Volume 1

Capítulo 4.5: Na Capital Ancestral (2)

Deixada para trás no salão cerimonial, Akari arregala os olhos.

Ela está cercada por sacerdotisas, a maioria delas estão com suas escrituras em mãos e parecem prontas para lutar.

Infelizmente, a curta oportunidade que Menou criou arremessando sua escritura surtiu pouco efeito. Akari não possui tanta experiência para correr instantaneamente quando a mandam; enquanto ela ainda estava congelada, surpresa com a explosão, as outras mulheres a rodeiam.

“Não se mova, Ádvena. Você esquecerá de tudo muito em breve.”

“Hmmm…quê?”

Akari não faz a mínima ideia do que está acontecendo, já que tudo está ocorrendo tão rápido, mas seus instintos começam a suspeitar de que talvez ela esteja em uma situação perigosa.

“Nós sabemos tudo sobre sua habilidade. Se a única coisa que você pode usar é Regressão, então não há como resistir.”

A sacerdotisa continua a cerimônia, permanecendo bem atenta aos movimentos de Akari.

O grupo segue, reunindo-se no altar no centro do salão.

Força Etérea: Conectar—Altar Cerimonial, Brasão de Conjuração de Construção de Cerimônia—Invocar [Pseudo-Reprodução: Palidez Parcial]

As extremidades do salão cerimonial se deformam e distorcem.

Não foram as paredes em si que começaram a se mover—foi a pintura perfeitamente branca que as cobria. O revestimento começou a se acumular no pico do teto abaulado do salão cerimonial—em outras palavras, diretamente acima de Akari e do altar.

Uma vez que o líquido convergiu naquele único ponto, começou a se condensar em uma enorme gota.

“Isto é um fragmento do Crepúsculo—a esfera nebulosa flutuante do continente ao norte. Nem mesmo um Ádvena consegue resistir ao seu efeito de empalidecer.”

“Espera, quêêê!?”

Pânico começa a preencher Akari conforme as coisas se desenvolvem ao seu redor. Algo estranho está acontecendo, disso ela tem certeza. Muito provavelmente, ela e Menou foram enganadas de algum modo. Mas Akari não tem a fortitude mental, muito menos os meios para escapar dessa situação perigosa.

O perturbador líquido branco acima de sua cabeça começou a tremer e estava prestes a cair, quando de repente…

Força Etérea: Auto-Conectar (Condições Atendidas)—Vínculo Indevido, Puro Conceito [Tempo]—Lançar [Regressão: Memórias, Alma, Espírito]

Um eco silencioso do tique-taque de um relógio surge e o tempo apenas para Akari desloca-se do resto do mundo. Simultaneamente, a inquietação desaparece do rosto de Akari.

“Hmm? Isso é… Ah, entendi. É como aquela vez na catedral de Garm. E ah! Este é o meu presente da Menou!”

Com sua atitude completamente alterada, Akari remove sua tiara e a olha com entusiasmo. As sacerdotisas a observam, confusas com seu repentino comportamento estranho.

A cerimônia estava quase completa. As sacerdotisas verificam os procedimentos para assegurar que ela não fuja, uma pequena risada de repente escapa da garota no altar.

“Certo, hora de resistir.”

Dito isso, Akari rodopiou levemente seu dedo indicador.

Suas oponentes nem tiveram tempo de reagir.

Força Etérea: Conectar—Vínculo Indevido, Puro Conceito [Tempo]—Invocar [Suspensão]

A conjuração acontece tão naturalmente quanto uma respiração.

As pessoas ao seu redor congelam, iluminadas pela Luz Etérea emitida pelo dedo de Akari. Até mesmo suas respirações e batimentos cardíacos cessaram, mas isso não quer dizer que elas estão mortas.

O tempo parou temporariamente para as sacerdotisas.

No entanto, a gota branca concentrada não parou totalmente. Ela foi afetada pela suspensão do tempo, mas sua própria ordem de branquear o alvo diminuiu esse efeito. Lentamente, mas certamente, sem a velocidade normal da gravidade, ela continua a descer.

“Aquela coisa não para por nada, né? Por que será?”

Sem pressa, Akari se levanta e desce do altar. A gota branca se soltou e caiu, atingindo o altar no qual Akari estava momentos antes e tornando tudo branco.

“É, me desculpem. Não tenho intenção de seguir ou ser usada por ninguém além da Menou. E acima de tudo… Eu não quero, não quero mesmo, que ninguém além da Menou me mate.”

Akari nem parece perturbada com a visão inusitada enquanto balança seu dedo como a batuta de um maestro. Desta vez, ela invoca um tipo diferente de conjuração.

Força Etérea: Conectar—Vínculo Indevido, Puro Conceito [Tempo]—Invocar [Teletransporte]

Ela estava interferindo com o espaço, uma matéria estreitamente conectada ao tempo. Akari executa a conjuração com a facilidade que apenas um Ádvena com profundo conhecimento de um Puro Conceito poderia alcançar.

As sacerdotisas suspendidas no tempo agora desapareceram. Indiferente quanto a ausência delas, Akari inclina sua cabeça para o lado e cruza seus braços, como se estivesse vasculhando suas memórias.

“Agora, neste ponto no tempo…sim. Ao contrário daquela vez no trem, não há necessidade de reverter as coisas… Hee-hee. Acho que o caminho mais natural seria descontrolar a Momo.”

Falando o nome de alguém que ela tecnicamente ainda não conhecia, Akari sorri como se tivesse chegado a uma ideia traiçoeira.

Força Etérea: Conectar—Vínculo Indevido, Puro Conceito [Tempo]—Dupla Invocação [Teletransporte, Deterioração]

Duas conjurações ocorrem ao mesmo tempo. Akari as convocou para transcender o espaço, promulgando seus efeitos em outro lugar totalmente diferente.

Akari ri ao imaginar o resultado.

“Será que isso foi cruel demais da minha parte? Eu sempre tive um pouquiiinho de inveja desses seus lacinhos. Não é justo ter uma recordação do seu passado juntas.”

Ela dá língua para alguém que nem está aqui para ver. Então, após essa exibição infantil de retaliação, Akari abraça a tiara com a flor decorativa em seu peito.

Hee-hee… Que sorte a minha. Não são muitas as vezes que eu ganho um presente tão maravilhoso feito a mão pela Menou. Estou tão, tããão feliz.”

Após murmurar para si mesma, Akari imita uma arma usando a mão direita, apontando o dedo indicador para sua própria cabeça.

“Certo. Está tudo bem. Eu terei apenas uma sensação de déjà vu, como sempre. E ainda amarei a Menou! …Por isso, não estou com medo.”

Enquanto Akari fala tranquilamente, como se estivesse tentando convencer a si mesma, sua mão direita brilha.

Força Etérea: Conectar—Vínculo Indevido, Puro Conceito [Tempo]—Invocar [Regressão: Memórias, Alma, Espírito]

A luz que ela produziu disparou em sua cabeça.

Quando o brilho da conjuração sumiu, uma Akari ilesa piscou algumas vezes.

Hwuh?”

Ela franziu a sobrancelha, tentando entender porquê ela estava em pé, sendo que a meros instantes atrás ela estava sentada. E além disso, as pessoas que estavam cercando-a de repente desapareceram.

“Ummm…?”

Enquanto ela se pergunta o que acabou de acontecer, Akari, apesar de tudo, começa a andar.

Ela tem a sensação de que precisa ir a um lugar importante.

Foi a mesma sensação que ela teve no trem. Ela não sabia porquê. Ela apenas sabia que precisava ir.

Ao vagar pelo salão cerimonial, ela se depara com uma escadaria. Por alguma razão, Akari imediatamente se dá conta de que se descer, ela encontrará Menou.

“Hrmm…”

Akari cruzou os braços e pensou por um momento.

Menou gritou para ela fugir, mas Akari acha que isso não é o que ela realmente deveria fazer. Não, na verdade não era achismo—estava mais para uma forte compulsão. Algo no fundo dela estava insistindo que ela descesse.

“Certo. Se Menou está em perigo, eu tenho que ir até ela!”

Inventando uma razão para atribuir ao impulso, Akari desce as escadas. Ela certamente nunca esteve aqui antes, mas uma forte sensação de déjà vu a guia. Embora ela não saiba para onde está indo, ela não hesita.

Ela apenas segue em linha reta para onde ela precisa estar.

“Mesmo que ela fique brava comigo, eu serei sincera. Eu não fiz nada errado!”

Akari se apressa em direção a Menou.

*

A espada de Ashuna retalha severamente o demônio em forma de uma corda contorcida.

Mas a criatura, a qual consiste de um emaranhado de fios pretos pegajosos, não recua. A parte que lhe foi cortada se torna uma segunda criatura, que tenta atacar Ashuna em seu ponto cego e rasteja ao redor dela.

Ashuna rapidamente esmaga a criatura ramificada sem hesitar. Incapaz de manter sua forma, ela se funde novamente com o corpo principal.

Hrmm.”

Ashuna inclina a cabeça elegantemente.

Cortando um pedaço do corpo principal, o fez se tornar um ser próprio, e quando este foi esmagado, seus restos foram absorvidos de volta em seu corpo principal. E mesmo assim, ela não consegue encontrar algum tipo de núcleo no enorme e retorcido corpo do demônio.

“Momo, como se mata esta criatura?”

“Como eu vou sabeeer?”

Com uma visão de relance da batalha de Ashuna, ainda esperançosa de que ela fosse morta pelo demônio, Momo corta outra escama de seu oponente com sua serra oscilante.

Momo está ocupada lutando contra um dragão puro-vermelho sem asas.

Ao contrário do demônio de Ashuna, ele não possui nenhuma habilidade especial—é apenas um soldado em forma de dragão gigante, e por consequência, forte. Seu enorme corpo gera um peso mortal aos seus ataques, mas Momo é ágil o suficiente para desviar de todos eles.

Percebendo que não havia o que temer, Momo ousadamente se aproxima para uma batalha corpo a corpo. Sua maior prioridade é sair deste lugar. Ela está disposta a impingir o dragão para Ashuna se isso terminar a batalha mais rápido.

O dragão vermelho, evidentemente furioso com os ataques leves em seu corpo gigante, sacode sua cabeça para afastar Momo, e abre bem a sua boca.

Força Etérea: Conectar—Pedra Vermelho Primário, Conjuração de Selo Interno—Invocar [Labareda Vermelha]

Fogo começa a surgir dentro de sua boca.

As chamas criadas pelo Pseudo-Conceito da Cor Primária vermelho, possuem um tom tão forte quanto um respingo da tinta mais pura. Embora elas não emitem calor, as labaredas possuem ainda mais poder para queimar que uma chama real enquanto se espalham.

Eu consigo.

Fazendo um rápido julgamento, Momo estima a quantidade de poder contida nas chamas e segue em frente.

Força Etérea: Conectar—Traje Sacerdotal, Brasão—Invocar [Barreira]

Ativando o brasão em suas vestes, ela fica no centro do turbilhão de chamas. Naturalmente, ela foca mais em proteger sua cabeça ao criar a barreira, revestindo as áreas mais finas com Aprimoramento, fortalecendo sua constituição física.

Bem como Momo calculou, ela atravessou as labaredas no mesmo instante em que a barreira foi queimada—ou por muito pouco.

Naquele instante, houve um lampejo de Luz Etérea que se misturou entre as chamas vermelhas.

O resultado foi uma assustadora conjuração que deteriorou a passagem do tempo em uma determinada área. O Tempo teletransportou da catedral até aqui antes de ser ativado, correndo e formando dois pequenos buracos na barreira defensiva que Momo havia criado ao redor de sua cabeça.

Exatamente nos pontos de seu cabelo nos quais seus lacinhos estavam.

“…O quê?”

Justo quando ela estava prestes a cortar o focinho de seu oponente com sua serra, Momo congela subitamente.

Seu cabelo se solta.

Suas duas trancinhas de costume, de repente ficam livres no ar. Ao sentir os cachos se soltarem, Momo dá as costas para o dragão e olha atrás dela—para os laços que queimaram e caíram no chão.

Os dois lacinhos vermelhos que ela sempre usou, aqueles que Menou deu à ela.

“Ah…”

Ela deixa a serra em sua mão cair no chão. Enquanto Momo estava completamente imóvel, o dragão aproveitou a oportunidade para atacar.

Momo nem tenta desviar.

Com um rugido, o corpo massivo do dragão atinge diretamente o pequeno corpo de Momo, esmagando-a contra a parede.

“Nossa.”

Enquanto Ashuna estava lutando com relativa facilidade, tentando descobrir uma forma de matar o demônio, ela escuta o impacto que balançou o espaço subterrâneo e estreita os olhos.

Bom, isso deve tê-la matado.

Por alguma razão, Momo parou de repente e ficou imóvel no meio da batalha. Se fosse Ashuna, seria outra história, mas ela não consegue imaginar Momo sobrevivendo naquela situação. Que fim anticlimático, ela pensou, desapontada.

As gigantes nuvens de poeira começam a se dispersar. Pensando que ela poderia ao menos enterrá-la depois se restasse um corpo, Ashuna olha atentamente para a poeira desaparecendo, mas a cena que emerge a faz duvidar de seus próprios olhos.

O enorme dragão vermelho, com sua massa elevada por uma enorme quantidade de Força Etérea, estava debatendo suas pernas e cauda.

“Hmm?”

Verificando mais atentamente, na verdade era Momo causando aquilo. Apesar do ataque que ela acabou de receber diretamente, Momo parece praticamente ilesa, e até prendendo o dragão pelo focinho com uma mão.

E essa nem era a parte mais estranha.

“…Hic!”

Momo estava chorando.

A tonalidade da Luz Etérea aprimorando seu corpo enquanto ela chora é mais profunda e escura do que jamais tinha sido.

Em meio aos soluços exagerados de uma criança chorando, houve um monótono crack.

Era o som do focinho do dragão sendo esmagado em um formato mais conveniente pelo aperto anormalmente poderoso de Momo.

“Waaah… WAAAAAAAHHH!”

No meio da intensa batalha, Momo começa a lamentar com um choro alto e deselegante.

Ela continua a chorar enquanto levanta o dragão com uma mão e o sacode, causando um enorme whoosh. O chão estremece com a massa gigantesca do dragão colidindo diversas vezes, mas Momo não dá atenção. Ela bate o dragão gigante em todas as direções possíveis, como uma criança fazendo birra com um travesseiro.

“Por quê!? Por quê!? Eu os protegi. Eu sei que protegi! Então cooomo…? Não é juuusto. Isso não… Waaaah! Não! Não! Não, está tudo errado! WAAAAHH!”

Er, uh, Momo? Estamos no subterrâneo, lembra? Se continuar com is—”

“Cale a boooca! Desapareeeça! Morra!!”

“Whoa?!”

Com lágrimas escorrendo em suas bochechas, Momo arremessa o dragão diretamente em Ashuna. Ela consegue se esquivar, mas a fera colide com o dragão, fazendo ambos voarem até a parede com um poderoso impacto.

Sabendo muito bem o que teria acontecido se tivesse sido atingida, até a princesa sente um arrepio na espinha.

Enquanto isso, Momo nem olha os resultados de seu arremesso descontrolado. Ela apenas se abaixa e pega os laços carinhosamente.

“Wehhh… Hic… M-mas foi minha querida que me deu isso. O que eu faço…? Ela vai pensar que eu sou uma garota má q-que destrói presentes… Nãooo…não é justo. Nããããoooo!”

Apertando os restos dos laços em seu peito, Momo berra descontroladamente como uma criança.

Crianças choronas estão fora da área de especialidade da Princesa Cavaleira. Enquanto Ashuna hesita em um momento raro de insegurança, os olhos lacrimejantes de Momo encaram os dois monstros tentando sair da parede.

“Waaah… Waaaah!”

Fúria queima em seus olhos úmidos.

“É tudo culpa suaaa! Eles eram presentes da minha querida! Eles eram tão preciosos, tão, tããão importantes para mim! Morram, morram, morram! MORRAAAAAM!”

Momo puxa sua escritura bruscamente e a carrega com energia.

Força Etérea: Conectar—

Uma imensa quantidade de poder é extraída de sua alma para o livro.

 Escritura, 1:4, Passagem Completa—

Momo continua a extrair cada vez mais do seu ser—mais do que quaisquer sacerdotisas conseguiriam produzir juntas.

Invocar [“O que está fazendo?” perguntou o rei. A mulher respondeu, “Estou cavando um poço.” A terra estava seca. O chão estava rachado. Havia areia por todo lado. O rei achou isso estranho. Não havia mais água neste chão. Por que aqui, no fim do mundo? O rei disse—

Para manifestar a conjuração que Momo estava tentando invocar, a escritura direcionou seu fluxo de energia fundo abaixo do solo para desestabilizar a veia terrena. Comparado a Menou, que fez algo semelhante por um instante sobre um trem em movimento, o controle de Momo é simplesmente inábil.

No entanto, a quantidade de poder que ela está usando é exponencialmente maior.

Ashuna deduziu o que Momo estava tentando fazer baseada na fonte daquele poder, fazendo seu rosto perder a cor.

“E-espera, Momo. Certamente você não—? A veia terrena—”

“Eu não me importo com bom ou mau.”

Momo não deu atenção ao tom de advertência de Ashuna.

“Eu odeio tudo, exceto a minha querida. Por mim, o resto do mundo pode simplesmente desaparecer. Deixar que tudo menos ela seja destruído. O mundo seria melhor se apenas ela restasse.”

[“—a água não surge. Esta veia está seca. O óleo, também. Não há paz. Não há ordem. O que poderia florescer neste mundo? O que poderia ser plantado? O que poderia ser encontrado? O que restou para ser desenterrado…?” A mulher respondeu, “Ela não está—

A veia terrena é debulhada.

Uma conjuração cerimonial normalmente requer múltiplas pessoas, mas Momo está reproduzindo-a sozinha em um curto tempo, ainda que numa escala muito menor.

A seção da veia que passa por baixo da capital ancestral Garm curva-se e desvia-se para a superfície, abaixo da conjuração de Momo.

“Como? Por quê? Eu amo tudo sobre a minha querida. Como pôde tirar seu presente de mim? Eu nunca, jamais vou te perdoar. Nunca!”

[—morta. Esta terra é cheia de poder. Se eu cavar mais e mais fundo, eu me depararei com a luz de grande poder. A verdade deste mundo. A raiz. A salvação irá nascer da força vital desta terra e subir até os céus, conectando-se por todo o—

Normalmente, conjuradores manipulam cuidadosamente o poder produzido pela veia terrena, mas o controle de Momo não chega nem perto de ser tão delicado.

Ela simplesmente a torceu até jorrar. Ela não faz nenhum esforço para controlá-la, na verdade, ela nem quer.

“Eu odeio tudo! Odeio todos! Odeio todo! Este Mundo! Estúpido!”

[—céu, e com a luz deste planeta, criará uma parede que certamente trará paz a todos.” O rei acreditou nela. Ele não foi abandonado. Ele reuniu o povo, cavou a terra, viu a luz e soube. Da esperança. Daquilo que conecta. Sim,—

Enquanto desencadeia uma conjuração numa escala muito maior do que um indivíduo, Momo chora e berra alto.

“Todos menos a minha querida deveriam morrer!!”

[—A vontade do Senhor é transmitida por todo o céu e terra, reinando vastamente.]

Do fundo da terra, até a superfície, a torrente de poder que jorra da veia terrena eleva-se cada vez mais, explodindo todo o salão cerimonial.

*

Diretamente acima de onde Momo invocou sua conjuração, no castelo real, um pânico sem precedentes eclodiu.

Parte do castelo, o qual vangloria uma história de mais de oitocentos anos, foi destruída de repente.

Uma explosão de luz vinda do subterrâneo abriu caminho abruptamente, quebrando a parte do castelo que estava reservada para turismo. Ninguém se feriu, uma vez que não estava aberto no momento, mas uma multidão de pessoas rapidamente se aglomerou para ver o que estava acontecendo.

Os cavaleiros vigilantes da área entraram em pânico, correndo para todos os lados, tentando encontrar a origem. Alguns deles sabem sobre o salão cerimonial no subterrâneo e suspeitam de que pudesse estar relacionado, mas eles não podem divulgar essa informação para o público.

Enquanto eles corriam para fora da construção para ter uma noção melhor da situação, os cavaleiros ficam incrédulos.

Sua própria Princesa Cavaleira Ashuna e uma sacerdotisa desconhecida estavam lutando contra alguma criatura estranha.

“Céus. Que exibição emocionante, Momo!”

Ashuna riu alegremente, tendo resistido à erupção de poder com um simples Aprimoramento. A explosão a fez parecer desgastada, mas nenhum dos ferimentos foi muito severo.

“Bem, depois de uma apresentação dessas, agora é a minha vez de ir com tudo! …Afastem-se, ralé! Não posso prometer que sairão ilesos dessa!”

Foi um erro me segurar no caso de causarmos dano demais no subterrâneo, ela pensou com um sorriso. Se Ashuna ficasse séria, ela poderia demolir o que sobrou do castelo, mas…

“Enfim. Não é grande coisa.”

No fim, era apenas um castelo antigo que se tornou um local de encontro para os corruptos. As pessoas dentro parecem já ter fugido, então aniquilá-lo pode até fazê-la se sentir melhor, Ashuna raciocinou enquanto carregava sua lâmina.

 Força Etérea: Conectar—Espada, Brasão—Invocar [Corte: Expansão]

A energia de Ashuna afluiu pelo brasão gravado em sua espada.

O enorme nível de força é demais para ser contido em apenas um brasão. Ela estava deliberadamente carregando-o com poder excessivo. Assim como a demonstração de poder de Momo, isso é muito mais do que um indivíduo comum deveria ser capaz de produzir sozinho, e isso resultou em uma conjuração muito mais poderosa que qualquer brasão normalmente manifesta.

A escritura de Momo conseguiu suportar o excesso de Força Etérea e invocou a conjuração com êxito, mas a espada de Ashuna era apenas uma pobre substituta.

Rachaduras começam a aparecer na espada, mas Ashuna as dispensa, continuando a alimentar a espada com poder. A lâmina estalou e quebrou—mas não caiu aos pedaços.

A luz mantém os pedaços quebrados da espada juntos, criando uma espada gigante, muito maior que uma arma normal.

“Pois bem, demônio.”

Enquanto a besta se contorce pela dor causada pela força da veia terrena, Ashuna levanta sua espada brilhante e sorri docilmente.

“Certamente, até você morrerá se for destruída sem deixar rastros, não?”

Ela brandiu a lâmina de luz.

Com seu ataque de corte expandido, a luz da espada corta impecavelmente o demônio e o reduz a pó—mas isso não foi tudo.

O corte da gigantesca lâmina corta diagonalmente o castelo meio avariado, proporcionando o golpe final.

Por um momento, a metade de cima do edifício deslizou para o lado que foi cortado. Depois desmoronou sob seu próprio peso, e no instante seguinte, o antigo castelo real começou a cair aos pedaços.

“Ha-ha-ha! Retalhar a história é certamente uma bela sensação!”

A Princesa Cavaleira riu cordialmente enquanto observava o antigo castelo real desabar.

Quando virou para ver como Momo estava, a garota ainda estava chorando.

“Precisa de ajuda?”

“Tá a fim de morrer?”

Momo não dá atenção aos barulhos estremecedores e às nuvens de poeira do castelo se esfarelando, muito menos olhou Ashuna nos olhos enquanto segura o dragão surrado com uma mão.

O castelo estava ruindo diante delas. Havia uma multidão de pessoas exclamando alarmadas enquanto uma construção significantemente histórica estava sendo destruída, mas para Momo, todas aquelas pessoas também poderiam morrer.

Ao contrário de Ashuna, que estava rindo alto, as emoções de Momo estavam um caos.

Lágrimas continuam a escorrer de suas bochechas enquanto ela condena o mundo. Ela segura o dragão abatido com sua mão direita, apertando os restos de seus laços na esquerda.

A única coisa mais importante para ela além dos lacinhos, é uma única pessoa. Momo considerou socar Ashuna depois que terminasse de cuidar desse dragão—até que ela se lembrou de que há alguém muito mais urgente para destruir.

Tudo isso foi culpa da arcebispa.

Ela se virou para a base da culpada e percebeu que havia uma barreira erguida ao redor da catedral.

Antes de tudo, por que ela se contém? Certos lugares, circunstâncias, e obrigações restringem o espírito de Momo.

Por isso seus laços queimaram.

Mesmo que ela queira espancar a fonte dos seus problemas, a barreira ao redor da catedral é muito firme.

Está bem, ela pensou, e carregou seus poderes na arma perfeita que por acaso estava agarrando em sua mão direita.

 Força Etérea: Conectar—

A intrusão bruta de Momo se depara com uma violenta resistência do Dragão da Fúria.

Esse é o protocolo de defesa automática do soldado conjurado, projetado para defendê-lo de influência externa. Qualquer um que tente se conectar com ele fora dos meios aprovados, teria sua Força Etérea empurrada de volta, na tentativa de aniquilar seu espírito e corpo igualmente.

Menou se defendeu disso com sua escritura.

Mas Momo não possui esse nível de habilidade.

Então, em vez disso, ela forçou seu caminho com sua imensa quantidade de poder.

 Dragão da Fúria, Conjuração de Selo Interno—

A Força Etérea de Momo subjugou o impulso do Dragão da Fúria e o expeliu.

A contracorrente foi empurrada a força de volta por ainda mais energia, permitindo Momo romper a energia energizando o núcleo do dragão e trocá-la pela sua própria.

A energia armazenada que mantém o soldado em forma de dragão funcionando foi ejetada, parando-o completamente. A Pedra Vermelho Primário deixou de servir como o núcleo do soldado conjurado, os forçando a retornar para seus estados de meros materiais.

Então Momo usou ainda mais da sua própria Força Etérea para carregar a pedra e começou a conjurar.

Pedra Vermelho Primário, Pseudo-Conceito da Cor Primária[Vermelho]—

Momo usou o material em suas mãos para descarregar seus sentimentos frustrados.

 Invocar [Sol Falso]

A cor primária convocou um Pseudo-Conceito correspondente: Sol Falso.

É um sol vermelho artificial, que não produz calor nem luz. O estranho e irregular círculo que surgiu parecia com algo que uma criança poderia fazer usando tinta vermelha forte.

Todos os olhos na capital ancestral Garm se reúnem no sol artificial que apareceu de repente.

Porém, Momo os ignora, incluindo o olhar fascinado da Ashuna. Ainda soluçando, ela fixou seu olhar na catedral.

“É tudo culpa sua.”

Momo corre em direção à catedral, o pseudo-sol bidimensional ainda presente em sua mão direita. Com sua força e velocidade impulsionados pelo Aprimoramento, ela saltou sobre o fosso do antigo castelo real e deu um salto ainda maior.

Enquanto Momo se eleva no ar, seus olhos focam na torre do relógio da catedral.

Com seus oitocentos anos de história célebre, essa característica do edifício é considerada um símbolo pungente da Faust da nação. Fatorizando seu valor cultural, é muito inestimável para descrever.

Tudo isso é tão importante para Momo quanto o que ela comeu no café da manhã do dia anterior. Para ela, isso possui uma importância tão insignificante que ela poderia facilmente esquecer em torno de uma semana.

Chorando como uma criança, Momo levanta seu sol achatado sobre sua cabeça…

“Desapareça!”

… E colidiu seus sentimentos furiosos contra a barreira com o fogo do sol falso.

*

Menou estava lutando para ganhar tempo.

Usando dois brasões gravados em sua adaga, Fio Etéreo e Vendaval, ela desvia com movimentos erráticos. Jamais entrando no alcance de Orwell e seus servos demônio e anjo, Menou luta puramente para manter a mesma distância.

Puramente a fim de sobreviver.

Seu vigor está se esgotando lentamente, assim como sua fonte de energia. Orwell também não está tentando atacá-la com seriedade. Seu objetivo é capturar Menou viva, afinal. Ela apenas precisa esperar até que a garota fique sem forças e energia.

“... Isso é ridículo.” Menou resmungou sem pensar.

Orwell certamente é velha, mas ela também é uma conjuradora habilidosa que refinou seus talentos naturais, que já eram de alto nível, ao extremo. Sob circunstâncias normais, Menou nunca enfrentaria um oponente como este diretamente. Ela sorrateiramente se aproximaria pelas costas para atacar despercebida, ou fingiria amizade para ter a vantagem, ou o faria cair em uma armadilha para diminuir sua força.

Entretanto, sua inimiga supera qualquer uma de suas táticas de Executora habituais.

A arcebispa usou o pretexto de solicitar uma investigação para afastar Momo, atrair Menou juntamente de Akari para seu território e forçar Menou em uma batalha direta.

Desde o momento em que ela chegou nesta nação, ela estava dançando na palma da mão de Orwell.

Como a catedral estava selada com uma barreira, ela não conseguiria sequer fugir. Mas Menou teimosamente persiste, estendendo a batalha o máximo que pode.

Mesmo cercada por inimigos, ela sabia que podia contar com uma coisa.

E logo chegou a hora.

Tremores sacodem o salão cerimonial.

Poeira borrifa do teto. Não era um terremoto, mas sim um poderoso impacto na superfície que agitou a catedral inteira. Algum tipo de problema evidentemente aconteceu com os brasões de conjuração do edifício, desativando a barreira que estava prendendo Menou lá dentro.

“Mas o quê—?” Orwell começou.

“Eu tenho algo do qual me orgulho, sabia?”

Enquanto os tremores balançam o laboratório subterrâneo, Menou interrompe a arcebispa alarmada e corre em sua direção. Ela estava protegida pelo anjo flutuando ao seu lado, mas isso não importa.

Um pequeno sorriso surge em seus lábios com a mudança que ela estava esperando.

Menou escuta passos se aproximando do subsolo.

“Acontece que eu tenho a assistente mais talentosa de todo o—”

“Menou!”

“...O que você está fazendo aqui, sua imbecil!?”

Se dando conta de que não era Momo que estava chegando para ajudá-la como esperava, Menou rapidamente salta para longe de Orwell.

Era Akari, dentre todas as pessoas. Ela nunca aprende? Menou pensou, absolutamente perplexa.

“Caramba, Akari! Por que você está aqui!? O que acontece nessa sua cabeça de vento!?”

“Hã? Quê? Por que você está tão zangada com uma adorável garota que veio te resgatar!?”

“Porque você só vai me atrapalhar, não é óbvio!?”

Esta é a segunda vez que ela entra no caminho de Menou no meio de uma batalha, contando com o incidente no trem. Naturalmente, Menou fica surpresa.

Argh! Eu falei para você fugir, não falei!? Eu sabia que você era idiota, mas isso é ridículo!”

“M-mas eu não podia apenas ir embora sabendo que você estava em perigo, Menou! Não é certo abandonar as pessoas. Eu quero ser legal com você, e quero que você seja legal comigo, também! Então eu não fiz nada errado!”

“Ótimo, então! Na próxima vez que eu lhe pedir para fazer algo, vou colocar uma coleira no seu pescoço para garantir que escute!! Está feliz?”

“Menou! Isso é um pouco pervertido demais pra mim! Mesmo se for com você, não acho que estou mentalmente preparada para isso! Vamos nos tornar mais íntimas primeiro, pode ser!?”

“Ah, cala-se!”

A conversação delas rapidamente desinflou a tensão do combate. Porém, Orwell estava tão espantada que nem tentou se aproveitar do momento. As sacerdotisas que cercaram Akari no salão cerimonial eram elites legítimas. Mesmo com a pequena oportunidade que Menou criou, elas não eram do tipo que deixariam sua presa escapar tão facilmente.

No entanto, aqui está Akari.

“Mas como—?”

Justo quando Orwell começou a expressar sua consternação, o teto tremeu novamente.

Dessa vez, foi mais do que apenas um tremor ou outro. Foi como se um gigante estivesse furioso na superfície, causando abalos massivos um atrás do outro. O teto do laboratório subterrâneo tremeu e começou a rachar. Quando Menou olhou para cima, viu as rachaduras se espalhando cada vez mais.

BUM. Uma baixa batida balança o chão e reverbera em seus ossos.

O teto do subsolo atingiu o limite. As rachaduras se abriram todas de uma vez, gerando enormes buracos, e finalmente caem completamente aos pedaços. As pedras se tornam escombros conforme desabam, enterrando o chão abaixo.

Menou e Orwell imediatamente ativaram os brasões de barreira em suas vestes sacerdotais para resistir à derrocada.

“Maldição. É um empecilho atrás do outro…!”

O rosto usualmente calmo de Orwell se distorce com desprazer com a investida de acontecimentos inesperados.

Ninguém menos que uma pequena garota com cabelos felpudos desce bruscamente pelos restos do teto.

Imediatamente, Menou agarra Akari e cobre seus olhos por trás.

Um, Menou? O que foi? Algum tipo de fetiche com olhos vendados? Bom, acho que não é tão ruim… É, eu consigo lidar com isso. Certo. Vamos continuar evoluindo nosso amor com calma e carinho.”

“Não tenho interesse nessas coisas, então mantenha a boca fechada, por favor.”

“Uhum.”

Surpreendentemente, Akari espontaneamente selou seus lábios. Mais importante, a cavalaria que Menou antecipou antes finalmente chegou.

Porém, ela chegou de forma ainda mais violenta do que Menou esperava.

Ela fez um buraco com força bruta da catedral acima até esta área subterrânea. Ela quebrou a barreira. Menou pôde ver pelo buraco desmoronando que o teto da catedral foi explodido e a torre do sino destruída.

Menou gastou um momento calculando os danos, e então reparou algo muito mais preocupante.

Momo estava chorando.

Quando Momo está em prantos, ela perde quase todo o senso de razão. Seria perigoso demais ela causar uma destruição sem discernimento aqui. Ainda cobrindo os olhos de Akari, Menou desesperadamente tentar sinalizar Momo com seu próprio olhar.

Sua assistente abre a boca como se quisesse dizer algo, mas em seguida mantém ela fechada a força com visível esforço.

Embora ela fique essencialmente em modo frenético quando chora, Menou é a única pessoa que consegue alcançá-la. Esta é a principal razão do porquê Momo ainda usa um traje branco e é assistente de Menou, apesar de seu talento natural avassalador que facilmente a deixa em pé de igualdade com qualquer Executora completamente desenvolvida.

“… Hmph.”

Momo fungou, olhando para o modo como Menou quase parecia estar abraçando Akari por trás. Lágrimas escorrem de seus olhos enquanto ela luta contra a ânsia de exclamar perguntas, mas ela consegue se manter em silêncio para que sua voz não seja identificada.

Ela sabia o que Menou estava advertindo: Ela não pode deixar Akari ver seu rosto ou escutar sua voz.

Então, ela vira sua atenção para Orwell. E soca o anjo diretamente no rosto como se estivesse aliviando sua frustração.

“O-o que foi esse barulho…?”

“Não se preocupe.”

Os estrondos altos e maçantes, como se alguém estivesse fazendo algum trabalho de demolição com as mãos nuas, na verdade é o som de Momo puxando o anjo flutuante para baixo no ar e batendo-o no chão.

A reserva natural de Força Etérea de Momo é incrivelmente ampla—tão ampla que ela geralmente suprime a maior parte.

Normalmente, ao mexer com esta energia, a pessoa extrai o poder da alma e o controla com o espírito. Mas no caso de Momo, a quantidade de poder em sua alma é muito grande, então ela é cuidadosa em extrair apenas quantidades pequenas, para que seu espírito não entre em caos.

O que aconteceu, neste caso em particular.

Sem seu espírito para mantê-la sob controle, seu poder está praticamente jorrando de acordo com suas emoções cruas. Nesse estado, Momo não consegue parar até que utilize toda essa energia, então ela provavelmente se acalmaria no momento em que terminasse de socar o anjo até virar purê.

O problema é que a batalha ainda não acabou.

“Minha nossa… Você causou um problema e tanto.”

Com a catedral—sua sede—destruída, Orwell encara Momo com irritação.

“Vocês certamente são talentosas, não é? Mas ao passo que essa garota é assustadora… se ela apenas estiver em um frenesi, tenho certeza que ficará sem energia em breve. Então você ainda é minha principal prioridade, Srta. Menou.”

Mesmo sem seu protetor angelical, a arcebispa ainda possui a vantagem.

Ela tem o cajado sagrado com as três pedras das Cores Primárias e o demônio que ela estava sentada sobre para mobilidade. Os brasões na adaga de Menou e em seu traje sacerdotal não seriam o bastante para superá-la.

Além disso, ainda tem a questão da Akari. Menou mal conseguirá se mover enquanto a protege e cobre seus olhos.

“Hã? Ei, Menou, espera um pouquinho. Eu realmente vim num momento muito ruim?”

“Sim. Extremamente.” Menou suspirou. “Por isso eu falei para você fugir… Ugh. Por que você veio até aqui sabendo que seria perigoso?”

“É porque…”

Com seus olhos ainda cobertos, os lábios de Akari formam um biquinho.

“O lugar mais seguro que conheço neste mundo é ao seu lado, Menou.”

Por um momento, Menou não consegue responder. Ela tenta pensar em uma refutação, mas não consegue encontrar as palavras certas. Finalmente, ela resmunga em derrota.

“... Você é mesmo uma idiota.”

“Grrr. Você é tão má, Menou! Não poderia parecer um pouco mais comovida por essa frase!?”

“E de quebra é atrevida…”

Menou suspira fundo fundo com a atitude perpetuamente despreocupada de Akari.

“Mas suponho que está tudo bem, já que seu rosto me fez lembrar de algo.”

“Hã? O quê, é sério? Então estou sendo útil?”

“Eu imploro: Fique quieta por um minuto, por favor.”

“Mmph!”

Menou puxa a cabeça de Akari contra seus seios, mantendo seus olhos cobertos com um braço.

Não apenas para que ela não visse Momo—todo este cenário seria venenoso para a vida pacífica de Akari.

Ver seu rosto despreocupado fez Menou se lembrar do incidente na plataforma de trem na capital real.

Ela tem mais brasões para servir como meios de invocação do que apenas sua arma e vestes.

Menou usou sua mão livre para puxar uma única moeda de sua bolsa, em seguida abriu a boca e colocou a moeda de cinco sobre sua língua.

 Força Etérea: Conectar—Moeda de Cinco, Brasão—Invocar [Bolha Etérea]

A moeda na língua de Menou começou a produzir bolhas.

São cristalinas bolhas de luz, criadas com a intenção de entreter crianças, do mesmo tipo que ela mostrou à Akari e àquela criança na estação. As bolhas Etéreas são difíceis de estourar e podem se mover suavemente com a vontade do conjurador, mas apenas isso.

Elas se multiplicam até preencher totalmente a visão de Orwell.

Força Etérea: Conectar—Adaga, Brasão—Invocar [Fio Etéreo]

Menou usa o pouco de energia que lhe resta para ativar o brasão em sua adaga, inclinando seu braço para arremessá-la a uma curta distância.

“Seu apego por distrações também é idêntico àquela garota.”

Sentada sobre o demônio, Orwell facilmente desvia da adaga, e então sorriu sutilmente quando viu onde ela pousou.

A adaga perfurou uma Pedra Vermelho Primário que vazou do frasco quando este foi estilhaçado durante o desmoronamento.

“Ah, quanta engenhosidade. Você pensou nisso com muita minúcia, mas receio que tenha falhado.”

“Será?”

“Vamos, não precisa fingir…”

Ela assumiu que as bolhas eram uma distração enquanto Menou tentava usar o Vermelho via o fio Etéreo. Orwell riu, se divertindo com os esforços de Menou enquanto usava o demônio para cortar a fibra, mas sua expressão endureceu em seguida.

Menou não estava segurando a outra ponta da corda presa a adaga.

Ela ainda estava cobrindo os olhos de Akari com uma mão e segurando-a no lugar para evitar que ela se movesse com a outra. Com ambas as mãos ocupadas, Menou cospe a moeda de cinco que ainda estava em sua boca.

E então põe a língua para fora, como uma criança zombando de alguém.

A ponta de sua língua toca uma das bolhas flutuantes.

Elas se espalharam o bastante para preencher a visão de Orwell, mas algumas delas sorrateiramente se organizaram para formar uma única e contínua trilha.

“O verdadeiro truque está aqui.”

Orwell presumiu que as bolhas eram apenas uma distração, mas muitas delas se conectaram para criar uma linha, ligando-as a uma Pedra Vermelho Primário diferente daquela que a adaga perfurou.

Menou enviou poder através da bolha que sua língua estava tocando.

 Força Etérea: Conectar (via Bolhas Etéreas)—

Sua energia flui através das bolhas até os materiais vermelhos no frasco.

 Pedra Vermelho Primário, Pseudo-Conceito da Cor Primária [Vermelho]—

Os materiais feitos de cores primárias são um meio de invocação para conjuração de seu respectivo Conceito, da mesma forma que Orwell as utilizou previamente. Se elas não estiverem infundidas com a Força Etérea de alguém, elas não passam de recipientes vazios que qualquer um pode usar.

E embora ela não esteja no nível de Orwell, Menou é uma conjuradora com habilidades muito além da sua idade.

 Invocar [Enganação, Fogo Infernal]

Uma manifestação artificial de chamas do submundo. Um ataque violento pelas costas, mas uma artimanha necessária para enfrentar uma oponente extrema como ela.

“Será preciso mais que isso… para me derrotar!”

Força Etérea: Sacrificar—Relva Rastejante, Corpo—Convocar [Pecado Original, Caveiras Aladas]

Orwell girou imediatamente, sacrificando o corpo do demônio abaixo dela para alterar sua forma para um novo demônio através da convocação. O demônio se transformou de um assento com várias patas para um enxame de pequenas criaturas escuras, que mordem as chamas que Menou convocou, se queimando porém resistindo.

“… Sim, sim. Um movimento muito astuto. Mas não o suficiente.”

Orwell vira sua atenção das chamas para Menou, carregando seu cajado com poder.

Força Etérea: Conectar—Cajado Sagrado, Tríade Primário—

Mas justo quando ela girou para lançar uma sórdida conjuração na direção de Menou e Akari—

—Orwell se vê frente-a-frente com uma sacerdotisa alta de cabelo vermelho escuro.

“… O quê?”

Orwell congela. A súbita mudança nos poucos segundos nos quais ela não estava olhando foi muito imprevisível para seus pensamentos processarem, e sua conjuração se desfez logo antes de sua execução.

É uma sacerdotisa de cabelos com cor de sangue fresco. Ela está segurando Akari. Sem dúvida, esta figura ameaçadora é a pessoa que sempre suspeitou de Orwell desde quando ela se entregou à escuridão das atividades proibidas.

Flare?! Como…? Não, não é possível. Você se disfarçou de Srta. Menou desde o princípio para se aproximar de—?”

“Você estava certa sobre uma coisa.”

A imagem de Flare oscilou como uma miragem.

Houve uma espécie de ondulação através do espaço, e a aparência da sacerdotisa de cabelo vermelho transformou-se lentamente.

Quando a luz se desfez, ela se estabeleceu de volta como Menou.

“Eu sempre adorei uma boa distração.”

“O quê…?!”

A arcebispa arfou incrédula.

Manipular as partículas de luz individualmente para criar uma Camuflagem Etérea é uma técnica especial e avançada, desenvolvida por Flare. As pessoas imploravam para que ela as ensinasse em diversas ocasiões, mas nenhuma pessoa conseguiu dominá-la ao ponto de ser capaz de usá-la em campo.

Nem mesmo a própria Orwell.

“Mas aquela garota é a única pessoa capaz de manipular Força Etérea desse modo—”

“Receio que não. Certamente não estou no nível da Mestra, mas consigo usá-la em batalha.”

Foi graças ao conhecimento de Orwell sobre a personalidade da Mestra, e a dificuldade de sua técnica, que ela chegou à conclusão absurda de que Menou era seu disfarce desde o início. Flare é o tipo de pessoa que realmente poderia fazer algo dessa natureza para enganar a arcebispa.

Embora Menou não consiga manter seu disfarce como outra pessoa enquanto se move, ela é capaz de manter a ilusão de forma suficientemente eficaz enquanto imóvel.

Afinal, a primeira técnica que lhe foi ensinada exaustivamente foi a Camuflagem.

“Foi por eu ter aprendido esta técnica que sou conhecida como Flarette.”

Menou foi profundamente instruída sobre conjuração em uma ordem bizarra, diferente de uma educação normal. Mais importante, ela havia sido apagada, ao ponto de conseguir absorver esses ensinamentos como um material dentro de si. Foi por conta desses dois fatores que Menou foi capaz de dominar a Camuflagem, embora imperfeitamente.

Havia mais um fator—o mais perigoso de todos—que passou despercebido por Orwell.

A pessoa mais perigosa na sala não é Momo, que estava espancando um anjo; ou Orwell, a arcebispa que cometeu um tabu; nem mesmo Menou, que pode manipular a Camuflagem.

É a Ádvena convocada.

Menou não é tão gentil para contar ao seu oponente toda a verdade sobre sua estratégia planejada. Todos os outros truques serviram apenas para distrair Orwell da existência de Akari por tempo suficiente para Menou executar seu real movimento.

“Vamos, Akari.”

“Tá… Mmn!”

Menou usou sua Força Etérea para extrair poder da outra garota, fazendo os ombros de Akari contraírem e seu corpo se contorcer como se estivesse recebendo cócegas.

Esta foi a verdadeira estratégia que ela pensou quando Akari chegou.

 Força Etérea: Conectar—

Claro, quando se está tentando usar o poder de outra pessoa, normalmente tanto o usuário quanto o recipiente sofrem danos em seus espírito e alma—mas não essas duas.

Desde seu renascimento, Menou é capaz de aceitar os espíritos e almas de outras pessoas.

E Akari entregou sua alma e espírito para Menou com uma confiança incondicional.

Assim como no trem, Akari usou a magia de Akari para invocar uma conjuração de alta potência. Sem sua escritura, ela teria que usar os brasões em sua adaga, mas os latentes níveis da Força Etérea de Akari superam de longe até os de Momo.

Orwell ainda estava abalada pela Camuflagem. Isso demonstra o quanto a imagem de Flare é ameaçadora para ela. Em sua atual condição, ela não seria capaz de manipular a complexa conjuração dos Conceitos das Cores Primárias. Ela provavelmente conseguiria usar brasões simples, mas isso não seria um problema. Se Menou usasse bastante do poder de Akari para invocar Vendaval e arremessar sua adaga, ela conseguiria atravessar as múltiplas barreiras de Orwell.

Menou estava segura de sua vitória até o momento seguinte.

“É realmente uma pena, Srta. Menou. Você estava tão perto.”

Força Etérea: Auto-Conectar (Condições Atendidas)—Catedral, Brasão de Conjuração de Construção da Igreja—Invocar [Barreira de Proteção VIP]

Em um piscar de olhos, a barreira da catedral foi ativada, e Luz Etérea brilhou ao redor de Orwell, protegendo-a.

Menou arregalou os olhos.

Não foi a vontade de Orwell que invocou essa conjuração. A barreira da catedral foi construída com condições que se ativariam automaticamente. Muito provavelmente, a destruição de sua barreira externa por um ataque de fora era uma condição para construir uma barreira ainda mais forte, protegendo as pessoas mais importantes no interior.

 Isso é péssimo. Menou começou a ficar nervosa.

A poderosa barreira que protegia toda a catedral está concentrada em uma única pessoa. Mesmo com a Força Etérea de Akari, Menou não conseguiria quebrar sua firmeza. Ela consegue antecipar isso muito bem por conta de sua habilidade de medir precisamente a quantidade de poder em uma conjuração.

Menou cerra os dentes. Ela deveria ter previsto isso. Ela viu os brasões na catedral durante sua primeira visita. Ela não conseguiu analisar todos eles, mas reparou que não havia apenas uma barreira exterior, mas também uma que funcionava no interior.

Ela foi leviana.

Orwell sorriu triunfantemente e começou a carregar seu cajado sagrado vagarosamente.

 Força Etérea: Conectar—

Menou hesitou.

Ela sabia que estava prestes a fazer algo que não devia.

Mas não lhe restam opções. Ela precisa escolher. Foi isso que sua Mestra a ensinou.

Tomando o juízo rápido de que ela precisa usar uma jogada proibida se quiser vencer, ela age imediatamente.

 Akari Tokitou, Puro Conceito [Tempo]—

Menou mergulhou ainda mais fundo em sua conexão com Akari do que quando o fez no trem. Pegar emprestado a energia de Akari por si só não seria o suficiente para quebrar a barreira de Orwell. Então, ela precisa recorrer ao Puro Conceito que está indevidamente vinculado à alma de Akari.

A energia de Menou faz contato com a alma de Akari.

E então, naquele instante, seu espírito caiu em um abismo profundo.

Nem houve tempo para resistir. O espírito de Menou foi completamente surpreendido. A cronologia de sua consciência virou um caos, e o passado e presente de Menou se tornam impossíveis de distinguir. Ela não consegue mais dizer onde está ou que horas são. Não havia mais um relógio interno para recorrer.

Naturalmente, ela não é capaz de conjurar nesse estado. Este é um reino no qual nenhuma consciência humana deveria entrar.

Ela fez uma aposta e perdeu.

A consciência de Menou se afasta do mundo exterior e se aprofunda mais fundo dentro de si mesma, arrastada para os confins do tempo.

*

Quando ela abriu os olhos, Menou era seu eu mais jovem, de pé em um reino puro branco.

Ela era uma criança novamente, com seu cabelo comprido e bagunçado. E mesmo assim, ela carrega sua escritura na mão esquerda e sua adaga na mão direita.

O líquido gotejando de sua adaga lentamente mancha o cenário em carmesim.

Menou não sabe onde está—ou nem quando. Sua noção de tempo está toda perdida em um confuso emaranhado.

Sem rumo, Menou começa a vagar pela terra branca.

Ela não tem um destino, nenhuma noção de direção, e nenhum ponto de referência para seguir. Ela simplesmente continua colocando um pé à frente do outro. Não importa o quanto ela caminhe, não há nada além de neve ao seu redor. Seus pés afundam com cada passo, tornando o progresso cada vez mais difícil. Ela não consegue ver nada além de uma infindável branquidão. Ela estava indo na direção errada, ou nem sequer deveria estar andando? Menou não tem mais noção do que é certo ou errado, mas ela continua.

Por quanto tempo ela deve ter andado?

Eventualmente, ela vira para trás e olha para a sua trilha.

Em meio ao cenário branco, a rota que ela tomou sozinha estava tingida de vermelho do líquido derramando de sua adaga.

“……”

Olhando para a sua trilha manchada de vermelho, Menou é sobrecarregada pela terrível noção de vazio.

Talvez eu devesse morrer.

O pensamento veio naturalmente.

Não é como se ela nunca tivesse se perguntado se tinha ou não escolhido o caminho errado, como sua Mestra havia dito.

Embora ela tivesse declarado que se tornaria uma vilã, ela é incapaz de se desassociar de tudo. Ela se gabou de que sujaria suas mãos pelo bem de outras pessoas, porém ela ainda ansiava ser uma sacerdotisa pura, justa e forte.

E continuou a matar pessoas.

Recordando-se de sua vida perpetuamente contraditória, Menou lentamente levanta a ponta de sua adaga para o seu pescoço.

Ela foi engolida pelo Tempo, caminhando em seu próprio mundo interior em um estado estranho e suspenso. Ela continuou andando e andando, mas no fim, ela não consegue encontrar.

Ela não consegue encontrar a cidade onde ela nasceu.

Os pais e amigos que ela certamente deve ter tido estavam todos enterrados em um branco infinito. Até a trilha que ela percorreu sobre eles estava tingida com um vermelho escuro.

Se isso era tudo que havia, então Menou achou que talvez seu nascimento nem tenha valido algo.

Uma vez a cada lua azul, Menou tem um certo sonho.

O sonho se passa em alguma sala de aula no Japão em uma escola que ela nunca foi.

Todos usam uniformes diferentes. Tem estudantes com jaquetas, blazers, uniformes de marinheiro… Apesar das suas vestimentas estarem em discordância, por algum motivo, nada parece fora do lugar.

Quando ela entra na sala, todos param de conversar e olham em sua direção.

É um espaço quente—sem conflito algum. Ninguém está empunhando armas. Ao invés de estarem imersos em seus estudos, todos estão livres para passar o tempo da maneira que preferirem.

Quando ela os cumprimenta, eles a recebem com sorrisos amigáveis, conversando sobre nada em particular.

Ela é amiga de todos na sala, e entre eles está sua melhor amiga.

Elas são muito íntimas. Não há segredos entre elas. Ver sua amiga alegre a deixa feliz. E quando ela está de bom humor, sua amiga também fica feliz. Elas se entendem porque ela sabia do passado trágico de sua amiga e a mesma tem ciência dos arrependimentos de sua colega.

Ela conversa com sua melhor amiga sobre nada em especial enquanto esperam a aula começar.

É um sonho ridículo, claro, e ela nunca poderia contar a ninguém sobre ele.

Mas quando ela matava alguém e tinha este sonho, na manhã seguinte, ela sempre se perguntava: Talvez se eu morrer, eu também possa ir para aquela sala de aula.

Menou estava prestes a cortar sua artéria carótida com a lâmina de sua adaga quando algo aconteceu.

“Está tudo bem.”

A mão de outra pessoa deteve a dela.

Ela olhou para cima confusa, e de algum modo, trocou olhares com Akari.

Sem Menou perceber, o mundo branco ao seu redor havia desaparecido. Reparando que agora ela estava em algum lugar completamente diferente, Menou olhou ao redor.

Elas estavam dentro de um edifício. Havia um quadro negro à frente decorado com rabiscos de giz, fileiras de carteiras desgastadas pelo uso prolongado, e a suave luz do pôr do sol iluminando através das janelas.

Menou nunca tinha visto este lugar antes. Mas por alguma razão, ele é incrivelmente nostálgico.

De pé em uma sala de aula japonesa, vestindo um uniforme de marinheira, Akari olha para Menou como se soubesse tudo sobre ela e gentilmente retira seus dedos da lâmina que estava apontada para sua própria garganta.

“Está tudo bem—não se preocupe. Não importa o que aconteça, não importa o que qualquer um diga ou faça, ou no Tempo que for…”

O tom sério de Akari é muito diferente da garota despreocupada que Menou conhecia, e ela fala com absoluta certeza.

Pegando a adaga de Menou e a jogando para o lado, Akari abraça Menou fortemente e murmura uma promessa em seu ouvido.

“Eu sempre serei sua melhor amiga, Menou.”

A lâmina faz barulho ao colidir com o chão.

*

Menou abre os olhos.

Sua consciência foi puxada de volta para a realidade. As rédeas de seu espírito, que haviam sido engolidas pelo Puro Conceito, retornaram.

E quase nenhum tempo se passou.

“… Certo.”

Ela fecha os olhos por apenas um segundo e os abre novamente.

Claro que ela não conseguia encontrar um lugar ao qual pertencesse no mundo dos sonhos. Ela perdeu sua cidade natal assim como suas memórias dela, mas ela ainda começou a caminhar. Seu eu mais jovem, no meio daquela terra branca de sal, olhou para sua Mestra de cabelo vermelho e tomou uma decisão.

Sua razão para viver, o lugar onde ela pertence—tudo estava bem em seus braços.

Ela é uma Executora, que existe somente para destruir entidades proibidas.

Akari perdeu a consciência, provavelmente porque alguém tocou sua alma. Menou aperta a garota inconsciente com força e sussurra silenciosamente em seu ouvido, apenas porque sabe que ela não pode escutá-la.

“Obrigada, Akari.”

Se livrando de suas incertezas, Menou foca seu olhar em Orwell.

A arcebispa já havia terminado de preparar sua conjuração de ataque, apontando seu cajado para Menou e Akari.

Orwell é uma herege que manchou suas mãos com o inconcebível com o propósito de escapar da velhice. Agora que ela extraiu o Puro Conceito de Akari, Menou lançou um ataque que serviria como uma morte apropriada para a mulher idosa que almejava a juventude.

Invocar [Envelhecimento]

Invocar [Cores vivas, tonalidades do paraíso, todas as matizes e sombras]

Menou usou o Puro Conceito de Akari para invocar uma conjuração e lançá-la diretamente contra Orwell.

Ao mesmo tempo, a arcebispa lançou seu próprio ataque com seu cajado.

É ofuscante e destrutivo. Apesar da arcebispa ter atacado depois, seu disparo colorido segue suavemente, drenando a tonalidade de tudo que toca e destruindo.

Mas o Puro Conceito de Tempo rejeita o Conceito das Cores Primárias.

Nem houve um momento para resistir—não havia concorrência alguma. A Luz Etérea puro-branco que foi disparada por Menou e Akari engoliu o ataque de Orwell completamente. Sem perder sequer uma fração de sua velocidade, o Puro Conceito acelerou em linha reta, atravessando a barreira da catedral, a qual estava protegendo a arcebispa.

A Luz Etérea que as duas produziram juntas acertou Orwell diretamente.

“Ah…”

O corpo de Orwell começou a envelhecer rapidamente. Sua pele já enrugada perdeu toda a umidade e começou a rachar, seus músculos se atrofiam em segundos, e suas pernas perderam as forças, a forçando a rastejar no chão.

“Aaaah…não… Eu estava tão peeerto…!”

Arrastando-se no chão, a velha agonizante ergue seu braço na direção de Menou.

“Eu não sou…como você. Eu não…matei ninguém…salvei tantos…então…eu devo viver… Eu mereço…”“Arcebispa Orwell.”

Enquanto a velha mulher está à beira da morte, Menou aponta sua adaga para a testa de Orwell quando seus olhos se encontram.

“Com toda essa sua ambição, com sua meta bem na frente de seus olhos… Por que você não usou sua escritura?”

“Ah…”

A escritura é a arma mais confiável de uma sacerdotisa.

Certamente, as pedras das Cores Primárias são uma arma formidável, mas se Orwell tivesse combinado isso com as conjurações versáteis possíveis através do meio de invocação, sem dúvida ela poderia ter encurralado Menou de forma que ela não conseguisse escapar.

Ela convocou demônios, criou anjos e controlou as cores primárias, mas do começo ao fim, Orwell não usou sua escritura em momento algum.

“Ah sim… Heh. De fato.”

De repente, a determinação obstinada desapareceu do rosto de Orwell.

“Eu pensei que tinha que deixá-la de lado, suponho. A princípio, eu aceitei a escritura porque queria ser o tipo de pessoa que ajuda as outras, entende? Mas em algum momento ao longo do caminho, isso se transformou em um gigantesco ego. Os clamores por salvação se agarram à mim e consumiram meu coração.”

Ela salvou muitas pessoas. Ela tentou manter sua fé como uma sacerdotisa, mas ela envelheceu e apodreceu, se tornando incapaz de suportar completamente o pesado fardo.

Em busca da verdade, a única pessoa que ela não pôde salvar foi a si mesma.

“Eu pensei que se abrisse mão de tudo que eu acreditava, tudo que fosse correto e belo, talvez eu pudesse encontrar uma maneira de viver. Eu esperava entender o significado da minha vida, algo que eu não conseguiria compreender em uma vida puramente justa… Diga-me, Srta. Menou.”

Parando de rastejar, Orwell ri uma última vez.

“Como sua vida é tão oposta à minha, talvez você saiba a resposta?”

“… Eu não sei.”

Menou não conseguiria entender.

Desde o início, ela nunca analisou seu estilo de vida.

Ela sempre e simplesmente matou pessoas pelo bem de outras.

Orwell sorriu tenuamente.

“Entendo. Bom, espero que você consiga encontrar o que eu não pude. Na verdade, tenho certeza de que irá, embora eu odeie admitir. Continue caminhando para que encontre-o algum dia…”

Enquanto ela lentamente, mas seguramente, perde sua energia vital, a arcebispa, que foi tão longe ao ponto de matar pessoas com o propósito de escapar da velhice, silenciosamente transmitiu suas últimas palavras para Menou.

“Você encontrará…o seu estilo de vida.”

Com essa benção final, Orwell dá seu último suspiro.

Tudo o que restou foi o corpo definhado de uma mulher idosa, vestida com um traje puro-branco de uma bispa.

Um pouco distante dali, Momo ficou sem forças para continuar socando o soldado em forma de anjo e desmaiou. Ela não parecia estar seriamente ferida. Após uma boa noite de descanso, ela deve ser capaz de se mover novamente sem problemas.

Acabou.

Ao confirmar que tudo havia terminado, Menou se inclina para trás e olha para o céu.

Elas estavam no subsolo, mas a luz vem até elas de cima.

A Luz Etérea da veia estral que protegeu Garm brilha pelo buraco que leva à superfície.

Misteriosamente, o feixe está centralizado diretamente no corpo da arcebispa.

“……”

Menou deu um passo para trás—se afastando da luz e mergulhando nas sombras.

Onde ela pertence.

Enquanto ela se mantém em pé na escuridão onde a luz não pode alcançar, ela oferece uma prece à falecida.



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