Volume 2

Capítulo 58: Dormindo

“Não deve ser isso…” Ye Wanwan pensou. “Bem, não importa o que tem de errado com ele. Não é tão ruim assim segurar a sua mão, ao menos, assim, não vou acabar ficando pra trás.”

A jovem não queria ter que voltar para dentro e dizer a todos que tinha se perdido nessa mansão tão grande. Seria bastante vergonhoso. 

Depois de fechar os dedos em torno da palma da namorada, o homem abrandou o ritmo, mas não fez qualquer comentário. Apenas continuou o passeio nos arredores da casa ancestral. 

Quando eles estavam prestes a dar uma segunda volta no jardim, Ye Wanwan não aguentava mais. 

— Si Yehan, minhas pernas estão doendo. Por que não sentamos ali um pouco?

Ele abaixou a cabeça para vê-la e parecia não ter a menor intenção de parar, mas, no fim, a levou para um banco de madeira, para que sentassem lado a lado. Suspirando de alívio, a mulher esticou os braços se alongando e murmurou:

— A vovó é muito gentil, eu estava preocupada que ela pudesse acabar não gostando de mim.

Por um breve momento, o sujeito olhou para a sua mão, que tinha ficado vazia, antes de voltar a sua atenção para a namorada. 

— Improvável. — disse.

Na verdade, Ye Wanwan sabia que a razão do afeto que a senhora tinha por ela era, simplesmente, por causa de Si Yehan, e não das suas boas maneiras e conduta. Como dizem: é preciso amar o corvo que vem com a casa*.

Desde que ela não repetisse os erros da vida anterior, ou não causasse nenhum problema excessivo, tudo iria correr bem. Mas, é claro, não custava nada causar uma boa impressão. 

Ah, a propósito, por que a sua avó te chama de “pequeno nono”, e os outros de "nono jovem mestre”? — perguntou, curiosa. Até onde sabia, ele só tinha um único irmão mais velho. Então, o correto seria chamá-lo de “segundo”.

Encostando-se no assento, os olhos profundos e sombrios refletiam as estrelas dispersas acima. Depois de um tempo, o demônio respondeu: — Quando eu era pequeno, ficava doente com frequência, porque meu corpo era fraco. Me chamar de nono é um método antigo de evitar desastres. 

Ye Wanwan finalmente entendeu. 

 — Sei… Acho que já ouvi dizer que, na sua família, ninguém pode te chamar de “segundo jovem mestre”, apenas de nono, para que Yama* seja enganado ao tentar levar a sua alma. 

— Isso. — Si Yehan concordou. 

— Superstição ou não, parece estar funcionando.

Si Yehan não tinha apenas sobrevivido, mas se transformou em algo que causava medo nos vivos e mortos. Como se fosse a própria reencarnação do senhor do inferno.

Quando era pequeno, foi emboscado junto ao pai, e o mais velho acabou sendo morto, enquanto a criança sobreviveu ao desastre, mesmo tendo sido ferida. Depois disso, o seu corpo começou a adoecer cada vez mais.

Se considerar as dificuldades que Si Yehan passou para preservar a vida desde uma tenra idade, e como agora vinha definhando por causa da insônia, não era de se estranhar o amor incondicional que a Velha Madame tinha por ele.

A atmosfera entre eles estava tão calma, que Ye Wanwan acabou fazendo uma pergunta taboo*

— Si Yehan, por que é tão difícil pra você dormir?

Ela aguardou uma resposta, mas essa nunca chegou, mesmo depois de vários minutos. Isso a fez pensar que talvez tivesse tocado em algo que não devia, mas, antes que pudesse mudar de assunto, sentiu algo pesado cair no seu ombro.

Virando a cabeça, Ye Wanwan viu que o grande demônio tinha se apoiado no seu pescoço. Ambos os seus olhos estavam fechados, e a sua respiração era profunda e estável.

“Ele…. dormiu….”

Eh… — O rosto dela ficou carrancudo em um instante. A sua pergunta de antes parecia patética agora.

Ele parecia estar profundamente adormecido Por isso, a garota não se atreveu a se mover. A escolha mais sábia era ficar parada. 

“A noite tá fria… se ele ficar dormindo aqui, pode acabar pegando um resfriado…” 

Ansiosa com seus próprios pensamentos, Ye Wanwan não percebeu as duas pessoas observando-os à distância. Como não tinham voltado mesmo tendo se passado bastante tempo, a matriarca chamou o velho mordomo para irem procurá-los.

De longe, ela pôde ver as crianças sentadas juntas no banco. Aquela visão a deixou chocada, ainda mais quando viu o seu neto de olhos fechados deitado em cima da mulher, como se estivesse dormindo. 

“Isso…. como isso é possível?!”



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