Volume 3

Capítulo 121: De Volta ao Lar  (2)

O som de metal chamou a atenção de André, e quando ele se virou, viu uma pessoa vestindo uma armadura de metal brilhante, que vinha montada em um cavalo. Ele também reparou que faltava um pedaço do elmo, e sentiu algo em seu bolso se mexer.

O fragmento da Armadura de Prata estava reagindo.

Seus instintos fizeram com ele desse dois passos para trás e até tentasse invocar seu poder, mas logo recordou que tinha o perdido meses atrás. Mesmo assim andré se colocou em posição de luta, pronto para enfrentar a pessoa.

Ele reparou que a pessoa que vestia a armadura era um pouco mais baixa do que o Cavaleiro de Prata que estava acostumado. Mesmo assim a armadura tinha se adequado ao corpo dela, uma das vantagens de um item divino.

— Deco! — Uma voz feminina abafada pelo elmo veio da pessoa de armadura — Você voltou mesmo!

— Surii? — Zita pergutou antes André.

— Que porra é essa? — André perguntou confuso.

— Eu consegui reunir a armadura completa! — Surii disse desmontando do cavalo e retirando seu elmo.

— Não! — André reclamou — Essa coisa é perigosa. Eu tive trabalho para esconder as partes!

— E eu tive um trabalhão para encontrar. — Surii bufou — Precisamos dessa armadura, principalmente depois de tudo…

— NÃO! — André gritou apontando para Surii — Tire essa coisa imediatamente…

— Não estou usando nada por baixo…

Ao ver os olhares de repugnância das três mulheres que andavam com André, Surii sorriu e disse:

— Brincadeira, é uma piada, gente.

André esfregou as têmporas e ficou um tempo em silêncio conforme Surii cumprimentava Sônia e Lídia, ela já conhecia Zita, e mesmo que as duas não fossem amigas, André tinha certeza de que não tentariam se matar. Não ainda…

— Tudo bem… — Ele disse tentando permanecer calmo — Fica com a armadura, eu exagerei. Talvez iremos precisar dela em breve, mas evite ficar usando.

Quase ao mesmo tempo, duas pessoas conhecidas dele saíram da Montanha Solitária. Eram Baruu e Tibee, a médica e a diplomata, ambas haviam passado muito tempo na companhia dele anos antes. Tibee o curou mais vezes do que conseguia lembrar, e Baruu estava com ele na noite em que roubaram a Semente da Terra, que andrá ainda achava parecida com um ovo.

— Não acha uma incrível coincidência que tenhamos voltado no exato momento? — Surii perguntou a André.

— Aprendi há muito tempo que não existem coincidências nesse mundo. — André respondeu — É tudo uma brincadeira dos deuses.

— Deuses? Achei que não acreditava neles. — Zita comentou.

— Isso não quer dizer que eles não existam.

A conversa teria se extendido mais se Baruu e Tibee não tivessem chegado.

— Bem vindos de volta! — Baruu disse em seu tom ameno de sempre — Ficamos todos preocupados com o sumiço de vocês dois.

— Se conheço esses dois, vieram para curar algum ferimento antes de partir para outra aventura estranha! — Tibee retrucou em um tom de cansaço — E quem são as três aí?

Tibee olhou fixamente para Lídia, depois para Sônia, e quando finalmente seus olhos pararam em Zita, a médica exclamou:

— Que merda! Essa aqui é igualzinha àquela doida que quase te matou queimado uma vez. Se ela tivesse o cabelo vermelho eu teria corrido para dentro! — E olhando para André, comentou — Sinceramente, a de tranças aqui é a que tem menos cara de psicopata.

— Ela matou um soldado a tiros dias atrás e nem tremeu. — Zita retrucou.

— Nossa até sua voz é igual a da sacerdotisa de fo… — O restante da frase ficou preso na garganta de Tibee.

A médica deu alguns passos para trás enquanto trocava sua expressão casual para um sorriso amarelo. Mantendo-se escondida atrás de Baruu, ela comentou:

— Consegui falar merda…

— É, conseguiu. — André disse enquanto passava por ela e dava tapinhas em seu ombro — E então, podemos entrar?

— Claro! — Baruu disse — Você é de casa, e qualquer pessoa que esteja com você também é bem vinda. — E olhando para Zita, completou — Mesmo que já tenha tentado te matar…

— Poucas pessoas nunca tentaram matar ele! — Zita retrucou.

—E você foi uma das que passou mais perto. — André piscou para Zita.

— Fala de Utab ou Campo Sul?

— Campo Sul.

— Eu lembro das coisas serem um pouco diferentes.

Tibee e Baruu se entreolharam confusas, mas Surii interropeu a conversa.

— Campo Sul foi traumatizante! — Ela disse — Fomos para lá tentando resgatar o Deco, e encontramos vocês dois…

— Os dois..? — Até Sônia estava curiosa.

— Já experimentaram deixar esses dois sozinhos por cinco minutos? — Surii estava com a face levemente avermelhada.

— Ah não! — Lídia abriu um sorriso — Não diga que eles estavam se matando de outra forma.

Lídia virou-se para ver a expressão de André. Mas ele já estava na porta gigante que levava para dentro da Montanha Solitária. Zita estava logo ao lado dele, segurando sua mão.

— São fofos… — Ela comentou.

— Você matou mesmo um cara sem nem piscar? — Surii perguntou baixinho, parando ao lado de Lídia.

— E se eu tiver matado? — Lídia disse com uma expressão desconfiada.

— Então terá uma grande chance de sermos amigas.

— Me chame de Lídia. — Ela se apresentou mais formalmente — Mas não espere muita coisa de mim, sou apenas uma secretária.

— E eu sou Surii, uma ladra. — A irmã de André sorriu — Não sei o que é uma secretária, mas parece ser uma profissão bem perigosa.

— Você não faz ideia…

Sônia já seguia Tibee e Baruu, aproveitando para fazer perguntas, tudo era novidade para ela, e as duas irmãs adotivas de André estavam bem satisfeitas em explicar o que ela quisesse.

Lídia e Surii entraram logo atrás, e enquanto a ladra subiu por uma longa escadria em direção ao seu quarto, a secretária foi atrás de André e Zita em uma direção diferente.

Dentro da Montanha solitária era bem diferente do que ela eperava. Se por fora era apenas um amontoado de pedras escuras, por dentro haviam paredes bem construídas e decorações cuidadosas. Em um dos corredores haviam desenhos de pessoas até, e diminuindo o passo, Lídia viu que André e as três garotas que ela acabara de conhecer estavam entre as pessoas na ilustração.

— É magnífico! — Sônia exclamou — Eu esperava algo bem mais rústico, para falar a verdade.

— E eu imaginei um pouco menos iluminado… — Lídia comentou.

— É parte dos segredos da construção da Montanha Solitária… — Baruu explicou — Existem canais de cristal dentros das paredes para conduzir a luz solar de fora para dentro, e não importa a hora do dia, sempre havrá luz aqui.

— A não ser que o sol nasça no oeste… — Tibee completou.

— Então nunca haverá falta de luz! — Sônia disse.

— Ah, isso é só uma antiga lenda. — Baruu suspirou — Dizem que no dia em que os deuses voltarem a pisar sobre essas terras haverá uma escuridão por três dias inteiros, e depois disso o sol nascerá no oeste…

— Toda lenda tem um significado? — Lídia perguntou.

— Não essa. — Tibee riu — É uma velha piada de bar apenas.

André interrompeu a conversa para avisar que queria mostrar algo para elas.

Seguindo ele, Lídia e Sônia adentraram em um salão enorme, onde um trono que parecia ter sido esculpido em uma rocha descansava, e no seu assento uma coroa feita em material escuro, cuja cor assemelhava com as rochas da parte externa da Montanha Solitária.

Ao lado do trono havia uma réplica em tamanho menor, onde um homem grande e musculoso estava sentado, com uma expressão serena. Haviam soldados próximos às saídas do salão, e todos usavam armaduras com acabamentos perfeitos, e portavam enormes escudos.

— Irmão Renee, eu o saúdo! — André andou à frente e pôs o punho fechado sobre o peito — Noba Renee, Mita dai!

— Noba Deco! — Renee respondeu com o mesmo gesto — Mita zou

— O que eles disseram? — Sônia perguntou para Zita.

— É uma saudação exclusiva do Leste, essa é uma “língua morta”, então não sofre efeito da magia divina, a tradução se perdeu no tempo, mas o uso permaneceu. — Zita explicou.

— Estávamos te esperando, irmão. — Renee disse.

— E como sabia que eu vinha? — André perguntou.

— Onde há guerra, você está.

— Acho que criei uma péssima reputação…

— Pois eu tenho certeza. — Zita concordou.

— E também há outro problema. — Renee anunciou — Prendemos Anne, mas ela disse que só falaria quando você estivesse presente.

— O que ela quer comigo? — André coçou o queixo.

— Ela é cúmplice do Cavaleiro de Prata, deve ser algum joguinho doentio. — Zita disse, pensativa.

— Então vamos falar com ela e descobrir de vez o que ela tem a dizer. — André cruzou os braços.

— Algum preparativo? — Baruu perguntou.

— Precisaremos de Iffy, é a nossa melhor opção.

— Quem, ou o quê, é Iffy? — Lídia perguntou.

— É a única pessoa que pode fazer ela falar. — Zita explicou.

— E eu sei extamente onde ela está. — Renee disse em meio a um sorriso.


Nota do Autor:

Olá caros leitores, passando para dar dois avisos. Primeiro, não tivemos capítulos recentemente por questões de saúde, peguei um resfriado que me tirou de rota por uns dias. Segundo, andei conversando com meu colega autor, Herr Major, autor de "Os Contos de Anima", e então achamos uma ideia legal soltar uma brincadeira para vocês. Quem criar uma arte da história, seja de personagens ou cenários, será postada junto do próximo capítulo. Bem como o nome ou nick de quem enviou, você pode enviar lá no discord da kiniga, a sala de autorais, marcando o autor correspondente. No próximo capítulo vou postar uma das artes conceituais criadas por mim mesmo para um dos personagens, então se tiverem sugestão de qual personagem querem, deixem nos comentários. Boa leitura. (trata-se de uma nota de um capítulo antigo para o site da kiniga, ou seja, as artes provavelmente já foram criadas pelo autor, mas as artes da comunidade ainda podem ser aceitas no servidor da Kiniga.)



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