Volume 3

Capítulo 115: A Jornada Ao Leste (2)

Zita e Lídia seguiram na frente, Sônia foi atrás das duas, mas mantendo uma distância. Gledson apareceu ao lado da conselheira, mas ela não se assustou, era como se soubesse que ele estava ali o tempo inteiro.

— Então, tem mais alguma coisa que não contou a elas, não tem? — Ele perguntou.

— Tudo tem o seu momento. — Sônia respondeu — E esse não é o momento certo deles saberem o detalhe que falta.

— Falou, só não vai dar uma de João-sem-braço, senão é sal. — Gledson disse se afastando — Continua assim e tu leva o farelo, tia.

Sônia parou e ficou tentando encontrar algum sentido nas palavras de Gledson. Ela não entendia como ele conseguia ser tão sombrio e segundos depois falar igual a um malaco, usando gírias incompreensíveis.

A ex-conselheira respirou fundo e seguiu a trilha que serpenteava por entre rochas, se perguntando qual o motivo de terem feito aquilo subindo e descendo as montanhas ao invés de contornando-as. Sônia amaldiçoou intenamente quem criou aquela rota, mas abençoou o efrite que a presenteou com um par de botas. Fazer essa jornada toda de salto alto seria uma tortura

Enquanto olhava para o céu e rogava para algum deus daquele mundo lhe responder quantas monatanhas mais teria que cruzar, ela viu André deitado no chão, com Elizabeth sentada sobre ele. Os dois faziam sons incompreensíveis.

Até os heróis e Lídia, que iam mais à frente voltaram para ver o que estava acontecendo.

— Não me diga que eles vão fazer sexo aqui… — Sônia Deixou escapar.

— Tem certeza de que esse é o melhor lugar para fazer isso? — Amanda perguntou — Poderiam pelo menos ter ido para trás das rochas ali.

— Não é hora para piadinhas, Amanda. — Zita disse se parar de encarar André — Ele tem resposta para as minhas perguntas.

— Mas o q…? — André tentou argumentar.

— O que mais você está escondendo de mim? — Ela gritava — Pelo que estou vendo, pela quantidade de segredos sendo revelados, daqui a pouco vai aparecer alguma menina do Leste dizendo que tem um rolo com você!

— Ah… eu digo, mas para de me queimar! — André disse entredentes.

— Oh! — Zita disse se afastando — Desculpa, eu não…

Ele olhou para a fumaça leve que saía de sua mão, e depois para a marca vermelha no pescoço de André.

— Ei pessoal! — Wagner gritou metros à frente — Olha o que eu consegui fazer!

Na sua mão aberta uma pequena faca de dois gumes flutuava girando.

— Você também? — Zita perguntou — Eu não tinha notado, mas acho que meus poderes estão voltando, mesmo que apenas um pouco.

Na palma da mão dela havia uma pequena chama tremeluzendo. Parecia com a chama de uma vela, mas não apagava fácil.

— Meu poder voltou…

— O meu também, mas acho que apenas uma pequena parte dele. — Wagner comentou — O máximo que consigo fazer é uma faca curta.

— O que causou isso? — Lídia perguntou.

— Acho que não recuperaram nada. — Sônia disse — Desde o início do projeto KRIP não existia a possibilidade de retirar todo o poder sem matar o usuário.

— Então por qual motivo não conseguíamos usar no mundo original nem que fosse uma pequena quantidade. — Wagner questionou.

— Não sei, eu não fiz parte desse projeto, apenas acompanhei os relatórios. — Sônia explicou — Pode ser um efeito psicológico, ou até mesmo seus corpos se adaptando à quantidade de poder… Mas o meu maior palpite é que chegar nesse mundo tenha causado um efeito positivo em suas almas, como vocês devem saber, cada mundo “vibra” em uma frequência diferente, e isso afeta toda a existência naquele mundo. Tavez essa mudança de frequência tenha estimulado seus corpos a entrarem em sincronia com o que restou de seus poderes, mas como vocês já tinham prévio costume de estar com anergia fluindo por seus corpos, talvez nem tenham percebido a mudança de tão ínfima ele foi…

A explicação de Sônia fez tanto sentido na mente dos heróis que eles não conseguiram dizer nada, apenas olhavam para ela de boca aberta. Lídia, porém, ainda tinha dúvidas.

— E quanto aos outros? — Ela perguntou — Não creio que a Aliança tenha roubado apenas os poderes de Wagner e Zita. Sabe se alguém mais perdeu os seus?

Sônia encarou a garota.

— Muito perspicaz. — Ela sorriu — Tudo que sei é que tentaram extrair os poderes de Valquíria, Mariana e Catarina. Mas algo deu errado e os poderes das duas primeiras foram extraídos parcialmente, já Catarina resistiu ao efeito de extração e depois quebrou tudo com as mãos nuas. Não sobrou muita coisa do laboratório. Acho difícil terem extraído o de mais alguém.

— Catarina, a violenta… Sempre gostei dela. — André disse com um sorriso de satisfação.

— Ela quase te matou. — Retrucou Zita.

— Praticamente todo mundo “quase” me matou.

— Mas voltando ao assunto… — Lídia interrompeu — Há alguma garantia de que não tentaram mexer com os poderes de mais ninguém?

— O plano inicial era de roubar os da Elizabeth, Leonardo, Lucas, Wagner e Catarina. — Sônia explicou — Mas como Leonardo e Lucas vieram para cá nates da hora eles tiveram que mudar os planos…

— E você sabia de tudo isso? — Gledson perguntou.

— Aposto que Felipe e Lídia também sabiam. — Sônia deu um sorrisinho sarcástico.

— Sabíamos dos planos, mas desde que a Divisão de Pesquisa e Desnvolvimento foi engolida em um portal transdimensional as coisas ficaram meio complicadas… — Lídia retrucou.

— Eu me pergunto… — Zita olhou para a chama dançante na própria mão — Por que apenas nós?

— Dentre os mais perigosos, vocês eram os que tinham perfil de liderança, isso ameaçou os diretores da AI. — Lídia disse, devolvendo o sorriso para Sônia.

— Cabe ressaltar que os diretores e os conselheiros tinham planos diferentes para os poderes dos heróis. — Sônia completou.

— E por que está contando isso? — Amanda entrou na discussão — Não venha dizer que mudou de lado.

— Não sei se percebeu, mas tentaram me matar agumas vezes, arrisquei meu pescoço para conseguir essas informações, tá bom? — Sônia fechou a cara — Não precisa se forçar a confiar em mim ou no que eu digo.

— Ah, aqui ninguém confia em ninguém… — André balançou a mão esquerda enfaixada, como se quisesse minimizar a situação — Um minuto atrás a minha namorada me agrediu por informações, a mulher que deveria ser minha mãe abriu um buraco no espaço-tempo que sugou meu pai e minha irmã, e os dois heróis ali já tiveram seus momentos de inimizade entre si e comigo. Até a Lídia já tretou comigo por causa de biscoitos…

— Aquele dia foi louco. — Lídia riu.

— Então somos uma equipe perfeitamente desbalanceada tentando ferrar com tudo para salvar o mundo. O futuro não importa, o que importa é daqui pra frente!

— Amor… — Zita disse baixinho — Acho que a frase não é assim…

— Como vocês não tentaram me matar, o saldo de confiança é zero. Isso é mais do que o saldo negativo que tenho com a AI. — Sônia disse, passando pelos demais.

— Acho que o André tem razão, não somos uma equipe, vamos nos separar assim que possível.

André não respondeu, apenas fez um sinal de positivo com a mão esquerda, o polegar era o único dedo dessa mão que ele havia conseguido recuperar até o momento.

Sônia seguiu trilha por entre as rochas montanha abaixo, os outros a seguriram. Apenas André e Zita ficaram para trás, ainda sentados no chão.

Zita deu um olhar inexpressivo para André.

— Então, vai respoder a minha pergunta ou vai mudar de assunto como sempre?

— Eu ia te contar, mas não podia ser no nosso mundo e nem ne frente dos outros.

— Então, cá estamos sozinhos, e em outro mundo.

— É o segredo dos deuses…

— O que tem eles?

— Deuses não existem.

— Isso não faz sentido. — Zita encarou André, ainda sem expressão alguma em sua face — Eu mesma já os vi.

— Aí é que está, eles existem, mas não são deuses.

— Deuses de Schrödinger? — Zita riu — Por acaso eles estão em uma caixa também?

— O que conhecemos como deuses são os primeiros heróis, eles roubaram o segredo da imortalidade e foram amaldiçoados. Nesse exato momento estão presos entre o limbo e a existência, raramente conseguem criar um avatar aqui nesse mundo, e foi isso que você viu, apenas um avatar. Mas… eles não são deuses. E foi pra isso que eu reuni vocês outra vez, para acabar com eles e termos nossas vidas de volta!

— Quê..?

— Eles pretendiam roubar os corpos de vocês, os 32 heróis atuais, para renascerem livres da maldição. — André completou — Foi por isso que trouxeram a gente até aqui.

Zita ficou alguns segundos em silêncio absorvendo as revelações de André, e a única coisa que conseguiu dizer foi:

— Puta que pariu!


Nota do Autor:

Olá, passando para agradecer a todos que estão acompanhando essa história, vocês me inspiram a seguir escrevendo. Aproveitem bastante, e também dêem uma conferida nas outras histórias do site da Kiniga. A sugestão de hoje é para Venante e Os Contos de Anima, duas histórias maravilhosas e que eu curto muito.



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