Volume 2

Capítulo 70: Ela tem medo mim. Me odeia

Si Yehan alternou seu olhar entre os itens da sacola e o caderno. Pelas anotações, cada palavra fora escrita com cuidado. Ele sentiu como se alguém tivesse perfurado um caco de vidro no seu coração.

O homem arrumou com cuidado cada um dos objetos no chão, um do lado do outro,  e depois ficou de pé, caminhando até a garota de forma rígida.

Enterrando ainda mais a cabeça nas pernas, a postura dela era de rejeição, como se estivesse se protegendo dos outros. Parecia que estava se trancando dentro do seu próprio mundo.

Na lateral do seu pescoço, tinha uma marca roxa bastante visível. Era de partir o coração. Aquela visão apenas o fez se sentir pior. O sujeito estendeu a mão para tocar no ombro da menina, mas quanto mais se aproximava, mais o corpo dela tremia.

Seus lábios finos se apertaram e ele deixou a palma pender no ar. Depois de vários minutos, conseguiu recolher o braço, e deu um passo para trás. Mudando a linha de visão, seus olhos se mantiveram firmes e sombrios, e inúmeras cenas começaram a passar na sua mente…

Ye Wanwan dizendo que havia mudado de ideia e que queria que eles fossem um casal normal; por isso, iria se esforçar para crescer como “melão doce”.

Ela concordando em encontrar a sua avó e se vestindo para agradar à matriarca, além de manter uma atitude comportada e escolher presentes. A Velha Madame tinha ficado bastante satisfeita em conhecê-la.

Sabendo da doença que ele sofria, e tendo escutado um pouco diretamente da madame, a jovem visitou o hospital, encontrado um médico experiente em insônia para que pudesse entender a sua condição, elaborado tantas anotações e comprado remédios…

“Ela só queria me entender e me aceitar… mas, no fim, o que ganhou foi… a minha fúria inexplicável, um tratamento cruel e uma lesão sem justificativa…”

“Ela tem medo de mim. Me odeia…”

“Como não teria medo? Por que não me odiaria? Até eu me odeio.” 

A luz dos olhos dele completamente se apagaram. A atmosfera ao redor do seu corpo foi ficando cada vez mais fria e assustadora, um senso de opressão terrível tomava o ambiente.

A figura na cama não demorou a perceber o quão sufocante o lugar estava ficando. Naquele ponto, seu corpo todo tremia, e ela se encolheu ainda mais. Encarando o par de olhos negros, estava cheia de horror e desespero. Como em transe, começou a murmurar: 

— Desculpe… me desculpe… eu estava errada… Sei o que fiz de errado… sou a errada…

Vendo-a admitir seus pecados de forma tão traumatizada, o coração de Si Yehan sentiu como se estivesse sendo esmagado por uma garra de ferro gigante, e sangue estivesse escorrendo da ferida.

Apertando ainda mais os punhos, ele tentou se aproximar novamente. Enfrentando os olhos aterrorizados, com cuidado excessivo e da forma mais lenta que conseguiu, a trouxe para o seu abraço, respondendo com um fio de voz rouca: 

— Wanwan… você não fez nada de errado… quem está errado sou eu… Sou eu quem devo pedir desculpas… interpretei mal as suas ações… pensei… que você tinha mentido para mim e ido se encontrar com o Gu Yueze…

Parecendo recuperar os sentidos, ela começou a balançar a cabeça sem parar, negando as suas palavras. Com dificuldade e gaguejando, tentou explicar a verdade: — E-eu não… n-não menti… Fui procurar u-um m-médico… você não consegue d-dormir…

Os braços dele envolveram-na com mais força.

— Sim… eu sei… agora sei o que você fez por mim…

No instante que a sua fala terminou, as lágrimas da jovem começaram a cair como largas gotas de chuva durante uma tempestade. Todo o choro que estava suprimindo até o momento foi liberado, deixando um rastro quente no peito dele através da roupa.

— Eu não… não menti pra você… — Se engasgando com os soluços, ela chorava copiosamente. O som da sua mágoa e tristeza poderia fazer qualquer um sentir como se espadas estivesse furando todo o seu corpo.

— Me perdoa…



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