por aí, entendeu?”
“Eu digo não a violência! Seja mais gentil comigo! Tudo que eu quero é o seu amor, Menou!”
“Então é melhor se comportar.”
“Então isso é tudo que preciso fazer para ter seu amor e afeição!?”
“Só por cima do meu cadáver.”
Com essa conversa, qualquer pessoa acharia que elas estão apenas interagindo em uma galhofa amigável.
Entretanto, aqui é uma igreja. Como uma sacerdotisa, Menou mal consegue suportar a desordem de Akari e agarra seus ombros para dar à ela um sério aviso.
“Escute. Apenas sente-se aqui quietinha e espere, está bem? Isso é tudo que precisa fazer. Até uma criança de dez anos consegue, então uma de dezesseis também, não?”
“Menou, você se preocupa demais. Não pode pelo menos afrouxar essa corda um pouco?”
“Ah, eu me preocupo, realmente. Às vezes, você é tão inconsciente do perigo, me preocupo que você possa ter dez anos mentalmente. Se você provar que pode esperar dessa vez, eu não terei que amarrá-la novamente. Compreendeu?”
“Você não confia mesmo em mim…” Akari fica deprimida, Menou a deixa para trás e vai até o santuário interno da igreja.
Todas as igrejas são estabelecidas basicamente de maneira semelhante, porém existem algumas diferenças pequenas e estéticas para coincidir com a paisagem da cidade. Menou chegou ao escritório da pastora sem problemas e bateu na porta.
“Entre.”
“Com licença.” Menou entrou na sala. Sentada na mesa está uma melancólica, e aparentemente nervosa, mulher com traços esbeltos, olheiras e óculos.
Ela é a pastora encarregada da Faust em Libelle. Menou não está familiarizada com seu temperamento, mas ela sabia de antemão que seu nome é Sicilia.
“Bom, vamos direto ao ponto, Srta. Menou. Sobre sua solicitação. Permita-me dar a minha opinião…”
“Sim, senhora.”
Assim que Menou chegou na cidade, ela solicitou por despesas relacionadas a suas tarefas.
Carregar dinheiro durante uma viagem a pé seria arriscado, além de um fardo físico. Ela poderia ter uma conta bancária comum, porém, membros influentes da Nobreza poderiam rastreá-la.
Portanto, Executoras como Menou dependem de financiamento das igrejas em seus destinos. Não importa onde a igreja possa estar, é esperado que elas forneçam o maior auxílio possível.
Claro, a quantidade que pode ser concedida varia bastante de uma igreja para outra.
“De imediato, muitos itens em sua solicitação me parecem desnecessários. Eu me questiono, por que você realizaria toda a sua viagem no reino em trens custosos de longa distância? Certamente existem métodos mais econômicos de transporte. Na verdade, eu acredito que você possa poupar ainda mais dinheiro caminhando de ponto a ponto. Não concorda?”
Menou solicitou dinheiro para viajar desta cidade para a próxima, mas a pastora encarregada da igreja está tendo problemas com seu planejamento.
“Claro, nós gostaríamos de ajudá-la o máximo possível, mas não acha que é sua responsabilidade reduzir suas despesas o máximo possível, também?”
“Sim. A senhora tem total razão.” Menou respondeu com relativa calma. Ela sabe que o que a pastora detesta tão profundamente é sua posição como uma Executora.
Executoras que trabalham para a terra santa são especializadas em trabalhos sórdidos, e são consideradas forasteiras pela maioria dos territórios. Uma visita inesperada nunca seria recebida com um acolhimento caloroso. A hospitalidade que ela recebeu da Arcebispa Orwell na capital ancestral de Garm foi uma rara exceção.
E como se mostrou, Orwell estava cometendo atrocidades para resistir ao seu envelhecimento.
A atitude de Sicilia é desagradável, mas não estranha. Pelo contrário, é quase um alívio receber uma reação tão normal.
Dito isso, é um pouco frustrante. Menou manteve-se firme para segurar sua irritação enquanto se opõe às críticas da pastora.
“Eu sei que a senhora tem ciência dos perigos que um Ádvena representa. Quanto mais nossa jornada durar, maior será o perigo, por isso a preferência por um transporte rápido. Posso lhe pedir para reconsiderar meu pedido, dada as circunstâncias?”
“Ora, ora. Então você não é capaz de manter essa situação sob controle? Isso não é uma grave negligência da sua parte? O que você tem feito esse tempo todo? Lidar com Ádvenas é seu trabalho, não nosso, se bem me lembro. Além disso, o que pretende fazer viajando com tanta pressa?”
Um protesto de Menou foi repelido com outra parede de críticas.
Ela ficou em silêncio por um momento, o qual Silicia usou para enfatizar sua rejeição final.
“Em nenhum ponto de seu planejamento está descrito o objetivo final de descobrir como se livrar da Ádvena que está lhe acompanhando. Certamente você não pretende levá-la para a terra santa de fato, pretende?”
Menou treme e se mantém em silêncio.
Ela é uma Executora, trabalhando nas sombras da Faust.
Sua tarefa é matar Akari, que foi convocada de outro mundo. A razão pela qual ela fez contato com a garota quando chegou no Reino de Grisarika foi para executá-la.
Menou, porém, falhou com seu dever.
Ela é fisicamente incapaz de matar Akari.
“Estou ciente de que essa Ádvena, Akari Tokitou, não pode ser morta por qualquer meio convencional. Ela se recupera com o Puro Conceito de Tempo, correto? Isso não será fácil de anular, com certeza.”
Sicilia estava certa sobre isso.
No momento em que Ádvenas são convocados, eles adquirem habilidades chamadas Puro Conceitos. Todos esses poderes são sobrenaturais, mas o poder do Tempo de Akari automaticamente invoca uma habilidade chamada Regressão quando ela é morta, desfazendo o exato momento de seu perecimento.
Desta forma, Menou está viajando com Akari para monitorar seus poderes perigosos e, se possível, encontrar uma oportunidade de matá-la.
E Menou ainda precisa descobrir alguma maneira de executar a garota com êxito.
“Você não tem um destino em mente e nem confiança em sua habilidade para conter a Ádvena, mesmo assim você pede por mais fundos para continuar sua jornada? Peço que pare com as brincadeiras. Você deve levar o seu trabalho mais a sério.”
“Se me permite a pergunta, o que exatamente a senhora está tentando dizer?”
“Certamente.” Sicilia segura a solicitação na frente do rosto de Menou. “Estou dizendo que não fornecerei à você um trocado sequer para o seu plano de viagem malfeito.”
Com isso, ela rasgou o papel em pedaços.
Menou observou inexpressivamente sua solicitação ser reduzida a lixo. Seus olhos acompanham as tiras flutuando em direção ao chão, até Sicilia chamar sua atenção novamente com um dedo.
“Talvez você não esteja ciente, mas nosso orçamento está longe de ser ilimitado. A quantidade que fornecemos a forasteiras como você é baixa.”
“Sim, estou ciente.”
“Ótimo. Então você entende que precisamos gastar nosso dinheiro com cuidado. Nós sempre procuramos assegurar que haja um retorno proporcional ao custo exigido de nós. Faz sentido, não acha?”
“Então, o que a senhora propõe?”
“Tem algo que gostaríamos que você nos ajudasse.”
Executoras são odiadas em um nível quase universal. Para administradores de igrejas locais, solicitações para financiamento de pessoas como Menou não passam de forasteiras implorando por dinheiro.
Ao mesmo tempo, não há uma única pessoa na Faust que duvida das habilidades de uma Executora, que foram submetidas a árduos treinamentos na terra santa e foram selecionadas para o trabalho.
“Se você puder oferecer uma real contribuição a nossa causa, certamente não daremos as costas. Nós ofereceremos o dinheiro solicitado como uma taxa de contingência.”
Por isso, é bastante comum receber condições como esta.
*
“Suspira…”
Após se encontrar com Akari na capela, Menou suspirou profundamente ao se retirar.
Os pormenores do pedido que lhe foi dado soaram inegavelmente irritantes. Quando ela apresentou sua solicitação de fundos, ela foi resignada a um certo grau de barganha, mas isso era simplesmente agravante.
No entanto, elas não poderiam continuar sua jornada sem dinheiro. Primeiro, elas precisam assegurar uma pousada. Vou ter que elaborar alguma coisa, Menou pensou, massageando sua testa.
Ao parar, ela encontra Akari olhando para seu rosto bem de perto.
“Está cansada, Menou?”
“Suponho que sim. Problemas financeiros são universais, afinal.”
“É mesmo? Agora que mencionou, você parecia meio pobre quando nos conhecemos.”
“Bom, me desculpe por ser falida.”
Realmente, quando ela conheceu Akari, Menou não tinha um orçamento muito flexível. Além disso, ela trabalha para a igreja. Ela nunca receberia um salário além das despesas para suas missões e o mínimo necessário para viver. Essa é a natureza da Faust.
Enquanto Menou olha para Akari de volta, seu olhar automaticamente ganha um ar de reprovação.
Originalmente, ela deveria ter matado Akari no dia em que se conheceram. Na verdade, ela enfiou uma faca na nuca da garota tão habilmente que Akari nunca nem percebeu.
Mas Akari ressuscitou através da habilidade de Regressão do seu Puro Conceito, Tempo. Menou concluiu que seria impossível assassiná-la sozinha, e por isso, ela está viajando presa a essa garota—tudo para encontrar um método para matar Akari, que é imortal com seu Puro Conceito de Tempo.
Porém, imediatamente após essa constatação, elas foram confrontadas com os crimes da arcebispa e forçadas a fugir de Garm rapidamente.
Vou diminuir meu critério de pousada em uma estrela, Menou decidiu silenciosamente. Vou aturar um banho frio se precisar. Os lençóis podem cheirar a mofo, mas também posso lidar com isso.
“Ahh… Mas…”
Enquanto Menou demonstra desapontamento ao pensar em descansar seus ossos cansados em uma pousada decaída, uma mão de repente agarra seu braço com força e a puxa para frente.
“Não sei o que está te incomodando, mas um pequeno passeio com certeza vai levantar seu ânimo!”
“Er…”
Os olhos de Akari brilham. Muito provavelmente, alegrar o espírito de Menou é apenas uma desculpa para explorar esta cidade desconhecida.
Menou não estava com humor para isso. Mais importante, sua carteira não estava à altura da tarefa. Colocando as despesas relacionadas a sua missão nesta cidade de lado, o dinheiro para a próxima parte da sua viagem é uma taxa de contingência, condicionado ao cumprimento de sua tarefa. Que mundo terrível. Pagamento antecipado deveria ser uma política universal, Menou pensou friamente.
“Não podemos. Não temos…”
Dinheiro, ela estava prestes a dizer, mas Menou pausou.
Ela sentiu uma presença familiar nas sombras da rua. Paralelamente, sua escritura brilhou levemente. É um sinal de Força Etérea que só pode ser transmitido entre escrituras que estão em sincronia. Sem abrir seu livro, Menou silenciosamente leu a mensagem descrita no interior, sem alertar Akari.
“O que foi, Menou? Aw, você não tem culpa de ser pobre. Eu posso lidar com isso, não se preocupe!”
“...Mudança de planos.”
Ignorando a generosidade descabida da garota, Menou organizou seus planos para o dia. Se efetuasse sua tarefa, ela receberia fundos para a investigação requerida. Então ela poderia simplesmente cobrir os custos do passeio como parte desses fundos de investigação. Afinal, Menou ainda carrega um leve ressentimento daquela pastora de óculos.
“Venha comigo, agora! Hoje vamos esbanjar, Akari!”
“Meu amor chegou até você!” Akari sempre consegue distorcer suas palavras. Menou olhou para a garota exuberante suspeitosamente.
“Vou cancelar tudo se você continuar sendo idiota.”
“Sinto muito! Por favor, vamos passear juntaaas!” Akari imediatamente se agarrou em Menou. “Eu quero passear com você, Menou! Certo? Certo! Então por favor, não mude de ideeeia!”
“Está bem, está bem. Vamos. Só me largue de uma vez.” Menou rapidamente empurrou o rosto em prantos da garota para longe dela e Akari abriu um sorriso. Menou não consegue evitar e demonstra um ligeiro sorriso ao observar sua montanha russa de expressões.
“Então, onde iremos primeiro?”
“Vejamos…”
Passear pode abranger diversas coisas. Elas podem apreciar prédios, experimentar algumas iguarias locais, ou visitar o cais desta cidade portuária.
Mas elas acabaram de chegar de uma longa jornada. Menou coloca a mão em seu rabo de cavalo e olha pensativamente para Akari.
Após duas semanas de caminhada por uma terra desolada, elas não estão só ‘um pouco’ sujas. E depois de ponderar sobre a mensagem que acabou de receber em sua escritura, ela pensou em um destino que realizaria vários objetivos de uma vez.
“Vamos à casa de banho.”
*
Plunk. Pequenas ondas propagam-se na superfície da água quente.
“Ahhh…”
Akari suspirou com um tom quase sugestivo. A julgar pela sua expressão enquanto mergulha até os ombros na água quente da vaporosa casa de banho, ela está bem contente.
“A temperatura está perfeita. Todo o estresse está derretendo… É tão booom.”
Certamente, seu corpo e seu rosto estão relaxados ao ponto de derreter. Ao terminar sua apreciação em voz alta, ela deixa seus lábios mergulharem na água e sopra bolhas, definitivamente uma má demonstração de boas maneiras.
Menou também está ao seu lado na casa de banho pública. Ela está com seu cabelo castanho-claro envolto em uma toalha e esticando suas pernas, apreciando a água quente.
“Haah…” Ela suspira enquanto relaxa. Esse calor agradável se espalhando pelo seu corpo parece derreter a exaustão. Durante a peregrinação, houveram poucas oportunidades de usar água quente. Geralmente, elas tinham duas opções: tomar banho com água fria, ou se limparem com uma toalha úmida.
Akari estica suas mãos para frente.
“Eu pensava que chamar uma visita à uma casa de banho de ‘esbanjar’ era prova da sua mentalidade de pobre, mas isso é ótimo. Sem contar que temos o lugar só para nós!”
“Bom, estamos no meio da tarde. Aliás, você não precisa continuar ressaltando minha pobreza. Uma sacerdotisa é pura, justa e forte, lembra? Em outras palavras, é uma pobreza honrosa.”
“Está bem, tááá. Você é pura, justa e forte. Entendi.”
Akari e Menou são as únicas pessoas no enorme banho. Como não havia mais ninguém ao redor para vê-las, elas estão livres para se esticar e relaxar na água quente.
“Eeei, Menou.”
“Hmm?”
“Nós estamos viajando para um lugar chamado a terra santa, certo?”
“Isso mesmo.”
Enquanto mergulham na água quente, o par conversa com tons vagarosos.
“Então você lembra mesmo. Fico feliz de ter me dado ao trabalho de te explicar.”
“É claro que eu lembro. Então tem outras pessoas neste mundo que foram convocadas como eu ou vieram através de fenômenos naturais? Você disse que proteger essas pessoas nessa ‘terra santa’ faz parte do seu trabalho.”
Oficialmente, a Faust chama pessoas como Akari, que vieram de outros mundos, de “ovelhas perdidas” e cuida delas. Menou contou para Akari quando elas se conheceram que o objetivo da sua jornada era levá-la até lá.
“E você disse que há muito tempo atrás existia um estado mais avançado de desenvolvimento cultural e outras coisas, também! Por isso as pessoas entendem japonês, mesmo sendo um mundo diferente, não é?”
“Correto. Havia uma antiga civilização que utilizava a sabedoria dos Ádvenas para avançar a própria. E por isso a linguagem aqui é bem semelhante ao japonês.”
Menou acenou, contente que seus ensinamentos no caminho até então foram compensados.
No entanto, havia uma parte da verdade que se difere drasticamente do que Akari aprendeu.
Quando japoneses são convocados, seja intencionalmente ou por acaso, essas pessoas adquirem habilidades poderosas chamadas de Puro Conceitos. Esses poderes são inevitavelmente instáveis. Cada vez que são utilizados, as lembranças dos Ádvenas são apagadas, e suas personalidades mudam, até finalmente, eles se tornarem ameaças conhecidas como Erros Humanos e causarem imenso dano a esmo. Essa também foi a razão pela qual aquela cultura altamente avançada e sua ciência foi destruída, a qual é dito ter até alcançado as estrelas.
A Espada de Sal. O Crepúsculo. O Pandemônio. A Sociedade Mecânica.
Esses quatro Erros Humanos eram especialmente nocivos e deixaram cicatrizes gigantescas e anormais na terra que ainda permanecem mesmo um milênio depois.
Baseado nessa história sombria, um sistema foi formado no qual Executoras como Menou, silenciosamente eliminam os Ádvenas antes que eles possam causar algum dano neste mundo. Menou estava levando Akari nesta jornada para encontrar uma maneira de assassiná-la, apesar do seu poder que a ressuscita quando ela é morta.
“Mas sabe, é divertido viver nesse mundo, mesmo com algumas complicações. O que me faz pensar que…”
Akari não tem noção alguma das verdadeiras intenções ou circunstâncias de Menou.
Ela deposita toda sua confiança em Menou, sorrindo calorosamente em seu banho.
“Talvez fosse legal se eu apenas pudesse continuar viajando com você neste mundo para sempre.”
Sua voz contente abre um buraco no peito de Menou. Seus olhos arregalaram em surpresa e seus lábios se moviam em silêncio à procura de uma resposta. Finalmente, seus ombros afundam.
“…Não seja estúpida.”
Embora Akari pareça querer continuar aproveitando o banho, Menou se levanta, causando ondulações ao longo da superfície da água.
Seu corpo está suficientemente aquecido. Não havia razão para continuar por mais tempo.
“Uma jornada sem um destino não existe. Viajar sem um propósito é simplesmente colocar a carroça na frente dos bois.”
“Você acha? Pessoalmente, sempre gostei de fazer pequenas paradas ao longo do caminho. Às vezes você também aprende muito enquanto está na estrada.”
“É mesmo? Bom, estou saindo.”
“Está beeem. Daqui a pouquinho eu saio…”
Akari é do tipo que demora no banho. Ela começou a acenar dentro da água, mas sua mão parou enquanto ela observava Menou.
“...Vou te contar, você tem um corpão, Menou.” Akari murmurou, cheia de admiração.
Menou tem pernas longas e lisas, e uma figura balanceada. Ela parece esbelta, mas seus músculos são sólidos. Embora não seja especialmente alta, ela possui uma poderosa presença com seus adoráveis traços faciais e estatura autoconfiante.
Justamente como Akari disse, ela tem um corpo bem proporcional que pode fazer até mulheres se apaixonarem.
Menou estreitou os olhos enquanto Akari a observava.
“Pare de me cobiçar.”
“Ack!”
Ela usou uma de suas pernas finas para jogar água na outra garota, repreendendo-a por comentar sobre o corpo de outra pessoa em uma casa de banho. Em seguida, ela usou a toalha que estava enrolada em seu cabelo para cobrir sua parte frontal e cutucou o busto considerável de Akari, que estava boiando na água.
“Você não gostaria se alguém lhe dissesse ‘seus melões são bem maduros’ ou algo parecido, gostaria?”
“Hmph. Não me importo se for você, Menou!” Akari se levantou da água com um splash, respondendo quase que instintivamente.
Comparado a Menou, que é tonificada devido a anos de treinamento diligente, o corpo de Akari é macio o bastante para beliscar sua barriga e seus braços. Suas curvas femininas são contrastadas com seu rosto infantil, e eles parecem apenas acentuar um ao outro. E acima de tudo, seus seios são impressionantes o suficiente para garantir inveja de outras mulheres e tendem a atrair atenção de outras pessoas.
“Por favor, descreva sua opinião sobre meu corpo em duzentas palavras ou menos!”
“O quão idiota você é?”
“Muito!”
Pelo menos, Akari é autoconsciente. Em resposta ao pedido insensato, Menou apenas ofereceu uma curta frase: “Fique quieta e banhe-se.”
“Waaa-brg-lb-lb-lb-l!”
Derrubando Akari de volta na água com uma veloz rasteira de judô, Menou prontamente saiu do banho.
*
Menou rapidamente vestiu seu traje de sacerdotisa no vestiário e foi até o saguão pós-banho. Como ela mesma já havia dito, elas estavam no meio da tarde, então não havia outros clientes por perto. Mas assim que Menou se sentou no sofá…
“Queriiiida!”
…Alguém se jogou contra o corpo ainda morno e recém banhado de Menou.
Ao contrário da vestimenta anil de Menou, essa garota está usando um traje sacerdotal branco. Seu cabelo rosa está preso em duas trancinhas com elásticos os quais Menou comprou e lhe deu de presente em Garm.
“Finalmente, minha querida em carne e osso! A verdadeira e única! Sou eu, sua amada Momo, e você é minha, tooooda minha!”
Era um abraço apaixonado; a agressora parece estar surpreendentemente alegre.
Essa é a subordinada e assistente de Menou, Momo. Menou não ficou surpresa. Afinal, foi ela quem enviou uma mensagem para Menou através de sua escritura antes delas irem à casa de banho.
“Você tomou banho, não foi? Você é tão quentinha e macia e maravilhosamente fresquinha depois do baaanho. Eu também queria ter relaxado no banho com você… Vou lançar uma maldição naquela maldita peituda que pôde tomar banho com você, espero que ela escorregue e se afooogue!”
“Está bem, está bem. Nós tomaremos banho juntas em outro momento.”
“Ebaaa!”
Menou confortou sua assistente um tanto melodramática e foi recompensada com um sorriso radiante.
Como Momo está auxiliando Menou como uma Executora, elas precisam manter sua existência em segredo de Akari. Por isso, Momo estava agindo sozinha e chegou na cidade um pouco antes de Menou e Akari.
Isso significa que ela tomou uma rota muito mais severa pela Fronteira Selvagem com apenas o suficiente de equipamentos e ainda chegou ao destino mais rápido do que a rota de peregrinação. E como se isso já não fosse impressionante, ela conseguiu contactar Menou via uma conjuração de comunicação assim que ela chegou na cidade, tudo isso enquanto evitava ser vista por Akari. Na verdade, sua compreensão dos movimentos de Menou é tão meticulosa que quase fez Menou querer perguntar como ela conseguiu esse feito.
“Não acredito que ficamos separadas por duas semanas inteeeiras! Sua pobre Momo estava tão sozinha, pensando apenas em você dia e noite, sem parar! Eu até sonhei com este dia. Nosso reencontro pede uma celebraçããão!”
“Certo, certo. Eu também fiquei triste por estar separada da minha brilhante subordinada.”
“Hee-hee! Eu? Brilhante? Só um tiquinho!”
Quando Menou acariciou seu cabelo, Momo derreteu em um sorriso sonhador. Uma garota simples. Mas essa simplicidade é reservada apenas para Menou. Quando ela não está sendo fofinha, Momo pode ser absolutamente impiedosa e sangue frio.
“Você é a melhor no mundo inteiro, queriiida. Ninguém mais poderia me fazer tão feliz com um simples e breve encontro! Você é meu oásis!”
“Pronto, pronto. Você é uma boa menina, Momo. A melhor assistente do mundo.”
“Essa sou eu! Uma boa meniiina. Não seja tímida, continue me acariciando e elogiando. Eu não vivo por nada além de suas carícias!”
“Bom, enfim. Temos trabalho para discutir, Momo.”
“Awww, puxa…” Momo estava ativamente esfregando sua bochecha contra a mão de Menou, mas seu rosto ficou emburrado quando a outra garota mudou de assunto. “Trabalho de novo? Sendo que você acabou de chegaaar?”
“Receio que sim. Foi-me dado um trabalho em troca do financiamento.”
“Francamente. Isso seeeempre acontece…”
“Certamente.”
Momo relutantemente se afastou de Menou, parecendo muito descontente. Ela é ajudante de uma Executora, afinal, então ela está acostumada a ficar atolada com outros trabalhos para receber seu pagamento regular.
Menou explicou o que Sicilia disse a ela sobre a situação da cidade.
“Ao que parece, a Fourth está infestando esta cidade atualmente. Então elas querem nossa assistência para lidar com ela.”
“Credo… A Fourth também está nesta cidade?”
“Ela está em todo lugar, na verdade. Onde há um rato, há um bando.”
A Fourth se refere a um grupo de cidadãos que promove ideologias que uma vez dominaram o continente. Em um mundo no qual a sociedade é dividida em três classes do reino—a Faust, a Nobreza e a Plebe—eles são um autoproclamado quarto grupo na hierarquia social.
Para simplificar, seu grupo acredita que os humanos não deveriam estar limitados a classes sociais ou status.
Essa “Quarta Ideologia,” a qual exalta a liberdade e independência, uma vez experienciou um breve surto de popularidade. Associado com esse grupo estavam os terroristas que Menou e companhia encontraram no trem do Reino de Grisarika.
“O grupo não passa de restos a essa altura. Se a Mestra não tivesse capturado seu pretenso Diretor, eles poderiam ser uma séria ameaça atualmente. Não podemos baixar a guarda.”
“Sim, eu ouvi dizer que eles tinham influência no passaaado. A Mestra deveria ter destruído o grupo inteiro pela raiz quando teve a chance. Por ela ter feito o trabalho pela metade, essas ramificações se deixaram levar…”
“Ela certamente foi quem capturou o Diretor da Fourth, mas acho que nem ela poderia ter eliminado todos eles…”
Momo estava culpando sua Mestra, mas a Fourth é mais uma ideologia do que uma única organização.
Ela se mantém como um tipo de coalizão de organizações com crenças semelhantes, razão pela qual o líder é referido como o Diretor. Os remanescentes que se espalharam pelas nações variam em escala e poder; como eles não estão realmente trabalhando juntos, é muito mais difícil erradicá-los completamente.
“Eles se autodenominam um grupo de cidadãos, então o que eles estão fazendo não é tecnicamente ilegal, nééé? A Ordem dos Cavaleiros não pode cuidar disso?”
“É claro, eles também já estão monitorando a Fourth em Libelle. Eu tenho um relatório por escrito deles.”
“Ooh. Parece que a Faust e os cavaleiros se dão espantosamente bem nesta cidade, heeein?”
A Nobreza e a Plebe têm permissão de formar e gerenciar um grupo de cidadãos em nações por todo o continente, então isso é bastante comum por si só. Geralmente, a política é que desde que eles não cometam crimes, eles são livres para acreditar no que desejarem. Eles são permitidos de se referir a si mesmos pelo nome de Fourth, o qual geralmente é visto como uma organização semi-terrorista. Isso simplesmente significa que a maioria do povo da Plebe os vê com maus olhos, a Ordem dos Cavaleiros—a Nobreza—os vigiam atentamente e a Faust os considera potencialmente perigosos.
“Pelo que ouvi, não posso criticar a Pastora Sicilia por seu trabalho…embora sua personalidade deixe muito a desejar.”
“Bom, uma boa personalidade e proficiência no trabalho raramente são relativos. A Mestra é um exemplo perfeito diiisso.”
“De fato. Na verdade, talvez sua péssima personalidade seja parte do porquê ela era tão boa no seu trabalho.”
Enquanto o par têm prazer em falar mal da líder incomum do monastério no qual elas foram criadas, Menou puxou alguns documentos da bolsa que ela deixou no vestiário: as informações que Sicilia deu à ela na igreja.
Não havia sinal de que Akari fosse sair do banho tão cedo, então Menou continuou sua explicação para Momo.
“A Pastora Sicilia quer a assistência de Executoras por duas razões. Primeira, porque há poucos dias, um cavaleiro foi seriamente ferido por um membro da Fourth.”
“Um cavaleiro, ééé…” Os olhos de Momo se afiam imediatamente.
Neste mundo, a Nobreza exerce os deveres de um governo. Entre eles, a Ordem dos Cavaleiros é responsável pela segurança pública em muitas cidades e portanto são submetidos a um árduo treinamento para se prepararem para a batalha. É inconcebível que eles sejam derrotados por um grupo envolvido apenas com conjuração.
“Suponho que um ocasional aventureiro Plebeu possa ter alguma habilidade, mas é tão raaaro…”
“E certamente não é o caso dessa vez. Aqui, leia isto.” Menou apontou para um dos marcadores nos documentos que deu à Momo, o qual contém a informação relevante. “Parece que uma estranha droga tem circulado entre a Fourth nesta cidade pelas últimas duas ou três semanas. Os chefões têm fornecido a eles uma coisa chamada ‘monstrina.’”
“...Então é uma droga ilegal, néé? Não consigo entender porque alguém tomaria essa coooisa. Eles perderam o juízo? Aposto que eles vão se autodestruir se não intervimos, nããão?”
“Seria ótimo, mas acho que isso é pior do que você está imaginando.”
Momo franziu seu nariz ceticamente; ela deve ter assumido que a monstrina é um estimulante que faz o usuário se sentir poderoso ou que bombeia substâncias indutoras de felicidade no cérebro. Menou puxou uma amostra que foi dada à Pastora Sicilia por um cavaleiro que estava investigando a Fourth.
É uma pílula artificialmente vermelha escura, quase como sangue coagulado. Qualquer conjurador experiente seria capaz de sentir a Força Etérea irradiando dela.
Momo não consegue ocultar sua repulsa pela aura sinistra que a pílula produz.
“E pensar que eles cometeram tabu ligado ao Conceito de Pecado Original apenas para fazer uma droga idiota… A Fourth desta cidade é sem dúvidas audaciosa, heeein?”
“Concordo. Eles certamente subestimaram a Faust, também.”
Conjuração de Pecado Original.
É uma forma de conjuração a qual envolve oferecer um sacrifício para extrair poder de outro mundo. Na maioria dos casos, a Conjuração de Pecado Original requer a oferenda de carne, espíritos e almas humanas. A criação da pílula vermelha nas mãos de Menou, portanto, muito provavelmente envolveu um sacrifício humano.
“É possível que eles queiram fazer dinheiro ao circular isso pela cidade portuária, ou que eles estão tentando ampliar suas forças de combate, dando isso a membros mais extremos. Seja qual for o objetivo, eles se envolveram com atividades ilícitas. Executoras consequentemente têm todo o direito de lidar com qualquer um que saiba a receita para esta droga.”
“Não podemos apenas esquecer isso, queriiida? A própria cidade é culpada por deixar sua Fourth correr solta.” Agora que ela está ciente da situação, Momo faz um sorriso cruel. “Nós já temos fardo o bastante tentando matar aquela peituda! Vamos simplesmente seguir em frente ao invés de nos envolvermos com os problemas desta cidaaade.”
Momo parece sentir que nada disso é importante para elas, mas Menou franziu.
“Mas não temos dinheiro algum.”
“Não há o que temer. Deixe esses problemas financeiros com a sua querida Momo!”
“Como?”
Era altamente improvável que Momo estivesse melhor no departamento financeiro. Afinal, normalmente é Menou que cobre seus fundos já que Momo é sua ajudante.
“Hee-hee, eu encontrei alguns tesouros autênticos na Fronteira Selvagem. E os vendi no mercado por um valor bem alto! Parece que até lixo rende um bom dinheiro nesta cidaaade.”
Ao contrário de Menou, que seguiu a rota de peregrinação por duas semanas, Momo fez seu caminho através da parte indomada da Fronteira Selvagem.
Fora do caminho convencional, a Fronteira Selvagem é tão perigosa que nem sequer existem mapas detalhados da mesma. Isso significa, no entanto, que há ruínas ancestrais ainda não descobertas. O trabalho de explorar essas áreas caem sobre os aventureiros, mas Momo evidentemente se envolveu em um pouco de aventura ao longo do caminho.
“E eu cruzei com aquela maldita Princesinha por algum motivo, então eu a empurrei em uma parte perigosa das ruínas e a deixei lá. Com sorte, ela pode até estar mooorta!”
Os olhos de Momo brilham enquanto ela faz essa declaração perturbadora, a qual envolve o surgimento de uma visita bastante inesperada.
Menou não a conheceu pessoalmente, mas a princesa do Reino de Grisarika parece conectada a Momo por algum estranho golpe do destino. Elas estavam no Reino de Grisarika há não muito tempo atrás, e durante o incidente com a arcebispa, Momo e Ashuna de alguma maneira se enfrentaram e se aliaram temporariamente.
“Espere… Por que a Princesa estaria vindo para cá? Sua nação não está em um estado de completo caos atualmente?”
“Nada do que aquela Princesinha faz tem sentido. Ela provavelmente apenas queria satisfazer sua sede por batalha, eu apooosto.”
Momo não parece ser muito amiga da Princesa Ashuna, e aparentemente, elas brigaram novamente na Fronteira Selvagem. Certamente, se a princesa escolheu mergulhar na Fronteira Selvagem ao invés de seguir a rota de peregrinação para cruzar a divisa, então ela claramente não é do tipo racional.
Embora Momo tenha dito que ela a largou em alguma ruína perigosa, ela provavelmente ainda estava viva. Baseada no que Menou ouviu, Ashuna tem um incrível talento natural para conjuração. Ela não era o tipo de princesa que morreria se fosse abandonada em um pequeno perigo.
“Bom, chega da Princesa Ashuna por agora… A igreja nos deu um trabalho e tanto, gostando ou não. Então eu irei realizá-lo.”
“Buuu…” Momo estufou as bochechas. Sua atitude claramente indica que ela abandonaria o serviço se dependesse dela. “Você é gentil demais. Pessoas que nem conseguem manter seu próprio território sob controle deveriam apenas ser deixadas com seus próprios aparelhos.”
“Não diga isso. De qualquer forma, você deve usar o seu dinheiro como quiser.”
“Mas, querida, eu não consigo pensar em outra utilidade para ele a não ser dar à vocêêê.”
“Pode parar.” Menou recusou. Ela está em um estado tão lamentável ao ponto de precisar ser apoiada financeiramente por sua assistente?
Além disso, embora ela odeie admitir, Sicilia disse a verdade quando elas discutiram a solicitação. Não faz sentido continuar avançando a esmo sem um objetivo concreto.
Menou precisa elaborar um plano para matar Akari.
E acontece que há um lugar nesta cidade que pode servir de ideia.
“Quanto a monstrina, ela não parece vir do exterior. Eles devem estar gerenciando a produção dos ingredientes ilícitos em algum lugar dentro limites da cidade.”
“O que indica que esses materiais devem ser feitos a partir de…”
“Residentes desta cidade, sim. Muito provavelmente. Mas o estranho é que não foram relatados muitos desaparecimentos.”
“Bom, talvez ninguém esteja preenchendo relatórios de pessoas desaparecidas. Nós precisaremos esperar por mais informações, eu aaacho.”
Com os relatórios da Pastora Sicilia em mãos, Momo e Menou trocam informações. O próximo tópico de discussão é sobre a natureza das pesquisas conduzidas pela Fourth. Como um cavaleiro conseguiu se infiltrar em sua hierarquia e investigar, o relatório estava consideravelmente detalhado.
Quando ela leu a última parte do relatório, o rosto de Momo enrijeceu.
“Eles estão analisando o Pandemônio… Você não acha que—?”
“Pode ignorar essa parte.”
Momo parecia séria pela primeira vez, mas Menou balançou a cabeça.
É compreensível que Momo ficasse alarmada. A ameaça era tão grave que Menou deixou sua expressão transparecer quando viu pela primeira vez.
Pandemônio.
Se refere a uma certa área no oceano ao sul desta cidade. Foi o lugar que Menou conversou brevemente com Akari na colina logo antes de chegarem.
Pandemônio. Os restos de um dos Quatro Principais Erros Humanos.
No entanto, a própria natureza do lugar é de que estava selado.
“Este é o assentamento mais próximo do Pandemônio. E eles estão fabricando essa pílula aqui. Se existem pessoas com sede de poder, é muito natural que eles criem um interesse. Mas eles nunca serão capazes de descobrir os segredos do Pandemônio. Nem mesmo a Faust pode fazer algo sobre aquele nevoeiro. Talvez a civilização antiga pudesse fazer alguma coisa, mas está além do alcance de qualquer humano vivo atualmente.”
Um dos Quatro Principais Erros Humanos… Uma existência em pé de igualdade com a Espada de Sal, a qual Menou viu fincada na longínqua ilha ao oeste quando criança. Esse Erro estava à espreita em algum lugar daquele nevoeiro.
A Aliança das Ilhas do Sul, a qual prosperava como sua própria nação principal, sumiu do mapa há mil anos atrás. Ilhas inteiras desapareceram sem deixar rastros, e não há mais maneira alguma de imaginar o que permaneceu no reino onde Pandemônio existe.
Todo o conceito do território foi corroído.
Assim como a Espada de Sal transformou o antigo continente ao oeste em sal que dissolve no oceano, Pandemônio é os restos da nação marítima conhecida como a Aliança das Ilhas do Sul, a qual uma vez prosperou.
Tamanha atrocidade lendária existe no mar ao sul da cidade portuária de Libelle.
“Se eles tivessem algum tipo de magia poderosa o suficiente para desfazer o nevoeiro, a Fourth não estaria por aí distribuindo drogas suspeitas. Então podemos ignorar isso.”
“Ceeerto! É claro! Uma teoria brilhante. Eu amo minha querida—tão calma, inteligente e incrível!”
“Certo, certo.” Menou lidou com a investida habitual de Momo acariciando sua cabeça. “Mais uma coisa. No que diz respeito a essa tal monstrina, existe um problema maior além dos resultados das pesquisas da Fourth, que é—”
Justo quando Menou estava para explicar algo que não estava nos documentos, ela ouviu passos no corredor que levavam ao vestiário. Momo trocou olhares com Menou. Assim que Menou acenou, Momo se retirou silenciosamente.
Assim que Momo desapareceu, Akari esgueirou sua cabeça na sala.
Recém-saída do banho, a cabeça de Akari ainda estava expelindo vapor. Gotas de água escorrem do seu rosto corado e do seu pescoço, enquanto ela olhava ao redor do vestiário.
“Hmm? Menou, você estava conversando com alguém? Pensei ter sentido algum tipo de presença aqui, uma que me deixou muito zangada por motivo nenhum…”
“Desde quando você pode sentir presenças? Está imaginando coisas. Se apresse e enxugue-se.”
“Oomph!”
Do que ela estava falando? Ela nunca sequer viu a Momo. Aliás, não teria como Akari—a densa e despreocupada Akari, cujas habilidades de lidar com crises está na casa dos negativos—poderia sentir qualquer tipo de presença. Quando Menou arremessou a toalha sobre a cabeça molhada da garota para silenciá-la, um pensamento de repente passou pela sua cabeça.
Akari não é apenas imortal.
Ela pode viajar do futuro para o passado usando a Regressão.
É difícil dizer sem uma evidência, mas é possível que Akari tenha invocado uma Regressão no mundo inteiro com seu Puro Conceito de Tempo, retornado para o passado e esteja realizando esta jornada novamente. A própria Akari parece não ter nenhuma memória ou consciência disso, mas Menou está minimamente convencida de que este possa ser o caso.
Afinal, desde o momento em que se conheceram, Akari confiou imediatamente em Menou. Ela não estava apenas sendo excessivamente íntima—mesmo no primeiro encontro das duas, ela demonstrou uma completa e indefesa fé.
Então talvez sua declaração nesse instante estivesse afetada pelos vestígios de lembranças anteriores.
Menou perguntou da maneira mais casual possível: “Diga-me, Akari. Desde que chegamos aqui, você teve alguma sensação de déjà vu? Quando nos conhecemos, você falou alguma coisa sobre o destino. Por acaso sentiu algo semelhante?”
“Hmm? Na verdade, não.”
“Entendo.” Menou teve uma ligeira esperança de que ela pudesse obter algum tipo de informação, mas a resposta não trouxe nada disso. “Bom, recebi um pequeno serviço da igreja, então ficaremos em Libelle por uma semana ou mais. Vamos encontrar um hotel e encerrar o dia. Podemos passear amanhã.”
“Está beeem.” Akari esfregou a toalha em seu cabelo úmido.
“Sente-se aqui, Akari. Eu vou secar o seu cabelo.”
“Obaaa!”
“Em troca, vou pegar um pouco de sua Força Etérea emprestada.”
“Aww, sééério? Mas faz cócegas…”
“Sem choro.” Menou colocou uma mão no ombro de Akari e buscou pelo fluxo de Força Etérea.
Força Etérea: Conectar—Akari Tokitou—Extrair [Poder]—
“Iik!” Os ombros de Akari estremecem. Seus lábios se contraem como se ela estivesse segurando o riso.
Normalmente, quando uma pessoa tenta usar a Força Etérea da outra, seu corpo, alma e espírito reagem e rejeitam a outra pessoa. As únicas pessoas capazes de se conectar por Força Etérea são aquelas que confiam uma na outra do fundo do coração.
Menou deixou o poder que ela extraiu fluir até o brasão em sua adaga.
Força Etérea: Conectar—Adaga, Brasão—Invocar [Vendaval]
A conjuração do brasão tomou a forma de uma brisa suave e agitou o cabelo de Akari. Menou direcionou a brisa de sua adaga no cabelo de Akari, penteando enquanto secava.
Ela não precisava de fato pegar os poderes de Akari para invocar uma conjuração tão simples, mas por alguma razão, ela teve o impulso de confirmar a confiança de Akari.
“...Bom, nós só precisamos ser cautelosas. Lembre-se, você é um alvo fácil. Para os conhecedores, ovelhas perdidas são altamente valiosas e desejadas.”
“Tá booom. Mas vai ficar tudo bem! Eu tenho você para me proteger.”
“Para você, é fácil falar isso…”
Enquanto seca o cabelo de Akari, Menou pondera sobre o pedaço de informação que ela não conseguiu terminar de transmitir para Momo momentos atrás.
Manon Libelle.
O nome presente nos documentos como uma fornecedora da monstrina. Como seu sobrenome sugere, ela é a filha do Conde Libelle, o líder da Nobreza nesta cidade.
Se ela estiver em uma das posições mais altas da Nobreza, ela deve ter tido acesso a algum conhecimento de conjuração. O uso de conjuração, entretanto, é altamente regulado pela Faust. Especialmente se envolver o Conceito de Pecado Original.
Ela evidentemente tem quase a mesma idade que Menou e Akari. É altamente improvável, então, que Manon Libelle tenha conseguido produzir o receptáculo Etéreo para a criação exclusiva da monstrina.
“Talvez haja algo agindo nas sombras aqui.”
Os detalhes deste incidente ainda estão cobertos por uma neblina. Menou se lembraria do nome Manon Libelle, como alguém para elas serem extremamente cautelosas enquanto estivessem nesta cidade.
Qual era a razão para Akari possivelmente ter voltado o tempo para o mundo?
Como ela não sabe o futuro, Menou não consegue exatamente dizer que isso não está relacionado a essa tal Libelle.