Volume 1
Capítulo 11: Teste de Poder
André abaixou-se rapidamente, fazendo com que Léo errasse o soco, mas antes que pudesse preparar um contra-ataque, Léo já tinha voltado para sua posição inicial.
— Mesmo sem seus poderes ainda pode desviar de um soco meu, em alta velocidade… — Léo parecia estar avaliando André.
André, porém, não respondeu, sabia que a velocidade do ataque de Léo era muito alta, mesmo se ainda possuísse seus poderes, seria impossível desviar. Tudo que lhe restava era tentar se defender dos ataques que estavam por vir.
Léo arqueou o corpo e se lançou em direção a André, tentando acertar um ataque direto com o joelho, mas André desviou o ataque com o cotovelo, enquanto usava o joelho oposto para apoiar-se no chão, fazendo com que a força do golpe não o arremessasse para fora do círculo, em vez disso apenas girou sobre o joelho.
Mais uma vez Léo se lançou em um ataque, dessa vez um chute giratório, seguido por uma voadora, mas André apenas se abaixou e girou o corpo colado ao chão rapidamente, desviando assim de todos ataques.
Estava claro para todos que se Léo acertasse apenas um daqueles ataques, seria o suficiente para jogar André para fora do círculo, e os dois confrontantes estavam cientes disso também. E se Léo usasse seus poderes, uma vez que André não tinha os seus, seria o fim da luta em fração de segundos.
— Mesmo sem usar seus poderes, Léo ainda é um dos mais rápidos… — Murmurou Eduardo.
Felipe olhou de relance para Eduardo, que parecia estar admirado que duas pessoas pudessem lutar naquela velocidade, mesmo sem poderes, e disse:
— Mas o André está conseguindo se defender bem…
Apesar de não ter desferido um ataque sequer, André parecia estar tirando aquela luta de letra, era como se fosse uma dança ensaiada, mas Léo foi reduzindo a distância e aumentando a velocidade de cada ataque com o passar do tempo, ao ponto em que os dois estavam à meio metro um do outro, Léo atacava com as mãos e os pés, André defendia com joelhos e cotovelos.
Conforme a luta se estendia, os expectadores ficavam mais nervosos e concentrados, Felipe passou rapidamente o olhar pelos presentes, Lucas era o mais tranquilo, Anne parecia estar orando, Eduardo apesar da postura relaxada expressava medo, Jonas mantinha-se impassível mas batia o pé com inquietação, e Zita assistia atentamente cada troca de golpes como se tivesse que intervir a qualquer momento.
Felipe sorriu, apesar de tudo, os dois que lutavam eram justamente as duas pessoas de quem ela era mais próxima, com certeza a garota tinha motivos para estar preocupada a ponto de estar aumentando inconscientemente a temperatura do ar em volta do seu corpo e emitir pequenas chamas pelas pontas dos dedos.
A luta seguia freneticamente, André começava a demonstrar dificuldades em continuar apenas na defensiva, Léo usava uma sequência de socos intercalados por alguns chutes e rasteiras, a falta das mãos de André pareciam estar o deixando em desvantagem.
André, ao se defender de um soco direto, parou quase em cima da linha que delimitava o círculo, Léo não deu tempo de recuperar e deu um chute lateral girando o corpo, André girou na direção oposta, usando uma troca rápida de pés, e deixando Léo mais próximo da borda desferiu seu primeiro ataque, um soco de esquerda que acertou o ombro de Léo que estava recuperando a postura.
André deu um pulo para trás posicionando-se no centro do círculo, Léo deu um passo para trás parando em cima da linha do círculo, franziu a testa e mostrou os dentes em desagrado ao que tinha acontecido, jamais esperou que André conseguisse atacar com os braços, principalmente o esquerdo, que segundo o relatório de Felipe, era o que tinha sofrido as maiores sequelas.
Os olhos azuis de Léo começaram a ficar cada vez mais brilhantes, pareciam ter luz própria, ele mais uma vez se lançou sobre André, sua velocidade estava maior, por alguns momentos parecia até desaparecer no ar, e reaparecer em um local totalmente diferente, pronto para desferir um golpe potente.
André por sua vez mal conseguia desviar ou defender os golpes, apenas se lançava para os lados, de modo a não ser jogado para fora do círculo com o impacto dos golpes.
Felipe dividia sua atenção entre a luta que tornava cada vez mais angustiante e a expressão de cada um dos outros que assistia, mas o que mais lhe chamava atenção era Zita, que estava muito concentrada, acompanhando cada movimento, quando Léo usava sua velocidade podia desaparecer para os olhos de alguns, mas não para ela.
Em um dos momentos em Léo “desaparecia”, André fez um movimento diferente, deu um mortal para trás apoiando-se em seu punho direito enfaixado, abriu as pernas e girou rapidamente, acertando o rosto de Léo no momento em que este reapareceu, enquanto Léo conseguiu acertar as costelas de André. Ambos caíram em direções opostas, próximos à borda do círculo.
Apesar do ar-condicionado estar ligado a ponto de quase fazer nevar no ambiente, o calor que emanava de Zita junto com a tensão fazia todos suarem, Felipe talvez tenha sido o único a perceber quando as pequenas chamas transparentes de seus dedos aumentaram encobrindo suas mãos, e seus cabelos vermelhos começaram a flutuar adquirindo forma de labaredas.
Léo levantou-se rapidamente, lançando-se de cabeça, bem próximo ao solo, André ainda se levantava, Léo apoiou a mão esquerda no chão e chutou com os dois pés, André saltou por cima do ataque de Léo, seus punhos direitos se chocaram no ar fazendo com que André fosse arremessado ao outro lado do círculo.
Os dois recuperaram suas posições rapidamente, mas o cansaço de André era visível, ele ainda não havia se recuperado totalmente. Léo por sua vez parecia estar irritado por estar empatando aquela luta com alguém que não estava em sua plena forma de batalha. Os olhos de Léo aumentaram o brilho, seus dedos começaram a emitir pequenas faíscas elétricas, seus cabelos loiros ficaram em pé, e ele sumiu.
Um raio atravessou toda a sala de treino, suas ramificações atingiram vários dos equipamentos metálicos, e um som grave de trovão ecoou. André dobrou levemente os joelhos, e lançou um soco em direção ao vazio.
O som de faíscas elétricas tomou de conta do espaço ao mesmo tempo em que uma fumaça repentina, a visão dos expectadores foi interrompida por dois segundos. Felipe olhou para o lado, Zita não estava mais na sua posição inicial, ela sumiu ao mesmo tempo que Léo.
Quando a fumaça começou a dissipar, pôde-se ver, Léo recoberto de pequenos raios em movimento, a seus pés marcas de frenagem, possivelmente efeito do atrito entre seus sapatos e o chão, o braço direito dele estava esticado em direção a André, que estava na mesma posição em que tinha parado instantes antes, ambos os seus punhos haviam parado à centímetros dos rostos de seus rivais, impedidos por Zita, que estava entre os dois, recoberta de chamas.
— Nada de poderes… — Disse Zita, enquanto suas chamas diminuíam.
— Eu admito minha derrota. — Léo disse, olhando para Felipe.
Léo puxou seu braço, recolhendo sua eletricidade, Zita também recolheu suas chamas, apenas André permaneceu em posição de ataque, mas durou pouco, após Léo sair do círculo, André caiu, desacordado.
Enquanto todos voltavam sua atenção para André, Felipe olhava para Léo, que limpava o sangue que escorria no canto da boca.
— O ataque desesperado de André acertou, porém, se Zita não tivesse interferido, André talvez não sobrevivesse. — Pensou o homem mais sábio dos dois mundos.
— Acho que isso é o suficiente para esclarecer que André não tem poderes… — Disse Zita enquanto encarava cada um dos presentes.
Obviamente ninguém ousaria contestar ela.
Nenhum deles era idiota a esse ponto.