Volume 1

Capítulo 23: Mensagem Secreta

André caminhou pela primeira vez no seu mundo original, desde que voltou havia ficado inconsciente ou trancafiado na sede de inteligência e segurança mundial, ainda não tinha pisado no solo, respirado o ar puro, olhado para o céu ou mesmo visto qualquer coisa que fosse do seu mundo.

Zita e Anne foram incumbidas de levar André para conhecer os arredores, explicar o senso comum e comprar umas roupas decentes. André parecia mais feliz, isso podia estar relacionado ao fato de estar andando de carro, no outro mundo, no máximo ele andava de carroça, na maioria do tempo era a pé.

A sede da organização chefiada por Felipe ficava um pouco afastada do centro urbano, assim, tiveram que viajar um pouco de tempo, Eduardo e Kawã acompanharam os outros três por uma questão de segurança, eles também ajudavam na explicação.

André tinha dificuldades em compreender o senso comum, já que ele não tinha nenhuma memória da sua vida antes de ir para o outro mundo, o senso comum daquele lugar estava impregnado em seu modo de agir. Mas no que se tratava de compreender situações, ele estava quase empatado com Felipe. Após as compras enquanto conheciam os arredores da região, o assunto foi ficando cada vez mais banal, fazendo com que eles esquecessem momentaneamente as antigas desavenças.

— Por quê Felipe está fingindo ser um idiota? — Perguntou André, mudando o assunto, já que temas sobre engarrafamento e poluição do ar não estavam nas suas preferências.

— Então você notou? — Eduardo respondeu com outra pergunta.

— Claro…

Como os 5 estavam no mesmo carro, e dispensaram o motorista, Kawã dirigia, André ia no banco do passageiro, Eduardo, Anne e Zita iam atrás. Mas a ideia de irem os 5 era mais do que dar um passeio e fazer compras, eles tinham assuntos que não podiam ser tratados nem mesmo na sede da Agência de Inteligência e segurança Mundial.

— Estamos constantemente sendo vigiados — Explicou Kawã — Quando chegamos, a Aliança Internacional foi fundada com a desculpa de nos ajudar, e pesquisar a respeito dos nossos poderes, mas Felipe foi esperto o bastante para nos avisar o que estava acontecendo, e por isso não fizemos nada contra as ordens deles, já temos algumas experiências do que acontece com quem age sem pensar…

— Eu ainda tenho várias cicatrizes… — Murmurou André.

— Então, você já entendeu as verdadeiras intenções da Aliança? — Continuou Kawã.

— Não importa o mundo, todos sempre querem poder, o que muda é o significado de poder… — André disse com a cara amarrada.

— Nesse mundo dizem que dinheiro é poder… — Completou Eduardo — Mas na verdade, o poder que a Aliança realmente quer são os recursos naturais daquele mundo!

— Então é para isso que estão tentando abrir um portal? — André se virou no banco do carro encarando os demais.

— Sim! — Respondeu Zita — Felipe lhe contou?

— Felipe disse que em dois anos vocês conseguiriam abrir a porta por esse lado — Explicou André — Mas acho que tem algo escondido nessa frase.

— O que exatamente ele disse? — Perguntou Anne.

André puxou pela memória e repetiu as palavras de Felipe.

— “Temos uma equipe trabalhando em uma forma de criar uma chave que possa abrir a porta por esse lado… talvez em dois anos…”.

Os outros 4 ficaram em silêncio por alguns segundos, André ficou tenso com a espera, a primeira pessoa a se manifestar foi Anne.

— Estranho, ele não estipulou uma data exata…

Os outros ficaram admirados com a observação de Anne, como Felipe era abençoado com a inteligência divina, ele poderia afirmar com mais precisão a probabilidade de abrir a porta pelo lado do mundo original, mas ele usou a palavra talvez.

— É um código! — Afirmou Eduardo — Felipe sabe que está sendo vigiado, tudo que ele faz, fala, até o que ele come é monitorado.

— Eu convivi com Felipe por dois anos na Torre dos sábios — Explicou Anne — Ele nunca fez nenhuma suposição, a não ser que fosse em relação ao tempo, já que ele sempre afirmou que o tempo é relativo…

— Então esse é um dos casos em que ele faz suposição com o tempo? — Kawã parecia não ter entendido.

Na verdade, entender os pensamentos de Felipe era um pouco demais para a maioria das pessoas, ele pensava de uma maneira muito complexa, e as vezes dizia coisas que só faziam sentido para si mesmo.

— Entendi… — André esfregou o punho enfaixado no queixo — Ele quis dizer que a medida de tempo é relativa, mas a quantidade é fixa…

— Quê? — Exclamou Zita.

— Já vi isso! — Explicou André — Quando as tropas do Oeste se uniram às do Norte para invadir a região do Lago Vermelho, Felipe enviou uma carta com um pedido de rendição, na carta dizia que talvez eles invadissem em 3 semanas, mas a invasão ocorreu em 3 dias…

— Mas o que isso tem a ver? — Reclamou Zita — Remoer o passado não vai nos ajudar em nada.

— A unidade de tempo foi alterada, mas a quantidade “3” foi mantida… — Explicou André, torcendo que fizesse sentido para os outros.

— Então pode ser 2 dias, 2 semanas, 2 meses… — Kawã Supôs sem tirar os olhos da estrada.

— 2 meses é pouco depois da nossa reunião de Natal, mais ou menos no ano novo… — Concluiu Anne.

— Então o Felipe quis dizer que a AI vai entrar em ação brevemente, e isso vai acontecer após a nossa reunião de Natal? — Eduardo parecia ser o mais calmo dos cinco.

— Talvez a real mensagem fosse: Fique esperto, pode ser a qualquer momento! — Respondeu André.

Os outros quatro ficaram em silêncio. André continuou.

— Pelo que eu pude ver, todos vocês estão acostumados a esse mundo pacífico, onde seus poderes são intimidantes para a maioria das pessoas, enquanto baixam suas cabeças para a AI… Aposto até que pararam de treinar e evoluir suas habilidades por ordens de que poderiam machucar alguém ou criar pânico. Eu pude perceber isso quando lutei com Léo, e também nas perguntas daquele tenente.

— E o que você faria no nosso lugar? — Anne suspirou — Sairia matando todo mundo como fez com os soldados da Aliança? As coisas não funcionam assim… Não mais.

Os cinco ficaram com olhares tristes relembrando as mortes que causaram e presenciaram no Outro Mundo, até que Eduardo resolveu melhorar os ânimos dizendo:

— Se é assim, por que não retomamos os treinos como fazíamos no Outro Mundo? Acho que precisaremos voltar à velha forma. A Divisão de Inteligência tem uma ótima sala de treinos, capaz de suportar o uso dos nossos poderes.

Anne, Zita e Kawã concordaram imediatamente com Eduardo, enquanto os quatro ficaram muito animados descrevendo suas respectivas rotinas de treinos, André apenas se perdeu em pensamentos, sonhando em poder viver uma vida pacífica. Um sonho que parecia cada vez mais distante.

Ao longo da estrada André via vários lotes agrícolas com diversos cultivos, fazendo ele lembrar dos arredores da Montanha Solitária, a capital do Reino do Leste, sua casa até meses atrás. Se tivesse a oportunidade André compraria um lote de terra para cultivar e assim sempre se sentir como se ainda estivesse naquelas terras abençoadas pelo sol.

Mais uma vez os pensamentos divagantes de André foram atrapalhados, Kawã bateu em seu ombro dizendo:

— Oh André, acorda para vida! Tem mais alguma coisa que queira conhecer?

— Agora não… Acredito que já aprendi o suficiente por enquanto…

— Ainda tem muita coisa para conhecer! — Reclamou Anne — O que você diz a respeito Zita?

— Acho que não é bom o André receber muita informação de uma única vez. — Respondeu Zita.

Na verdade Zita sabia que após a conversa sobre as pistas de Felipe, André não prestaria mais atenção em muita coisa, ela já tinha visto ele com aquela expressão antes, muitas vezes até. André voltou seu olhar para a paisagem em torno da estrada, e antes de se perder em pensamentos mais uma vez disse:

— Terei muito tempo para conhecer esse mundo, por enquanto vire esse carro e voltemos à Divisão de Inteligência Segurança.



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