Volume 1
Capítulo 32: Mãe e Filha
Jonas estava sentado em uma cadeira de madeira, acariciando os cabelos loiros de uma garotinha de 5 anos, que estava sentada no chão, aos prantos, Victoria estava em pé, encostada na porta assistindo a cena, enquanto a mãe da criança, trêmula, esbravejava:
— O que querem de mim? Eu já disse que não vou me meter em nenhuma guerra! Agora solte a minha filha!
Jonas não se importou em responder, apenas desceu os dedos pela nuca da criança, parando sua mão em torno do frágil pescoço da menina.
Victoria não se importava com o que Jonas fazia ou não, ela sempre fora adepta do estilo de vida livre, fazia o que bem entendia, e com exceção das barreiras de Jonas, nada era capaz de prendê-la. Assim eles acabaram construindo uma estranha amizade.
Jonas olhou bem para a mãe da menina, ela não era feia, pelo contrário, mesmo os cabelos estando bagunçados e as roupas de agricultora, combinados com a sujeira proveniente do trabalho com a terra ainda não eram capazes de encobrir a sua beleza.
— Afff! Chega… — Jonas soltou o pescoço da menina — Pelo visto não estou pronto para matar uma criança inocente ainda!
Aproveitando de sua liberdade, a menininha correu para os braços da mãe, as duas ficaram abraçadas, enquanto Jonas averiguava o casebre de 3 cômodos, quarto, sala e cozinha.
— Quem diria… — Jonas voltou o olhar para as duas que ainda estavam abraçadas — Van-Nee, herdeira do Clã da Floresta, a mais bela da floresta sagrada, morando em uma vila de mendigos e plantando batatas….
Aquelas eram ninguém menos que a esposa e a filha que Léo deixou para trás. E agora Jonas estava tentando recrutar Van-Nee para seus próprios planos.
Desde que ela havia entregado a carta mágica para André, Van-Nee migrou para uma vila pobre, e estava disfarçada como uma viúva, que plantava batatas para criar a sua única filha, morando em uma casinha feita em madeira e barro, usando roupas simples e abandonando a sua antiga língua de alta complexidade para o dialeto local. Até mesmo mudou de nome, agora era chamada de Vanii, mais adequado a alguém nascido no Leste.
Como uma ex-sacerdotisa da floresta, ela não teria uma vida fácil em lugar algum, então optou por uma vida simples, longe de guerras, mas os problemas pareciam procurar por seu nome original. Se os sacerdotes soubessem a sua localização, sua vida e de sua filha estariam em risco.
— Não quero mais problemas… — Van-Nee estava se debulhando em lágrimas.
— Se não quisesse, ainda seria uma sacerdotisa no templo da floresta.
O comentário de Jonas irritou Van-Nee, ela cerrou os dentes e encarou Jonas, enquanto ele apenas sorriu, vendo que seu comentário fez algum efeito, resolveu continuar.
— Até hoje me pergunto, se o Léo te amava mesmo, por qual motivo foi embora e deixou as duas para trás?
Van-Nee estava se segurando ao máximo para não criar um conflito, se ela de alguma forma cedesse à pressão de Jonas, iria acabar usando os seus antigos poderes de sacerdotisa, e revelaria seu disfarce, pondo sua vida e da sua filha em risco.
Jonas também sabia disso, e por esse motivo continuava pressionando a jovem, se a sua identidade viesse a público, ela não teria outra opção a não ser aceitar a oferta de Jonas em troca de proteção.
Mesmo que esse tipo de ação não fizesse parte de seu modo de agir, Jonas que sempre foi um dos heróis mais passivos em outros tempos, agora estava se vendo obrigado a usar os mais baixos meios de persuasão para montar sua equipe para a guerra que se aproximava.
Ele desistiu de esperar, caminhou até Van-Nee e, apontando dois dedos para ela, criou uma barreira de contenção cúbica, em seguida mexeu lentamente os dedos, fechando a mão, acompanhando o ritmo dos dedos, a barreira foi se comprimindo, fazendo a ex-sacerdotisa se encolher sobre os joelhos.
Em um ato desesperado, Van-Nee conjurou um círculo mágico cheio de símbolos e padrões geométricos, e quando parecia que estava prestes a atacar Jonas, ele levantou uma segunda barreira, era uma barreira anti-magia, o círculo magico se desfez, enquanto Van-Nee fazia uma cara de tristeza.
Vendo que seu movimento tinha funcionado, Jonas resolveu aumentar a sua aposta, ele repetiu a criação da barreira de contenção, mas dessa vez em torno da filha de Van-Nee, quando a barreira começou a reduzir, mãe e filha começaram a gritar, implorando para que ele parasse.
Van-Nee estava desamparada, impossibilitada de salvar sua filha, ela desistiu de resistir e gritou:
— Para! Eu vou… Eu aceito… Apenas solte a minha filha!
Jonas sorriu, fazendo uma expressão de vitória, mas de repente sua vista tremeu, a imagem da mãe em prantos diante de seus olhos foi substituída pela visão da parte de fora do casebre, enquanto ouvia Victoria dizer:
— Essa foi quase!
Ao mesmo tempo, um estrondo veio do casebre, a parede lateral explodiu sob ação de raios violentos, e poeira cobriu tudo em um raio de 6 metros, pedaços de madeira e argila foram arremessados a dezenas de metros, um sentimento de medo passou pela espinha de Jonas.
— Se eu tivesse demorado mais um segundo, você teria morrido. — Victoria disse a Jonas em meio a um sorriso.
No meio da poeira, uma figura brilhante saiu da casa, seus olhos eram como dois sóis, seu corpo parecia recoberto por uma armadura de luz, e raios saíam do seu corpo em várias direções.
A pequena mão luminosa se ergueu em direção a Jonas, que sentindo o pavor da morte, ergueu uma camada de barreira isolante, ele tinha criado esse tipo de escudo para usar contra Léo.
Um segundo se passou e um brilho forte surgiu, seguido por um estrondo ensurdecedor, a barreira de Jonas se rompeu no último instante, mesmo assim ainda foi capaz de proteger ele e Victoria.
— Menina! — Gritou Jonas — Você é muito forte, será muito útil para mim…
— Meu nome não é menina! Eu me chamo Andreia-Nee Santos!
— Uma homenagem ao André? — Pensou Jonas — Quem diria.
Van-Nee saiu do casebre, meio cambaleando, ela ainda conseguiu fazer com que Andreia recolhesse seu poder antes que fosse tarde demais.
Jonas pensava em um modo de agir, na distância em que estava não daria para lançar uma barreira forte o suficiente para conter mãe e filha, e as duas eram perigosas. O ponto fraco do poder de Jonas era a distância, seus escudos seriam mais fortes quando ele estivesse perto, e conforme se afastava, eles perdiam a resistência.
Victoria tocou o ombro de Jonas, que rapidamente entendeu o recado, meio segundo depois os dois estavam entre mãe e filha, rapidamente Jonas lançou sua barreira anti-magia, impedindo que Van-Nee ou Andreia conseguissem usar seus poderes.
— Agora que vi o potencial da garotinha, eu quero mais ela do que você… — Jonas disse para Van-Nee.
Van-Nee não respondeu, apenas respirou fundo e esboçou o mais belo dos sorrisos, em seguida confidenciou algo ao ouvido de Andreia sem tirar os olhos de Jonas por nenhum instante, Jonas tremeu por um segundo, dando dois passos para trás, aquelas duas pessoas eram perigosas até para um herói.
— Jonas, aquela barreira que usou para se proteger de Andreia… — Van-Nee falou com bastante calma — Você poderia fazer outra? Tipo 10 vezes mais forte?
— Posso sim… — Respondeu Jonas meio intrigado com a pergunta.
— Então faça! Ou morrerá… Em 10… 9… 8…. 7…
Um arrepio passou pela nuca de Jonas, enquanto Victoria apertava seu ombro gritando:
— Vai logo! Eu não consigo saltar! Vamos morrer…
Tão logo Jonas ergueu a barreira isolante de 10 camadas, Van-Nee acenou com a cabeça para Andreia, os cabelos de todos se arrepiaram, um som agudo podia ser ouvido, Andreia levantou a mão direita, com o indicador para o céu enquanto sua mãe se agachava ao seu lado tapando os ouvidos.
Um som ensurdecedor e um brilho fortíssimo, a mais poderosa barreira de Jonas foi destruída em três segundos, o som e o brilho o atordoaram por poucos segundos, enquanto seus sentidos voltavam ele pode ver 3 figuras a mais no local.
Uma delas segurava Andreia nos braços, ambos estavam recobertos por raios.
— Pronto filhinha! O papai chegou! — Disse Léo acariciando Andreia.