Volume 2

Capítulo 83: Choque Cultural

O nascer do sol no deserto era um espetáculo magnífico, a névoa que se formava durante a noite era rapidamente dissipada com o vento gelado e seco que vinha do litoral. As primeiras cores do dia se formavam no horizonte reflatindo a beleza da areia acinzentada e contrastando com o céu azul, e o reflexo dos raios luminosos na névoa que lentamente sumia formava um balé de cores.

Aquele era o cenário que Lu-Ji amava desde a infância.

Os resquícios das fogueiras que mantinham os guerreiros aquecidos durante a noite ainda estavam ativos, com um pouco de brasa e fumaça. Mas todos eles já estavam de pé, alguns já buscavam se alimentar, não se sabia a que momento o inimigo poderia ser avistado.

Mesmo que fossem eles a fazer o primeiro movimento, nada garantia que o inimigo não estava preparando uma emboscada ou teria lançado um contraataque antecipado. Na guerra, a única certeza era a incerteza.

Enquanto seus soldados se alimentavam, Lu-Ji estava fazendo a checagem de rotina no equipamento do seu grupamento, como novo líder dos arqueiros sob ordens diretas de Long-Hua, ele tinha mais poder e reconhecimento do que qualquer outro de seu clã, e ao mesmo tempo mais responsabilidade.

Após perder as mãos no confronto com os aliados de Jonas, Lu-Ji havia perdido parte do respeito que cultivou durante anos em meio ao seu povo. Mas graças à bondade de Long-Hua e as habilidades inigualáveis de Yu-Khan, o arqueiro tinha a oportunidade de mais uma vez provar o seu valor em batalha.

Ele sabia que nem todos os guerreiros de seu clã o seguiam naquele momento por confiar na sua liderança, mas por ordem do Rei do Sul. Entretanto, Lu-Ji havia jurado para si mesmo que se tivesse outra oportunidade, preferiria morrer em batalha do que manchar mais uma vez o nome do seu clã.

Ele só não esperava encontrar um motivo para querer viver na pessoa que lhe restaurou as mãos.

Após verificar que estava tudo em ordem, ele ordenou que seus soldados continuassem marchando. Perder tempo não fazia o seu estilo, em vez de esperar o inimigo, era muito mais prático ir para cima. 

Já era o quinto dia de marcha, se fosse apenas andando normalmente, estariam fora do deserto, mas a quantidade de provisões diminuiam o ritmo. Além é claro de reduzir o período de caminhada, para não sobrecarregar os soldados. Lu-Ji lembrava bem das hitórias de seu avô onde os soldados de Sul perderam uma batalha por terem cruzado o deserto com pressa e chegaram ao campo de batalha exaustos.

Soldados descansados e bem alimentados eram um diferencial em batalha, mas a parte psicológica também era importante. O arqueiro lembrava que seu rei havia dito para ele manter sempre a moral alta dentro do batalhão. Incitar o medo entre os soldados e rebaixar os subordinados era coisa do passado, as ordens agora eram de elogiar e estimular cada indivíduo dentro do pelotão.

— Senhor, detectamos uso de magia nas proximidades! — Uma voz ao lado de Lu-Ji atrapalhou seus pensamentos — É cerca de três a quatro quilômetros ao noroeste…

O líder do grupamento olhou para o homem que falava, reconhecendo-o como um dos magos mais importantes entre os soldados. Ao lado dele estava o segundo melhor em magia. Lu-Ji teve que reconhecer que para aqueles dois homens estarem alvoroçados, havia algo de muito errado.

— Vamos separar trinta bons arqueiros e vinte usuários de magia, não podemos nos dar ao luxo de não investigar o que pode ser uma atividade inimiga, mas ao mesmo tempo não o correto arriscar todo o grupamento.

Os dois homens concordaram com Lu-Ji e foram apressados escolher vinte magos e feiticeiros para a investigação, enquanto o líder ficava responsável por ecolher os arqueiros.

O grupo menor se moveu levand apenas o suficiente para uma batalha, ou se caso fosse uma armadilha, para fuga. Atravessando as dunas com facilidade, rapidamente eles chegaram na fonte da magia detectada.

Havia uma espécie de esfera emitindo um brilho azulado ao mesmo que parecia se contorcer, ela girava e torno de si mesma como se tentasse se engolir, flutuando a cerca de metro e meio de altura. Mesmo que parecesse engolir a si mesma, estava aumentando.

— É uma das três magias proibidas! — Exclamou um dos magos.

— Qual? — Lu-Ji perguntou em tom bravo — Seja específico.

— Espaço… — O homem respondeu de cabeça baixa — Se fosse de tempo ou de vida nós teríamos invocado a lei suprema no momento que a vimos.

— Desde que aqueles malditos “heróis” vieram para esse mundo a lei suprema não tem serventia para magias de espaço… — O outro mago explicou.

— Acreditamos que devido ao poder da heroina Victoria poder romper os limites do espaço, e ela ser abençoada pelos deuses, então a lei suprema foi revogada. — O mago completou.

— De uma forma ou outra, a culpa é dos herois. — Lu-Ji anunciou — E são eles que devemos combater. — E se virando para a multidão de soldados, gritou — Vamos acabar com eles e mostrar que o nosso mundo não precisa de herois de outro mundo, nós mesmos somos capazes de protegê-lo!

A multidão empolgada gritou de volta, e Lu-Ji, empolgado, sacou uma flecha e a pôs junto a corda do arco, enquanto mentalmente invocava um feitiço. Apontando a sua arma para o intrigante fenômeno, ele ordenou que seus soldados fizessem o mesmo e aguardassem o momento de atacar.

Um ataque no momento errado poderia resultar em fracasso instantâneo.

Então um movimento diferente surgiu no meio do brilho azul. Uma pessoa passou correndo, segurando um objeto longo e estranho, com bolsas grandes nas costas, e vestindo um conjunto esquisito de roupas com manchas esverdeadas.

Se estivessem em uma floresta aquela pessoa poderia se camuflar perfeitamente, mas no deserto, com a areia amarela-acinzentada, ele só se destacava. Lu-Ji achou melhor esperar mais um pouco antes de atacar.

Outros iguais vieram, eram cerca de vinte pessoas, mas nem era possível ver seus rostos, pois estavam cobertos com uma espécie de máscara preta. Todos pararam ao redor do brilho azul, formando um círculo em volta da coisa. Cada um apontava o objeto para a frente, como se fosse disparar.

O líder dos arqueiros concluiu que deveria sr algum tipo de arma de longo alcançe. Faltava saber se poderia competir com as flechas encantadas da família do vento. 

Passaram mais alguns segundos e ninguém mais havia saído pelo brilho caótico, então sem nenhu aviso Lu-Ji disparou em direção a um dos soldados. Mesmo que tivesse invocado um feitiço para aumentar o dano da flecha, ele achou melhor segurar para a próxima e deixar a primeira apenas como aviso. Sequer mirou o possível inimigo, apenas queria lhe mostrar que poderia acertart de longe.

Assim que a flecha tocou o chão ao lado do que havia passado primeiro, os soldados esverdeados reagiram emitindo sons ensurdecedores e brilhos piscantes. Mesmo surpresos com a reação estranha dos invasores, os magos sob o comndo de Lu-Ji levantaram uma parede de areia na frente do grupamento.

Podia se sentir os impactos na parede, pelo som e a vibração, os projéteis pareciam ser pesados porém pequenos. Não demorou muito e cessaram o barulho e os impactos, lentamente a parede de areia foi se desfazendo. Mesmo que não fosse possível ver a expressão dos inimigos, Lu-Ji notou pela mudança de postura que eles não esperavam que todos no grupamento de arqueiros estivessem vivos.

— Isso significa que eles têm confiança no poder dessas armas. — Pensou Lu-Ji — O que significa que não podemos subestimá-las.

Decidido a mostrar o poder de ataque do seu povo, Lu-Ji sacou mais uma flecha e, esticando a corda do arco ao máximo, a encantou com um feitiço triplo. Velocidade, precisão e rajada combinados em um ataque só. Uma habilidad que nenhum outro arqueiro ali tinha.

Uma flecha foi disparada, sendo transformada em um rastro de luz que se dividiu em dezenas de pontos luminosos quando faltavam poucos metros para atingir o alvo. O soldado nem teve tempo de ver o que aconteceu, seu corpo foi arremessado para dentro do brilho azul com o impacto da flecha enfeitiçada.

Os soldados inimigos ficaram olhando para o brilho, como se não acreditassem no ocorrido, e poucos segundo depois voltaram a atirar em Lu-Ji e seus soldados. A sequencia de disparos parecia ser menor, o que garantia aos soldados verdes, se reverzarem nos tiros, deixando Lu-Ji e seus soldados sem espaço para retaliar.

Mas felizmente haviam feiticeiros no grupamento, e enquanto o barulho das armas estranhas continuava, eles conjuravam um feitiço sincronizado de destruição em área. A efetividade não seria boa, devido à distância entre eles e os inimios, e se aproximar não era uma opção.

Mas naquele ponto, não perder ninguém era mais importante para Lu-Ji do que vencer a batalha. Por isso ele ordenou que executassem um feitiço de vento, para levantar a areia e diminuir o campo de visão dos inimigos, Já seus soldados estava acostumados a lutarem nessas condições.

Quando o feitiço foi lançado, houve um segundo de hesitação por parte dos inimigos, Lu-Ji e seus soldados aproveitaram para abater mais cinco deles. Mas rapidamente os sons que indicavam disparos retornaram. A esse ponto a poeira já estava baixando. 

A sequência de pequenas explosões ensurdecedoras era ritmada e constante, se cada estampido daqueles fosse um projétil sendo lançado, nem mesmo todos os arqueiros do sul seriam capazes de competir com um único soldados daqueles em número de disparos.

Mas uma desvantagem, aos olhos de Lu-Ji, era a efetividade. A maioria dos projéteis disparados pelos soldados inimigos era perdida no meio do deserto, o que gerava um custo incalculável de projéteis. E mesmo se fossem à base de magia, eles ainda deveriam ter um limite.

Enquano pensava a respeito, escondido atrás de um pilar de areia cnstruído por um dos magos para a proteção dos soldados, Lu-Ji notou que a frequência dos disparos estava reduzindo, o que indicava uma de duas coisas: Os projéteis estavam chegando ao fim, ou, os inimigos não podia se dar ao luxo de gastar todos ali.

Saindo detrás da coluna, Lu-Ji viu que mais soldados estavam chegando pelo brilho azul, e entre eles haviam algumas pessoas com roupas diferentes, alguns ele reconheceu como sendo os heróis que tanto odiava. Mas havia um em específico que lhe chamou mais atenção.

Um senhor de idade, cabelos grisalhos penteados, usando uma roupa preta com partes brancas, e uma espécie de faixa estreita amarrada no pescoço com um nó complexo. Mesmo que geralmente fosse comum se prender escravos pelo pescoço, aquele homem parecia dar as ordens para os soldados.

Lu-Ji percebeu ainda que o homem de roupas estranhas gritava frases sem sentido, zombando de todos os deuses e dizendo que existia apenas um deus verdadeiro. Sem entender o que estava acontecendo, ele pediu que seus soldados não fizessem nenhum movimento imprudente, principalmente agora que seus inimigos tinham reforço.

O brilho azul começou a se retrcer com mais intensidade, parecendo diminuir, até que finalmente engolisse a si mesmo. E os inimigos foram gahando distância, como se tivesem ficado ali apenas esperando os demais chegarem.

Os inimigos estranhos estavam fugindo, o que fez Lu-Ji respirar mais aliviado, mas não seria prudente tentar segui-los, não com aquelas armas misteriosas. Se não fosse pela magia do clã do vento, apenas flechas e habilidade humana não teriam sido suficientes.



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