A Era Desolada Chinesa

Tradução: Themis


Livro 2

Capítulo 1: Entrando na cidade

Em uma área conectada, cercada por cercas com mais de seis metros de altura e pontas afiadas que impediriam as avalanches de monstros, havia casas de pedra e madeira, com um grande número de pessoas vestidas de pele vivendo as suas vidas.

Era uma tribo comum, com vários milhares de habitantes.

— Meu filho foi capturado por aqui. — O homem vestido de preto andou pela floresta montanhosa, se aproximando do grande portão da tribo. — E essa é a vila mais próxima de onde ele foi levado.

— Alto!

O portão principal foi fechado. Em cada lado dele, havia uma torre de arqueiros, com cada uma tendo cinco poderosos homens vestidos de bestas. Todos tinham os arcos preparados e prontos para atirar, mirando o homem de preto que se aproximava.

— Estranho, diga as suas intenções! — berrou um guerreiro do topo da torre.

O homem de preto olhou de lado, como se o outro fosse apenas uma formiga. Os seus passos não pararam, e ele continuou rumo ao portão.

Os dez guerreiros ficaram com raiva.

— Matem ele! — Em um instante, dez arcos atiraram as suas flechas.

Uma atrás da outra, gritaram pelo ar na direção do homem que se aproximava, cada uma com força suficiente para derrubar grandes árvores e quebrar certas pedras. Mas, quando chegaram perto do alvo, as suas pontas quebraram e se desintegraram.

O homem continuou em frente.

— Isso não é bom… — Os guerreiros nas torres se alarmaram. Um deles pegou um berrante e tocou com todas as suas forças.

O som profundo do chifre era penetrante. Ele se espalhou pela tribo, e todos pegaram as suas armas e se reuniram. Para sobreviver nesse mundo, não importava o gênero ou a idade: todos tinham que agir como guerreiros endurecidos pela batalha.

Depois que os membros da tribo se reuniram, deram o seu grito de guerra e correram para o portão. 

Nesse momento, o resistente portão de madeira de ferro explodiu, transformando-se em inúmeras lascas que se espalharam pelo ar. Cada uma delas era mais aterrorizante que as flechas dos arqueiros locais. Vários dos guerreiros mais próximos foram feridos ou mortos pelo impacto.

Sangue manchou o chão, mas os membros da tribo não se assustaram. Apenas seguiram em frente ainda mais furiosos.

— Alto! — Um grito soou.

Um velho de cabeça branca vestido com pele de besta se transformou em um borrão e se aproximou da área limpa em frente a onde ficava o portão. Os guerreiros da tribo pararam ao ver o recém-chegado. Era o líder da tribo.

— Poderoso herói, se me permite a pergunta, o que pode a nossa tribo Lâmina de Ouro fazer por ti? — O homem se curvou com respeito. Alguém capaz de explodir o portão só de liberar a sua energia interna era, sem dúvidas, uma forma de vida Xiantian. Esse tipo de ser era venerado até mesmo entre os supremos locais, como o clã Ji.

Nesse momento, o homem de preto diminuiu o passo.

— Uma pergunta. — falou, olhando para o de cabeça branca. — Houve relatos de monstros serpente na área recentemente?

— Monstros serpente? — O ancião fez uma pausa antes de continuar. — Sim. Esses dias apareceu um desses por aí. Várias tribos pequenas foram dizimadas por ele. Na semana seguinte, avisaram o clã Ji, que mandou os cavaleiros de armadura preta para lidar com o monstro.

O homem de preto semicerrou os olhos, que brilharam com uma luz fria.

O clã Ji estava, de fato, envolvido.

Eles eram uma organização poderosa na área. Mesmo um monstro antigo como ele não gostaria de incomodá-los. A suspeita de que o seu filho, Redtip, tinha sido capturado por eles se confirmou.

— Morto ou capturado? — perguntou.

— Pego com vida. — respondeu o velho. — O clã Ji mandou os seus homens, que capturaram o monstro e voltaram. É provável que estejam na cidade da Prefeitura Ocidental.

— Cidade da Prefeitura Ocidental? — Traços de chamas passaram pelos olhos do homem de preto. Chamas de ódio.

Essa cidade, para feromonstros, era o local mais perigoso possível.

Era onde os especialistas do clã Ji se reuniam. Feromonstros não ousavam ir até lá. Se o seu filho estava ali, a chance de conseguir resgatá-lo e voltar com vida era mínima.

— Humano. — Encarou, com a voz fria. — Você sabe quem eu sou?

Quando o ancião ouviu a palavra “humano” sair da boca do homem, a sua face mudou.

Monstro!

Um terrível feromonstro que podia assumir a forma humana!

A temperatura caiu de repente, e uma vasta camada de gelo começou a se formar e flocos de neve a cair. A temperatura baixíssima começou a se espalhar e os guerreiros mais próximos foram transformados em estátuas de gelo antes de se partirem em pedaços.

— Rápido, vão! — O cabelo e as sobrancelhas do ancião tinham uma camada de gelo

Os da tribo começaram a rugir: — Um feromonstro! Recuar, recuar!

Todos rangeram os dentes, engolindo dor e raiva, enquanto evacuavam. Vários outros gritaram heroicamente enquanto avançavam contra o homem de preto como demônios enlouquecidos, mas se tornaram estátuas de gelo quando chegaram perto dele.

A energia interna do velho estava lutando com valentia. Ele uivou para o inimigo: — Vo-você ousa provocar o poderoso clã Ji?

— Provocar? — O cabelo preto como piche do homem voou no ar. Os seus olhos emitiram um brilho vermelho escarlate. — O monstro serpente era o meu filho. O meu mais amado filho. Não vou apenas provocar eles, vou invadir a Prefeitura Ocidental!

Um urro com fúria suficiente para balançar o mundo soou.

Ele se transformou em uma enorme serpente preta enrolada em si, flutuando no ar. As enormes asas escamadas da criatura cobriram o sol dos membros da tribo. Eles, que tinham se espalhado para todas as direções, ergueram as cabeças e viram a imagem aterrorizante, sendo preenchidos pelo mais puro horror.

— É a Serpente Alada!

— É o feromenstro do Lago da Serpente Alada!

Nem mesmo um dos guerreiros da tribo pensaram em se defender. Desde que nasceram ouviam lendas sobre essa criatura, então sabiam o quão aterrorizante era. Não tinha como a tribo Lâmina de Ouro vencer esse tipo de feromonstro.

— Morram! Todos devem morrer!

A enorme serpente alada envolveu a área com as suas asas imensas, e com a sede de sangue nos seus olhos. De repente, abriu a sua bocarra e soltou o ar. Um infinito e congelante ar negro surgiu, tão forte que o chão foi revirado e algumas das casas de pedra caíram. Logo, a massa de vento negro cobriu um raio de dez quilômetros ao redor do ponto de partida.

Os membros da tribo seguraram as suas gargantas enquanto os seus corpos ficavam pretos como piche.

— Não! — Uma mãe segurou a sua prole, com lágrimas escorrendo como rios dos seus olhos.

Um guerreiro poderoso, já no pico do poder em energia interna, parou a própria respiração, mas o gás venenoso penetrou pela sua pele. Em seus últimos suspiros, gritou: — Feromonstro, o clã Ji nos vingará!

Em poucos instantes, o território da tribo Lâmina de Ouro se tornou uma terra desolada e silenciosa. Todos os membros da tribo se tornaram estátuas de gelo, foram quebrados em pedaços ou morreram envenenados. Toda a área se tornou um cemitério a céu aberto. Mesmo as criaturas venenosas foram envenenadas.

A enorme Serpente Alada bateu as asas com gentileza e encarou o solo. Depois de confirmar que não havia mais vida por ali, desapareceu pelo céu, em alta velocidade.

 

***

 

A noite chegou. Uma brisa fria passou. A distante e enorme cidade da Prefeitura Ocidental surgiu no horizonte.

Uma sombra preta passou pelas paredes com facilidade, evitando as patrulhas e entrando na cidade sorrateiramente.

— Meu filho, onde está você? — O homem de preto começou a procurar pela cidade.

Era a sua primeira vez ali. Depois de procurar por um bom tempo, descobriu, para sua dor, que — Os monstros que são capturados vivos são levados para a cidade interna, onde o clã Ji vive. É um lugar muito bem guardado, tantos seres Xiantian vivem lá… Não vou conseguir invadir lá sem ser visto.

Entrar na cidade foi até que fácil. Mas na cidade interna?

Era o lugar mais seguro, onde o clã Ji vivia. Como seria a segurança de um lugar desses?

Um momento depois, a Serpente Alada voou pelo ar acima da cidade da Prefeitura Ocidental enquanto usava uma habilidade natural para controlar água, formando neblina e nuvens com a umidade do ar. A névoa cercou a área, e ele olhou para baixo, assistindo todos os lugares em segredo.

Passada a meia noite, Ning estava sozinho no Castelo do Dragão. Era dia da sua batalha na jaula, que acontecia a cada três dias.

— Jovem mestre.

Os cavaleiros de armadura preta e alguns servos do Castelo mostravam grande respeito por ele. Afinal, o seu pai era o maior especialista do clã. Além disso, o próprio Ning era muito talentoso, fazendo com que muitos acreditassem que ele seria o próximo Senhor da prefeitura, posição extremamente exaltada.

— Prepare o monstro mais formidável. — riu Ning.

Um velho de um braço só falou em tom alto: — Um monstro poderoso chegou aqui esses dias, trazido pelo comandante Blindfish. Tem a linhagem dos deuses ímpios.

— Um monstro de linhagem? — Um traço de deleite passou pelo rosto de Ning. — Excelente. Hoje vou me divertir. Vão, coloquem ele na jaula.

— Certo. — O homem de um braço foi fazer os preparativos.

O castelo do dragão era dividido na jaula e nos túneis das bestas. Naturalmente, os túneis das bestas eram onde os monstros viviam em cativeiro.

A gigantesca serpente vermelha envolta em correntes soltou um urro terrível ao ver o humano na gigantesca jaula do lado de fora.

— Pode gritar — cuspiu o homem de um braço só. — Você comeu tantos humanos. Hoje é o dia da sua morte. Vá. Abra a porta e solte as correntes, deixe essa coisa entrar na jaula.

— Sim, senhor.

Os servos alocados na área para cuidar dos monstros fizeram os preparativos.

Depois de abrirem o portão entre a gaiola e o túnel das bestas, uma luz fraca, mas brilhante, pôde ser vista ao longe. A gigante cobra vermelha deu um olhar e ameaçou soltar um rugido.

— Soltem as correntes. — ordenou o homem de um braço só.

As amarras caíram uma a uma. Sentindo as camadas de correntes diminuirem, a criatura não pôde deixar de se contorcer, fazendo os grilhões baterem uns nos outros. Depois da última peça cair, o barulho de metal soou pelo lugar.

A serpente olhou com frieza para o ancião de um braço antes de avançar em alta velocidade pelo túnel até a abertura. Em um instante, chegou na gaiola exterior.

Dentro da gaiola, um jovem homem de lábios vermelhos e dentes brancos o encarava à distância. Saliva começou a pingar da bocarra da besta. Dada a sua vasta experiência em devorar humanos, ele soube… que a carne desse tipo de jovem humano era a mais tenra e deliciosa de todas.



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