Volume 2

Capítulo 79: Destino, Outro Mundo (3)

— Eliz… beth… levei um… tiro…

— Pressiona e fica quieta, quanto mais se mexer, mais vai perder sangue. — Zita disse.

Lídia se jogou atrás da coluna de concreto, sentindo seu sangue deixar o corpo pelo ferimento de tiro, ela mordia o lábio inferior em uma tentativa angustiante de não gritar de dor. Zita estava ao lado dela, intacta. Lídia não estava satisfeita, se fossem atirar em alguém, que fosse nos heróis, não na secretária.

— Já está na hora de improvisar? — Perguntou a garota de óculos e tranças.

— Vamos esperar o André voltar do banheiro… — Respondeu a ruiva.

Lídia pressionou o ferimento com a mão esquerda, e com a direita sacou a arma que Felipe tinha deixado, conferiu as balas, voltou o pente ao devido local e engatilhou.

— Como foi mesmo que a gente se meteu nessa? — Ela perguntou.

— Também me pergunto isso… — Zita respondeu.

— Como se meteram não é o importante… — Sônia comentou — Temos que pensar em como sair dessa.

Zita e Lídia se entreolharam e concordaram silenciosamente com as palavras da conselheira.

— Eu sugiro esperar e deixar rolar… — Sônia sugeriu.

— Eu prefiro matar quem for preciso para fugirmos daqui. — Zita retrucou.

— Eu prefiro a opção que dor menos… — Lídia disse em meio a uma careta de dor.

— Então é a primeira opção. — Sônia deu um sorriso vitorioso.

— Droga… — Zita desviou o olhar.

— Então o plano é o seguinte… A gente vai se render!

— Eu já esperava por algo do tipo…

Em poucos segundos o local se encheu de soldados, que encontraram as três com as mãos para cima, exceto Lídia, que segurava o ferimento com a mão esquerda. Sob a mira das armas dos soldados de Getúlio, as três seguiram pelo corredor de volta ao local onde estava o portal, e encontraram André que voltava do banheiro.

— Então não me esperaram pra começar? — André zombou — Ouvi tiros, gritos e vejo cadáveres no corredor… depois, eu que sou o selvagem aqui.

Getúlio se aproximou dele.

— A oitava chave! — Ele estendeu a mão — Entregue! Ou elas morrerão uma a uma.

Encarando o homem grisalhos no olhos, André tirou uma pequena caixa do bolso e o entregou.

— Simples, não? — Getúlio sorriu.

— Para alguém que estava há pouco fazendo imensos discursos, agora quer dá uma de homem de poucas palavras… — Sônia comentou.

— Não que eu concorde com ela… — André disse em tom de sarcasmo — Mas você tem um jeito mais “vovô”, essa aura maligna não combina com o terno…

E virando para Zita e Lídia, André finalmente viu que a garota de óculos estava ferida.

— Mas que porra é essa? Eu só saí por uns minutos…

— Improvisei… — Lídia deu de ombros, o que fez André sorrir com o canto da boca.

— Agora venham comigo assistir o momento em que farei a passagem para aquele mundo sem lei, e levarei a palavra dos senhor… — Getúlio começou mais um discurso.

— O tiro dói menos que essas chatices que ele fala… — Lídia comentou baixinho.

— Se quiser eu posso quebrar o seu pescoço! — Um dos guardas tentou intimidá-la.

— Seria um favor… — Lídia suspirou e seguiu pelo corredor, assim como todos os outros, enquanto Getúlio continuava seu eloquente de como salvaria as almas do Outro Mundo.

Mas para a surpresa de todos, ao chegarem no salão onde estava o portal, apenas cinco guardas restavam, os heróis, assim como Alice e seus gurdas tinham desaparecido. Apenas Wagner ficou para trás.

— Onde estão os “heróis”? — Getúlio perguntou.

— Três deles forçaram a fuga de Alice, os demais aproveitaram o tumulto e passaram pelo portal… senhor! — Um dos guardas respondeu.

— Um preço pequeno a pagar pela oitava chave.

— Sério? Tu ainda tá falando disso? — André disse.

— Sim, agora eu tenho uma vantagem, e vocês, ficarão presos aqui, então não poderão fazer nada contra mim.

— Cara… — André suspirou — Tem tanto medo assim que a gente também vá? Tu já tem um portal imenso ai… Pra quê a oitava chave?

— Os outros estavam muito preocupados em ir ao Outro Mundo, mas nenhum deles avaliou a possibilidade de voltar a esse. — Explicou Getúlio — Eu apenas estou querendo levar uma garantia de que voltarei.

— E o que te garante que a gente não vá atrás pelo portal depois, te peguemos com as calças na mão e te deixamos presos lá?

— Eu tenho um controle remoto. — Explicou o conselheiro — Ele emite uma frequência programada a cada dez segundos, se por acaso essa frequência deixar de ser sentida pelo equipamento central, o portal será desligado. — Ele sorriu e continuou — Então, conseguem adivinhar o que acontece depois que eu passar?

— O portal se fechará em menos de dez segundos, aposto que seus guardas pessoais ficaram de prontidão para que mais ninguém passe nesse espaço de tempo. — Lídia respondeu, enquanto os outros apenas encaravam o homem — E também tenho certeza de que deve haver alguma programação de autossabotagem no equipamento para que não seja possível que nós o religuemos…

— Agora compreendo os motivos de Felipe a ter escolhido como segunda pessoa da Divisão de Inteligência…

Sem dizer mais nada, Getúlio pisou em cima da caixa, quebrando-a e espalhando seus pedaços, revelando assim a oitava chave. Parecia ser apenas um pedaço qualquer de metal, como qualquer outra chave, mas para ele era como um troféu.

O homem apenas apanhou a chave em meio aos fragmentos de madeira e seguiu, passando pelo portal, em seguida os seus guardas passaram, e em poucos segundos o portal começou a desestabilizar.

— Assim como o portal, esse lugar também tem um sistema de sabotagem… — Sônia comentou — Por isso que a Alice já saiu com os guardas dela. Aposto que aquele traidor deu um jeitinho de fazer a estrutura toda desabar assim que o portal fechar.

— E só agora é que você diz? — André rosnou.

— E eu aposto que você sabe uma forma de sair em segurança. — Zita disse, ignorando as palavras de André.

— Sim! Mas com uma condição.

— Proteção? Deixa conosco!

— Não, eu mesma me protejo. — Sônia disse — O que realmente quero é ir com vocês ao Outro Mundo.

— Tudo bem. — André respondeu sem olhar para ela — Te levamos lá se nos tirar daqui, mas não garantimos a sua segurança.

— Me deixem ir com vocês. — Wagner disse se aproximando.

— Claro, porque não? — André revirou os olhos — Acho que ainda temos uma vaga no ônibus rumo à morte certa, visto que nenhum de nós tem qualquer tipo que seja de poder…

— Mas eles ficaram com a oitava chave, e ainda nos deixaram presos desse lado… — Reclamou Lídia.

André não respondeu, apenas apanhou os palitos de madeira do chão, em seguida mordeu o polegar da mão direita, ferindo-o até sair sangue, deixando pingar sobre a madeira da caixa onde estava a oitava chave. Conforme o sangue tocava a madeira, essa parecia derreter, até que fosse mudando de forma. Em poucos segundos a madeira sagrada havia se transformado em uma chave.

— Esta é a verdadeira chave! — André disse com um sorriso triunfal _ Só existe uma forma de abrir a caixa, e não é pisando em cima, até parece que eu daria um mole desses.

— Bem que eu notei que você estava calmo demais enquanto o velho pirado fazia aqueles discursos. — Zita disse abrindo um sorriso.

— Como esperado de alguém do Leste. _ Wagner disse.

— Magia é muito interessante… — Sônia comentou.

— Então conselheira, temos um acordo? — André finalmente olhou para Sônia.

Sônia não respondeu, apenas acenou com a cabeça, os guiou pelo corredor até uma passagem secreta escura e estreita, que os levou para o lado de fora. Antes que o local desabasse por completo, encontraram o carro de Lídia e fugiram. O melhor lugar para abrir uma porta com a oitava chave era longe dali.



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