Volume 1
Capítulo 38: Prelúdio da Desgraça (1)
Mais de um mês havia se passado desde o incidente do setor de pesquisa e desenvolvimento, onde Zita perdeu seus poderes e André acabou por matar todo um batalhão de soldados da Aliança Internacional e destruiu dois helicópteros.
Sob a ameaça de Alice, Zita pediu aos demais que se rendessem, e assim fizeram, seguindo os 3 conselheiros da AI sem nenhuma resistência. Zita sabia que sem seus poderes, ela estaria indefesa, e mesmo que André fosse bom em lutas corporais, o mesmo estava desgastado pelo recente uso do seu antigo poder.
Os outros deveriam ser capazes de resistir, mas com o portal fechado, e suas famílias em risco, seria mais seguro apenas obedecer às ordens, sem questionar. Ao menos por enquanto, em breve um novo plano seria colocado em prática.
André se aproveitou de que os conselheiros não sabiam o que havia acontecido no interior do prédio, e escondeu os objetos recuperados, por sorte os conselheiros não o revistaram, assim ele conseguiu manter a posse dos dois cristais restantes e da oitava chave, quanto aos livros, Arlene usou um minigolem para escondê-los em baixo do helicóptero, já que devido ao tamanho era quase impossível esconder dentro das roupas.
Assim eles conseguiram sobreviver inteiros, quanto aos que tinham passado para o outro lado, a Aliança Internacional não se manifestou. André e Zita pegaram um mês de detenção, o que acabou favorecendo a recuperação física de ambos. A Aliança Internacional não poderia mantê-los presos por muito tempo para não chamar atenção dos veículos de comunicação, além disso, o que aconteceu no setor de pesquisa e desenvolvimento era totalmente secreto.
Com a ausência de Felipe, Lídia assumiu o comando do setor de Inteligência e segurança, mas sob controle rigoroso da AI, André optou por não voltar para aquele lugar, sua vida estaria em risco ali. Tudo que um sobrevivente precisa é sobreviver mais um pouco, esse era seu lema.
Zita tentou convencer André a ficar na casa de sua família, mas ele era teimoso, e não aceitava ficar na casa da sogra, preferindo vagar a procura de uma forma de viver por conta própria. Assim, ele percorreu muitos lugares em busca de ganhar dinheiro.
Foi através de um de seus poucos conhecidos do setor de inteligência e segurança que André soube de um clube de lutas ilegais. O contato de André era um membro da segurança, que já tinha lutado algumas vezes nesse clube, segundo ele, pela luta que André teve contra os soldados do Sargento Fidelis, seria fácil ganhar dinheiro ali.
E realmente foi fácil, após duas horas de lutas em sequência, o dono do lugar deu a André bastante dinheiro para que ele não voltasse mais ali. Ao sair do lugar, André viu várias ambulâncias chegando para socorrer os perdedores.
— Acho que exagerei um pouco… — Pensou André.
Com o dinheiro que ganhou no clube ilegal, André comprou um pequeno terreno agrícola, na zona rural, longe do barulho da cidade, e ali começou a fazer uma casinha. O que mais complicava era o fato de suas mãos estarem danificadas, André ainda não conseguia mexer nada a partir do pulso esquerdo, apesar de que no lado direito estava se recuperando bem, e ele já movimentava bem o polegar.
Gledson e Eduardo ajudaram André na construção da casa, mesmo que os três não fossem bons construtores, não ficou muito pior do que a barraca em que morou por 1 ano no Reino de Prata, a toca dos ratos.
Zita sempre visitava André, e juntos começaram a construir uma horta no quintal, mesmo que em pouco mais de um mês ainda não fosse tempo de nenhuma hortaliça se desenvolver por completo.
Eram tempos de paz e felicidade, mesmo que por um mero mês, isso era raro, e não tinha acontecido pelos últimos 12 anos e meio. Zita, estava lentamente se acostumando a não ter poderes, isso fez ela ser dispensada pela AI, o problema era se acostumar com a antiga cor dos cabelos, o vermelho já parecia ser natural.
— Vou pintar! — Zita disse decidida.
— Por que? — André perguntou enquanto passava os dedos pelas mechas castanhas.
— Não posso ser a ruiva da montanha de fogo, com os cabelos da cor de terra. — Por mais idiota que fosse, a explicação de Zita fazia algum sentido.
Enquanto discutiam sobre a cor dos cabelos de Zita, os dois se embalavam em uma rede armada entre a casa de André e um pé de manga frondoso, aproveitando a sombra e o vento em uma tarde de domingo.
— Só queria poder ficar assim para sempre… — André disse, e em seguida deu um suspiro.
— Não temos mais poder algum, por qual motivo deveríamos nos intrometer em uma guerra? — Zita argumentou, enquanto acariciava o rosto de André.
— Eu prometi à Senhora Miraa… Você fez um juramento… — A expressão de André ficou meio deprimida.
Zita deu um beijo no canto da boca de André, e tentou confortá-lo.
— Mas agora nenhum de nós dois tem poderes, se nos metermos em uma guerra só temos a perder.
André olhou fixamente nos olhos de sua amada, abriu um sorriso sincero e disse:
— É verdade! Felipe está lá… Léo, Kawã, Lucas, Josiley e Anne também estão. Até Jonas e Victoria. Acho que não precisam de nós!
— Por que não aproveitamos então a nossa liberdade para termos um pouco de “diversão”? — Zita fez uma carinha de segundas intenções.
— Aqui mesmo? — André repetiu a expressão facial.
Zita não respondeu, apenas ficou em cima de André, tirando a blusa, revelando na sua costa nua uma tatuagem quase apagada.
. . .
Longe da intimidade do casal, na sede da Aliança Internacional, Alice andava imponente, sendo cumprimentada por todos por onde passava.
Ao entrar na sala principal, outras 3 pessoas já esperavam, Alice cumprimentou cada um deles:
— Boa tarde Sônia! Boa tarde Getúlio! Boa tarde mestre…
Com exceção da terceira pessoa, os demais cumprimentaram Alice. A pessoa a quem Alice chamava de mestre era um homem, alto, cabelos longos, lisos e grisalhos, mesmo que não aparentasse ter mais do que 4 décadas de vida.
Assim os quatro começaram uma reunião que decidiria o futuro dos dois mundos. Sônia não perdeu tempo, ligou uma projeção na parede que mostrava o poder de Zita sendo sugado no setor de pesquisa e desenvolvimento.
— Isso aconteceu há mais de um mês, mas como todo o prédio foi sugado pelo portal, só agora conseguimos terminar recuperar e avaliar todos os backups on line.
— Tirando a parte em que o dispositivo funcionou corretamente, não vejo nada demais nessas imagens. — Alice disse enquanto bocejava.
— Senhora Sônia, todos nós já vimos essas imagens… — Getúlio tentou argumentar.
— Então me explique uma coisa! — Sônia interrompeu Getúlio — Por qual motivo exatamente ela empurrou ele para fora?
— Instinto? Para protege-lo…— Respondeu Getúlio.
— E se não foi? — Sônia disse voltando o olhar para o mestre de Alice.
— A senhora conseguiu minha atenção, dona Sônia. — Disse o homem misterioso com um sorriso largo.
Sônia respondeu com um sorriso discreto, mas por dentro exalava felicidade. Ela deu a volta na mesa, e encarou o homem dizendo dizendo:
— Senhor Ritter, o senhor já se imaginou com poderes de um deus?