Volume 13
Capítulo 4: Os Ressentimentos Perduam
Este Capítulo foi traduzido pela Mahou Scan entre no nosso Discord para apoiar nosso trabalho!
Kiki desapareceu na manhã do dia anterior.
Neste momento, Yuuto estava completamente sozinho com Citri. E ela parecia doente — seu rosto estava pálido, seus lábios comprimidos como se estivesse suportando uma dor, e ela constantemente mantinha distância dele. Parecia que sua transformação estava finalmente começando.
— Citri...
Ele a chamou, mas tudo o que ela fez foi lançar um olhar cansado em sua direção. Ela estava deitada sobre um leito de galhos de coníferas para manter o calor do corpo, com a cabeça apoiada em um travesseiro de folhas perenes.
— Se caminharmos o dia todo hoje, devemos chegar a Neunarkis... Você consegue andar?
— Sim... — Ela assentiu languidamente e se levantou com dificuldade. — Eu chegarei lá, nem que tenha que me arrastar... Eu preciso voltar.
A cidade de Quitortan, ao longo da rota de evacuação no extremo leste do território de combate de Neugardenia, era composta por ruas estreitas, assim como outras antigas cidades imperiais. Enquanto Shin observava o grupo de cabelos prateados que estava atrás de uma barricada em uma dessas ruas, ele falou.
— Todas as unidades do 1º Batalhão, daremos início agora à retomada do antigo distrito de Quitortan.
A declaração de independência e a ocupação pelos insurgentes da República acabaram adicionando mais trabalho ao Esquadrão de Ataque, forçando-os a dividir suas já limitadas forças pela metade.
Em outras palavras, sua missão original de garantir a rota de retirada no território de combate de Blanc Rose permaneceu a mesma, mas, além disso, eles precisavam libertar as cidades ocupadas do norte de Neugardenia ao longo da rota de evacuação. E mais, tinham que remover quaisquer obstáculos antes que a primeira unidade a recuar, a 67ª Divisão Blindada, passasse pelo local.
— Nosso objetivo prioritário é remover todas as barricadas. Quanto aos insurgentes, são amadores. Provavelmente entrarão em colapso no momento em que forem ameaçados. Mas, se ignorarem nossas ordens ou se percebermos que não conseguiremos removê-los antes que a 67ª Divisão Blindada passe, assumam que não teremos escolha a não ser atirar para matar.
Projéteis de canhão, com uma velocidade inicial de mil e seiscentos metros por segundo, naturalmente não tinham opções não letais. As tropas Vargus, encarregadas de capturar insurgentes rendidos, também carregavam rifles de assalto munidos com balas reais. Dada a restrição de tempo e suprimentos, não podiam requisitar balas de borracha usadas para controle de distúrbios.
Grethe, que comandava as quatro divisões blindadas do Esquadrão de Ataque a partir de um posto de comando na retaguarda, acrescentou.
— Apenas tentem evitar isso a menos que seja estritamente necessário. Mas, se chegar a esse ponto, eu darei a ordem.
Em algum lugar, no fundo de suas mentes, Shin e os outros ponderaram que, com a possibilidade do colapso total da linha de frente se aproximando rapidamente, a situação havia se tornado tão crítica que nem havia mais tempo para discutir sobre isso. No entanto, Grethe permaneceu firme.
— Vocês precisam se lembrar: estão atirando sob minhas ordens. Vocês são os membros, e eu sou o cérebro. A responsabilidade por puxar o gatilho é minha. Isso não é algo com que oficiais inferiores como vocês devam se preocupar. Apenas lembrem-se disso.
A empregada fugiu, mas eles conseguiram capturar seu alvo principal, Ernst, como refém. Com isso, a Nova República de San Magnolia e seus cidadãos se tornariam intocáveis para a Federação, que seria forçada a protegê-los.
Ou pelo menos esse era o plano. Mas Primevére e seus dez companheiros assistiam às notícias com olhares atônitos. Os esforços de repressão começaram em um instante. Eles estavam na modesta propriedade do presidente, em sua pequena sala de estar.
— Por quê...?
Ela murmurou essa pergunta, apenas para Ernst, ainda com uma arma apontada para ele, responder com um sorriso sardônico, como um professor repreendendo um aluno.
— Não sei exatamente o que você esperava, mas tenho um vice-presidente para assumir meu lugar... Com minha incapacidade de agir, todas as minhas autoridades foram transferidas para ele. Neste momento, eles simplesmente podem me dispensar.
Mesmo tendo perdido seu status e estando sob a mira de uma arma, Ernst parecia completamente tranquilo. Seu tom ao falar com Primevére era quase animado, o que fez os remanescentes dos Bleachers estremecerem.
Olhando ao redor para seus captores trêmulos, seus olhos acinzentados brilhando como um fogo-fátuo, Ernst abriu um sorriso fino.
— Na verdade, eu já estava me perguntando quando me demitiriam agora que não precisam mais de mim, mas minha popularidade me manteve no cargo. Ser dispensado assim me serve muito bem. Se querem saber, demoraram demais para fazer isso.
Ernst Zimmerman havia alcançado a posição de presidente com o apoio do povo e o respaldo dos clãs Ônix.
— Aparentemente, ele era uma figura bastante favorecida há dez anos — murmurou Joschka para si mesmo, sentado dentro de um transportador blindado de infantaria, enquanto ouvia as notícias no rádio.
Ernst era o marido da líder da revolução, que havia sido assassinada pelo regime. Herdando a vontade de sua esposa, ele se tornou o segundo líder da revolução — um herói trágico que perdeu tanto sua amada esposa quanto seu filho para os tiranos reais de uma só vez.
Exatamente o tipo de figura para a qual as massas gravitariam. Um homem que, em sua devoção insana aos ideais da esposa, aceitou voluntariamente o fardo de se tornar um estadista. Mas Ernst não era mais necessário.
Joschka teve um vislumbre da loucura de Ernst no centro de comando durante a primeira grande ofensiva. Seu idealismo inconsistente e contraditório levava a importância da vida humana ao extremo lógico de afirmar sua própria morte. Mostrar essa loucura de forma tão aberta prejudicaria a moral de seus soldados e subordinados. Então, descartá-lo neste momento era aceitável — provavelmente essa foi a decisão dos clãs Ônix.
Aqueles abutres vis, repugnantes e ardilosos que atormentavam o Império desde sua fundação. Ratos negros que se agrupavam ao redor de qualquer um que exalasse poder e riqueza, apenas para abandoná-los quando se tornavam fracos e moribundos, antes de procurar a próxima presa para devorar.
— Essa é a única coisa pela qual eu te agradeço, Yatrai Nouzen. Graças a você, o filho da Princesa Yuuna não precisa herdar o comando do seu clã de bastardos desprezíveis.
A principal missão do Esquadrão de Ataque era auxiliar as forças em retirada. Isso significava que o uso de munição de alto explosivo poderia criar escombros que bloqueassem o caminho. Sendo assim...
— Iniciar a operação.
Os Reginleifs avançaram, assumindo rapidamente o controle de cada quarteirão. No momento em que Shin declarou o início da operação, os reatores de energia soltaram um grito agudo — o primeiro impacto.
Uma máquina de dez toneladas se movendo a centenas de quilômetros por hora exigia uma produção de energia significativa. O rugido estrondoso das armas blindadas ensurdecia os ouvidos e fazia o estômago revirar, sendo intimidador o suficiente para fazer um soldado hesitante se render.
E a maioria dos insurgentes da República não eram soldados, mas amadores completos.
Com sua tela ampliada, Shin pôde ver as figuras escondidas atrás das barricadas recuando instintivamente. Assim que Undertaker e seu pelotão avançaram com uma investida rápida e direta, os insurgentes se acovardaram e começaram a fugir.
Os Reginleifs se moviam mais rápido do que uma arma blindada normalmente se moveria, mas as tropas inimigas que avistaram carregavam fuzis de assalto e armas portáteis antitanque sem recuo. Nenhuma delas tinha poder de fogo suficiente para danificar um Reginleif de frente.
Mesmo assim, alguns insurgentes apontaram o cano de seus fuzis sobre as barricadas... apenas para que a maioria de suas armas permanecesse silenciosa.
Eles provavelmente esqueceram de carregar o primeiro projétil ou negligenciaram destravar a segurança... Erros comuns para amadores que achavam que atirar era apenas apertar o gatilho, e para recrutas inexperientes que não estavam acostumados a manusear armas automáticas.
Undertaker, que liderava a formação em cunha do pelotão, alcançou a barricada. Os insurgentes provavelmente acreditavam que a tinham posicionado com firmeza, mas ela voou pelos ares com a fragilidade de um recorte de papel. Enquanto os insurgentes se dispersavam em pânico, tentando sair de seu caminho, Shin virou Undertaker.
Entre a presença intimidadora do Reginleif, mais alto e ameaçador do que qualquer tigre, e o rugido ensurdecedor de seu reator de energia ecoando de perto, os insurgentes finalmente começaram a fugir em desespero, trombando uns nos outros e caindo pelo caminho.
Ele esperava evitar uma debandada, mas o caos também tinha suas vantagens.
Se os insurgentes fugissem para as ruas, a situação poderia ficar complicada. Três unidades de outros pelotões dispararam suas âncoras de fio.
As unidades de Tachina e Matori usaram os prédios ao lado da estrada como ponto de apoio para sobrevoar a cabeça da multidão e bloquear sua rota de fuga, enquanto a unidade de Sashiba escalou até o topo de um edifício e fixou seu canhão de alma lisa nos insurgentes para mantê-los sob controle. Sashiba, agora posicionado acima deles, ordenou pelo alto-falante externo, com o volume máximo.
— De joelhos! Coloquem as mãos atrás da cabeça!
Capturar os insurgentes se revelou surpreendentemente fácil.
— Forças de infantaria, recuperem os insurgentes rendidos.
As tropas femininas recrutadas dos Vargus avançaram para prendê-los.
Isso tudo estava de acordo com as previsões, mas os insurgentes em cada cidade se mostraram incapazes de resistir ao avanço dos Reginleifs. Tudo o que restava para os soldados crianças era seguir em frente sem precisar sujar as mãos. Depois de ordenar que a polícia militar de prontidão, que havia se juntado a eles, avançasse, Grethe se virou.
— A equipe de controle auxiliar, vocês podem se retirar agora. Estão preocupados com o Presidente Zimmerman, não é?
Ela se voltou para Frederica, que parecia mais ansiosa com outra questão. Não podia deixá-la ficar no posto de comando naquele estado, e Grethe sabia que não adiantaria dizer a uma criança preocupada com sua família para não se preocupar.
— Acho que é melhor você não ver o que vai acontecer lá, mas se sentir que precisa, faça o que achar necessário. Se quiser avisar a força-tarefa sobre a situação interna antes de entrarem, isso pode ser útil.
Frederica olhou para ela, surpresa. O Esquadrão de Ataque, sendo uma unidade de combate, tinha uma cadeia de comando diferente das forças afiliadas à base de treinamento na retaguarda. Isso significava que Grethe não estava em posição de dar ordens diretas a ele, mas—
— Posso entrar em contato com a base dele e pedir ao Segundo-Tenente Rikka que ative um RAID Device.
Centenas de milhares de soldados da linha de frente continuavam sua retirada. Com o suporte logístico já completamente recuado, os recrutas Vargus requisitados foram enviados para Harutari. As unidades de combate ocuparam as áreas deixadas pelas unidades logísticas e começaram sua marcha também. Fundamentalmente, tanto a marcha quanto a retirada do exército progrediam rapidamente, com várias unidades se apoiando mutuamente conforme avançavam. Apenas um número mínimo de unidades foi deixado na linha de frente para conter a Legion antes de recuarem sob a cobertura de fogo da segunda linha de fortificação.
No entanto.
O soldado de infantaria blindada Vyov abandonou sua posição junto aos companheiros e fugiu do campo de batalha mortal. Mas, enquanto corria, ouviu uma ordem inacreditável. A segunda frente do norte estava em retirada. Ou seja, estavam fugindo. Todos eles — os nobres generais, as tropas Vargus, os voluntários dos Países da Frota. Eles iam recuar sem fazer nada para defender ou salvar a terra natal de Vyov.
Estão todos abandonando nossa cidade!
Escondido nas colinas de Neikuwa, junto a incontáveis outros soldados desertores, Vyov mordeu os lábios, frustrado. Eles eram traidores, afinal. Foi por isso que os abandonou e fugiu.
Mas então, uma força de Löwe invadiu o vale repleto de traidores, guiada pelo Rabe que havia detectado a concentração de inimigos. Eles nem precisaram disparar suas armas. Com seus corpos de cinquenta toneladas, simplesmente pisotearam tanto a infantaria leve quanto a blindada.
Vyov e seus companheiros tentaram fugir, mas o terreno estreito do vale fez com que se atrapalhassem uns aos outros.
— Onde está a divisão blindada?! Eles podem derrotar os Löwe!
Os Vánagandrs eram unidades designadas para enfrentar os Löwe, afinal, e com a Legion já tendo penetrado tão profundamente, a unidade blindada destinada à defesa móvel deveria entrar em ação.
— Por que não estão vindo nos ajudar…?! Esses desgraç—
Mas antes que pudesse terminar a frase, uma perna metálica esmagou Vyov vivo.
Apesar dos repetidos pedidos de apoio vindos do ponto de ruptura, Gilwiese e o Regimento Livre Myrmecoleo não conseguiam se mover de sua posição. O pânico dos soldados em fuga só parecia aumentar com o passar do tempo, e por mais que Gilwiese e seus homens gritassem para que saíssem do caminho, ninguém ouvia.
Obviamente, Gilwiese e seu regimento não podiam simplesmente atropelá-los, então tudo o que podiam fazer era permanecer sentados dentro de seus Vánagandrs cor de cinábrio, acumulando frustração. Foi então que uma chamada de Para-RAID chegou da divisão de elite do arquiduque, a Flame Leopard, que estava se preparando para entrar em ação.
— Ainda enganando a morte, vira-lata?
O tom e o conteúdo da mensagem eram péssimos, mas quem falava era um coronel relativamente amigável com o Regimento Livre Myrmecoleo, pelo menos entre os membros do arquiducado de Brantolote. Normalmente, Gilwiese riria da provocação, mas não estava com humor para isso, então respondeu secamente.
— Lamento informar, mas estamos todos vivos, Coronel. Os desertores estão no nosso caminho, então não conseguimos nos mover.
— Estou ciente. Por isso estou ligando para avisar que não há mais necessidade de reforços. Preparem-se para recuar.
Isso deixou Gilwiese surpreso. Atrás dele, podia ouvir Svenja, que até então permanecera em silêncio, prendendo a respiração. Ele sabia que uma ordem de retirada fora emitida para toda a linha de frente, mas recuar para a segunda linha de defesa sem esperar que a infantaria da primeira linha recuasse? Mesmo que estivessem à beira do colapso completo, iam abandonar a primeira linha com soldados ainda lutando lá, sem nem oferecer fogo de cobertura para a retirada deles?
— Coronel, senhor, isso… isso faria a moral da infantaria despencar completamente. Teremos ainda mais deserções se fizermos isso.
— Imagino que sim. Mas já não temos escolha. Repito, Major. Recuem. Estamos abandonando a carne de canhão.
(N/SLAG: Guys, foi usado uma expressão aqui, Cannon fodder (carne de canhão) Ela se refere a soldados que são enviados para a linha de frente de batalha com pouca preocupação por sua segurança, sendo vistos como descartáveis.)
Uma ordem de retirada foi dada a todas as unidades blindadas posicionadas na segunda linha defensiva para defesa móvel. Os soldados ignoraram o princípio de movimentação coordenada das unidades, abandonando completamente a primeira linha defensiva. No entanto, com a zona de combate tomada por desertores, não poderiam fornecer cobertura de qualquer forma, e se a turba desorganizada de soldados chegasse à segunda linha defensiva, acabariam bloqueando também a retirada das unidades blindadas.
E assim, em vez de reduzir suas caras unidades blindadas a nada mais do que turrets estacionárias que seriam perdidas em combate, as unidades blindadas priorizaram uma retirada que lhes permitiria, pelo menos, fortalecer e manter a segunda linha de defesa.
Ao mesmo tempo, uma ordem de retirada também foi dada a todas as forças de artilharia e engenheiros de combate. Isso deixou a primeira linha de defesa com nada além de soldados abandonados. O fogo de artilharia contra o inimigo cessou; em vez disso, o foco mudou para bombardear instalações cruciais e destruir pontes que os Löwe poderiam atravessar.
A infantaria não ficou satisfeita com esse desdobramento. Os preciosos Feldreß e a artilharia pesada, junto com a artilharia regular e os blindados com as habilidades técnicas para operá-los, valiam mais do que um simples soldado de infantaria, então sua sobrevivência foi priorizada. Eles sabiam disso como lógica básica, mas agora, tomados pela indignação e desconfiança, a lógica não fazia nada para convencê-los.
O fato de que aqueles com habilidades técnicas — ou seja, artilheiros, engenheiros e operadores de blindados que receberam educação e treinamento mais avançados — eram, na maioria das vezes, ex-nobres e seus subordinados apenas alimentava ainda mais sua raiva.
A divisão blindada que nunca veio em seu auxílio, a covarde unidade de artilharia, os engenheiros que nunca foram realmente combatentes. Por que aqueles fracos foram priorizados em detrimento dos que colocavam suas vidas em risco no combate?
Fomos nós que fizemos todos os sacrifícios até agora. Devemos ter o direito de voltar vivos!
A ordem drenou o que restava da moral das tropas, que mal haviam conseguido manter suas posições na batalha defensiva. Cada vez mais soldados decidiram fugir, em vez de morrer como peões descartáveis para os nobres.
Não que tomar essa decisão, a essa altura, significasse que conseguiriam escapar.
Essas eram unidades que ainda permaneciam na linha de frente, impedindo a expansão dos pontos de ruptura e mantendo a Legion invasora à distância. Unidades que ainda estavam no meio de combates intensos. Com o inimigo bem diante deles, seriam imediatamente devorados. Não podiam correr.
Então, por mais descontentes que estivessem ou por mais que tivessem perdido a vontade de lutar, as tropas que permaneceram para interceptar o inimigo tiveram que manter sua posição se não quisessem morrer.
E assim, sob a proteção desse cálculo frio, as divisões blindadas, artilharia e unidades de engenheiros de combate recuaram com os poucos soldados de infantaria que puderam recuperar.
No fim, o povo da República não era nada além de opressores para os Eighty-Six. Eles não queriam matá-los a tiros ou feri-los desnecessariamente, mas também não tinham motivo para tratá-los com qualquer tipo de misericórdia.
Chutavam suas barricadas, miravam neles com visores a laser e, quando os insurgentes fugiam para dentro dos prédios, disparavam uma saraivada de metralhadora para forçá-los a sair. Miravam acima de suas cabeças, de modo que os tiros apenas resultavam em escombros caindo sobre eles.
Enquanto um grupo saía apressadamente de um edifício, Shin ordenou.
— De joelhos! Mãos cruzadas atrás da cabeça!
Então, partiu para o próximo quarteirão. As tropas de Vargus o seguiam, revistando os insurgentes da República rendidos antes de levá-los embora.
Ele manteve suas lâminas de alta frequência ativadas, o som agudo assustando os insurgentes, que só conseguiram correr para onde os Vargus estavam esperando. Eles se agarravam aos Vargus, implorando por ajuda. Sim — ele fez de tudo para que Grethe não tivesse que dar a ordem para abrir fogo.
Organizaram a ordem com que tomariam os diferentes quarteirões e quando os Vargus apareceriam, garantindo que os insurgentes fugissem diretamente para os Vargus, mesmo sem os Eighty-Six os conduzirem ativamente para lá. Usaram grandes alto-falantes preparados para a operação para transmitir mensagens por toda a cidade, ordenando a rendição dos insurgentes em alto volume. O tom das transmissões era imponente e autoritário, projetado para fazer com que pessoas em pânico obedecessem reflexivamente.
A tarefa de recuperar os rendidos não foi atribuída à visivelmente combativa polícia militar, mas sim à unidade composta por mulheres Vargus, o que fez com que os insurgentes pensassem que não seriam maltratados. Isso ocultava o fato de que, uma vez fora da cidade, seriam rudemente forçados a entrar nos veículos de transporte pelos rígidos MPs.
Shin virou uma esquina e seu sensor óptico detectou um jovem carregando um canhão sem recuo no ombro. Undertaker imediatamente se virou para ele, apenas para o jovem erguer, não sua arma, mas uma criança. Talvez não fosse sua intenção, mas parecia que ele estava usando a criança como escudo humano enquanto implorava.
— Espere! Eu tenho uma criança! Um garotinho!
— Jogue sua arma no chão e se renda! Você não será ferido enquanto não resistir! — Shin gritou pelo alto-falante externo.
O homem jogou o canhão sem recuo no chão e caiu de joelhos. Se ia alegar naquele momento que tinha uma criança com ele, deveria ter evacuado desde o início. O fato de estar tão determinado a resistir que trouxe uma criança para uma zona de combate, de que estava tentando enfrentar soldados armados apesar de ser um civil indefeso, de que participou dessa revolta insensata — tudo isso havia sumido de sua mente agora.
Não era apenas insensato e sem propósito; era prejudicial. Isso, somado à realização de que a República finalmente demonstrava intenção clara de se defender, era uma verdadeira dor de cabeça.
Shin apenas resmungou para si mesmo e exalou profundamente, tentando aliviar a pressão crescente em sua mente.
Sim, finalmente, o povo da República abraçou a vontade de lutar e proteger. De se levantar para manter suas famílias, entes queridos e filhos a salvo. E assim, alguns escolheram não fugir.
Mesmo quando os Reginleifs avançavam contra eles como monstros de pura violência e tirania, resistiam com fuzis de assalto, canhões sem recuo e garrafas incendiárias feitas à mão.
Mas e daí?
Dustin disparou sua mira a laser contra todos eles na potência máxima. O feixe de alta energia queimava a pele ao contato direto, fazendo os insurgentes recuarem ou caírem de joelhos, permitindo que os Vargus se aproximassem e os capturassem. E enquanto alguns não recuavam, apesar das queimaduras, Dustin os esmagava sob as dez toneladas de peso de Sagittarius.
Afinal, ele não tinha mais o dever de pregar sobre justiça e virtude humana. Não conseguiu salvar Citri, viu seu país se corromper sem fazer nada e acreditou que estava agindo enquanto, na verdade, nada fazia. Era fraco, covarde e tolo, então qualquer crueldade e brutalidade eram apenas mais uma gota no oceano.
E assim, Dustin foi o mais implacável de todos nesta batalha. Tão implacável que seus dois companheiros do 8º Pelotão, também da Unidade Eighty-Six, estavam se esforçando ao máximo para detê-lo.
— Dustin! Ei, Dustin! Você está indo longe demais!
— Você não precisa se forçar tanto — apenas recue! Essas são as suas pessoas! Não… se… deixe levar!
Mas a única voz que ele não conseguia ouvir era a de Anju. O que fazia todo sentido — ele a machucou, então ela não tinha nada a dizer para ele.
— Não se preocupe. Nossa prioridade é tirá-los do caminho, então não ligue para… Uou.
Seu console emitiu um aviso. Seu sensor óptico detectou a silhueta de uma massa que exigia atenção. Ele se virou para olhar. Um pequeno grupo estava escondido nas ruas estreitas da cidade da Federação, carregando armas portáteis sem recuo sobre os ombros.
Cada pelo do seu corpo se arrepiou. Antes que percebesse, ele já havia ativado o alto-falante externo.
— Não atirem! É perigoso!
Mas eles atiraram.
Dustin saltou para longe, desviando da barragem de projéteis explosivos lançados contra ele. Os mísseis lentos e não guiados erraram o Sagittarius, passando por suas pernas. Por outro lado, o grupo que disparou os canhões sem recuo caiu no chão, envolto em chamas.
Canhões sem recuo compensavam o intenso recuo de um grande míssil expelindo fogo pela parte traseira do lançador. Para evitar que o contrafogo ricocheteasse e atingisse o usuário, essas armas não deveriam ser usadas em ambientes fechados.
A visão de seus compatriotas rolando pelo chão em chamas fez todo o sangue sumir do rosto de Dustin. E, ao mesmo tempo, ele foi tomado por um intenso desprezo por si mesmo diante do seu comportamento inadequado em meio ao combate.
Por que ele apenas os avisou? Eles o atacaram, então por que ele não contra-atacou? Por que não apertou o gatilho?
— Eu… nem consigo atirar para me defender…?!
Por que eu sou… tão fraco…?
Dustin estava claramente se entregando ao desespero. Anju percebeu, mas não conseguiu encontrar as palavras. Porque foi ela quem o prendeu naquele estado. Ela trapaceou, lançou uma maldição sobre ele, transformando o coração puro de Dustin em uma arma contra ele mesmo.
O coração de Dustin era fraco demais para proteger os outros. Por isso, ela foi capaz de colocar aquela maldição nele.
— Exatamente como uma bruxa…
Ela zombou de si mesma. Ironicamente, era o mesmo que seu Nome Pessoal. Foi Daiya quem lhe deu aquele título, mas agora parecia mais uma maldição. Pessoas fracas não eram capazes de fazer o bem, mas eram perfeitamente capazes de causar o mal. Assim como Anju fez ao lançar aquela maldição sobre Dustin.
Se ela não podia ser boa, gentil ou justa, então, pelo menos…
— Porque… eu sou uma bruxa.
Porque eu sou uma bruxa má. Uma bruxa gananciosa.
…Ela seguraria firme aquilo que estava agarrando, para que não fosse arrancado de suas mãos. Seu sistema disparou um alarme. Ela fixou suas metralhadoras pesadas nas sombras que se aproximavam, enquanto uma mulher de meia-idade, gordinha e de aparência amigável, corria até ela.
— Espera! Nós nos rendemos, por favor, nos ajude — não nos mate!
A mulher gritava enquanto corria em sua direção, mas escondia uma garrafa incendiária atrás do corpo. Anju já se sentia desgastada e desolada. Seus olhos azuis se tornaram frios como gelo.
Mesmo que fossem mantidas apenas no nome durante a Guerra contra a Legion, as leis internacionais de guerra determinavam que civis deveriam ser protegidos. Mas apenas enquanto continuassem sendo não combatentes — enquanto não atacassem soldados.
Parabéns, idiota. Você acabou de assinar sua própria sentença de morte.
Sem perceber, um sorriso fino surgiu em seus lábios. O retículo acompanhou sua linha de visão. Com um movimento de dedo, ela mudou para sua arma secundária, as metralhadoras pesadas, e se preparou para puxar o gatilho.
Então, algumas palavras lhe vieram à mente antes de se dissiparem como bolhas de sabão.
Eles mataram minha mãe e meu pai, tratando-os como lixo para tiro ao alvo.
…Isso não é exatamente o que eu estou fazendo agora? Tratando pessoas como lixo para tiro ao alvo? Eu não preciso fazer isso, mas agora que tenho a chance, estou tentando descontar minha raiva — atirando nas pessoas?
Ela congelou naquele instante. E, ao mesmo tempo, uma voz repreensiva ecoou em seus ouvidos.
— Cesse fogo, Segundo-Tenente Emma!
Aquela ordem, enraizada nela pelo treinamento, a fez afastar o dedo do gatilho. Apenas os passos pesados do Reginleif foram suficientes para fazer a mulher se sobressaltar e fugir.
— Não emitimos nenhuma ordem desse tipo, Segundo-Tenente! Não aja fora de linha!
Gritando com ela estava um dos oficiais de inteligência da 1ª Divisão Blindada. Com a ausência de Lena, eles assumiram suas funções, contando com mais oficiais do que as outras divisões para comandá-los.
O oficial falou com o tom firme e alto usado para ordens e reprimendas… mas ao notar a condição de Anju, subitamente suavizou sua voz. Não foi apenas porque ela se enrijeceu com a chamada, mas porque estava claramente abalada e tremendo.
— Entendeu, Segundo-Tenente Emma? Você não atirou. Você fez a coisa certa ao não atirar.
Matar a assustava. A realidade da guerra não tornava mais fácil para ela aceitar a ideia de atirar em alguém, fosse um inimigo, um cidadão da República ou qualquer outra pessoa. E o oficial disse que sua crença — esse medo — era correta e justa.
— Você é uma pessoa boa. Não quer ferir os outros nem entristecer aqueles que estão próximos de você. E isso é o certo. Esse é o jeito certo de viver. Então você estava certa em não atirar. Você fez bem.
E, ainda assim, isso também era fraqueza. Ela era fraca demais para proteger os outros, apenas capaz de fazer coisas vergonhosas.
…!
Não. Não era que ela fosse capaz de fazer o mal. Sua fraqueza simplesmente a fazia se deixar levar, a fazia pender para a saída mais fácil — e mais cruel.
Ela era fraca e tentava usar essa fraqueza como desculpa — para se convencer de que não era capaz de fazer o bem.
— Eu sou…
Fraca. E uma trapaceira.
Mas se, apesar disso, eu ainda puder permanecer do lado da bondade, do lado da justiça, então eu—
Assistindo aos esforços impiedosos de supressão no noticiário, Primevére percebeu o que a Federação estava tentando fazer. Eles evitavam demonstrações evidentes de brutalidade, como matar civis desarmados, enquanto exibiam publicamente como esmagavam os insurgentes de forma unilateral. Era um aviso para incutir medo nos outros. Ou talvez isso fosse como uma luta de coliseu, ou um circo, destinado a satisfazer a fome das massas por uma justiça palpável e gratificante.
— Isso é desumano... Eles estão tratando nosso povo da República como animais de circo...
As pessoas da República sendo caçadas pareciam prisioneiros martirizados, enquanto os Reginleifs eram como animais selvagens ou gladiadores, e o povo da Federação que assistia a tudo era o público do anfiteatro.
Observando esse cruel feriado romano, que deveria ter desaparecido nos anais da história, Ernst franziu a testa.
— Vocês acham que têm moral para falar? Vocês jogaram os Eighty-Six no Setor Eighty-Sixth, tentaram prender os soldados da Federação na linha de frente, e agora acham que podem dizer algo? Ah, e me poupem dessa baboseira de gado em forma humana. Nem vocês acreditam nisso de verdade. Então sim, como vocês podem falar de desumanidade?
Primevére estremeceu com essas palavras. Se ele sabia tanto, a resposta para o porquê disso era mais do que clara.
— Para proteger nossas famílias.
Ernst a observou em silêncio, e Primevére elevou a voz, ficando furiosa.
— Sim, para proteger nossas famílias! Para que meus filhos preciosos, meu marido, meus pais e meus irmãos não morram no campo de batalha! Foi para isso que os Eighty-Six existiam! Foi para isso que... os rotulamos como porcos em forma humana!
Se não os reduzissem a algo desumano — se tivessem que pensar que os Eighty-Six eram filhos, maridos, pais, irmãos, amigos, amantes de alguém; se não houvesse outra maneira de defender suas famílias senão lutar — eles não suportariam sua própria vileza.
E quando alguém queria se cegar para sua própria vileza, desviar o olhar era a atitude natural.
— Isso tudo é a mesma coisa; estamos fazendo isso para proteger nossas famílias! Isso é tudo! Se a República está no caminho e não pode recuar, a Federação não tem escolha senão lutar! Temos que proteger nossas famílias! Não nos importamos com os Eighty-Six ou com a Federação, desde que nossas famílias estejam seguras!
Enquanto ela gritava com ele, lágrimas escorriam de seus olhos. Ela falava por amor à sua família, aos seus companheiros e à sua terra natal, mas era apenas vileza encoberta por uma fina camada de amor. A verdadeira essência desse amor era o mal que surgia quando alguém colocava as coisas que valorizava contra aquelas de que não se importava e decidia descartar as últimas.
E essa era uma vileza que todos carregavam dentro de si, então por que aquele homem a olhava com falsa ignorância, culpando-a como se nada disso se aplicasse a ele? Por que ele a forçava a tomar consciência disso?
— Todos são iguais! A Federação é igual! Todo mundo está disposto a sacrificar e matar os outros, desde que esteja seguro! É assim que as coisas funcionam!
Ernst suspirou suavemente, como um dragão exalando uma corrente de fogo.
— Poderia, por favor, tentar não me irritar?
Por um momento, o que aconteceu depois não foi processado por Primevére, nem pelos outros Bleachers. Um som seco e surdo preencheu o cômodo, seguido pelo corpo de Primevére girando no ar antes de desabar no chão.
— Hã?
Os Bleachers congelaram por reflexo. Primevére caíra no chão como uma boneca quebrada, e jazia imóvel. Seus membros espalhados tremiam levemente enquanto um vermelho opaco se espalhava pelo carpete. O formato de sua cabeça havia mudado — seu crânio estava afundado.
Eles não processaram instantaneamente como o ataque aconteceu — tamanha era a casualidade com que Ernst jogou fora a cadeira que usou para golpear Primevére antes de pegar seu rifle de assalto caído. Ele verificou a câmara, carregou a primeira bala com um sorriso exasperado.
— Amor, hã? Bem, suponho que o amor seja capaz disso. Está no cerne da humanidade. Eu sei que as pessoas matam e discriminam em nome do amor.
Nenhum dos Bleachers atirou nele. Alguns negligenciaram carregar a primeira bala, como Primevére, mas outros não. Eles poderiam ter puxado o gatilho. Mas estavam petrificados diante da raiva negra ardendo nos olhos daquele dragão de fogo, que sorria calmamente diante do derramamento de sangue.
— Mas... dizer que não se importa por causa do amor. Que não tem escolha por causa do amor. Usar o amor como desculpa, como justificação, sem refletir ou melhorar. Nem mesmo tentando aperfeiçoar a vileza e a feiúra da humanidade.
Ele virou o rifle de assalto, segurando o cano e levantando a coronha. A coronha desse rifle dobrável tinha a força de um cano metálico, com um peso de quatro quilos, superando a maioria das armas brancas. Ele ergueu a ponta da coronha como um porrete.
— Então você fala de amor quando tudo que faz é usá-lo para afirmar sua própria vileza? Se esse tipo de amor é o que define os humanos—
então criaturas assim merecem morrer.
(N/SLAG: Vileza é característica de quem ou do que é vil, desprezível; VILANIA; VILANAGEM; degradante, indigno.)
A maioria dos não combatentes era um grupo desorganizado que não podia resistir a uma unidade blindada. O 1º Batalhão conseguiu tomar todos os quarteirões de Quitortan em pouco tempo. Foi mais rápido e fácil do que quando os soldados armados da República haviam reunido, contido e levado milhões de Eighty-Six desarmados.
Fazendo uma careta diante dessa associação irritante, Shin enviou a Grethe um relatório de que a operação estava concluída. Os outros batalhões enviaram relatórios semelhantes das outras cidades também. A divisão blindada que deveria atravessar aumentou a velocidade de sua marcha. Como estavam adiantados, os veículos que transportavam os insurgentes tiveram que esperar até que passassem.
O que vem agora?
Shin franziu a testa. A retirada da divisão blindada tinha prioridade maior em comparação com o transporte dos insurgentes, então era compreensível que os insurgentes tivessem que esperar. No entanto...
— Comandante do Esquadrão de Ataque, desculpe, mas se não se apressar e sair daqui, a próxima força ficará presa.
Enquanto essa dúvida passava por sua mente, ele recebeu uma mensagem sem fio da unidade de reconhecimento enviada à frente da divisão blindada. Ambas precisavam se comunicar usando o posto de comando como ponto de retransmissão, o que significava que haveria um atraso. Por isso, cortaram as apresentações usuais e foram direto à explicação da situação.
— As forças blindadas e de artilharia estão bem, mas a infantaria no final da linha está praticamente em pânico. Eles basicamente não têm mais uma cadeia de comando. Não estão seguindo a ordem de retirada, então, se não quiser que eles o alcancem, precisa se apressar.
Shin fez uma careta. Ele já havia sido informado, é claro, que havia desertores na unidade de infantaria quando a linha Saentis-Historics entrou em colapso, mas...
— Vocês devem se preparar para sair da rodovia. Se não fizerem isso, essa multidão furiosa os cercará, e vocês não conseguirão se mover.
†
As forças da Federação ignoraram a teoria estabelecida de retirada, apressando as forças blindadas e de infantaria à frente, enquanto ofereciam apenas um suporte mínimo de artilharia para a infantaria deixada para trás na linha defensiva. Eles dispararam projéteis de canhão de calibre total, que não se comparavam aos obuseiros e tinham munição limitada, em todas as frentes.
O canhão eletromagnético da Federação, o Kampf Pfau, possuía uma capacidade de longo alcance, permitindo que disparasse contra as linhas de frente mantendo uma distância segura. Sua precisão era baixa, o que precisava ser compensado pelo disparo de um grande número de projéteis ao mesmo tempo, mas, quando se tratava de bombardear um campo de batalha inteiro, sua ampla margem de erro acabava sendo eficaz.
Porém, possuía duas falhas fatais: seu grande peso, que significava que só podia se mover ao longo da ferrovia, e a lentidão no movimento das pás necessárias para compensar o recuo.
Assim que a trajetória de seus disparos foi calculada ao contrário para determinar sua posição, o Morpho iniciou seu contra-ataque. Os Kampf Pfaus posicionados em diferentes frentes, assim como suas equipes, foram expostos a uma chuva de projéteis de 800 mm. Os Kampf Pfaus deveriam manter o Morpho sob controle igualando seu alcance superior — o que, é claro, significava que o Morpho era igualmente capaz de contra-atacar os Kampf Pfaus.
Os peacocks que ofereciam suporte de artilharia às linhas de frente foram abatidos um por um pelos relâmpagos disparados pelas borboletas gigantes. Quando o bombardeio diminuiu e o silêncio tomou conta das linhas de frente, uma ponte flutuante surgiu para substituir sua predecessora, e as unidades Aranea começaram a atravessar os muitos rios que cortavam o campo de batalha. O exército metálico se posicionava no horizonte, aguardando que as pontes ligassem as duas margens.
E, a essa altura, a Federação já não tinha mais canhões para impedir isso.
†
O alerta dos batedores da 69ª Divisão Blindada estava correto.
Shin e seu grupo montaram uma linha defensiva afastada da rodovia usada como rota de evacuação e observaram enquanto os soldados em fuga passavam em um caos desordenado, semelhante a um enxame de ratos ou gafanhotos. A rodovia não era estreita, mas eles a preenchiam como uma onda negra. Não marchavam em fileiras organizadas, nem mantinham um ritmo constante, empurrando pessoas e grupos à sua frente.
Não conseguiam nem identificar qual divisão ou regimento estavam ultrapassando e, com a cadeia de comando colapsada, não passavam de uma turba descontrolada.
Os grupos se empurravam por um tempo, brigando e suspeitando uns dos outros, temendo que algum deles fosse uma daquelas novas minas autopropulsadas. O medo de inimigos inexistentes tornava seu avanço ainda mais lento, pois continuavam discutindo. Um grupo marchando a pé já não se moveria rapidamente para começo de conversa, mas seu comportamento insensato apenas reduzia ainda mais sua velocidade.
No meio daquela marcha, aqueles que permaneceram nas trincheiras da primeira linha defensiva mal conseguiam resistir. Precisavam recuperar o maior número possível de soldados de infantaria enquanto mantinham a posição, e ainda assim...
— Eles estão indo mais devagar do que eu esperava.
Shin conteve o impulso de estalar a língua. Sabendo que a infantaria não se afastaria mesmo que lhes dissessem para fazê-lo, o Esquadrão de Ataque posicionou sua linha defensiva na Floresta de Lyskiv, esperando que o terreno acidentado da floresta virgem os desencorajasse. Os únicos que passaram foram aqueles que abandonaram seus companheiros e fugiram imediatamente.
Ainda assim, se tivessem agido rapidamente, as unidades que resistiam na primeira linha defensiva poderiam ter recuado antes de serem aniquiladas.
...Por quê?
Por que os soldados não eram capazes de manter a cabeça fria e exercer um julgamento básico?
Os que resistiam na primeira linha defensiva eram, em sua maioria, unidades de Vargus. Apesar de terem sido abandonados pelos soldados de infantaria em fuga, assim como pelas unidades blindadas e pela artilharia que haviam recuado — e mesmo sabendo que ficariam isolados assim que as trincheiras e fortificações remanescentes caíssem —, os Vargus viam a morte em combate como uma honra. Enfrentariam a onda metálica com sorrisos no rosto, disparando suas metralhadoras até os canos ficarem incandescentes, brandindo seus machados e espadas até que se partissem em pedaços.
Um Para-RAID conectou-se a partir de um bunker — um que, embora relativamente próximo, ainda estava distante do grupo, onde uma unidade de Vargus estava posicionada.
— Você, da vila de Zoto. Ainda está vivo?
— Oh, você é o de Gima Mima! Ainda está resistindo também?!
Trocaram notícias, comentando que um parente distante ou o filho mais novo da casa ao lado havia caído em batalha. Inclinaram-se animados, falando sobre como alguém havia se ferido. Enquanto ria satisfeito, seu camarada da vila de Gima Mima falou.
— O lorde nos deu ordem para recuar também. A força principal dos monstros de sucata chegará em breve, e está claro que não vamos conseguir detê-los, então devemos recuar.
— Finalmente, né? Entendido. Exceto…
Esse exceto provavelmente se referia à força principal dos monstros de sucata: o grande grupo implantado nas margens do rio. Haviam destruído todos os impedimentos antitanque e estavam atravessando lentamente o rio, onde nem a infantaria blindada nem as armas pesadas poderiam detê-los.
— Não vejo como poderíamos despistá-los. Eles já nos alcançaram.
O próximo bombardeio atingiu sua posição, destruindo todas as trincheiras ao seu redor.
†
Assim, a força principal do 1º Escalão da Legion atravessou o rio, finalizando a remoção das minas e dos impedimentos antitanque. Abriram um ponto de penetração, mantendo-o enquanto parte de suas tropas avançava mais profundamente na linha de defesa de Saentis-Historics. Seguiram a unidade de reconhecimento enviada à frente para garantir o caminho, investindo diretamente na posição defensiva.
As únicas barreiras em seu caminho eram a pequena retaguarda que permanecia firme e as minas e armadilhas deixadas para trás. A maré de metal avançou, explorando sua superioridade numérica. O 1º Escalão da Legion engoliu a rota de fuga, cheia de soldados em retirada, enquanto algumas unidades da Legion usavam seu ímpeto para invadir a formação de reserva de Harutari.
†
O Esquadrão de Ataque, que auxiliava a retirada para a formação de reserva de Harutari, deparou-se com a onda avassaladora do 1º Escalão da Legion. Graças à habilidade de Shin, sabiam o que estava por vir, mas eram simplesmente muitos inimigos. Conseguiram resistir devido à estrutura das cidades da Federação, mas as outras unidades que consolidavam a defesa da faixa de Harutari foram forçadas a recuar, deixando o Esquadrão de Ataque e as unidades em retirada isoladas no meio do inimigo.
Observando os pontos piscando na holo-tela, Grethe fez uma pergunta a Shin. Seus aliados estavam recuando, mas e os movimentos do inimigo?
— Esses são os últimos, Capitão? Ou há mais?
— Há mais vindo. A Legion está lançando uma ofensiva com uma grande unidade posicionada atrás da linha de frente. É um corpo… não, uma força de tamanho equivalente a um exército. Provavelmente, um segundo escalão.
— Tamanho de exército…?!
Nesse contexto, o termo exército referia-se a um agrupamento formado por vários corpos blindados. Um conjunto de múltiplos exércitos formava um grupo de exércitos e, no caso da Federação, eram considerados um exército de frente. O exército da frente ocidental era composto por duas forças, cada uma com cinco corpos blindados.
Em outras palavras, reforços equivalentes a metade do tamanho do exército da frente ocidental estavam prestes a alcançar a linha defensiva de Harutari.
Grethe tomou sua decisão. O Esquadrão de Ataque não sobreviveria à batalha iminente em um terreno tão aberto sem reforços. E, se tivesse de escolher entre os soldados em fuga — que não seriam necessariamente úteis — e o Esquadrão de Ataque, que ainda mantinha sua coesão como unidade, a escolha era óbvia.
— A missão acabou. Vamos recuar também, cobrindo as unidades que ainda estão presentes.
Os sobreviventes da retaguarda, que haviam permanecido até aquele momento — a maioria, Vargus —, começaram a recuar, espalhando-se em pequenos grupos para se manterem ocultos do inimigo. Era por isso que seguiam por caminhos discretos. Não havia mais infantaria para o Esquadrão de Ataque esperar.
— Para evitar interferências com outras unidades, a 2ª, 3ª e 4ª Divisão Blindada devem se reunir na Cidade de Roitich, onde está posicionada a unidade de apoio da linha de Harutari. A 1ª Divisão Blindada deve se reunir na Cidade de Nakiviki, depois seguir para o oeste e retornar à base de Rüstkammer.
Pouco depois, chegaram novas instruções do comando da divisão. O Esquadrão de Ataque deveria concluir sua missão atual, recuar e preparar-se para defender o teatro de operações de Rüstkammer.
Demorou bastante, resmungou Grethe para si mesma.
— Com a Legion avançando sobre a linha defensiva de Harutari, os arredores da base de Rüstkammer logo se tornarão um campo de batalha. A próxima luta será para proteger nossas casas.
O comandante do orfanato de Miel era um farol de bondade. Ele liderava as crianças — estrangeiras e incapazes de correr rápido — enquanto soldados da linha de frente fugiam desesperadamente para salvar suas próprias vidas. Mas essa bondade foi sua ruína diante dos policiais militares.
Eles estavam nas planícies do território de Montizoto. Com a retirada das linhas de frente ocorrendo mais rapidamente do que o esperado, os obuseiros das unidades Skorpion de longo alcance ocasionalmente atingiam a região.
E então, de repente, a cabeça do oficial da polícia militar—desapareceu.
— Hã?
O que o matou foi o fragmento de uma granada, cujo impacto Miel e os outros sentiram à distância. O alcance letal de uma granada de 155 mm era de setenta e cinco metros — ou seja, praticamente matava qualquer um dentro desse alcance, mas, claro, seus fragmentos poderiam alcançar ainda mais longe, mantendo sua força.
A cabeça do oficial foi arrancada instantaneamente, reduzindo-o a um cadáver que caiu no chão, inerte. Uma das meninas do seu grupo ficou paralisada, coberta com o borrifo de carne, sangue e ossos.
Miel e seu grupo pararam também, tendo perdido o adulto que os guiava.
Abandonados em um campo de batalha onde o fogo de obuseiros atingia de vez em quando, deixados para trás pelos outros refugiados por serem mais lentos, Miel e as outras crianças ficaram isolados e presos.
Como ele havia morado ali por alguns meses, era natural chamar Theo para confirmar o plano do imóvel de Ernst — o que o fez perceber amargamente que estavam planejando invadir. Foi isso que Theo pensou enquanto estava no posto de comando temporário montado no módulo de barracas da base.
Eles pretendiam invadir e eliminar rapidamente os insurgentes, sem se importar com a vida do refém — de Ernst. Aqueles que o chamaram, isolaram uma parte da base e usaram o módulo de barracas militares eram do exército, não da polícia. Mesmo que o exército estivesse em estado de emergência, com todas as frentes em crise e a capital em um estado de turbulência política, o exército se deslocou para resolver o incidente em Sankt Jeder, apesar de não ter autoridade para isso.
O posto de comando estava cheio de Pyropes de cabelo e olhos vermelhos, assim como as tropas e os sargentos que estavam isolando a base, e o distintivo de sua unidade era o de uma onça-parda em chamas. Essa era uma das divisões blindadas estacionadas perto da capital, a unidade Flame Leopard. A unidade de elite do arquiduque Brantolote, composta exclusivamente por pessoal afiliado a eles.
Eles planejavam uma operação noturna para esconder o fato de que estavam basicamente abandonando o presidente à sua sorte. Evacuaram todos os civis do bairro nobre e mantiveram a mídia afastada da área.
A empregada, Teresa, havia escapado logo após os insurgentes ocuparem o local, graças a Ernst. Theo ficou irritado ao ouvir um oficial dizer que as coisas seriam mais fáceis se fosse o contrário, mas não podia nem falar, muito menos compartilhar sua opinião.
Quando terminaram com ele, o expulsaram do posto de comando como se fosse um cachorro. Ele ficou no corredor, cheio de frustração e alarme. O que ele faria? Precisava pensar. Não queria ficar parado e deixar aquilo acontecer, deixar alguém que conhecia morrer sem fazer nada.
Seu celular vibrou. Era uma mensagem de seu superior imediato — dizia para colocar seu RAID Device e permanecer em alerta.
— Entendido…
Ele se perguntou do que se tratava, dada a situação da capital, enquanto colocava o anel de prata que trouxera, por precaução. Alguém instantaneamente ressoou com ele e falou, ofegante.
— Theo…! Ah, que dádiva divina! Você está perto da propriedade de Ernst, não está?!
O poder de Frederica de ver o estado atual daqueles que ela conhecia. Como ela disse, isso era uma dádiva divina. Sincronia perfeita!
— Frederica, ótima hora. Me ajude!
Se soubessem o estado da propriedade, onde Ernst estava e o que os Bleachers estavam fazendo, talvez fosse possível tomar o controle do local sem que Ernst fosse pego no fogo cruzado. Claro, ele não podia correr o risco de os Flame Leopards e, por extensão, o arquiduque Brantolote descobrirem sobre Frederica, mas poderia simplesmente dizer que isso era graças à habilidade de Shin ou de Sua Alteza.
Ele sentiu Frederica acenar com a cabeça de forma entusiástica através da Ressonância.
— Sim, isso mesmo, devemos nos ajudar, Theo. Precisamos entrar — Mas o que ela gritou em seguida pegou Theo completamente de surpresa — e impedir Ernst!
Lutando enquanto recuavam, todas as unidades seguiram para o ponto de reunião na cidade de Nakiviki. Cada unidade se moveu em ordem desde a linha de defesa montada na Floresta Lyskiv, ao nordeste, até os pés da colina Kashine. Depois de preparar sua próxima linha defensiva na cidade abandonada de Ruvokiv, nos pés da colina Kashine, o 1º Batalhão de Shin finalmente saiu da Floresta Rishikiv com sua cobertura de fogo.
Eles seguiram para o norte, evitando as rodovias cheias de infantaria, e fizeram caminho para a cidade oriental de Farekiv. Mas então os 4º e 5º Batalhões, posicionados ao longo das colinas, desapareceram junto com as colinas.
Imediatamente depois disso, Shin olhou para o céu cinza através de sua tela óptica. Assim que seus sistemas de radar detectaram algo se aproximando, ele sentiu o impacto. Um projétil de alta velocidade com intenso poder de fogo.
— Um Morpho?!
— O Kampf Pfau… provavelmente foi destruído.
Para destruir o Kampf Pfau nas costas da linha defensiva da Federação, o Morpho havia se movido para o extremo da Legion no 1º Escalão. Não havia como Shin perceber o momento em que um Morpho atacava com os gritos de incontáveis Shepherds e Sheepdogs invadindo seus sentidos.
Depois disso, mais áreas foram bombardeadas — a cidade de Farekiv, onde o 7º Batalhão acabara de chegar; novamente os pés da colina Kashine; a Floresta Rishikiv, que o 1º Batalhão acabara de deixar; e as rodovias por onde a infantaria marchava. À medida que as granadas de 800 mm choviam como um trovão divino, a unidade blindada da Legion atacava a linha de defesa da cidade de Ruvokiv com o 3º e 4º Batalhão ainda atordoados pelas ondas de choque e fragmentos.
— Tch. O 5º Batalhão, Mitsuda está inoperante. Assumindo o comando como vice-capitão!
— O 4º Batalhão, os sobreviventes estão prontos para atacar. Disparem assim que os tiverem em mira!
O fogo de cobertura foi disparado de dentro dos destroços fumegantes dos pés da colina Kashine, mirando na cidade de Ruvokiv. As armas blindadas lutavam enquanto se moviam, e esse era o forte do Reginleif, construído para combate de alta velocidade. Eles se moviam ao invés de se fortificar em um só lugar, então, apesar do impacto pesado na área, aparentemente não sofreram danos significativos.
— Michihi do 3º Batalhão aqui. Estou ileso — 1º Batalhão, continuem a retirada! Vamos apoiar vocês até terminarem!
— 7º Pelotão, da mesma forma, já garantimos a segurança de Farekiv City. Foquem na construção da defesa— Uau!
Outro bombardeio. Eram mísseis não guiados de longo alcance com baixa precisão; ou seja, atingiam tanto o terreno estratégico quanto áreas não relacionadas da mesma forma, o que significava que os Reginleifs não tinham para onde correr. Entre as ondas de choque e os fragmentos, grandes quantidades de sedimentos caíam das colinas desmoronando, arrastando e separando quaisquer unidades e esquadrões infelizes o suficiente para serem pegos por elas.
Estão mirando nessa rota de fuga.
Shin estreitou os olhos. Essa estrada de retirada se destacava por causa dos incontáveis soldados de infantaria que passavam por ela. Não fazia sentido eliminar as unidades de observadores avançados da Legion, pois seriam substituídas por outras Ameise, e havia uma boa chance de que um Rabe estivesse observando a batalha. Não demoraria muito até que o 2º Echelon se juntasse à luta. Então, antes que isso acontecesse...
— Todas as unidades, priorizem a retirada da zona de bombardeio. Sigam para… — Ele abriu o mapa, procurando um local que as tropas em evacuação não escolheriam. — Para o norte, rumo às Montanhas Tohfar. Não se posicionem para uma emboscada e tentem manter o confronto com qualquer unidade blindada inimiga ao mínimo.
As unidades blindadas que estavam vendo agora eram apenas peões descartáveis para manter a 1ª Divisão Blindada presa na zona de bombardeio. Então, enquanto não podiam ignorá-las completamente, poderiam usar o próprio bombardeio do Morpho para derrotá-las.
Os oficiais do estado-maior comandando a 1ª Divisão Blindada fizeram uma adição, atualizando o mapa com vários pontos de encontro. Eles não estavam pedindo para cada batalhão se reunir lá, mas para que cada unidade priorizasse se afastar do fogo inimigo, em vez de se concentrar em mover-se como pelotão ou batalhão.
Enquanto ouvia o Tenente Canaan Nyuud e o esquadrão Longbow responderem sobre as vozes dos oficiais do estado-maior, Shin fechou os olhos por um momento. As Divisões Blindadas 2ª a 4ª em retirada estavam espalhadas ao longo da rota de fuga pelo território de combate Blanc Rose até a cidade de Roitich — ou seja, provavelmente também haviam sido atingidas pelo bombardeio do Morpho. Os Kampf Pfaus provavelmente haviam sido eliminados, e todas as unidades do Morpho que apareceram dispararam por toda a faixa Harutari.
— Droga...
A neve branca começou a cair do céu de cor opaca.
Com os irritantes peacocks destruídos, os Morphos puderam atacar livremente a posição de reserva da Federação, parando apenas após receberem um relatório de suas unidades de observadores avançados e focando em um novo alvo.
Ainda havia soldados em fuga e as unidades que os defendiam na zona de bombardeio, mas disparar para separá-los e isolá-los seria fácil. Um Morpho estava bem equipado para destruir os ninhos de ratos, mas era grande demais para eliminar todos os últimos que se esgueiravam, então não havia necessidade de o Morpho caçar unidades depois que foram dispersas.
Com os Kampf Pfaus dizimados, os Morpho não precisavam mais mudar de posição, e miraram com seus enormes canhões no local.
<<Leitura de radar detectada.>>
... Uma leitura de radar?
No momento seguinte, um bombardeio de projéteis penetrava a gigantesca forma do Morpho — disparado pelo último Kampf Pfau que a Federação nunca havia enviado para nenhuma das frentes, como uma reserva para combater o Morpho.
— Quão estúpidos vocês são, montes de sucata? Achavam mesmo que usaríamos todos os nossos ases para apoiar com artilharia contra o Morpho?!
— Aquela cobertura de fogo também foi feita para atraí-los. Aproveitem esta chance para destruir o máximo de Morphos possível!
Foi um contra-ataque ousado, usando suas forças de artilharia como isca. Os operadores do Kampf Pfau, que completaram seu cronograma de disparos com expressões de horror no rosto, imediatamente ergueram suas pás para mudar de posição, indo pelas trilhas para desaparecer da visão do inimigo.
Sem superioridade aérea, o Kampf Pfau não tinha meios de confirmar se acertou seu alvo ou não. Mas, mesmo que, no pior cenário, falhasse em eliminar o alvo, ao menos mantinha os Morpho sob controle e suprimia seu arrogante domínio sobre o campo de batalha.
Embora já estivessem sendo produzidos em massa, os Morphos ainda eram poucos em número. Como os Morphos estavam receosos de contra-ataques, seu bombardeio se tornou esporádico novamente. Eles começaram a trocar de posição também, movendo suas formas massivas de quatorze toneladas para evitar serem atingidos.
Tendo sido poupados da chuva de raios e aço, os soldados retomaram sua retirada.
Um barulho ensurdecedor de exaustão, semelhante ao rugido de um dragão destemido, se aproximou deles por trás.
Era em um canto da posição de reserva de Harutari, apoiado por Vargus recrutados — soldados velhos, mulheres e crianças, pois era inadvisável enviar de volta as tropas da artilharia e das divisões blindadas que haviam sido recuperadas para combater novamente. As tropas de infantaria, escondidas nas trincheiras, tentando segurar a próxima onda de Legion, se viraram para olhar.
O barulho era simplesmente imponente.
— O que é isso?!
— Droga. Isso é...!
Aqueles que não conheciam aquele modelo nunca haviam ouvido tal barulho antes. E os que o conheciam o olhavam com uma mistura de admiração e aversão. Os passos pesados e retumbantes de suas várias pernas faziam o chão tremer como o galope de um cavalo de guerra. Seu pacote de energia especial de alta produção permitia que seu peso incomum atacasse com uma velocidade surpreendente.
Não era um Vánagandr, e também não era a Legion, claro. Uma vez que o ouviam e viam, jamais esqueceriam sua presença. Esse rugido alto e imponente—
— Azhi Dahāka...
— Os Nouzens finalmente soltaram seus dragões devoradores de homens...!
— Devore-os! — Os operadores gritaram todos ao mesmo tempo pelos alto-falantes externos de suas unidades, em um ato de guerra psicológica. As vozes de homens e mulheres se misturavam em um grito de batalha que era tanto galante quanto sinistro, enquanto suas formas de metal negro passavam pelas trincheiras. Diferente de uma certa pessoa que se comportava como uma imperatriz, os guerreiros Onyx não desperdiçavam seu tempo com algo tão fútil quanto pintar suas unidades com suas próprias cores. Eles não precisavam de tais enfeites superficiais para se provar, pois as inúmeras conquistas que fizeram no campo de batalha falavam solenemente de seu poder.
Como um dragão mostrando suas presas, atacaram a divisão blindada da Legion de ambos os flancos ao mesmo tempo. Eles se lançaram sobre eles, devorando-os com a facilidade de fechar uma mandíbula. Conseguiram isso com sua velocidade sobrenatural e a força que ela lhes proporcionava.
Azhi Dahāka.
Assim como um Vánagandr, ele estava equipado com um canhão de alma lisa de 120 mm, duas metralhadoras e uma armadura robusta. No entanto, a diferença era que não era uma unidade para dois tripulantes, mas sim para um único piloto, que controlava tanto a pilotagem quanto o disparo ao mesmo tempo. E—
— Rastejem e esperem nossos cascos esmagá-los, pedaços de sucata inútil! A Divisão Crazy Bones está sobre vocês!
A blindagem do Azhi Dahāka tinha uma espessura não muito diferente da de um Vánagandr. Ainda assim, com seu peso de combate de setenta toneladas, esse dragão gigante usou suas pernas para empurrar o grande Löwe para o chão de cima. O impacto do seu pouso e o peso racharam a blindagem superior relativamente fina do Löwe, esmagando-o contra o solo coberto de neve, onde se contorciam como insetos moribundos esmagados sob os pés.
Após esmagar o inimigo, Yatrai operou seu Azhi Dahāka para pular para o próximo alvo, enquanto seu tenente ficava para trás, girando o turret para terminar com o infeliz Löwe com um disparo de curta distância.
Sim, eles pularam. Apesar do peso, saltaram e pularam como cavalos de guerra, movendo-se livremente pelo campo de batalha coberto de neve. Apesar de serem mais pesados do que qualquer Vánagandr ou Löwe, eles possuíam um sistema de propulsão de alta performance capaz de mover esse peso com velocidades que rivalizavam com as da Legion. Essa era a característica mais marcante do Azhi Dahāka.
Mas, claro, isso significava que sua eficiência de combustível e os custos de manutenção eram devastadoramente péssimos. Além disso, seu sistema de controle era extremamente sensível, e seu sistema de energia era difícil de manusear e propenso a problemas se sua produção caísse sequer um pouco. Também exigia operadores robustos, capazes de suportar sua aceleração excessivamente alta e sua intensa inércia.
A máquina pesava setenta toneladas devido ao seu poderoso sistema de propulsão, o sistema de resfriamento necessário para acompanhá-lo e o sistema de amortecimento que evitava que a unidade se destruísse. Com esses elementos, ela alcançava uma quantidade extrema de velocidade que sacudiria qualquer operador, tornando impossível controlar a máquina apenas com experiência e intuição.
Esse era um monstro garantido, criado apenas com o apoio da riqueza e influência do nobre clã Nouzen e controlado por sua linhagem única.
Após ser atingido pelo flanco, o destacamento da Legion foi dividido em dois enquanto o Azhi Dahāka se aprofundava neles. Sua vanguarda já havia sido mordida e estava na garganta do dragão, sendo derrotada uma após a outra pelo Azhi Dahāka. Enquanto isso, as duas unidades de vanguarda da Divisão Crazy Bones rasgaram o grupo inimigo, saíram das fileiras inimigas e então deram uma curva acentuada para, mais uma vez, atacar os flancos das monstruosidades de sucata como tubarões famintos.
Do canto de sua tela óptica, Yatrai podia ver soldados correndo para as trincheiras para reorganizar suas forças. Eles eram decisivos e rápidos o suficiente para não desperdiçar a chance que a chegada da Divisão Crazy Bones lhes concedera. Contudo, não eram civis da Federação, mas bestas Vargus.
Ao desferir um golpe no ponto de junção do turret desprotegido de um Löwe que se aproximava, abatendo-o instantaneamente, Yatrai ligou o alto-falante externo.
— Vocês lutaram bem. Os reforços chegarão em breve. Aguentem até lá.
— Entendido.
A resposta no rádio veio após uma pausa, talvez de espanto ou vergonha e humilhação pelos que morreram… Ele não sabia sob qual governador esses homens lutavam, mas eles falharam miseravelmente em discipliná-los.
— Mas precisamos fazer um pedido. Os renegados que abandonaram nossos irmãos não podem ser confiáveis. Por favor, não os reutilizem e enviem os nossos próprios como reforços.
Yatrai soltou um suspiro enquanto sorria de forma irônica.
— Muito bem. Mas em troca, mantenham essa posição até o último suspiro, vocês.
— Isso nem precisa ser dito.
A transmissão no rádio foi interrompida ali. Seu tenente, que havia permanecido em silêncio durante a comunicação, falou em seguida.
— Lord Yatrai, a divisão das forças em cada frente e a recuperação e reintegração das tropas de artilharia e blindados estão indo conforme o cronograma, mas há um atraso na reintegração dos soldados resgatados de volta às fileiras.
As divisões de artilharia e blindados que começaram a se retirar primeiro já haviam sido recuperadas e trazidas para a linha defensiva de Harutari; no momento, estavam se preparando para reorganizar suas unidades e reintegrá-las ao combate. Enquanto isso, a unidade de infantaria que começou a fugir antes que a ordem fosse oficialmente dada já havia chegado à linha defensiva e também seria enviada de volta à luta. No entanto…
Enquanto Yatrai permanecia em silêncio, aguardando uma resposta, seu tenente continuou.
— São desertores. Covardes. Eles choram e gritam como crianças, dizendo que não querem mais lutar.
— Tolos.
Yatrai os descartou com uma risada fria. De fato, eram tolos de mente rasa. Eles realmente acreditavam que desertar sob fogo inimigo significava que haviam escapado do campo de batalha.
— Diga-lhes para atirar neles um por um até que comecem a gritar, Sim, senhor. E que não enviem mais relatórios como aquele. Para que serviram os Vánagandrs que lhes demos? Se esses cães soldados não conseguem disciplinar os galos, isso reflete mal sobre nós, como criadores de gado.
Seu tenente riu. Yatrai não sabia, mas a razão pela qual ele fora escolhido para ser o próximo herdeiro do clã Nouzen não era por causa da influência de sua família ou de sua relação sanguínea com o Marquês Seiei. Era porque ele possuía uma qualidade crucial nesses tempos de guerra: crueldade e brutalidade alimentadas pelo orgulho e pela insensibilidade, algo que não se via desde o fundador da família.
Um neto de sangue misto, cuja única vantagem era sua descendência direta do chefe atual, não poderia se comparar a ele.
— Pela sua vontade, Lord Yatrai. Minhas costas são suas.
Enquanto não estava no campo de batalha, Theo ainda era um soldado, e a situação na capital era desesperadora. Ele precisava carregar uma pistola consigo. Ele engatilhou o ferrolho, carregando o primeiro projétil. A arma padrão da Federação era um modelo pequeno, com capacidade limitada, e ele não tinha um cartucho reserva consigo, então não teria muitos disparos. Mas, se as palavras de Frederica fossem verdadeiras, não haveria necessidade de atirar.
Ainda assim, para garantir sua segurança, ele se esgueirou pela janela da mansão, com a arma carregada.
— Espere, quem é aquele?!
— O que os guardas estão fazendo?!
Ele ouviu os membros da unidade Flame Leopard levantando a voz à distância. Eles haviam cercado a área para impedir que os insurgentes escapassem, mas não esperavam que alguém entrasse de fora.
Pisando com cuidado sobre o chão coberto de cacos de vidro, ele rolou pelo carpete do corredor. Um instante depois, ouviu as balas atingirem a moldura da janela do lado de fora. O estrondo dos disparos veio um segundo depois — os tiros viajavam rápido, um fenômeno típico de rifles. Era fogo de um atirador de elite, mirando todo o perímetro norte da mansão, incluindo a janela.
— Uau... Eles realmente atiraram em mim — sussurrou, mantendo a cabeça baixa.
A infiltração de Theo já havia sido detectada há muito tempo, mas os Flame Leopards demoraram a relatar e receber ordens antes de atacar. Isso provavelmente aconteceu porque essas unidades nobres não eram tão insensíveis a ponto de atirar em um soldado da Federação por conta própria. Esses foram tiros de advertência, não destinados a acertar o alvo, mas apenas para intimidá-lo.
— Frederica, onde está o Ernst?
— Na sala de estar. Os Bleachers… pelo que eu posso perceber, estão todos lá também.
De fato, enquanto Theo pressionava as costas contra a parede, ele não conseguia ouvir conversas ou passos. E, embora a mansão privada do presidente não fosse construída de forma tão precária a ponto de sussurros serem ouvidos à distância, o estrondo de um disparo de rifle ainda seria audível. Então, se houvesse guardas fazendo patrulha, já teriam reagido ao tiro.
...Eu provavelmente deveria presumir que este lugar está vazio, exceto pela sala de estar.
Ainda assim, ele se dirigiu para lá, cauteloso com outros sons. Era verdade, o lugar estava cheio de pessoas. Além de ouvir passos úmidos e pegajosos, ele podia praticamente sentir o calor corporal de muitas pessoas.
Passos molhados. Dentro de casa.
Ele tentou amargamente imaginar a situação interna. O pior, porém, era que havia um cheiro sinistramente familiar no ar. Já tinha um tempo que Frederica estava em silêncio, como se estivesse segurando as lágrimas. Ele se aproximou da sombra da porta e espiou para dentro.
E então Theo engoliu em choque. Frederica lhe contara o essencial sobre o que acontecera, e ele já imaginara aquilo pelo cheiro de sangue. E ainda assim…
No meio dos Bleachers, que jaziam espalhados pelo carpete como meros objetos, erguia-se um firedrake de cor cinza-acinzentada, brandindo um rifle de assalto com a coronha manchada de sangue. Sua cabeça estava encharcada de sangue, e seu traje característico exibia diversas manchas.
A neve caía silenciosamente, apenas para derreter na lama devido ao calor dos projéteis que rasgavam o ar, dos canos de armas ficando incandescentes e dos canos de escape de veículos blindados e caminhões expelindo fumaça. Enquanto os Reginleifs voavam pelo campo de batalha, respingavam na lama, cobrindo sua armadura branca com sujeira.
Com o Kampf Pfau mantendo o Morpho sob controle, os bombardeios tornaram-se mais esporádicos. Enquanto Shin e a 1ª Divisão Blindada avançavam intencionalmente por montanhas íngremes, que dificultavam a movimentação das unidades polipédicas, as forças terrestres da Legion que os perseguiam também tinham dificuldades para atravessar a área, em comparação com terrenos abertos.
Ao cruzarem ravinas entre penhascos íngremes, por estradas de terra repletas de raízes retorcidas e galhos espalhados, até mesmo os pequenos Reginleifs precisavam se mover em pequenos grupos. Continuavam avançando enquanto verificavam o terreno para evitar becos sem saída, o que impedia um progresso rápido. Mesmo que quisessem descer até a base das montanhas, o terreno ali era muito plano e estava tomado por remanescentes da Legion. Assim, só podiam seguir pela estrada montanhosa, tendo como único alívio o fato de que a vegetação densa os mantinha fora do olhar atento dos Rabe.
Lá embaixo, na superfície, os desertores ainda estavam espalhados por todo o campo de batalha como gafanhotos famintos. Eles correram e congestionaram a estrada pavimentada para a linha defensiva Harutari. Pior ainda, tentaram invadir as trincheiras da linha Harutari sem entrar em contato com a guarnição, e acabaram acionando minas, empurrando cercas de arame e bloqueando linhas de fogo — efetivamente auxiliando o ataque da Legion.
Shin não conseguiu conter sua raiva ao ver aquilo. Por que todo mundo estava sendo tão estúpido? Se podiam ver que a situação estava piorando, por que insistiam em fazer as coisas do seu jeito? Deixaram suas próprias preocupações, seus medos, guiarem suas emoções.
Outra unidade começou a persegui-los. Encontrando um ponto estratégico, montaram uma linha defensiva e interceptaram a guarda de avanço inimiga enquanto atacavam outra unidade pelo flanco. Reginleifs não eram eficazes para parar no meio do combate. Unidades que paravam para montar uma linha defensiva corriam o risco de perdas, mas não tinham infantaria na qual confiar, exceto pelas tropas Vargus que os escoltavam. Se a infantaria cooperasse com eles, suas chances de sobrevivência seriam melhores, mas isso não era considerado.
Shin não conseguiu conter sua raiva diante dessa tolice.
...Por quê?
Eles colocaram sua fraqueza e tolice em exibição, como se estivessem confiantes de que poderiam fazer qualquer coisa sem consequências. Mesmo a ideia de que outros poderiam se envolver nos problemas que causaram, ou que estivessem se colocando em perigo, não os preocupava. Eles estavam se deixando levar por seu comportamento autodestrutivo.
Por que você faz isso?
†
Ao ouvir que seu consorte Morpho fora derrubado por aquele inferior canhão ferroviário da Federação, o cérebro de Liquid Micromachine de Nidhogg ferveu com memórias de humilhação ardente. Aquele canhão ferroviário da Federação. Aquele modelo inferior, com sua baixa precisão, menor calibre e velocidade inicial mais baixa em comparação com um Morpho como Nidhogg. E, apesar de tudo isso, foi o canhão de longo alcance que o derrotou.
Ele me derrotou. Uma vez.
†
Ele podia ouvir os gemidos familiares de um Morpho, surpreendentemente perto.
É a nossa vez. Nossa vez.
Era a voz do Morpho que havia lançado bombas incendiárias no trem de evacuação durante a Expedição de Socorro da República, dois meses atrás. Surpreendentemente, estava a apenas algumas dezenas de quilômetros de Shin e do esquadrão Spearhead, dentro do alcance do fogo de obus. O canhão de artilharia de longo alcance, com um alcance efetivo máximo de quatrocentos quilômetros, havia avançado tanto que estava a um estalo da posição de reserva Harutari.
Estava perto demais para estar mirando na posição Harutari. O que significava que estava—
— Mirando no Kampf Pfau?
Não se importava com a infantaria aos seus pés, mesmo que fossem tropas derrotadas, ou com os Vargus que podiam estar à espreita em algum lugar, ou com os membros do Esquadrão de Ataque posicionados na frente da posição.
Cantava que era a sua vez, gemendo suas últimas palavras. Provavelmente era um antigo Eighty-Six, alguém que escolheu o ódio pela República acima de tudo e tentou destruí-la por completo.
— Você matou tantos.
E ainda assim não era o suficiente. Ainda queria matar mais. E agora seu inimigo nem era mais a República. Tinha seus alvos na Federação, que nada tinha a ver com a internação e a perseguição que havia sofrido em vida, alegando que era a sua vez.
Neste ponto, já não se tratava mais de vingança.
Pobre alma. O pensamento passou pela mente de Shin friamente.
No entanto, não era a mesma misericórdia que Shin sentia pela Legion e pelas almas presas dentro delas, mas sim um ódio mais forte, mais intenso. Esta alma tinha esquecido a honra de lutar até o fim, e estava consumida pela vingança… apenas para esquecer contra quem seu ódio estava direcionado. Estava tão tomada pelos seus instintos de máquina de combate que deixou seu ódio levá-la, afundando em um massacre sem sentido.
No fim das contas, ele é igual a eles.
Igual ao Regimento Hail Mary e a todos os desertores neste campo de batalha, que usaram sua tolice como desculpa para parar de pensar, usaram sua fraqueza como justificativa para deixar o egoísmo guiá-los. Ser fraco e patético.
Repulsivo. Completamente… irritante.
Shin deu um suspiro — o rápido e afiado suspiro de um predador faminto encarando sua presa.
— 1ª Divisão de Infantaria, sigam-me. Vamos atacar aquele idiota que apareceu na linha de frente.
Mas, dito isso, a 1ª Divisão Blindada havia sido dividida em pequenos grupos durante a marcha devido ao bombardeio do Morpho, o que significava que não estavam organizados em batalhões — ou até mesmo em pelotões, em alguns casos.
— Shin, o quê?! — Kurena, cujo 5º Pelotão havia se juntado a outro grupo na divisão, respondeu surpresa.
As unidades próximas ao Undertaker seguiram, independentemente da afiliação da esquadrilha. Felizmente, as três unidades do pelotão de Shin estavam por perto e seguiram. O 2º Pelotão de Raiden também se juntou.
— Kurena, você sabe o que fazer. Fique aqui.
— Raiden, conto com você!
Ela entendeu. Com Shin e Raiden fora, ela e Anju eram as próximas na linha de comando. Como uma das veteranas de antes da criação do Esquadrão de Ataque, ela tinha que ficar para assumir o comando da 1ª Divisão Blindada.
— Eu cuido das coisas aqui. Então você tem que voltar!
— Eles estão sendo imprudentes de novo... Lerche, cubra para eles.
Vika suspirou, ordenando que Lerche ajudasse.
— Isso nem se pergunta.
— Não, um batalhão não será suficiente. Vamos dar apoio para a saída deles! 2º Pelotão, todas as unidades que podem responder devem se reunir e se conectar com as unidades próximas!
— Aaah, que saco! Nouzen, acabei de te enviar um mapa atualizado!
Rito consolidou as tropas ao redor enquanto Marcel enviava os dados do mapa que ele havia rapidamente levantado. Shin estava agindo por conta própria, e Grethe relutantemente aprovou isso.
— Eliminar esse alvo será necessário para uma retirada certa, Capitão Nouzen. Vou pedir uma distração para atrasá-lo. Derrube-o rápido e volte aqui.
— Entendido.
Enquanto essa conversa acontecia, a mente de Anju vagueava. Raiden se juntou a Shin, enquanto Kurena ficou para trás. E quanto a ela?
….Dustin.
Se ela fosse escolher apenas Dustin, o correto seria ver Shin partir. Isso não significava que ele falharia em voltar. Shin era forte o suficiente para se cuidar sozinho. Ele não era fraco como Dustin e ela, então, certamente, ele daria conta do Morpho e voltaria em segurança.
Mas, afinal…
Shin é um Reaper fraco que não consegue lutar sozinho.
Então, se algum dia todos o abandonassem, como Anju estava prestes a fazer, ele lutaria sozinho, até se exaurir e morrer. Mesmo nesta batalha, Shin poderia ser reduzido a uma morte heroica e nunca mais voltar.
E Anju não queria que isso acontecesse.
O Irmão mais velho parecia um pouco lastimável ali atrás.
Ela sabia que Shin era, na verdade, mais fraco e menos confiável do que parecia. Era por isso que não podiam deixar que ele, o Reaper gentil, se tornasse o herói de todos. Ele não era forte o suficiente para suportar o peso de todos dependentes dele, e eles não iriam contribuir para que ele se despedaçasse.
Eu, eu sou… fraca e pouco confiável também. Fraca e trapaceira. Mas pelo menos posso administrar isso... Eu posso, sozinha, salvar ele. E proteger aqueles que eu quero manter seguros. Mesmo que seja a bondade de uma trapaceira, ao menos posso manter isso. Fraca e repulsiva como sou, ao menos posso fazer isso.
Seus olhos se estreitaram em resolução. Kurena e as unidades ao redor dela, o Wehrwolf de Raiden e o Undertaker de Shin — todos eles tinham canhões automáticos com mira direta e turrets de tanque. Eles precisariam de uma unidade de supressão de superfície com alcance amplo e mira indireta. Por outro lado, Kurena, como comandante temporária, tinha forças para escoltá-la.
— Dustin, Yuu, fiquem aqui. Michihi, venha comigo!
— Entendido, Anju.
— Eu vou me conectar com o 5º Pelotão e assumir o fogo de cobertura para Kurena.
Dustin permaneceu em silêncio. Presumindo que ele não a tivesse ouvido, ela trocou a Para-RAID para ele.
— Dustin, escute... Você é puro, então—
— ?
Ele a observou com o que parecia ser um silêncio confuso. Não disse nada, provavelmente incapaz de aceitar o que ela estava prestes a dizer. Mas, se ele lembrasse disso mais tarde e percebesse, isso já seria suficiente.
Se isso for o que vai te inspirar a lembrar quem você é, da parte de si mesma que você está começando a perder de vista, já está bom.
Parece que isso dói.
É óbvio que você não esqueceria dele.
Ele a deixou falar sobre as cicatrizes que queria perder. Afirmou seu desejo de não esquecer a pessoa que amava. Ele era tão puro que nem sequer pediria que ela o esquecesse.
Se você fizer isso, nunca será feliz.
Ele desejava a felicidade dela. E embora fosse fraco demais para proteger essas palavras, essa pureza, naquele momento...
— Você é tão gentil, que só pode viver na pureza. Então não pode se deixar trair... Mas para alguém tão gentil quanto você, essa é provavelmente a única forma que sabe viver. Não pode trair quem você é.
Eu acho que isso é uma maldição, mas... afinal, sou uma bruxa. Uma bruxa gananciosa e injusta.
— Eu sou uma mulher injusta, então vou aproveitar dessa gentileza... Mantenha sua promessa e não morra.
Porque eu prometo que vou voltar.
†
Como o Morpho tinha pernas metálicas no lugar de rodas, ele tecnicamente poderia sair dos trilhos. Seu peso massivo não poderia ser suportado pela maioria das fundações do solo, afundando na terra, e mesmo que isso não acontecesse, ele não conseguiria viajar tão rápido quanto nos trilhos, mas ainda assim seria possível. Então, Nidhogg encontrou uma estrada militar pavimentada firme na qual poderia se mover lentamente, com cuidado.
Andava devagar, como um inseto rastejando, mas a infantaria comum sabia melhor do que se aproximar do gigantesco dragão. Enquanto corriam em pânico, tentando ganhar distância, ele mirava seu radar de longo alcance neles, fazendo com que seus líquidos corporais ferverem devido às ondas poderosas do radar, como uma diversão enquanto esperava pelo erro do canhão ferroviário inimigo disparar.
Venham até mim. Eu vim até aqui, para onde não posso me mover. Atirem em mim. Desta vez, atirarei de volta antes que consigam me acertar.
Claro, sua vingança não podia alcançar o outro canhão ferroviário, e ainda assim... uma reação em seu radar antiaéreo. Projetéis de alta velocidade detectados.
Lá!
Com uma alegria quase infantil, Nidhogg girou a direção de seu cano alongado. Calculando o trajeto dos projéteis, começou a identificar a posição do Kampf Pfau. Ignorou qualquer projétil que estava fora de curso, espalhou suas asas de dissipação de calor. Sua consciência, ainda turvada pelo ódio com o qual morreu, estava submersa pela loucura que vinha com a aceitação de seus instintos como uma máquina de matar. Terminou de identificar a posição de disparo. Seu cano tremeu, ajustando a mira enquanto se preparava para o contra-ataque—
Mas então...
Um shell de tanque foi disparado em sua direção, vindo de uma direção totalmente inesperada, atingindo-o e abalando seus sensores e pensamentos mecânicos.
†
Seu ponto de mira seguiu sua linha de visão, cruzando com a estrutura do Morpho enquanto Shin apertava o gatilho. Seu projétil APFSDS atingiu-o diretamente, fazendo sua armadura reativa explodir, cobrindo o Morpho com fumaça negra.
Olhando-o friamente, Shin cuspiu.
— Idiota.
Perseguir um exército derrotado, desorganizado, para desferir golpes em suas costas expostas era a maneira mais eficiente de causar perdas, mas fazer isso também desorganizava as próprias fileiras da Legion, e avançar sem perder velocidade significava que a vigilância do ambiente seria menor. E, para começar, nem todas as unidades de infantaria haviam fugido, algumas ainda estavam lutando.
E no meio de um campo de batalha onde era difícil distinguir amigos de inimigos, uma lenta e monótona artilharia ferroviária apareceu. Cega pela vitória, moveu-se de forma imprudente, até saindo dos trilhos que poderiam permitir sua fuga para a segurança. E ela se permitiu essa arrogância, apesar de enfrentar os Eighty-Six, que haviam sido condicionados a lutar contra a ameaçadora Legion em caixões de alumínio defeituosos.
E sendo um deles, o Morpho sabia disso. Mas ao se juntar ao exército de fantasmas mecânicos, ele se tornara arrogante e embriagado de poder, negligenciando a vigilância exigida pelo campo de batalha. Apesar de tudo isso, ainda possuía a mentalidade de um Juggernaut descartável, um Processador descartável. Não conseguiu perceber a importância e o valor do Morpho como uma arma tática, convencendo-se complacentemente de que era inútil.
Se for assim, então você não é mais o fantasma de um Eighty-Six. Você está apenas se banhando em desespero ocioso no lugar onde foi levado, sem tentar ir a lugar algum ou ser capaz de fazer algo — só mais um tolo impotente e repulsivo.
— Engajando o inimigo. Coronel Grethe, você pode dizer a eles que o Kampf Pfau não precisa mais distraí-lo ou mantê-lo à distância... Como esperado, esse idiota estava esperando que ele atirasse para disparar de volta.
Grethe franziu a testa do outro lado da Ressonância.
— Vou precisar pedir para você se acalmar, Capitão. Esse tipo de relatório inútil não é necessário.
— Certo, — respondeu Shin, mas as palavras dela entraram por um ouvido e saíram pelo outro.
Seu estilo de combate era corpo a corpo, usando armamentos de curto alcance — atípico para uma arma blindada, exigia extrema concentração. A essa altura, os pensamentos de Shin estavam fixados exclusivamente na unidade inimiga diante de seus olhos.
†
As ondas de radar, fundamentalmente, viajavam em linha reta, o que significava que seu alcance de detecção diminuía à medida que se distanciava da superfície além do horizonte. E se alguém se escondesse nas sombras de colinas, vales, casas ou trincheiras, era possível escapar totalmente do estreito alcance de detecção de Nidhogg.
Só quando foi atingido diretamente por um shell de tanque é que Nidhogg percebeu que armamentos blindados se aproximavam dele. Naquele momento, a unidade inimiga já estava a menos de dois mil metros de distância, dentro do alcance de um shell de tanque. Por outro lado, o cano longo do Morpho, com seu alcance de quatrocentos quilômetros, significava que os inimigos de Nidhogg estavam muito perto para serem eficazmente mirados.
Eles estavam percorrendo rapidamente aqueles dois mil metros também. Não eram as usuais unidades metalizadas com a bandeira da Federação. Tinham armaduras da cor de osso polido, e uma turret de tanque nas costas, estendendo-se como a cauda de um escorpião. Rastejavam sobre quatro patas, como esqueletos se movendo em busca de suas cabeças perdidas.
Juggernauts?!
Não. Sua busca no banco de dados trouxe outro nome — Reginleif. O Feldreß de alta mobilidade único da Federação. Nidhogg entendeu isso, mas a emoção que o dominava não desapareceu. O Juggernaut. O mesmo tipo de unidade que ele uma vez usou ao lado de seus camaradas, no Setor Eighty- Sixth.
A sensação de ser atacado pelos próprios Eighty-Six, a ilusão de ser culpado pelos seus companheiros, fez o fantasma de um soldado infantil agora conhecido como Nidhogg estremecer.
Não. Não, eles não são meus camaradas. Meus amigos, meu esquadrão todo foi transformado em Legion comigo. Todos eles sentem o mesmo. Então eles não... Meus amigos não me culpariam!
Eu...
Não fiz nada de errado. Eu só queria me vingar deles, dos porcos brancos!
Mas seu grito não alcançou ninguém. Os esqueletos sem cabeça choviam fogo de canhão sobre ele, que se tornara o monstro de que seu nome se originava.
Projéteis guiados choviam fragmentos auto-formadores sobre ele, e shells de tanque perfuravam seu flanco. Explosivos de alta potência o atingiam, e rajadas de metralhadora o varriam. As Liquid Micromachine que formavam seu cano, as escamas de sua armadura reativa explosiva e seus seis canhões automáticos antiaéreos foram rapidamente reduzidos a nada.
Apesar de não conseguir alinhar corretamente sua linha de tiro contra eles a essa distância, ainda tentou mover seu cano. Em vez de mirá-los, tentou escapar da linha de tiro deles ou talvez pulverizar o metal líquido carregado para impulsionar os projéteis em seus canos. Seu canhão ferroviário de 800 mm era temível e imbatível, mas, uma vez que não pudesse atirar, ele se tornava efetivamente inútil. Ele só podia ficar ali enquanto os Reginleifs o bombardeavam com shells de tanque vindos de três direções, cada um deles uma acusação de seus pecados.
Parem. Chega. Me ajudem!
Mas ninguém — nem mesmo o Reaper de olhos vermelhos — podia ouvir seus gritos.
†
Os mísseis lentos inicialmente foram disparados apenas para servir como isca. Os canhões automáticos antiaéreos do Morpho se viraram para disparar e interceptar os mísseis enquanto voavam pelo ar, deixando um rastro de chamas. Mas, à medida que as miras das armas e a atenção geral do Morpho se moviam para cima, Undertaker e os outros Reginleifs carregados com turrets de tanque dispararam contra ele de ambos os flancos. Isso destruiu todos os seis canhões automáticos de uma vez.
Sozinho, Undertaker teria dificuldades para silenciar todos os canhões automáticos antiaéreos, mas lutando em equipe com várias unidades operando em conjunto, eles conseguiram eliminar os canhões com facilidade.
Após isso, os mísseis no céu soltaram suas bombas de cluster, e os projéteis de 88 mm caíram sobre o Morpho após um curto atraso. Isso disparou intencionalmente a armadura reativa explosiva, espalhando explosões, flashes, ondas de calor e um som alto que cegou os sensores do Morpho.
Enquanto isso, Shin e as três unidades de seu pelotão, junto com o 2º Pelotão de Raiden, se dividiram em três e se aproximaram.
— Unidades de configuração de artilharia, metade de vocês deixam as munições como estão, e a outra metade, troquem para bombas incendiárias.
Armados com projéteis explosivos, as unidades de artilharia deveriam contra-atacar o disparo do canhão ferroviário, enquanto as bombas incendiárias serviriam para combater os fios elétricos que provavelmente seriam implantados em breve para combate corpo a corpo. Com explosivos de alta potência atingindo o Morpho cada vez que ele tentava alinhar suas miras, ele não conseguiu impedir a aproximação de Shin. A parte traseira da unidade tremeu, e como esperado, suas asas expelidoras de radiação se abriram. Ela mirou em Undertaker e suas unidades companheiras, balançando suas inúmeras chicotadas metálicas para baixo como raios.
— Bombas incendiárias, fogo.
Mas o fogo infernal os atingiu, fazendo-os cair inertes no chão. A batalha com o primeiro Morpho, Kiriya Nouzen, já ensinara a Shin que os fios de curto alcance eram vulneráveis a altas temperaturas.
Com as unidades se aproximando e todos os seus meios de ataque perdidos, o Morpho começou a balançar seu turret com movimentos que pareciam quase desesperados. À medida que se movia, arrastava os fios inertes pelo chão, tentando varrer horizontalmente um Reginleif em aproximação — e purgava todos os fios no meio dos movimentos. O impulso do balanço fez os fios voarem como inúmeras flechas. A trajetória varrida daquela torrente prateada fez os Reginleifs frearem onde estavam e se agacharem para desviar.
— Uau!
— Essa foi por pouco!
Mas Shin, sozinho, foi capaz de apenas escapar da torrente e continuar sua investida.
Enquanto a força principal da 1ª Divisão Blindada ficava para trás para garantir a saída, Dustin escutava a batalha em andamento pelo Para-RAID. Ele não se juntou ao destacamento que foi eliminar o Morpho, claro. Faltavam-lhe as habilidades, tanto que Anju havia explicitamente dito para ele não ir.
Era presunçoso da parte dele sentir ciúmes ou inveja. Apesar de a batalha ter começado há pouco tempo, ela já se aproximava de seu clímax. Enquanto os outros Valkyries eram forçados a parar devido ao contra-ataque desesperado do Morpho, Undertaker, sozinho — como se tornara seu distintivo — avançava. O Reaper sem cabeça apostava em um combate um-a-um, confiando em suas habilidades de combate transcendentes, que nenhum dos elite Eighty-Six, para não falar de um Dustin impotente, poderia sequer sonhar em igualar.
...Mas — naquele momento, Dustin pensou — ele não salvou a Citri.
Por mais forte que Shin fosse, ao contrário de Dustin, ele não considerava salvar Citri, uma companheira Eighty-Six.
Você realmente é forte, Shin. Por que não...?
Eu….
Por quanto tempo isso vai continuar?!
Eu gritei essas palavras, embora não pudesse mudar as coisas, embora estivesse cego para o quão impotente eu era.
Esses pensamentos assombraram a mente de Dustin, no meio do combate e no centro do campo de batalha. Apesar de ser um Processador da República que carecia da habilidade e experiência de um Eighty-Six ou de um soldado da República, ele deixou que a angústia dominasse sua mente.
E no sentido em que ele deixou a angústia distraí-lo — sim, ele era fraco.
— Dustin!
Quem foi que o chamou em aviso? Quando ele despertou de seus pensamentos, um shell se aproximava dele de cima.
— Ah.
O shell o atingiu.
— Dustin!
Não era um shell de tanque, mas um projétil não guiado, e, embora não tenha sido um impacto direto, atingiu-o de perto.
Com um projétil de 155 mm, que poderia destruir um Vánagandr com um acerto direto, explodindo em seu flanco, o Sagittarius sofreu danos severos e foi lançado para longe. Eles estavam lutando em uma densa floresta nas montanhas íngremes.
O Sagittarius rolou profundamente na escuridão verdejante, desaparecendo além do véu de neve.
O Para-RAID foi cortado. Seu ponto no radar também desapareceu. Frederica ainda não havia retornado. Seu companheiro de esquadrão que gritou o aviso, Yuu, exclamou instantaneamente.
— Kurena, precisamos resgatá-lo!
Kurena examinou sua tela de radar por alguns segundos, observando os pontos dos blips das unidades sob seu comando, a distribuição inimiga e os pontos onde os reforços inimigos e emboscadas previstas estavam, antes de tomar sua decisão. Ela falou com a severidade de uma comandante no campo de batalha, que tinha que ler várias fontes de informação e pensar rapidamente.
— Não podemos. Se reduzirmos ainda mais nossas forças, toda esta área vai desmoronar.
Eles estavam aguentando, esperando o retorno de Shin e dos outros, para que pudessem se mover para um terreno mais vantajoso. Se deixassem forças saírem de sua unidade enquanto lutavam para manter uma linha defensiva, todas as forças sob o comando de Kurena poderiam acabar sendo dizimadas.
— Eu posso ir sozinha—
— Não posso aprovar isso. Não é uma área onde você possa procurá-lo e voltar sozinha. E não temos tempo para esperar você fazer isso também.
Marcel percebeu a situação e analisou o ponto onde Dustin havia caído e o terreno ali. Era um desfiladeiro mais profundo do que parecia. Não havia como saber onde sua unidade tinha rolado ou se poderia ter ficado presa em algo. E se sua unidade estivesse gravemente danificada e caísse em um desfiladeiro, não havia como saber se Dustin havia sobrevivido. Eles não podiam arriscar mandar Yuu para o perigo se Dustin estivesse morto. Se Frederica estivesse ali, poderiam ao menos confirmar se ele estava vivo, mas ela não estava.
Um dos oficiais de equipe fez um anúncio: Dustin Jaeger foi designado como desaparecido em ação (MIA). Eles deveriam continuar a retirada.
— Sua decisão não estava errada, Segundo Tenente Kukumila... Não a torne mais difícil para ela, Segundo Tenente Kouzo.
— Entendido….
Enquanto ouvia Yuu responder roucamente, Kurena fechou os olhos por um momento, arrependida.
Desculpe, Dustin, Anju.
Os fios simplesmente foram balançados e liberados, fazendo sua trajetória reta, sem permitir distrações. E com sua visão dinâmica, acostumada ao combate corpo a corpo com o Grauwolf e até mesmo o Phönix, Shin conseguiu desviar deles com facilidade.
Em um segundo, ele foi capaz de discernir um caminho que lhe permitia passar pelos intervalos dos inúmeros fios e deslizar com o Undertaker por aquela região estreita. Enquanto se movia, ele inseriu o comando para trocar seu armamento.
O canhão de 800 mm do inimigo, com suas centenas de toneladas de peso, não podia mudar instantaneamente a direção de seu movimento. Sem nada em seu caminho, Shin avançou rapidamente além do canhão. Com o cano de trinta metros agora reduzido a nada além de um pesado bastão, Shin se esgueirou para o flanco do dragão. Ao virar os olhos, avistando o metal líquido prateado na periferia de sua visão, sua mira se ajustou com seu olhar e se alinhou ao alvo.
— Já vi isso antes também.
Ele poderia enrolar e torcer o metal líquido que formava seu cano, transformando-o em inúmeras lâminas finas ou convertê-las em lanças que ele poderia disparar de seu cano. O Undertaker disparou projéteis HEAT com fusíveis temporizados, que explodiram e espirraram os projéteis liquefeitos dentro do cano. O Phönix com quem ele lutara no campo de batalha do norte usava sua armadura de metal líquido para disparar projéteis exatamente da mesma maneira.
Quando o Morpho viu seu provável trunfo ser eliminado sem esforço, sua gigantesca forma agiu de maneira desajeitada e, desta vez, claramente se encolheu. Tentou rastejar para longe com as pernas cobertas de lama. O grande dragão estava desesperadamente tentando sair, embora ainda pudesse tentar chutar Undertaker para longe ou golpeá-lo com seu cano.
Era fraqueza. A fraqueza de escolher o ódio, deixar o ódio manchar você, mas nem ao menos ser capaz de seguir em frente com aquele ódio.
— Patético.
Começou a balançar seu cano — não tanto para interceptar Shin, mas mais como uma criança batendo os braços em um ataque cego e assustado — só para Shin disparar seu âncoraz de fio na borda do turret. Saltando, ele recolheu o fio, indo muito mais longe do que sua distância de salto usual até alcançar o topo do turret.
Enquanto o dragão tóxico Nidhogg rastejava pelo chão, olhando para o céu, o Reginleif Valkyrie dominava-o, com os céus azuis e inalcançáveis em seu fundo.
— Ah, por favor, Nouzen está sendo idiota e tentando derrotá-lo sozinho de novo! — Tachina, do pelotão de Shin, xingou.
Raiden estava inclinado a concordar.
— Ele nunca vai aprender, vai, seu imbecil…?!
Ele conseguia entender como Shin se sentia, mas por que ele não mostrava um pouco de contenção? Enquanto ele exibia sua força indo cara a cara, Raiden era quem tinha que assumir o comando e oferecer apoio. Continha o impulso de estalar a língua. Se estivessem fora de suas unidades, ele teria dado um chute nas costas de Shin agora mesmo.
Mas, de repente, um alvo extra no Para-RAID se juntou à Resonance. Um dragão negro e rastejante, e um flash branco vindo dos céus. Era como uma cena de mito. Um deus guerreiro ou um herói matando um dragão.
E foi por isso que os soldados derrotados olharam essa cena com olhos de raiva e profunda suspeita.
— Se vocês podem fazer isso…
Se realmente são heróis, se são tão fortes, por que não… por que vocês…?
Shin aterrissou no topo do cano quase perpendicular, bem na ponta da lança. O Undertaker desceu ao longo de seu comprimento, rolando em vez de correr, chegando à abertura entre as asas em suas costas. Quando sua unidade estava prestes a deslizar devido à força do impacto, ele cravou o martelo de perfuração para frear, depois usou suas lâminas para rasgar o painel de manutenção que estava no caminho.
O Morpho original havia se agitado e se contorcido quando Shin se prendeu a ele, tentando se sacudir, mas parecia que esse espectro não possuía o espírito de luta que o cavaleiro de Frederica, Kiriya Nouzen, tinha. Na época, a Legion ainda não havia descoberto como se transformar em borboletas para escapar, então o Morpho recorreu a disparar diretamente acima do cano para explodir tanto a si mesmo quanto Shin. Este aqui não tinha essa determinação firme.
...Embora até aquele jovem, com sua firme resolução, tenha encontrado sua segunda morte sem jamais ter vingado seu governante.
Shin ouviu uma voz pelo rádio. Era o murmúrio de um soldado de infantaria falando por uma frequência de emergência comum a todas as unidades.
— Se você pode fazer isso... Se pode derrotar um Morpho com tanta facilidade...
Por que não destruiu isso antes? Por que não protegeu a Federação? Por que...
...não nos salvou?
Shin não conseguiu evitar um sorriso de desprezo.
É isso que estão dizendo?
Você também tem poder, afinal.
Esses soldados, e os sobreviventes do Regimento Hail Mary que uivaram de raiva e ódio enquanto desapareciam em uma rajada de balas. Cada um deles tinha poder. Mesmo aqueles jovens que não conseguiram salvar seus amigos, com todo aquele ódio queimando dentro deles — colocaram a culpa em outra pessoa.
Eles podiam apontar para outra pessoa e dizer que a culpa era de alguém mais, ou de algo mais. Eles tinham o poder de condenar os outros e chamá-los de maus.
Quando se tratava de pessoas... Mesmo aqueles sem o poder de se salvar tinham o poder de derrubar os outros. O poder de distorcer alguém ao redor e transformá-lo em algo maligno.
Ele ainda se lembrava disso. O rosto daqueles jovens, tão unidos em seus pensamentos e emoções que ele não conseguia distinguir seus rostos. Aqueles rostos temíveis de humanos que haviam deixado de lado a individualidade para se tornarem partes do grupo.
Ver aqueles rostos horríveis fez Shin ficar completamente aterrorizado na época — esse poder que podia fazer uma nação inteira gritar como uma só e seu resultado, que era a República e o Setor Eighty- Sixth.
Com esse tipo de poder, a República poderia até mesmo ter destruído a Legion se realmente se dedicassem a isso, mas tudo o que fizeram foi usá-lo para derrubar os Eighty-Six. E o resultado foi o Setor Eighty-Six. Gritar aos quatro ventos que tudo era culpa de outra pessoa acabou levando a República à ruína, o Regimento Hail Mary à ruína, e agora estava fazendo o mesmo com esses soldados.
É por isso que não podemos vencer. É por isso que perdemos. É por isso que... vocês sempre serão impotentes.
Ele desviou o olhar, e sua mira seguiu, alinhando-se ao processador do Morpho. Ele trocou para seu armamento principal, o canhão de 88 mm de tanque. Enquanto as Liquid Micromachines prateadas borbulhavam, provavelmente tentando escapar, Shin fixou seus olhos nelas e, implacavelmente, puxou o gatilho.
Fogo — impacto, e explosão.
Chamas se ergueram do Morpho. Incontáveis borboletas de Liquid Micromachines voaram para longe, abandonando seu corpo. E em algum lugar dentro da unidade, um circuito independente acionou a sequência de autodestruição.
Tudo isso já havia sido observado e confirmado. Então Shin deu uma ordem breve. E os Eighty-Six, já acostumados a caçar Morphos, trocaram o tipo de munição antes mesmo de ele dizer a palavra.
— Fogo.
Quando o Undertaker saltou do cadáver do grande dragão, inúmeros projéteis incendiários explodiram atrás dele. As borboletas prateadas foram pegas pelo inferno, e a visão infernal dos gritos de um jovem soldado ainda pairava no ar. Enquanto os Reginleifs caminhavam calmamente para longe do cadáver do dragão em chamas, o Morpho se autodestruiu em um flash cegante que os acompanhou.
Eles chegaram a algumas ruínas de cidade na parte oeste do antigo território de Niantemis, a quinze quilômetros do território da Federação de Neunarkis. Estavam apenas a um dia de caminhada de Neunarkis — e, no entanto, Citri não tinha forças para fazer nem mesmo essa curta jornada.
Niantemis foi anexada pelo Império há mais de um século, e as ruínas da cidade davam a impressão de que o cenário urbano pavimentado e mantido da República havia sido reformado para se tornar uma cidade labiríntica e sinuosa, destinada a servir como um reduto imperial. Apenas a placa de uma estação de trem, do outro lado da cerca, onde os trilhos que seguiam para o oeste terminavam, permanecia como testemunho dessa antiga cidade natal.
E, no entanto, ao ver o nome NEUNARKIS naquela placa desbotada, Citri sorriu.
— Yuuto... Estamos na República. Este é o país onde eu...
Onde nós nascemos.
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