Volume 12
Prólogo: A TERRA SANTA DE MARY BLUE
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Mele vivia no município especial de Marylazulia, no norte do Império Giadiano. Ele passava todos os dias brincando do amanhecer ao anoitecer com crianças de idade semelhante que moravam no mesmo bloco. Havia seu melhor amigo, Otto, que morava no mesmo andar que ele. Milha e Yono, do andar de baixo. Rilé e Hisno do prédio ao lado, assim como Kiahi, que era como um irmão mais velho para todos eles. Cada bloco tinha seu próprio parque ou uma pequena área de floresta construída sobre rios secos nos arredores.
Marylazulia ficava no território de produção de Shemno, na fronteira de Wolfsland. Comparada a outros territórios de produção, que eram comunidades agrícolas típicas que não mudavam de aparência há um século, a cidade de Marylazulia parecia um mundo totalmente diferente. Estradas pavimentadas e limpas, sem um grão de poeira à vista. Cada bloco de edifícios era construído e pintado de maneira uniforme, lado a lado, formando complexos modernos de apartamentos de concreto. Suas grandes lojas estavam sempre abastecidas com mercadorias e utilidades.
Mele, Otto e as crianças dessa cidade nunca andaram descalços. Eles tinham sapatos, pão fino, carne fresca e roupas bonitas. A riqueza proporcionada aos territórios era ativamente e preferencialmente destinada à sua cidade. Graças à autoridade da Casa Mialona, seus governadores, e aos esforços da Casa Rohi, os protetores da cidade, sua maravilhosa terra natal foi transformada de uma comunidade agrícola comum para uma cidade rica que fornecia uma abundância de energia de ponta.
A grande usina de energia nos arredores enriquecia o município especial e o território. Esta usina, a Usina de Rashi, era o único remanescente do antigo nome da cidade após ser renomeada como Mary de Manto Azul (Mary Lazulia), em homenagem à esposa do governador de duas gerações atrás, que dedicou sua vida à pesquisa e ao planejamento da construção da usina. Foi ela quem tirou os avós e bisavós de Mele e seus amigos de uma vida de arar campos e cuidar de porcos. Foi ela quem estabeleceu esta instalação, que prometia a essas crianças comida, higiene e emprego.
Uma garota acenou da entrada do parque, seus cabelos de um tom de chocolate esfumaçado único dos Cairns, a nobre raça do povo Ferruginea que governava esta terra. Os fios marrons estavam amarrados em duas caudas, cada uma adornada com uma grande fita de renda tricotada à mão.
"Mele, pessoal, então é aqui que vocês estavam."
"Ah, Princesa!"
"É a princesa!"
"Princesa Noele!"
Mele e seus amigos aclamaram e correram até a garota. Esta era Noele, filha do chefe da família Rohi.
"A Princesa Niam da Casa Mialona me emprestou um filme. Vamos assistir juntos."
"Filme! Eu quero ver o filme!"
"Yay!"
Mele e os outros seguiram Noele animadamente. Noele era bonita e inteligente, a princesa coletiva da cidade, e para Mele e os outros, ela também era uma líder confiável. Todos na vila ouviam o que ela dizia.
"Princesa, sobre o que é o filme?"
"É sobre os leviatãs—monstros marinhos que assolam nossos vizinhos nos Países da Frota. Eles são muito grandes e podem facilmente afundar seus navios!"
"Eu já ouvi falar deles!" Otto levantou a mão entusiasticamente. "Quando o Rio Roginia ainda existia, os leviatãs nadavam contra a corrente!"
"O quê?! Isso é tão assustador!" Yono, uma das menores garotas, encolheu de medo. Noele, no entanto, estufou-se confiantemente.
"Não se preocupe. Se aparecer um, meu pai e Lorde Mialona, e o jovem mestre e a Princesa Niam o afastarão! E eu lutarei também, claro, como um membro orgulhoso da nobreza imperial!"
As crianças olharam para ela com olhos brilhantes.
"Uau! Isso é incrível!"
"Princesa, eu também quero lutar!" Mele inclinou-se para a frente excitadamente, e Noele assentiu. Seus belos olhos eram da cor do chocolate doce—ela era sua pequena rainha pessoal.
"Claro, Mele. Contanto que você me siga, podemos fazer qualquer coisa!"
Essa era a atmosfera pacífica do crepúsculo do Império—seis meses antes da revolução.
†
Ao norte do continente, na costa dos Países da Frota Regicida, blocos de gelo começavam a flutuar do mar aberto no início do outono até o final do inverno. As praias de areia negra, batidas pelas ondas, eram fechadas por muros de grandes blocos de gelo. Campos brancos se estendiam até onde a vista alcançava, com o gelo se destacando como as nadadeiras dorsais de um dragão marinho.
E em algum lugar ao longo dessas praias, uma sombra se movia, olhando ao redor como se estivesse perdida. Ela brilhava na cor da neve congelada, como o luar brilhando através de uma janela de vidro gelado. Sua forma era esbelta e delicada, arrastando-se como o véu de uma noiva e a cauda de seu vestido. Era tão bonita quanto uma princesa sereia deslizando por um salão de banquete formado pelos blocos de gelo.
Mas ela se erguia mais alto que qualquer princesa — ou mesmo o maior e mais robusto guerreiro — com mais de três metros de altura. Na sombra de seu véu, havia três olhos em seu peito, com íris em forma de diamante e um brilho metálico cintilando em cores de pavão.
Os clãs do Mar Aberto a chamavam de Leuca — uma subespécie dos leviatãs que governavam os mares abertos. Seu véu e vestido eram uma membrana semitransparente que protegia suas escamas blindadas. A parte que parecia sua cabeça era um órgão de convergência único dessa espécie de leviatã. Ele produzia ondas sonoras que lhe permitiam funcionar como um sonar ativo.
Quando um espécime adulto emitia suas ondas ultrassônicas em potência máxima, ele podia produzir um pulso de bolha capaz de atravessar a armadura de um navio de combate — e por isso, a Leuca era apelidada de sirene devoradora de homens dos mares abertos.
Mas a Leuca que rastejava sobre o gelo agora estava longe de ser uma criatura tão aterrorizante. Era um espécime pequeno, jovem. Tinha sido carregado junto com o gelo, separado dos mares ao norte, e acabou sendo levado à costa.
A jovem Leuca voltou seus olhos para este mundo desconhecido, para o domínio da humanidade. E, como um pequeno pardal, a sirene perdida ergueu sua voz em um chamado lamentável.