Volume 3
Epílogo
“Você tem muita coragem para prender uma policial.”
A bochecha direita de Fuubi estava vermelha e inchada. Um de seus pulsos estava algemado, e a outra algema presa a um dos postes da mureta de proteção. Eu tinha a impressão de que ela não tentaria resistir nesse ponto... mas, só por precaução, tomei essa medida.
“Ainda assim, não consigo acreditar que você realmente engoliu aquela semente.” Fuubi olhou para mim, com uma expressão de genuína desaprovação.
A semente do Camaleão concedia a habilidade de se tornar invisível. Depois de ter levado aquele primeiro golpe pesado de Fuubi, usei a habilidade para desaparecer do campo de batalha.
“Você vai morrer.” Fuubi me observava com os olhos semicerrados.
“Sim, eu sei.”
Como não tomei nenhuma precaução, já sabia que estava assumindo esse risco. Por isso, só recorri a esse plano quando não havia mais outra escolha.
A semente foi um presente de Scarlet, entregue a mim na casa de SIESTA. Ele a havia extraído do corpo do Camaleão quando o ressuscitou temporariamente.
“Bem, se meu corpo quebrar, que quebre.” Eu poderia perder a visão, como aconteceu com o Bat. Isso poderia até encurtar minha vida... Mas:
“Eu nunca fui mais do que a sombra dela, então essa habilidade combina perfeitamente comigo.” Continuaria sendo alguém dos bastidores, um assistente de alguém.
“É mesmo? Então vá logo até ela.” Fuubi fez um gesto com o queixo, indicando SIESTA.
SIESTA estava deitada ao lado da estrada, cercada por Natsunagi e as outras. Charlie havia prestado os primeiros socorros, mas SIESTA tinha sido baleada no lado esquerdo do peito. A responsável por isso era justamente Fuubi, e ainda assim, ela me mandava ir até ela.
“Você continua sendo a senhorita Fuubi, afinal.”
“Do que está falando? Eu sou sua inimiga.”
“...Claro.”
Havia várias perguntas que eu queria fazer, mas virei as costas sem dizer nenhuma delas.
Primeiramente: Siesta, a detetive número um, era quem liderava a missão de subjugar a SPES. Por que, então, a senhorita Fuubi resolveu continuar esse trabalho após a morte dela, mesmo ocupando outro cargo?
E outra coisa: o fato de SIESTA existir. Disseram que o corpo de Siesta foi congelado para evitar a decomposição, e depois equipado com uma inteligência artificial para ser ressuscitado como uma boneca mecânica. Quem agiu tão rápido?
Se a pessoa envolvida não queria falar sobre isso, eu não podia perguntar.
Se ela não podia dizer, eu precisava respeitar isso.
De costas para a senhorita Fuubi, fui até SIESTA.
Os olhos de SIESTA estavam fechados. Natsunagi e as outras duas a vigiavam com atenção.
“Senhora...” Charlie ajoelhou-se e segurou a mão de SIESTA.
Como se respondesse ao gesto, os olhos dela se abriram levemente.
“...Como eu disse, Charlotte, eu não sou ela.”
“...!” Charlotte se assustou, e o robô apertou sua mão com delicadeza.
“SIESTA!”
“Você está bem?!”
Saikawa e Natsunagi chamaram apressadas. SIESTA olhou para elas e….
“Heh-heh.” Ela sorriu, os ombros tremendo levemente.
“Sinceramente. Vocês continuam tão barulhentas como sempre.” Lentamente, com a ajuda de Charlie, SIESTA se sentou.
“Não dá para tirar uma boa soneca com vocês desse jeito.” Ela fez uma piada especial, o tipo de comentário que só ela podia fazer.
“SIESTA, você está mesmo bem?” Tentei verificar seu ferimento, mas SIESTA balançou a cabeça.
“Cumpri minha missão mais do que o suficiente”, disse ela, com um sorriso suave.
“O que você quer dizer?” Charlie a olhou com incerteza.
“Eu sou apenas um programa que a Srta. Siesta criou para ajudá-la a concluir seus assuntos pendentes.”
“Assuntos pendentes da senhora?” Charlie inclinou a cabeça, sem entender do que se tratava.
“Isso mesmo. O legado da Srta. Siesta foi ter deixado vocês quatro, Kimihiko Kimizuka, Nagisa Natsunagi, Yui Saikawa e Charlotte Arisaka Anderson neste mundo. No entanto, cada um de vocês ainda tinha desafios a superar.”
Desafios deixados para nós quatro. De fato, nos últimos dias, parecia que enfrentamos uma quantidade insana de problemas.
“Nagisa Natsunagi precisava descobrir quem realmente era e encarar seu passado. Yui Saikawa precisava aceitar a verdade sobre a morte dos pais e decidir como viver a vida. Charlotte Arisaka Anderson precisava se libertar do encantamento de sua missão e encontrar sua própria vontade. E Kimihiko Kimizuka….”
Após encarar os outros um por um, SIESTA voltou o olhar para mim.
“Você precisava seguir em frente depois da Srta. Siesta.”
Ela apontou com precisão algo que eu fingia não perceber.
“A única preocupação da Srta. Siesta, o que verdadeiramente a afligia, era a dúvida se vocês conseguiriam resolver esses problemas pesados e dolorosos. Por isso ela me criou.”
“...Então esse foi, no sentido mais verdadeiro, o último trabalho da Siesta”, murmurei.
SIESTA assentiu em silêncio.
“Afinal, o trabalho dela era proteger os interesses do cliente. Proteger seus companheiros.” Ela citou uma frase que a detetive sempre dizia.
“Essencialmente, eu era uma criada que a ajudava nessa tarefa.”
“Então eu estava certo? Os problemas que apareceram nos últimos dias foram todos...”
“Sim. Foram tarefas para ajudar os quatro a superar os conflitos que carregavam.” SIESTA sorriu como uma criança que acabou de pregar uma peça bem-sucedida.
Ela havia encorajado Natsunagi a conversar com Hel, abrindo o caminho para que ela se tornasse a detetive número um.
Tinha forçado Saikawa a encarar uma verdade dolorosa, mas me fez permanecer ao lado dela como amigo.
Bloqueou o caminho de Charlotte como uma muralha, mas a ajudou a encontrar algo realmente importante.
E me fez ajudar as outras três a resolverem seus próprios problemas, para que eu pudesse, no fim, acompanhar alguém que não fosse Siesta como assistente.
Era como se ela tivesse previsto não só o que faríamos, mas também o que Seed, Scarlet e Fuubi fariam. Mais do que isso, parecia que os usou para nos ajudar a crescer.
Normalmente, isso seria algo impossível de se realizar.
“Detetives de primeira classe resolvem os casos antes mesmo que eles comecem, sabia?” Mais uma das frases de efeito da detetive número um. SIESTA sorriu, como se estivesse um tanto orgulhosa de si mesma.
“E assim, meu papel chegou ao fim”, disse ela com um certo alívio.
“Mas... ainda não...” Charlie não tinha dito tudo o que queria a SIESTA, e não estava disposta a deixá-la simplesmente adormecer.
“Não, aqui é o fim.” SIESTA apertou gentilmente sua mão e falou com doçura.
“Concluí todas as minhas tarefas. A Srta. Siesta não tem mais arrependimentos. Vocês quatro conseguirão seguir em frente e florescer. Portanto” ela disse….
“sorriam e se despeçam de mim.”
SIESTA sorriu para nós. Seu rosto agora trazia uma expressão muito mais serena e rica do que quando a conhecemos.
“Entendi...” Respondi brevemente.
Esse tinha sido o último trabalho de Siesta: nos ajudar, a herança que ela deixou para superar os obstáculos que ainda nos prendiam.
Para Natsunagi, o passado.
Para Saikawa, a verdade.
Para Charlie, sua missão.
E para mim, os mortos.
Todos nós enfrentamos esses desafios, e agora, finalmente nos formamos. Do passado. Da verdade. Da missão. Da morte.
E SIESTA, que nos ajudou a alcançar isso, também havia cumprido seu papel.
Isso queria dizer que talvez fosse justo chamar isso de um final feliz para todos nós:
Natsunagi, Saikawa, Charlie, eu... e SIESTA.
Cada um de nós conseguiu realizar algo que precisava. E, por isso, este era um lugar bonito para encerrar a história. Tinha que ser.
Agora, assim que SIESTA se despedisse de cada um de nós, chegaríamos ao emocionante clímax.
Nesse momento, enquanto as outras três fungavam, perguntei...
“Se for assim... a Siesta teve um final feliz?” Como eu disse antes: Ainda é cedo para um epílogo.
O DIÁLOGO DAS GAROTAS
Aconteceu cerca de dez dias atrás. No cassino em ruínas do cruzeiro afundando, depois da batalha contra o Camaleão...
“Perdoe a demora,” falei às costas da garota. Seus ombros se contraíram.
“...É você, hm?” A garota de cabelos pretos virou-se para me encarar. Parte de seu cabelo estava preso de lado com uma fita vermelha. Ela estava sentada no chão, e um garoto de terno dormia com a cabeça em seu colo.
“Faz muito tempo, Senhorita Siesta.” Ela já não tinha mais a mesma aparência, por certas circunstâncias, mas ainda assim esta era a mestre que me criou.
“A propósito, o que estava prestes a fazer agora há pouco?”
“O que quer dizer?”
“Pareceu que estava se inclinando em direção ao rosto daquele garoto.”
“...Não sei do que está falando.”
“A Nagisa vai ficar brava com você.”
“Olha, eu já disse que não sei do que você está falando.” Minha senhora é simplesmente adorável.
“Mesmo assim, isso é estranho. Estou bem aqui, diante de mim mesma.” Transferindo cuidadosamente o garoto para o chão, a Senhorita Siesta se levantou e me observou atentamente.
Para dizer a verdade, atualmente tenho exatamente o mesmo rosto da verdadeira Senhorita Siesta. Sou uma androide viva que tomou emprestado o corpo dela.
“Esse uniforme de empregada ficou bem em você. Tenho certeza de que o meu assistente se apaixonaria à primeira vista.”
“? Isso não é algo que eu particularmente deseje. Senhorita Siesta, poderia ser que você quer….”
“Agora, sobre o motivo de eu ter chamado você aqui hoje.” Sim, minha senhora é realmente adorável.
“Tenho mais um pedido a respeito do plano que discutimos.” Então a Senhorita Siesta me contou por que me convocou.
Era um certo programa que ela havia deixado para trás. Um plano para transplantar parte de suas memórias e habilidades em mim, e então desenvolver ainda mais as quatro pessoas que levariam adiante sua última vontade.
“Só houve uma pequena mudança. Gostaria de acrescentar isto.” A Senhorita Siesta estendeu um chip de memória para mim.
“São dados sobre um erro que cometi uma vez.”
“...? É raro você cometer erros, Senhorita Siesta.”
“...Você tem razão. Aparentemente, eu realmente não era muito boa em compreender emoções humanas.” A Senhorita Siesta sorriu de forma melancólica. “Portanto, quanto aos detalhes, gostaria que você instalasse isso e examinasse o conteúdo. Há novas instruções ali também.”
“Entendido, Senhorita.” Era assim que a Senhorita Siesta agia. Nunca contava tudo de uma vez. Eu analisaria tudo com calma mais tarde.
“Agora meu trabalho terminou de verdade, não é?” Enquanto murmurava isso, seu rosto parecia, de algum modo, iluminado. Sentou-se novamente onde estava e passou a fitar o rosto adormecido do garoto.
Sim, este era o trabalho final da Senhorita Siesta, o único fardo que ainda restava: vigiar e orientar os quatro que eram seu legado. Ela havia confiado essa missão a mim, e agora podia finalmente adormecer de vez.
Olhei para ela. Ela havia cumprido tudo, sua expressão estava tranquila, e….
“Senhorita Siesta, há pouco, você disse que não entendia as emoções humanas. Mas e as suas próprias? Você as entende?”
A Senhorita Siesta continuava olhando para o garoto. Seus ombros se contraíram outra vez.
“Você... Apenas... faça o que eu mandei.” Foi tudo o que disse. Falou sem se virar para mim.
“Muito bem.” Eu era apenas uma empregada, ali para ajudar e servir minha senhora. Fiz uma reverência, me virei e fui embora.
No entanto, por apenas um instante, um pensamento cruzou minha mente.
Se é dever de uma empregada desejar a felicidade de sua senhora... então o que exatamente devo fazer a partir de agora?
Traduzido por Moonlight Valley
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