Volume 2
Capítulo 13: Meus Motivos
BOKUTSUNAGARI
Meus motivos
— Kimiko… — A expressão caída de Akihiro muda de repente. A tristeza se quebra, abrindo espaço para uma fúria que ele já não controlava.
— Ei, amor, calma… — Morgan tenta segurá-lo, mas ele já avança.
O som dos passos pesados enche o ar. Em um movimento brusco, Akihiro agarra a gola de Kimiko.
— Eu confiei em você! E mesmo assim ajudou o Hikaru a matar os outros vampiros? Isso é compaixão pra você?!
— Não fiz nada fora dos meus princípios — ela responde, sem mudar o tom.
— Então você ajuda qualquer um, mesmo sabendo o que essa pessoa quer fazer? Sério isso?
— Nada fora do padrão, Nishida. E você sabia disso desde o início.
Morgan tenta intervir:
— Aki, por favor—
— Eu ajudei o Hikaru com os objetivos dele — continua Kimiko, ignorando Morgan — e ajudei você com os seus. Ou você vai fingir que não aproveitou minha ajuda Aki?
Ela solta um sorriso provocador, chamando-o pelo apelido que Morgan usa às vezes.
— Durma.
O toque é rápido. Dois dedos na testa. O corpo de Akihiro cede, desabando como se alguém tivesse desligado sua energia.
— Akihiro! — Morgan o segura antes que bata no chão. — O que você fez?! Ele vai ficar bem?!
— Só está dormindo. Depois converso com ele. Vamos levá-lo para casa.
Elas correm com ele pelos becos até o quarto, enquanto em outro ponto da floresta Hikaru e Chigiri finalmente se encontram.
— Você vai continuar me seguindo até morrer? Já pensou que eu posso te matar quando quiser?
— Eu sei que não vai. Vampiros são sentimentais. Pelo menos quando querem — Hikaru responde, firme. — Mas pra devorar meus amigos, vocês não tiveram problema nenhum.
— Fiz o que fiz por instinto. Sobrevivência. Se me matar, diminui minha espécie.
— Não me importo com a sua espécie. Só quero vingança.
Chigiri perde a paciência.
— Então resolve aqui.
O vampiro avança com força. Hikaru, mesmo ferido, desvia no último segundo e rasga o braço dele com a faca, deixando o sangue escorrer pelo próprio pulso quebrado. O grito de Chigiri ecoa pelos bambus. Ele agarra o garoto pelo pescoço e o arremessa longe.
Hikaru atravessa fileiras de bambu até parar sentado, gemendo.
— Pelo menos meu braço voltou ao normal… — sussurra, recuperando o fôlego e pegando a faca.
Chigiri limpa o sangue do braço, que cicatriza rapidamente.
— Dá pra desistir ainda. Não gosto de matar gente por matar.
— Eu não me importo com o que você gosta. Só vou seguir o que a Kimiko me disse.
— Ah, então ela tá metida nisso?Entregou a própria chefe, garoto burro.
— Não importa se você souber as minhas motivações ou quem eu sigo. Eu apenas quero te matar como você matou meus amigos.
Isso acerta um nervo no vampiro. Os dentes rangem.
— Humano nojento… Você vai pagar.
Ele dispara novamente. Hikaru estende a mão e, do solo, raízes surgem e o acertam com espinhos. Chigiri sente dor, mas se livra sem dificuldade.
— Raízes? Tengu não ensina esse nível pra qualquer um!
Ele tenta outro ataque. Hikaru cria uma camada dura como armadura, usando-a como escudo para defender o soco.
— Vamos ver até onde você vai pra sobreviver… criatura nojenta — Hikaru ri.
O embate continua, pesado, marcado por choque de força bruta contra teimosia humana.
Enquanto isso, Morgan e Kimiko colocam Akihiro na cama.
— Pode acordar ele
Kimiko estala os dedos. Akihiro abre os olhos devagar, olhando o teto familiar.
— Eu… desmaiei?
— Ela te colocou pra dormir. Te trouxemos pra casa — Morgan responde.
Akihiro se senta, encara o chão. O peso do que sente cai sobre os ombros.
— Por que você tá assim? — Morgan pergunta, ajoelhando-se na frente dele. — O que tá te deixando tão afetado?
— Nem eu sei direito…
Kimiko se intromete, mirando a cabeça dele com a mão preparada para criar uma lâmina.
— Kimiko, para! — A vampira se põe na frente dele.
— Calma. Não vou matar meu melhor subordinado — diz Kimiko, com naturalidade assustadora. — Só quero que ele pare de fugir do que sente. Se não for pela conversa, posso usar outros métodos.
— Por que você só faz isso agora?
— Pra retribuir toda a ignorância que ele teve comigo desde o dia em que nos conhecemos
— Isso é mentira… — diz Akihiro, pela primeira vez encostando no assunto de frente.
Kimiko o encara surpresa. Afasta Morgan com um gesto, parando-a no lugar sem que dê mais um passo. Ela se ajoelha diante dele.
— Por que eu mentiria, Nishida?
Ele respira fundo. Sente as mãos trêmulas, mas mantém a voz firme.
— Você só tá tentando me pressionar pra arrancar respostas. Mas eu sei que você não vai me ferir. Em todas as chances que teve pra me matar… não matou.
Kimiko levanta um pouco as sobrancelhas.
— E o que te faz ter tanta certeza?
— Porque se você realmente quisesse… eu não estaria aqui. Você poderia ter acabado comigo no dia em que conversou comigo na sala de aula. Ou antes.
Morgan tenta intervir novamente:
— Akihiro, por favor
Ele continua, ignorando o medo na própria voz.
— Você gosta de mim. Não como amiga ou par romântica… mas gosta. Se importa comigo. Nunca me mata quando “deveria”. E até me beijou na casa do Hikaru.
O silêncio pesa. Os cabelos de Kimiko caem sobre o rosto, impedindo Akihiro de ver sua expressão.
— Você quer o meu bem — continua. — Por isso não me ajudou a matar os outros vampiros como prometeu. Você sabia que eu morreria. Muda suas próprias lógicas só pra eu não morrer.
Kimiko exala devagar.
sorrindo, abaixa a mão. É um sentimento novo para a mestra de Akihiro, pela primeira vez Kimiko se sente derrotada.
— Muito bem, meu subordinado… Dessa vez, você me venceu
Akihiro ergue o rosto, surpreso. Sente quase um alívio — até Morgan o abraçar com tanta força que ele perde o ar.
— Eu fiquei tão preocupada! Seu idiota!
— Ei, calma, eu sabia que ia dar certo…
— Não sabia! Você tava nervoso demais!
Kimiko se recosta na cadeira, ajeitando o cabelo para trás.
— Já que estamos todos calmos… por que você não abre o jogo comigo, Akihiro? Sempre te ouvi. Hoje não vai ser diferente.
Ele hesita. O peito aperta. Mas decide falar.
— O relacionamento com a Morgan… me deu uma paz que eu nunca tive. Me fez largar a vingança. Mas ao mesmo tempo… comecei a me sentir afetado de outras formas.
Morgan engole seco.
Kimiko escuta em silêncio.
— E como você se sente afetado?
— Eu nunca me senti amado por ninguém além do meu pai. Isso me fez evitar pessoas. Quando comecei a namorar a Morgan, me senti amado. E isso me fez querer provar pra ela que eu não sou um monstro que só pensa em matar vampiros.
Kimiko troca um olhar rápido com Morgan.
— Ela já te falou sobre Aokigahara?
— Já. Meses atrás. Eu não tava pronto… ia ferrar muita coisa, tanto aqui quanto com meu irmão.
— Vocês resolveram isso?
— Tivemos uma briga feia no dia. Ela quer ir. Eu não. E isso mexeu comigo. Eu não quero que ela me deixe.
Morgan abaixa a cabeça, sentindo a culpa pesar.
— Eu queria vocês dois comigo — ela diz baixo. — O lugar significa muito pra mim…
Akihiro fecha os olhos.
— Eu só queria que esse pesadelo acabasse. Desde que meu pai morreu, tudo parece sem direção. Eu tô bem no namoro… mas não tô bem comigo.
Kimiko sorri de leve.
— Você é valente.
— Por ser inseguro e perder a cabeça?
— Não. Por continuar lutando mesmo assim. Mas coragem sem autoestima vira só desgaste. Você se cobra demais.
Ela se levanta e faz um gesto para que Morgan saia.
— Dá um tempo pra gente, tudo bem?
Morgan hesita. Os olhos ficam molhados, seus braços tremem de ansiedade.
— Kimiko… tem certeza? Eu estou com medo
— Tenho. Só vou conversar com ele. Você pode fazer oque bem entender por agora em diante.
Ela acena olhando uma última vez para Akihiro antes de sair da sala.
Akihiro observa a porta fechar.
— Por que ela ficou assim? — ele pergunta.
— Trabalhei com ela sobre os vampiros que conhecia terem morrido. Mas isso não é o foco agora.
Kimiko cruza as pernas, apoiando o queixo na mão.
— Por que você não se valoriza, Akihiro?
Ele baixa o olhar.
— Nunca senti vontade. Tentei esconder minhas tristezas por medo de julgamento.
— Você se prende a coisas banais. Perdeu o norte quando seu pai morreu, mas abriu espaço pra outras pessoas. Você mudou, mesmo que não enxergue.
Ela segura o queixo dele, levantando um pouco seu rosto observando seus olhos amarelados sem vida.
— A busca por propósito é humana. Mas você não precisa de alguém pra validar seu valor. Pode criar o seu.
— E qual propósito eu deveria ter…?
— Não sou eu que respondo, você deve buscar seus objetivos e motivações. Nossa vida tem um sentimento fazendo oque bem entendemos.
Ele respira fundo.
— Eu quero ajudar as pessoas.
Kimiko sorri e se levanta.
— Então procure o último vampiro. Hikaru deve estar na floresta de bambus, no primeiro templo.
Akihiro sorri de volta e se levanta.
— Obrigado.
Ele caminha até a porta, mas para.
— Mestra… por que ajudou o Hikaru a matar os vampiros?
— Meu propósito é ajudar qualquer pessoa. Dei a ele parte do poder que recebi de deuses maiores. Ele tomou um pouco do meu sangue.
— Então eu poderia usar poderes também?
— Não. Transformei você em meio-vampiro por um motivo; dei poder ao Hikaru por outro. Quer um pouco disso também?
— Não. Quero resolver com minhas próprias mãos. Se eu receber seus poderes… vou acabar mais vampiro do que humano.
Kimiko sorri, satisfeita.
— Boa decisão. Vá antes que seja tarde.
Ele acena e sai sem olhar pra trás.
Pronto para o que vier.
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