Volume 2

Capítulo 88: Pego Desprevenido

Diante de Alaric, ajoelhado no chão, Peng observava Xu Ying, que tremia visivelmente, suas mãos pressionadas contra a boca em um claro estado de choque. Parecia que nem uma única lágrima era capaz de escapar de seus olhos. Entre os dois, jazia o corpo de uma mulher já idosa.

— Senhora Ying… — Alaric murmurou, observando o corpo inerte de Liu Ying no solo, seu já cansado corpo estava marcado por algumas lesões e duas marcas de presas em seu pescoço, por onde os malditos vampiros sugaram até última gota de sangue. — Merda…

Alaric sentiu as pernas quase cederem, mas se manteve firme. Era crucial manter-se forte, afinal, havia alguém diante dele que precisava de apoio.

Sem proferir uma palavra, o jovem caminhou até o lado de Xu Ying e agachou-se ao seu lado. Sem expressar nada, ele manteve-se em silêncio, parecia até perdido em próprias reflexões.

— Porque…? — O questionamento dela interrompeu seus próprios pensamentos, forçando-o a desviar o olhar para ela. — Por que ela? O que ela fez? O que fez para merecer a morte?

O semblante do jovem assumiu uma expressão de pesar ao ouvir aquelas indagações. Não era apenas a senhora Ying que havia perdido a vida naquela fatídica noite. Muitas outras pessoas inocentes, indivíduos que não mereciam a crueldade da morte, também pereceram.

No entanto, compreendia os questionamentos, quase egoístas dela, pois ele mesmo já se fizera as mesmas perguntas. Talvez por isso, tocou suavemente o ombro da garota e, talvez por isso, permitiu-se envolver-se em seu abraço sofrido.

— Alaric... Por quê? — Sua voz estava embargada pelo choro, lenta, as sílabas se entrelaçando com as lágrimas. — Por favor... me responda... me dê alguma resposta…

O rapaz apertou os braços que a envolviam, sentindo o ar quente da respiração pesada de Xu Ying, roçar seu pescoço. As roupas se molhavam com a enxurrada de lágrimas que caíam como uma tempestade dos olhos que um dia foram tão profundos.

— Me perdoe, mas não tenho uma resposta... — Ele sentiu a respiração dela travar por alguns instantes. — Me perdoe...

Alaric pedia perdão não apenas por não ter as respostas, mas também por se sentir culpado. Culpado por sua fraqueza, culpado por não proteger ninguém, culpado por tudo de ruim que estava acontecendo.

— Malditos vampiros... — Novamente, as palavras arrancaram Alaric de seu transe. Não apenas as palavras, mas também as mãos de Xu Ying em suas costas, que começaram a apertá-lo com mais força. — Malditos vampiros...

À medida que o aperto aumentava, o rosto do jovem se contorcia em caretas de dor. Mas, mesmo sofrendo, ele se mantinha em silêncio, fazendo o máximo para fingir que estava tudo bem. A voz dela ainda tremia, mas agora não carregava mais a melancolia da perda; ao contrário, transbordava com o fogo do ódio.

— Eu vou... Eu vou... Matar cada um deles!

Alaric apertou o abraço novamente, mas o gesto, vindo de alguém que não conseguia superar nem os próprios traumas, não transmitia o calor reconfortante que se espera de um abraço. Por mais que se esforçasse ao máximo, não chegava nem perto de proporcionar isso. E assim, não conseguiu evitar que a pobre garota, em uma determinação tola, pronunciasse aquelas palavras que a levariam a enfrentar o próprio inferno, algo que Alaric conhecia muito bem e ainda o vivenciava.

"Eu sou um covarde." Ele se autocondenava por seu silêncio, muito por medo de repetir os mesmos erros do passado. Alaric temia assumir responsabilidade por outra vida... outra morte. Por isso, resignou-se a aceitar tudo em silêncio.

Enquanto a garota encarava o vazio, seus olhos, tão profundos, pareciam ganhar uma dimensão ainda maior, como um abismo sendo intensamente alimentado pela raiva. As lágrimas já haviam secado, talvez devido ao fogo ardente que queimava dentro de si; as mãos, que quase rasgavam as costas do jovem, não tremiam mais. O coração batia forte, mas sem a melancolia que antes tanto o acompanhava.

Entretanto, mesmo envolta por tanto ódio, era impossível não sentir tristeza. Tentando conseguir nem que fosse o mínimo de consolo, encostou a testa nos ombros de Alaric, talvez buscasse abafar suas emoções, encontrando um vestígio de conforto na proximidade física.

Ainda envolvido no abraço, Alaric voltou seu olhar para Peng, que permanecia em silêncio. Tudo o que viu foi uma reação, ou a falta dela. O guarda estava paralisado, os olhos pareciam nem piscar, fixos no cadáver da senhora Ying.

Foi então que o jovem ouviu ruídos de passos próximos e, ao olhar para frente, suas pupilas se dilataram. Vampiros, muitos vampiros, aproximavam-se dos três, suas presas à mostra, prontos para acabar com a vida deles.

Sem hesitar, o jovem se libertou do abraço e se levantou, sacando sua katana num movimento ágil. Xu Ying, se assustou pela reação abrupta, e seguiu o olhar determinado do jovem, compreendendo a situação, seu rosto contraindo-se em raiva.

— Peng, erga-se, preciso de sua ajuda, são muitos... — O guarda permanecia imóvel, como se estivesse preso em outra realidade. Isso fez com que o jovem elevasse o tom de voz: — Peng! Levante-se agora!

Mesmo relutante em elevar a voz para o amigo, Alaric não viu outra alternativa. Para sua satisfação, pareceu funcionar, pois num espasmo, Peng pareceu voltar a si. Então, levantou-se imediatamente, pronto para se colocar em guarda.

— Desculpe, Alaric, eu estava...

— Não se preocupe, apenas não se distraia — alertou Alaric num tom firme, avançando rapidamente em direção aos vampiros. — Tente me acompanhar!

— Vou dar o meu melhor! — Avançou imediatamente atrás do jovem, enquanto invocava sua espada.

Xu Ying parecia pronta para segui-lo, mas ao tentar dar o primeiro passo, sentiu como se uma tonelada estivesse prendendo suas pernas. Isso a fez desviar o olhar para baixo, estalando a língua em frustração.

— Eu sou uma fraca... — Murmurou.

Alaric franziu o cenho enquanto começava a contar quantos inimigos estavam à frente. Em uma rápida contagem, contabilizou mais de trinta vampiros. Ao desviar o olhar para trás, observou Peng, consideravelmente mais lento devido à idade avançada, e suspirou. Parecia que teria que focar em dar cobertura a ele.

Com o último passo a dar, já estava diante dos algozes. Com um movimento ágil, na horizontal, cortou dois ao meio. No entanto, já teria que lidar com os que estavam atrás, então girou, aplicando mais dois cortes que fizeram um "x" no peito do pobre vampiro.

Seus olhos claros se arregalaram em surpresa quando sentiu as costas em perigo. Não sabia o que poderia ser, mas pressentia unhas afiadas, que rasgariam suas roupas e, em seguida, a pele. Não havia tempo para um rápido desvio devido à proximidade; restava apenas aceitar o ataque.

Então, após alguns segundos de tensão, uma sobrancelha arqueou, pois estranhamente não sentiu nada. Ao desviar o olhar para trás, viu o vampiro já sem vida no chão, e sobre seu corpo, Peng, segurando a lâmina ensanguentada.

— Alaric! À sua frente! — Alertou Peng.

O jovem assustou-se e voltou seu foco para frente, deparando-se com um vampiro numa proximidade perigosa; já podia sentir o odor pútrido de seu corpo. Em um movimento de baixo para cima, partiu do peito até o rosto daquela criatura, que caiu de costas no meio dos semelhantes. 

O corpo dele logo foi ocultado pelos outros vampiros que, sem se importar, continuaram a avançar e tentar atacar. Os ataques consistiam em tentativas de desferir arranhões ou agarrões. O jovem desviava como podia e, nas poucas brechas, golpeava como dava.

Peng seguia a mesma linha de ação, mas Alaric, por algum motivo, chamava mais atenção dos vampiros. Isso facilitava para o guarda desviar e atacar.

Os ataques contra Alaric eram incessantes, alguns obrigando-o a defender-se com a katana por falta de tempo para desviar corretamente. Os vampiros pareciam não se importar em cortar as mãos no fio da lâmina, atacando de qualquer maneira. Mesmo assim, com tanta dificuldade, o chão ao redor do jovem já estava tomado por corpos fatiados e poças de sangue.

Contudo, apesar de ter abatido tantos, o rapaz sentia que o inferno não tinha fim, pois sempre surgia um novo vampiro para tomar o lugar do morto, e isso já estava o irritando.

"Merda, estou ficando sem espaço!" Alaric recuava constantemente, buscando escapar dos inimigos à frente. No entanto, logo se viu cercado. Se recuasse mais alguns passos, acabaria de costas nos corpos gélidos dos sanguessugas.

— Alaric, recue! — gritou Peng, cuja voz ecoou no ar carregada de urgência, enquanto ele fincava a lâmina da espada no solo ressoante. 

O jovem Alaric já antecipava o que viria a seguir e, sem hesitar, saltou para o lado de Peng. Num piscar de olhos, a terra outrora imóvel começou a tremer, os tremores gradualmente ganhavam intensidade até parecer que o próprio solo tinha ganhado vida.

Alaric observou com olhos atentos as rachaduras se formando nas paredes das casas ao redor, enquanto os vampiros, pegos de surpresa, lutavam para manter o equilíbrio, muitos deles falhando miseravelmente.

— Mantenha os tremores! — exclamou Alaric, determinação ardente em sua voz, enquanto avançava imperturbável sobre a terra vibrante.

Ele compreendeu que correr sobre aquele solo agitado seria uma tarefa impossível. Assim, optou por saltar, movendo-se de salto em salto em busca dos vampiros que ainda conseguiam manter-se em pé.

Em um ágil movimento, aproximou-se do primeiro alvo, desferindo um golpe rápido e mortal assim que tocou o chão. Sem perder tempo, avançou para os próximos, consciente de que o tempo de Peng poderia estar se esgotando, exigindo ação rápida de sua parte.

Alaric parecia um sapo ágil no campo de batalha, saltando habilmente de um lado para o outro, atacando antes mesmo de tocar o solo. Os vampiros, desequilibrados pelos tremores, não tinham chance de reagir, sendo abatidos sem qualquer oportunidade de contra-ataque, pela lâmina e vontade voraz do rapaz.

A katana, uma vez negra como a noite, agora estava manchada de carmesim, coberta de pedaços de corpos e sangue. Da mesma forma, as roupas de Alaric estavam ainda mais manchadas, lembrando o avental de um açougueiro.

Um açougueiro que, golpeava, cortava, fatiava e retalhava a carne dos vampiros sem qualquer consideração pela técnica, apenas impulsionado pela determinação vil de um assassino em busca da morte.

Com a sequência intensa de movimentos incessantes, Alaric podia sentir a respiração tornar-se mais difícil; uma sensação pesada, densa, pairava sobre o peito. Parecia que o ar se recusava a penetrar em seus pulmões, mas mesmo com tais dificuldades, continuava a persistir, lutando em um ritmo frenético. 

Mas, mesmo com a mente focada e negando a desistência, o corpo sentia os efeitos: os golpes começavam a perder precisão e força, à sombra da exaustão cada vez mais presente.

Por sorte, alcançou o último vampiro restante, tendo sozinho exterminado mais de vinte daqueles seres malditos. Podia-se afirmar que Alaric era um exímio caçador, cujas habilidades inspiravam inveja em qualquer um que o testemunhasse.

— Peng, pode parar. Peng? — Quando virou o rosto em direção ao guarda, sentiu as pernas fraquejarem, como se o chão ainda estivesse tremendo. — PENG!!!

Ele correu e correu, buscando alcançar o amigo, agora nos braços de um ser que não desejava seu bem. Queria apenas o sangue. As pupilas dilatadas do jovem refletiam seu desespero ao testemunhar um vampiro sem escrúpulos cravar as presas no pescoço do velho homem, que não foi capaz nem de gemer de dor.

Peng já não lutava, suas forças já haviam ido embora. A espada, que mesmo após tudo ele tentava manter empunhada, acabou escapando de suas mãos em meio à dor lancinante, caindo ao solo. Antes que o fio da vida fosse cortado, Alaric decapitou aquele ser maldito. As presas se soltaram do pescoço de Peng, e a cabeça, agora desprovida de corpo, caiu ao solo.

Peng também estava prestes a desfalecer, mas Alaric conseguiu segurar seu corpo a tempo. O guarda estava pálido, quase todo o seu sangue havia sido sugado. Mesmo que seu coração ainda batesse freneticamente, não seria capaz de fazer o pouco sangue restante circular pelo corpo, levando oxigênio aos pontos vitais. A medula óssea não teria capacidade para produzir sangue suficiente para repor a quantidade perdida.

— Fui pego de surpresa… Me distraí por um instante... Me perdoe... — Peng, totalmente concentrado em gerar os tremores, não percebeu a perigosa aproximação por trás e… acabou sendo atacado.

A essa altura… Peng já era um homem condenado, nada o faria escapar da morte por choque hipovolêmico.

— Senhor Peng! — Xu Ying, que estava apenas observando tudo impotente ao lado do corpo da avó, correu em direção ao jovem. — Alaric! Precisamos…!

Alaric parecia estar em outro mundo, sem reação, sem piscar. Mesmo com seu olhar fixo no guarda, parecia não enxergar nada. Então, com cuidado, ele se ajoelhou, trazendo consigo o corpo e o colocando no chão.

— Alaric, você não vai fazer nada…?

— Não há nada a ser feito… — respondeu, abaixando um pouco as pálpebras com pesar. — Não há...

Alaric já havia testemunhado muitas mortes em campos de batalha e sabia que era impossível se recuperar de uma perda tão grande de sangue, a menos que tivessem um bom mago de cura, o que infelizmente não era o caso.

Xu Ying se calou. Ela queria dizer palavras mais duras para o jovem, pois ele estava desistindo de uma pessoa sem lutar. Mas quem era ela para julgar? Alguém que viu a própria avó morrer sem poder fazer nada, e depois, quando teve a chance de lutar por vingança, ficou parada, apenas observando como uma covarde. Diante de tudo isso, ela apenas levou as mãos ao peito em dor, permitindo que algumas lágrimas escapassem dos olhos.

A fadinha que antes estava silenciosa em forma de anel, retornou à sua forma normal e voou até a altura dos olhos de Peng. Os olhos ainda estavam abertos, mas não havia sinais de vasos sanguíneos e, o rosto pálido exibia veias dilatadas por todos os lados, era um morto ainda respirando por breves instantes.

Ao testemunhar aquela cena, a fada ficou sem reação e se aproximou de Xu Ying, que chorava timidamente, acariciando seus cabelos em uma tentativa de confortá-la. No entanto, a própria fada estava em prantos, já que de alguma forma, sentia a dor excruciante que consumia a alma do jovem.

— Peng… você tem alguma palavra final... algum último desejo...? — Alaric já sabia que Peng estava à beira da morte, mas ainda queria ouvir, talvez até realizar, os últimos desejos do pobre homem.

— Eu… não desejo nada... Apenas paz... 

Um homem que se autodenominava "Retentor da Paz" buscava, no final das contas, sua própria paz. 

— Você foi um grande homem, Anwen… Com você, consegui esquecer meus problemas. Você é a única pessoa que pude chamar de amigo… — Alaric segurou a mão já gélida do homem e permitiu que uma única lágrima escapasse. — Descanse em paz… Que você encontre Oxeng no paraíso…

Peng se esforçou e conseguiu dar um último sorriso ao mundo, um último sorriso para o jovem. Seus olhos foram perdendo o brilho lentamente, até que restou apenas a opacidade. O último fio efêmero da vida se rompeu; Anwen Peng estava morto.

Nesse momento, algo estranho percorreu o corpo do jovem, como se sua mente se dividisse em uma nova parte, e a melancolia o tomou por breves instantes.

Alaric sentiu uma forte vontade de chorar, de botar tudo para fora. Era quase incontrolável, mas de alguma forma, como se o rancor impedisse que as lágrimas escapassem, ele se conteve, com apenas uma leve umedecida nos olhos. O coração, já fechado e machucado, com feridas que o tempo parecia não curar, sofreu mais um ferimento e se endureceu ainda mais.

 

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Um pouco afastado do caos da vila, Vlad encontrava-se diante do armazém de Xiong. De acordo com as informações transmitidas a Alaric, aquele era o local onde poderiam obter respostas para as dúvidas do rei dos vampiros.

Como esperado, o local estava tranquilo, sem qualquer sinal de vampiros nas redondezas, o que era incomum. No entanto, mesmo que os vampiros não estivessem presentes, os humanos sim.

Dois rapazes com os rostos cobertos por faixas aproximaram-se de Vlad.

— Ei, qual é a tua? Fica parado aí feito uma estátua, dá o fora daqui, isso não é lugar para você. — disse o primeiro homem, embora estressado, parecendo sorrir.

— Mesmo o jovem Alaric, que não é conhecido por sua etiqueta, consegue dialogar melhor que você… — respondeu Vlad com um tom de deboche.

— Suas palavras difíceis não nos interessam. Escute ele e dê o fora daqui! — exclamou o segundo homem, em tom mais sério.

— Hoje, após ter tido uma conversa proveitosa com um quase amigo, serei... Como é mesmo a palavra? Ah, benevolente — Vlad falou calmamente, com sua habitual elegância, sua voz quase sedutora de se ouvir. — Caso tenham o bom senso de responder, corretamente de preferência... Permitirei que saiam vivos…

Os dois homens pareceram hipnotizados pela voz por breves instantes, mas logo voltaram a si e estreitaram os olhares, levando as mãos às espadas.

— É a última vez que aviso: se não quiser morrer, suma daqui.

Vlad suspirou e coçou a testa, meio decepcionado com a falta de inteligência dos dois. Em um instante, uma espécie de névoa negra começou a emanar das vestes do vampiro. Os homens se assustaram, mas logo tentaram avançar, uma escolha lamentável. A névoa se moveu rapidamente de Vlad até os pescoços dos dois.

— Façam-me o favor e mantenham-se em silêncio. — Antes que os dois tivessem tempo de tomar qualquer ação, a névoa de alguma forma se condensou em torno de seus pescoços, apertando e estrangulando-os. Vlad começou a andar, com a névoa ainda emanando de suas vestes, e passou pelos dois, erguendo-os no ar. — Por favor, seriam tão amáveis em me acompanhar? Sim? Agradeço.

Assim, o rei dos vampiros continuou a andar, levando os dois na névoa. Eles se debatiam no ar, seus pés não encontravam apoio, e suas mãos lutavam com toda força para criar uma folga, mas era impossível. O ar não entrava mais, e o pouco que restava em seus pulmões estava se esgotando rapidamente. Até que, seus rostos ficaram vermelhos, depois azulados, e por fim, os olhos viraram para cima. As mãos perderam a força, e as pernas se aquietaram, penduradas e soltas no ar.

Alguns espasmos ocorreram, mas apenas isso; os dois já estavam mortos. E Vlad não precisou erguer sequer um dedo para isso.

— Ora, já padeceram? — Ele fez com que um dos braços de névoa se movimentasse até a frente de seu rosto. Então, virou a cabeça, de modo que o pescoço do homem ficasse evidente. — Vocês são dois pobres homens tolos que não tiveram a prudência de se colocarem em seus devidos lugares. No entanto, concederei-lhes a oportunidade de se redimirem.

Assim, aproximou a boca do pescoço e abriu-a, expondo suas presas, em seguida, as cravou no pescoço. Em questão de segundos, o corpo começou a reagir, debatendo-se como se tivesse retornado à vida, enquanto os olhos se moviam freneticamente.

— Desculpe-me a ousadia e o linguajar chulo, mas que gosto horrível você tem… — Ele olhou para o outro ainda pendurado no alto e franziu o rosto. — Vou me contentar apenas com um…

Sem qualquer piedade ou cuidado com o corpo já morto, ele o arremessou para longe. O corpo que ainda se debatia diante de Vlad parou abruptamente e olhou para ele, ainda com um olhar morto, sem alma.

— Ora, por vezes, esqueço-me de que transformar um ser vivo ou um morto possui suas nuances… — Com um gesto sutil, ele dissipou a névoa, permitindo que o homem transformado caísse ao chão. — No entanto, pouco me importa.

— O que aconteceu? O que… — Ele olhou para as próprias mãos, que pareciam desprovidas de cor, pálidas como as de um verdadeiro morto. — Eu… Eu…

— Aceite minhas desculpas, pois ao consumir todo o seu sangue, esqueci-me de reescrever suas memórias. Foi um lamentável equívoco de minha parte. Me permita me redimir por este tolo erro.

— Sangue? Memórias? — Ele arregalou os olhos, parecendo lembrar-se de tudo o que aconteceu, e tentou avançar em Vlad. — Seu desgraçado!

No entanto, ainda no ar, seu corpo parou. Parecia que a gravidade havia deixado de existir. Ao olhar para Vlad, notou aquele sorriso elegante e um dedo levantado. O dedo então moveu-se suavemente, e o corpo do homem agiu sem qualquer comando, como um boneco de ventríloquo.

— Que conduta bárbara para com seu novo lorde… — Com um suspiro exasperado, ele fez mais um gesto com o dedo e aproximou o corpo do homem do seu. — Contudo, vou conceder-lhe o perdão desta vez, afinal, foi um descuido meu…

Aproximando cada vez mais o corpo, ele fez com que o ouvido do rapaz ficasse próximo de sua boca e, em um sussurro arrepiante, disse:

— Contudo, só desta vez…



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