Classroom of The Elite Japonesa

Tradução: slag

Revisão: slag


Volume 3

Epílogo: A Cortina se Abre

7 DE AGOSTO. Finalmente chegava ao fim nosso breve período na ilha desabitada. Nossa pequena sorte foi que não passamos o tempo lutando rigorosamente pela sobrevivência. Ao menos nos divertimos moderadamente? Ainda não havia nenhum sinal do Mashima-sensei ou dos outros, mesmo quando o teste terminou por volta do meio-dia.

— Estamos agora contabilizando os resultados do teste. Por favor, aguardem um momento. Sintam-se à vontade para usar a área de descanso, ou tomar uma bebida.

Após esse anúncio, os estudantes se reuniram e se dirigiram à área de descanso. Sob as tendas provisórias, haviam preparado mesas e cadeiras para nosso uso, para que pudéssemos ficar confortáveis. Não havia sinais de Koenji, Horikita ou de qualquer estudante aposentado esperando no navio de cruzeiro. Sudou, sempre junto com Ike e Yamauchi, olhou para o navio.

— Ayanokoji. Você se dá bem com a Horikita, não é? Quão próximos vocês realmente são?

Ao contrário do que parecia, Sudou não soava zangado ou irritado; parecia genuinamente curioso.

— Não há nada entre nós. Somos apenas amigos. Nada mais, nada menos.

— Mesmo isso me deixa com inveja. Eu ainda não sou amigo dela.

Sudou parecia um pouco frustrado.

— Mas a Horikita não te reconheceu um pouco desta vez?

Ele não causou problemas. Pelo contrário, agiu pelo bem da classe, tentando salvar a Horikita e tomando a iniciativa de pescar.

— Espero que sim. Afinal, ela ainda não me chamou pelo primeiro nome.

— Bom trabalho, vocês dois. Obrigado por tudo que fizeram nesta semana. Realmente nos salvaram

— Hirata apareceu com palavras de agradecimento. Ele me entregou um dos dois copos de papel que tinha. O copo esfriou minha mão. Ele entregou o outro a Sudou.

— Eu que deveria agradecer. Você me cobriu, o solitário da classe. Além disso, me cobriu por eu ter me atrasado na chamada e pelo fato de Horikita ter se aposentado.

— Não podia te culpar ao ouvir o motivo. Além disso, Horikita-san nos deu informações realmente importantes.

— Você acredita no que ela disse?

— Ela não é do tipo que fala irresponsavelmente. Por isso você se dá bem com ela, não é? — Esse cara protegeria um aliado mesmo que isso significasse arriscar sua própria reputação. — Seria mentira dizer que não havia risco, mas eu tinha que ajudar a Horikita-san.

Hirata acrescentou suavemente:

— É isso que amigos fazem.

Parecia haver um leve traço do sorriso que eu vi ontem. Sudou inclinou a cabeça confuso, como se não conseguisse entender do que estávamos falando.

— Espera, o que você disse? Do que está falando?

— Acho que você vai entender em breve. De qualquer forma, a Classe C é realmente estranha… Estão em outro nível.

Como a maioria dos estudantes da Classe C se aposentou no segundo dia do teste, não havia ninguém ali. Não vi sinal de Ibuki em lugar algum na praia de areia, como se ela também tivesse se aposentado. Vi uma cena bastante bizarra: Ryuen sozinho, o único estudante restante da Classe C.

— Por que ele…? Então Ryuen-kun não se aposentou?

Enquanto Hirata e eu tentávamos entender a situação, Ryuen se virou para nós, como se percebesse nossos olhares. Aproximou-se lentamente, como se estivesse pensando em algo. A tensão começou a aumentar.

— Oh, olá, bajuladores. O que aconteceu com a Suzune? — disse Ryuuen ao se aproximar, com um copo de papel na mão, ignorando completamente a presença de Hirata.

Assim que Sudou ouviu o nome "Suzune" sair da boca de Ryuen, as veias da sua testa se sobressaíram, e ele lançou um olhar fulminante para Ryuen.

— Eu sei que você está correndo atrás da Suzune. Já estivemos juntos antes, sabia? — Ryuuen, após esvaziar o copo de papel, amassou-o levemente e o jogou aos meus pés. — Joga isso fora pra mim.

Sudou pisou e chutou o copo com toda força.

— Que coisa idiota de se dizer. Hein? Vai catar seu próprio lixo, idiota.

— Mas catar lixo parece a tarefa perfeita para um lixo.

Ryuen não demonstrou nenhum sinal de se importar, ao contrário de Sudou, que parecia prestes a explodir.

— Calma, Sudou-kun. Aqui, eu jogo fora.

Enquanto Hirata apressadamente pegava o copo, Sudou estalou a língua e chutou a areia. Ryuen olhou para outro lado, como se estivéssemos entediando-o. Seu torso estava sujo, e suas calças e camisa cobertos de sujeira. Era um estado inimaginável para ele, já que havia resmungado sobre o quanto detestava trabalho pesado.

— Achei que você tinha se aposentado, Ryuen-kun.

— Quem é você? Mais importante, onde está a Suzune? Sempre sonhei em apertar sua bunda.

Era a segunda vez que ele dizia "Suzune". Junto com sua linguagem grosseira, era demais. Sudou se aproximou de Ryuen, agarrando-o pela gola.

— O que você está fazendo?

Ryuen não demonstrou agitação. Encarou o olhar intenso de Sudou com facilidade.

— Da próxima vez que você disser algo estúpido, eu vou te matar — rosnou Sudou.

— Hein? O que há com você? Todo animado sozinho, hein?

Punhos estavam prestes a voar, então Hirata interveio e puxou Sudou para longe de Ryuen.

— Horikita-san se aposentou ontem. Ela não está aqui.

— Aposentou? Suzune? Ela não parece esse tipo de garota.

— Isso é…

Nesse momento, ouvimos o clique de um megafone sendo ligado. Mashima-sensei apareceu na praia. Os alunos do primeiro ano rapidamente tentaram formar uma fila, mas Mashima-sensei acenou para que parassem.

— Está tudo bem. Não nos importamos se quiserem continuar relaxando. O teste já terminou. Agora entramos na parte de férias de verão da viagem, então está tudo bem se relaxarem.

Mesmo com essas palavras, a tensão entre os alunos naturalmente era alta. Todos pararam de conversar instantaneamente.

— Durante esta última semana, nós, seus professores, observamos de perto seus esforços neste teste especial. Houve estudantes que enfrentaram o desafio honestamente, de frente. Houve outros que elaboraram estratégias para lidar com o teste. Muitas coisas aconteceram, mas, no geral, os resultados foram excelentes. Bom trabalho.

Os estudantes pareciam aliviados por receberem um elogio tão direto de Mashima-sensei. Parecia que todos finalmente começavam a acreditar que o teste de uma semana realmente havia acabado.

— Bem, então, para ir direto ao ponto, gostaria de anunciar os resultados do teste especial.

Provavelmente não havia uma única pessoa, nem mesmo nossa própria professora titular, que tivesse visto os resultados do teste.

— Não aceitaremos nenhuma pergunta sobre os resultados, sem exceção. Queremos que aceitem os resultados que receberam, analisem-nos e os usem para se ajudar no próximo teste. É o que é. Não se desesperem por causa desses resultados. Vocês precisam aceitar a realidade, sabem?

— É isso que deveríamos estar dizendo a vocês, Classe C. Gastaram todos os seus pontos, não foi? Não nos façam rir.

Sudou zombou do comportamento imprudente da Classe C.

— Ainda temos 125 pontos restantes. Acho que estaremos bem — disse Hirata.

Falou com orgulho, provavelmente irritado com a provocação de Ryuen. Ryuen respondeu fazendo um gesto que parecia que ele estava vomitando.

— Ha. Tenho inveja da ousadia de vocês, peixes pequenos. Como conseguem se satisfazer com essa quantidade de pontos…

— Não importa o que você diga; a Classe C ainda vai continuar com zero pontos.

— Hehhehheh. Não se precipitem. É certo que gastamos 300 pontos. Porém, vocês esqueceram das regras adicionais deste teste?

— Então você vai expor o líder de uma classe?

— Isso mesmo. Eu escrevi no papel, não escrevi? O nome do líder da Classe D.

Hirata e eu tentamos não demonstrar emoção, mas Sudou parecia chocado.

— Além disso, os caras das Classes A e B escreveram a mesma coisa também. Sabem o que isso significa? — disse Ryuuen.

— Espere um minuto. Do que você está falando, hein?! Se você está dizendo a verdade, então…

Então a Classe D seria penalizada, e perderíamos 100 pontos. A voz de Mashima-sensei soou pelo megafone.

— Agora, vamos anunciar o ranking. A classe com menor pontuação é a… Classe C, com zero pontos.

— Bwahhahaha! Ei, vejam só! Vocês realmente têm zero pontos!

Quando Sudou ouviu os resultados, segurou o estômago de tanto rir, de forma zombeteira.

— Zero?

Ryuen parecia não entender a situação. Mashima-sensei continuou os anúncios de forma objetiva:

— Em terceiro lugar está a Classe A, com 120 pontos. Em segundo lugar, a Classe B, com 140 pontos.

Uma comoção se formou. Ninguém esperava o ranking ou a pontuação.

— E então, a Classe D… — Por um instante, os movimentos de Mashima-sensei ficaram rígidos. Porém, ele logo retomou a fala: — Ficou em primeiro lugar, com 225 pontos. Com isso, encerramos o anúncio.

Todos os estudantes da Classe D, exceto Hirata, provavelmente estavam mais confusos do que qualquer outra pessoa. Mesmo Hirata, que era o único a saber de tudo, ainda quase não conseguia acreditar. Ele exibia um sorriso exuberante.

— O que significa isso, Katsuragi?! — Vozes assim ecoavam de uma ponta à outra da área de descanso. Os alunos da Classe A cercaram Katsuragi.

— Algo está estranho… O que isso quer dizer? — murmurou ele.

— Yahoo! Conseguimos! Na sua cara!

Enquanto Sudou gritava de alegria, todos os estudantes da Classe D se reuniram.

— Ei, ei, ei, o que está acontecendo?! Ei, ei!!

Ike, cheio de excitação e confusão, pediu explicações a Hirata.

— Vou explicar tudo. Bem, Ryuen-kun, se nos permite.

Com essas últimas palavras, Hirata caminhou em direção ao barco junto com Ike e Sudou. Sudou levantou o dedo do meio enquanto mostrava a língua. Ryuen não pôde fazer nada além de observar em silêncio.

O exame havia acabado, e os estudantes do primeiro ano se dispersaram. O navio partiria em duas horas e, embora estivéssemos livres para brincar no mar, também podíamos subir a bordo. Eu entrei no navio.

— Olá, senhoras e senhores. Como foi a semana de vocês na ilha deserta? — Koenji, no convés do navio com uma bebida na mão, cumprimentou a Classe D.

— Seu idiota, Koenji! Perdemos trinta pontos por sua causa. Sabe do que estou falando, não é?

— Calma, Ike-boy. Eu estava com saúde frágil e precisava descansar. Não tive outra escolha.

Sua pele parecia lisa e brilhante, então era fácil perceber que ele passara a semana se bronzeando. Além disso, sua saúde aparentemente perfeita o fazia soar nada crível. Enquanto os garotos se juntavam para gritar com Koenji, Horikita apareceu. Ela ainda estava pálida, sem boa saúde. Os estudantes notaram sua presença e naturalmente se reuniram ao redor dela.

— S‑Suzune. Você está se sentindo melhor agora?

Sudou tropeçou um pouco nas palavras, mas aproximou‑se de Horikita e a chamou pelo primeiro nome, do jeito que havia ensaiado.

— Não estou tão mal. Não posso dizer que estou totalmente recuperada. Mais do que qualquer coisa, me aposentar foi um grande erro da minha parte.

— Não se preocupe com isso.

Horikita aceitou ser chamada pelo primeiro nome com certa naturalidade. Isso foi inesperado.

— A propósito, Sudou‑kun. Não saia por aí me chamando pelo primeiro nome sem permissão. Entendeu?

— S‑S‑Sim.

Ou talvez não. Sudou não conseguiu resistir; tudo o que pôde fazer foi acenar com a cabeça.

— Mas… o que aconteceu? Por que a Classe D ficou em primeiro?

A identidade do nosso líder havia sido exposta, então eu fiz Horikita se aposentar. Calculando, achei que isso nos deixaria perigosamente próximos de zero pontos.

— I‑Isso mesmo. O que aconteceu, Hirata?! Eu não entendo nada! —Karuizawa perguntou.

Antes que Hirata pudesse responder, algo precisava ser esclarecido.

— Bem, Karuizawa‑san, acho que você deveria falar com a Horikita‑san primeiro, não acha?

Karuizawa aproximou‑se de Horikita.

— Horikita‑san, tem um minuto? — perguntou.

— Sim. Há algo sobre o que devemos falar. Não é? — Horikita, vendo Karuizawa assentir, fechou os olhos. Ela pensava no furto de roupas íntimas e em como havia acusado Karuizawa de gastar pontos de forma egoísta, enquanto sua própria identidade como líder havia sido descoberta e ela se aposentara. Agora não teve alternativa senão engolir o orgulho.

— Sinto muito.

Karuizawa disse de forma direta, porém sincera.

— A Ibuki‑san roubou minhas roupas íntimas. Ayanokoji‑kun nos contou tudo.

— Hã?

Horikita estava pronta para receber insultos, por isso ficou surpresa ao ouvir um pedido de desculpas.

— Horikita‑san, quando você percebeu que a Ibuki‑san era a culpada, ela tentou fugir porque você a confrontou, certo? Foi por isso que você acabou desmaiando e adoecendo…

Horikita voltou‑se de repente para mim, chocada com as palavras de Karuizawa. Por algum motivo, senti‑me desconfortável e desviei o olhar.

— Soube primeiro pelo Hirata‑kun. Ele disse que você descobriu os líderes das Classes A e C. Por isso tivemos tantos pontos. Então, eu… desculpe por tudo que eu disse.

Karuizawa voltou imediatamente para as outras garotas.

— Espere um minuto. Eu… Você disse que eu descobri as identidades dos líderes? Mas eu me aposentei—

— Não precisa ser modesta, Horikita‑san. Vencemos porque suas respostas estavam absolutamente corretas.

Dúvidas pareciam rodopiar na cabeça de Horikita. Parecia que os misteriosos resultados do teste faziam sentido para todos, exceto para ela.

— Espera. Ayanokoji‑kun, o que você—

Horikita me chamou em meio à alegria e à confusão. No entanto, sendo a peça chave na nossa vitória, ela agora estava cercada por um grande número de colegas.

— Horikita‑san, você foi incrivelmente incrível! Você é mesmo um gênio, sabia?!

— Quando soube que você havia se aposentado, fiquei imaginando o que aconteceria, mas tudo deu certo!

— E‑Espera!

Ela foi bombardeada por perguntas de meninos e meninas. Juntei as mãos e rezei pela sua segurança enquanto me retirava. Ufa, fiquei realmente aliviado por como as coisas terminaram. Nossa classe ficou em primeiro lugar e a popularidade de Horikita aumentou. Considerando sua postura natural, ela provavelmente lidaria bem com isso. Para evitar me envolver na comemoração, fui para o meu quarto descansar. Ao me afastar, deparei‑me novamente com uma deusa da morte.

— Posso falar com você?

— Não sou muito sociável. Posso recusar, Chabashira‑sensei?

— Se realmente não quiser, posso começar a falar aqui mesmo. Você não se importa se ficarmos do lado de fora, não?

— Está quente, então seja breve.

Caminhei para o outro lado do navio, e Chabashira‑sensei tomou a dianteira. Encontramos um lugar sem pessoas por perto, completamente silencioso, antes de começar a conversar.

— Posso dizer que, por enquanto, você está satisfeita? — perguntei.

— Sim. Primeiro, quero dizer que você foi magnífico. Estou sinceramente impressionada.

— Então me diga uma coisa. É mesmo verdade? Ele exigiu que eu fosse expulso da escola? — Chabashira‑sensei encostou‑se no corrimão e olhou para o céu. — Você tem alguma base para dizer que a história é verdadeira?

— Eu sei bastante sobre você. Não seria esse o motivo, mais do que qualquer outra coisa? Outros professores não conhecem suas verdadeiras habilidades. Mas eu não tenho dúvidas.

Eu, certamente, tinha minhas incertezas. Era verdade que eu me destacara por causa do exame de admissão, mas aquilo não deveria ser algo que todos os professores soubessem. Ainda assim, a sequência dos acontecimentos era estranha. Chabashira‑sensei disse que aquele homem havia contatado a escola diretamente. Como esperado, aquela pessoa estava escondendo algo.

— Tenho certeza de que você já ouviu esse mito famoso: as asas de Ícaro.

— Por que traz isso à tona? — perguntei.

— Ícaro voou para fora da torre onde estava aprisionado para ganhar sua liberdade. Contudo, aquilo não foi alcançado apenas por suas próprias habilidades. Foi porque seu pai, Dédalo, construiu asas e lhe instruiu a voar. Ele não voou por intenção só dele. Não acha que isso soa exatamente como seu atual dilema?

— Não entendo.

— Aquele homem — não, seu pai — disse isto: "Mais cedo ou mais tarde, Kiyotaka buscará, de bom grado, o próprio caminho para sua expulsão da escola." Você está indo ao encontro do seu fim, tal como Ícaro, que caiu no mar e morreu depois que suas asas se queimaram por voar perto demais do sol.

As asas de Ícaro, hein?

— Então, o que você pretende fazer? — ela perguntou.

— Você deveria saber, Sensei. Ícaro não dará ouvidos aos avisos de Dédalo.

Mesmo tendo suas asas queimadas, Ícaro voou o mais alto que pôde em busca de sua liberdade.

*

 

Depois que voltei ao navio, fui direto para o meu quarto. Hirata, exausto, estava lá, dormindo de lado. Troquei de roupa em silêncio para não acordá-lo e saí para o corredor. Assim que liguei o celular, ele começou a vibrar sem parar. O histórico de chamadas estava cheio — todas de Horikita. Assustador. Por ora, limitei-me a responder alguns e-mails e relaxei no saguão enquanto esperava.

Ela provavelmente não ficaria convencida a menos que eu explicasse tudo. Pouco depois, uma Horikita bastante irritada apareceu diante de mim, emanando uma pressão silenciosa.

— O que significam esses resultados do teste? O que diabos aconteceu?

— Você parece não ter ideia alguma.

— Eu simplesmente não consigo imaginar. Não entendo nada. Tenho uma montanha de perguntas.

Horikita pediu uma bebida a um atendente. Eu comecei a falar:

— Vou te contar tudo. Mas tenho uma condição: você precisa guardar silêncio sobre isso. Não vou ceder nesse ponto.

Eu já havia presumido que chegaria a isso, considerando que Horikita não se aposentara por vontade própria. Essa história era apenas para os ouvidos dela.

— O que você quer saber?

— O que estava fazendo durante o teste? Conte-me — disse ela.

Era uma pergunta muito melhor do que eu esperava. Ela queria ouvir tudo de uma vez.

— Quando o teste especial foi anunciado, foquei apenas nas regras adicionais. Eu tinha uma noção geral de como administrar os 300 pontos, mas não era possível manipulá-los individualmente.

— Mas as regras adicionais eram realmente difíceis de entender. Se você agisse normalmente, não teria conseguido identificar os líderes, certo?

— Certo. Primeiro, me ofereci para participar da busca pelo acampamento base. Como podia me mover livremente, planejava encontrar os pontos antes de todo mundo.

— Você fala como se fosse simples, mas ninguém deveria saber onde ficavam esses pontos.

— Não é verdade. Você não entendeu porque estava doente e confinada no navio, mas a escola já tinha nos dado pistas sobre as localizações quando navegávamos ao redor da ilha.

Katsuragi também havia percebido isso quando o navio contornou a ilha a uma velocidade anormalmente alta. Horikita ficou em silêncio. O navio viajava quase três vezes mais rápido do que um cruzeiro comum. Além disso, se fosse apenas turismo, não usariam uma expressão tão estranha como "paisagens significativas".

Koenji também tinha notado essa pista. Bem, provavelmente era perda de tempo pensar nele.

— Então, cheguei à caverna. Achei que era a base mais importante.

— A caverna era a base mais importante? Mas o rio e o poço não seriam mais convenientes?

— O ponto em si não era o que importava. Era a localização.

Não havia pontos próximos ao rio ou ao poço. No entanto, havia dois perto da caverna: a cabana e a torre. Era o lugar perfeito para exercer controle. Horikita pareceu entender depois que expliquei.

— Mas que vantagem há em entrar na caverna se você não tem um cartão-chave?

— Bem, eu pretendia investigar várias coisas, mas no fim acabei descobrindo a identidade do líder.

— Suponho que o Katsuragi-kun tenha sido descuidado.

— Não, não foi isso. Lembra-se daquele cara, o Yahiko? O que seguia o Katsuragi por toda parte? Ele era o líder. Vi Katsuragi e Yahiko na caverna, mas não o momento em que ocuparam o local. Depois que os dois saíram, verifiquei se a caverna estava ocupada ou não.

Expliquei a situação. Quando os vi, Katsuragi estava parado na entrada com o cartão na mão. Yahiko saiu da caverna e eles foram embora juntos.

— Você não teria confundido o Katsuragi-kun com o líder? — perguntou ela.

— Você acha que um líder mostraria o cartão tão descuidadamente na frente dos outros?

Horikita devia saber o quão absurdamente estúpido isso seria, especialmente por já ter sido designada líder.

— Mas por quê? Por que ele seguraria o cartão de propósito, então?

— Porque não tinha outra escolha. Pelo que percebo, Katsuragi é um homem calmo, racional e excessivamente cauteloso. Não há como ele não entender o alto risco de ocupar um ponto imediatamente após encontrá-lo. Em outras palavras, quem o ocupou foi alguém atraído por uma ganância de curto alcance.

— Então... havia outra pessoa envolvida.

— Exatamente. Quando Katsuragi encontrou a caverna, não pretendia ocupá-la. Mesmo assim, manteve o espaço reservado, provavelmente porque Yahiko foi descuidado. Mesmo achando que ninguém os observava, talvez quisesse garantir uma margem de segurança. Ao segurar o cartão e exibi-lo, poderia induzir qualquer testemunha a pensar que ele era o líder.

— Então, além da base, a Classe A manteve pelo menos dois pontos, mas não confirmamos quantos ocupavam ao final do teste. Se eu adivinhasse corretamente a identidade do líder, porém, poderia invalidar todos os pontos deles.

Depois que reduzi as possibilidades a Yahiko, qualquer outro esforço seria desperdício de tempo.

— Ainda não estou convencida. Se ele descobriu a localização do ponto tão cedo, e se agia com outras pessoas, não deveria ter evitado problemas? Mesmo que tivesse alguém vigiando a caverna, já seria suficiente para garantir a posse. Por que a ocuparam, então?

— Provavelmente por causa da desvantagem da Classe A.

Os pontos totais deles eram altos, e não recebiam avaliações negativas pelo comportamento em sala como a Classe D. No entanto, sua turma estava dividida internamente. Em outras palavras, havia uma razão pela qual Katsuragi não podia confiar nos outros.

— À primeira vista, a Classe A parece perfeita, mas na verdade há uma grande cisão dentro dela.

Foi por isso que meus métodos revelaram a Classe A tão facilmente. Bem, foi pura sorte. Foi como tirar uma boa nota aproveitando o erro do outro. A Classe A não estava em alerta contra um ataque surpresa vindo de cima, então não havia o que fazer.

— Por isso excluí a Classe A naquele ponto e voltei minha atenção para a Classe C. Katsuragi era fácil de entender, mas com Ryuen havia muitas variáveis desconhecidas. Para dizer a verdade, ele estava reunindo mais informações do que eu. Descobriu a identidade de todos os líderes.

— E-Espera, ele descobriu a identidade de todos os líderes...? Então não apenas o da Classe D, mas também os das Classes B e A? Mas isso é estranho. Nós não só evitamos punições, como também ficamos em primeiro lugar por uma larga margem. Como você explica isso?

— Isso é um pouco difícil de explicar, mas a razão pela qual fiz você se aposentar é a resposta.

— Espere, a resposta é que você me fez me aposentar? O que diabos você fez?

— Ah, é mesmo. Ainda não devolvi isso à escola.

Tirei um cartão do bolso e o entreguei a Horikita.

— Isso é um cartão-chave. Por que você…?!

Horikita ficou boquiaberta ao ver as letras gravadas no cartão.

— Espere, por que…?

O nome dizia: Ayanokoji Kiyotaka.

— O teste precisava ser justo. As regras foram criadas, em essência, para garantir a justiça.

Era algo bastante natural — bastava ter conferido cuidadosamente as regras adicionais. Apenas uma pessoa podia ser escolhida como líder. O líder não podia ser substituído. Somente o líder detinha os direitos de posse exclusiva.

— O que você acha que aconteceria se o líder se aposentasse por problemas de saúde?

— Isso… O líder ficaria ausente. Então, os direitos de posse exclusiva desapareceriam…

— Errado. No manual está escrito: "É impossível substituir o líder sem uma justificativa adequada." Você não acha que a aposentadoria é justificativa suficiente?

Parecia que as regras adicionais haviam sido feitas para permitir exceções em casos de ausência por doença ou ferimento. Eu podia prever a necessidade de definir um novo líder. Percebi isso observando outras regras. Por exemplo, não podíamos mudar o acampamento base sem uma justificativa adequada depois de escolhê-lo, mas havia situações aceitáveis.

Nós tínhamos ocupado a área do rio, mas, se fôssemos descuidados e outra classe tomasse o local, isso contaria como "justificativa adequada". Não era permitido permanecer no acampamento base o tempo todo, então, se não houvesse um sistema que permitisse buscar um novo ponto, tudo desmoronaria.

— Então, você me fez…?

Horikita Suzune havia se aposentado, e eu fora designado em seu lugar. Naturalmente, isso significava que eu era o líder que deveriam adivinhar ao final do teste. Só podia haver um.

— Por isso, mesmo sabendo que você era a líder, a Classe C não conseguiu nos penalizar.

— Mas espere. A Ibuki-san roubou meu cartão, mas e se eu tivesse protegido ele com todo cuidado?

Horikita recordou o dia do acidente.

— Você deixou o cartão cair de propósito naquela hora? Bem, suponho que as ações do Yamauchi-kun tenham dado à Ibuki-san a oportunidade de bolar um plano para roubar o cartão-chave...

Eu estava segurando a Horikita toda enlameada, então, nesse sentido, não tive escolha a não ser abrir mão do cartão.

— A menos que eu soubesse o que a Ibuki-san pretendia desde o início, não havia nada que eu pudesse fazer...

Exato. Ibuki havia sido acolhida pela Classe D puramente por acaso. Eu quase tinha acreditado nisso, até ouvir sobre um tal de Kaneda, da Classe B. Ele havia sido enviado como espião por Ryuen. Eu não era ingênuo o bastante para acreditar que duas pessoas tinham sido salvas por duas classes diferentes — puramente por coincidência.

— Além disso, a Ibuki tem o hábito de olhar as pessoas nos olhos quando está mentindo.

Podia-se dizer que, quanto maior a mentira, mais evidente o hábito.

— Espere, quando ela mentia, olhava nos olhos da pessoa? Não é normalmente o contrário?

— Em geral, quem tem a consciência pesada evita contato visual. Mas, no caso dela, era o oposto. Acho que ela mantinha o olhar fixo para fazer a outra pessoa acreditar que a mentira era verdade. Provavelmente nem percebia isso.

Mesmo quando falamos sobre o roubo da roupa íntima, ela me olhou diretamente nos olhos.

— O objetivo dela provavelmente era encontrar o cartão-chave, mas talvez também quisesse causar confusão na Classe D.

O que aconteceu com Karuizawa — e a roupa íntima na bolsa do Ike — poderiam, de outra forma, ter sido vistos apenas como coincidências.

— Mas eu ainda me pergunto por que a Ibuki-san roubou especificamente o meu cartão. Tudo o que ela precisava era verificar o nome nele.

— Provavelmente essa era a intenção inicial da Ibuki. No entanto, ela acabou enfrentando um problema inesperado.

Esse foi o gatilho que levou à descoberta do líder da Classe C.

— A Ibuki tinha uma câmera digital na bolsa para tirar uma foto do cartão.

— Tirar uma foto... com a câmera? Por que ir tão longe?

— Se ela tivesse uma foto, a identidade do líder ficaria clara para qualquer um. Se tivesse uma prova convincente, ela poderia lucrar com isso.

— Não entendo muito bem... O Ryuen-kun não confiava na Ibuki-san?

— Não era isso. Se a discussão permanecesse apenas dentro da Classe C, não haveria necessidade de ela tirar uma foto ou roubar o cartão.

Em outras palavras, havia pessoas envolvidas que não confiavam apenas nas palavras da Ibuki; queriam provas concretas.

— Daqui em diante, não tenho provas do que vou dizer. Pense nisso como uma intuição, baseada nos resultados do teste. No final, a Classe A terminou com 270 pontos.

Ou seja, não tinham gasto um único ponto durante o teste.

— As Classes A e C estavam conectadas, trabalhando juntas nos bastidores. A Classe C sacrificou seus próprios pontos e comprou tudo o que a Classe A precisava. Além disso, ao pegar todas as ferramentas da Classe C, a Classe A conseguiu passar a semana sem gastar nada.

A Ibuki obteve as provas e as entregou a alguém da Classe A.

— Aliás, eu percebi quem era o líder da Classe C depois que metade dos alunos havia se aposentado. Era certo que o líder ainda estava na ilha, certo?

— Mesmo assim, não deveríamos saber quem tinha ficado.

— Não, eu estava quase cem por cento certo de que o Ryuen ainda estava na ilha.

Descobri isso quando vi a Ibuki escondendo um transceptor no chão. Ela o usava para se comunicar com Ryuen. Alunos aposentados não deveriam poder usar transmissores. Em outras palavras, havia alguém permanecendo na ilha com quem ela podia se comunicar.

Ele havia deixado o transceptor casualmente sobre a mesa enquanto aproveitava suas férias. Ninguém mais o controlava — apenas ele. Seu erro foi não confiar em ninguém.

— Meu Deus... Eu nem tenho palavras — respondeu Horikita, encarando a verdade.

Se eu fosse resumir esse teste, diria que o primeiro erro da Classe A se arrastou até o fim. Eles não funcionaram bem por causa de uma divisão interna. A Classe B passou pelo teste com uma estratégia totalmente defensiva, o que não trouxe nem vantagens nem prejuízos. Seu único erro foi que, por serem pessoas demasiadamente boas, permitiram que Kaneda permanecesse entre eles — e acreditaram nele.

Não sei como Kaneda conseguiu as provas, mas ele havia obtido algo, e provavelmente contou tudo a Ryuen. Se observarmos o fato de que a Classe A terminou sem pontos, poderíamos pensar que foi porque não conseguiram provas concretas. Já a Classe C... conseguimos evitar danos porque eu fui designado como líder. Além de enviar espiões para descobrir a identidade dos outros líderes, a Classe C ainda lucrou com algum tipo de negociação com a Classe A. Ryuen pode muito bem ser o nosso inimigo número um.

— Eu não gosto disso. Você me usou completamente... como um peão.

— É. Não posso negar. Eu não me surpreenderia se você nunca mais quisesse falar comigo.

Eu tinha plena consciência do que havia feito.

— Bem, vou voltar para o meu quarto agora. Estou realmente cansado — disse eu.

— Espere. Ainda não terminamos de conversar.

— O quê? Eu só quero relaxar no meu quarto, se possível.

— Depois que explicar tudo. Ainda há coisas sobre as quais precisamos falar, certo?

— Bem... como o quê?

— O motivo pelo qual você participou desse teste especial. Foi para lutar sozinho? Eu não me importo que você tenha me usado dessa vez. Quero saber por que você se esforçou tanto, mesmo detestando se envolver em problemas.

— Quem sabe...

Talvez, para Horikita, toda a explicação que eu havia dado até agora não fosse o mais importante.

— Não tenho mais dúvidas. Agora entendo seu talento. Se você me ajudar, alcançar a Classe A parece um objetivo bem realista. Mas quais são os seus princípios? Por que fez isso?

É claro que eu não queria falar a Horikita sobre meus problemas pessoais. Eu só havia participado por causa do compromisso que fizera com a Chabashira-sensei.

— Porque me comovi ao ver você tentando lutar sozinha, mesmo doente.

— Você normalmente não diria algo assim. Dá pra perceber facilmente que é uma mentira.

— Bem, o que quero dizer é que não estou com vontade de explicar — respondi, levantando-me e estendendo a mão.

— Não me importo de ajudar você a chegar à Classe A. Mas tenho uma condição: não investigue sobre mim. Se prometer nunca mais tocar nesse assunto, eu te ajudarei.

Horikita segurou minha mão sem hesitar.

— Se você não quer falar, não há muito que eu possa fazer. Se vai me ajudar, não tenho motivo para recusar. Não estou interessada em desenterrar coisas que devem permanecer enterradas. Afinal, você detesta confusões.

O aperto de mão de Horikita foi firme. Eu trabalhava por mim. Ela agia por si mesma. A batalha para elevar nossa classe desde o fundo do poço estava prestes a começar.



 

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