Volume 3

Capítulo 125: Magia Perdida

Alguns dos heróis estavam reunidos em torno de uma fogueira, jogando conversa fora. Alice não tinha obrigação nenhuma de falar para eles, mas acreditava que as notícias poderiam desestabilizar o emocional de alguns e torna-los mais maleáveis.

Foi como ela aprendeu com seu mestre, quebrar o psicológico das pessoas antes de usa-las. Ela mesma teve seu psicológico partido por muito anos, desde que seu pai foi sugado para dentro de um portal dimensional anos antes.

Mas quando Ritter aceitou ela como aprendiz e ensinou os segredos da cavalaria e da guerra mental, Alice sentiu como se tivesse ganhado seu pai de volta. Mas isso ainda não suprimia o ódio daquela pessoa que a separou do seu pai.

— Foi estabelecida uma rede de comunicação de média distância com o primeiro grupamento de pioneiros da Aliança Internacional. — Alice informou, sem tirar o elmo — Segundo as informações, eles estabeleceram uma parceria militar com um tal Reino de Aço, invadiram uma tal Cidade de Prata, e atualmente estão se preparando para tomar o tal Reino de Bronze.

— Legal… — Ewá respondeu.

— Como não existem satélites, e uma comunicação por fios é insegura, usamos uma rede de drones automatizados, vinculada à uma conexão pré-estabelecida em um servidor…

— Tá… Finge que a gente não se importa. — Raíra reclamou.

Alice bufou e continuou.

— Com isso as equipes poderão manter contato a distâncias…

Enquanto ela ainda falava, os heróis fizeram e se entreolharam como se algo de errado tivesse acontecido.

— Sentiu isso? — Hugo perguntou.

— E alguém aqui não sentiu? — Mirian olhava para o horizonte.

— Sentiu o quê? — Alice perguntou.

— Foi um grande abalo na energia desse mundo… — Helder acrescentou, ignorando a pergunta de Alice.

— A última vez… acho que a única vez que senti isso, foi quando o Leonardo… — Luzia não terminou a frase.

— Ei, me explique o que está acontecendo! — Alice reclamou.

— Acha que alguém liberou uma magia perdida? — Raíra comentou.

— É o mais provável. — Hugo disse.

— E quem foi o idiota? — Helder esfregou as têmporas.

— Leonardo de novo? — Luzia questionou.

— Ele não faria a mesma merda duas vezes… — Ewá balançou a cabeça em negação.

— Espero mesmo. — Raíra suspirou.

— De que tipo de merda estamos falando? — Alice estava bufando.

— Acho que isso é um sinal. — Helder disse.

— De quê? — Mirian o encarou.

— De que as coisas estão acontecendo, e mais uma vez ficamos para trás.

— E o que você quer que a gente faça? — Ewá o encarou.

— Vocês eu não sei, mas eu vou entrar na brincadeira!

Todos os outros olharam incrédulos para o herói de papel.

— Esse era o sinal que eu estava esperando e nem sabia. Vou fazer o meu “papel” nessa guerra, entendem? — Helder disse, enquanto girava o pulso com os dedos polegar e indicador estendidos.

— Eu deveria esperar por uma piadinha desse nível… — Raíra reclamou.

— Vamos embora? — Hugo perguntou.

— Vamos. — Helder respondeu.

— Ninguém vai a lugar nenhum! — Alice rosnou.

— Pois é, conselheira… — Ewá disse — A gente agradece o transporte e a alimentação, mas está na hora de partirmos.

— Não me façam pedir reforços pesados…

— Olha o reforço aí! — Hugo interrompeu Alice, enquanto apontava para uma figura que se aproximava.

Era Lee-Sen-Park que estava chegando onde eles estavam.

— E esse cara aí está com o poder da Zita! — Mirian apontou para o homem de olhos puxados — Maldito coreano! Vai matar monstros em uma dungeon!

O homem parecia querer dizer algo, mas ficou em silêncio.

Helder passou por ele e Alice, a passos duros, indo em direção a sua barraca. Alice ainda fez um gesto para que ele parasse, mas Hugo e Raíra tomaram a mesma atitude, surpreendendo totalmente a mulher de armadura.

— O que pensam que estão fazendo? — Alice rosnou.

— Estamos indo embora. — Mirian disse, sem se levantar.

— Mas você nem se levantou… — Lee-Sen-Park comentou.

— Diferente dos outros, eu não preciso de uma mochila, fui treinada pelos monges da água e tudo que preciso é estar respirando.

Alice se virou em direção ao coreano, mas ele fez um gesto apara que ela se acalmasse. Talvez não fosse sensato comprar briga com todos os heróis dissidentes ao mesmo tempo, e mesmo que alguns estivessem ficando para trás, eles não iriam intervir a favor da aliança Internacional. Não depois de tudo.

— Não têm medo do que possa acontecer com a família de vocês? — Alice usou a cartada final.

— Felipe já resolveu isso, temos certeza que as nossas famílias estão seguras. Mas vocês podem tentar alguma coisa mais efetiva que envenenar nossos parentes, e no mesmo momento todos os podres que ele descobriu sobre vocês estará na primeira página de todos os jornais e nos tópicos das fofocas da internet! — Catarina, que ainda não tinha se manifestado, disse calmamente — Quero ver de onde vão tirar dinheiro para custear essa invasão depois que uma avalanche de conteúdos reduzir o valor das ações da Aliança a zero.

Alice olhou para a mulher loira, que mais parecia uma criança, seu corpo estava imóvel, apenas sua cabeça girou. E seus olhos estavam abertos de uma forma assustadora, porém, assustada.

— Mas podem ir em frente… — Catarina continuou — E veremos o que acontece com a sua família, conselheira. Ou melhor, com o que sobrou dela.

Lee-Sen-Park cruzou os braços e ficou em silêncio. Aparentemente, ele sabia qual o momento para ficar em silêncio

. . .

Quase ao mesmo tempo, separados por algumas centenas de quilômetros. Nilo olhava para o Sul, incrédulo do que estava acontecendo.

Não bastava todos terem sentido um abalo no poder mágico do continente, uma tempestade de areia se aproximava. Os fortes ventos gelados e os grãos minúsculos voando atrapalhavam os planos dos aliados.

Sem contar que vinha das costas do exército do Sul, então não estava atrapalhando a visão dos arqueiros tanto quanto dos guerreiros livres. Mas ao mesmo tempo não poderia ser uma magia lançada por eles. Não era possível.

Quem teria tanto poder a ponto de criar um furacão no meio do deserto? Os heróis, talvez. Além de alguns poucos usuários de magia, pessoas que não tinham motivos para se intrometerem.

Mas a possibilidade de uma magia perdida ter sido libertada justamente quando uma tempestade de areia aparece? Ah, isso não era obra do acaso. Se tinha duas coisas que Nilo aprendeu foi que acaso e destino são apenas formas diferentes de interpretar as intersecções dos planos de diferentes pessoas. Ou deuses.

Mais rápido do que ele foi capaz de prever, a tempestade de areia chegou. Bem no meio do campo de batalha, entre os dois acampamentos estava o tornado de areia, girando como se tentasse devorar tudo ao redor.

Então parou. Simplesmente deixou de existir. O vento parou, e areia que girava caiu de uma vez, soterrando parte dos dois acampamentos. E bem no meio de tudo, estavam quatro pessoas, de pé. Cada uma delas voltada a uma direção diferente, costas com costas, em uma formação defensiva.

Ou, talvez, estivessem apenas se apoiando umas nas outras para não caírem.

Por mais que não conseguisse ver o rosto de três delas, Nilo reconheceu uma. Amanda, a heroína de vidro. O que uma das mais inúteis dentre os heróis estava fazendo ali? Algum deles foi o responsável pela tempestade? Amanda não poderia ser, ele controlava vidro, e não…

Ah merda! Nilo lembrou que vidro é feito de areia.

Talvez Amanda não fosse tão inútil quanto pensavam.



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